Paula Lacerda
Ao lado de Fernandes, participaram da mesa de abertura Maurício Borges Lemos, diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), João Sabóia, diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e José Eduardo Cassiolato, coordenador da Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist). A importância dos arranjos produtivos locais (APLs) foi salientada por Sabóia. Segundo ele, o seminário é uma forma eficaz de acessar pequenas realidades que abrigam grandes potenciais. “O estudo dos APLs funciona como uma lente para perceber os movimentos e as questões locais”, disse.
A primeira sessão plenária do dia abordou a possibilidade de transformação das inovações tecnológicas em políticas sociais contra a desigualdade. Para Judith Sutz, professora e coordenadora da Comissão Setorial de Investigação Científica da Universidade da Republica, no Uruguai, é preciso reverter o pensamento corrente de que o crescimento econômico traria em seu bojo conseqüências positivas para as questões sociais. “A ordem de prioridades deve ser vista de modo inverso: o investimento nas questões sociais leva a uma economia estável, por meio da eliminação das desigualdades e do conseqüente acesso de todos à informação, aos bens culturais e econômicos”, destacou. Judith criticou a visão polarizada entre políticas de inovação e políticas de desenvolvimento. “Enquanto as primeiras beneficiariam a parte mais rica da população, o desenvolvimento seria uma forma de tentar alavancar as populações mais pobres, alheias aos processos de inovações tecnológicas”, disse.
Tecnologias sociais
Renato Dagnino, professor titular do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), chamou atenção para a importância da elaboração de tecnologias de caráter social. “A tecnologia tradicional aplicada nos países periféricos se traduz em exclusão social. São poucas as empresas que investem em pesquisas sobre impacto ambiental e satisfação dos funcionários, por exemplo”, disse. Para os pesquisadores presentes no seminário, no entanto, alguns avanços importantes foram obtidos por meio do apoio às economias de pequena escala e do incentivo às inovações produtivas locais.
Jorge Núñez Jover, professor da Universidade Havana, em Cuba, citou o exemplo de vacinas que eram produzidas no país com a utilização de tecnologias importadas e, devido seu alto custo, não beneficiavam toda a população. “A partir do emprego da tecnologia nacional, os custos baixaram e o acesso à vacina foi estendido a todos os cubanos. A melhoria na qualidade de vida da população deve ser o principal incentivo para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras”, afirmou.
O seminário é uma continuação de outro realizado há dez anos, em Gramado (RS), que representou o primeiro passo para o estabelecimento de diálogo com pesquisadores brasileiros e estrangeiros preocupados com o desenvolvimento de pequenas comunidades, em um período especialmente marcado pela discussão sobre a globalização. Desde então, a RedeSist consolidou um amplo conjunto de pesquisadores em 23 estados brasileiros e de países como Cuba, Argentina, Uruguai, França. Até o momento, no âmbito da RedeSist foram produzidos seis livros e mais de cem teses de doutorado e dissertações de mestrado. Mais informações: www.redesist.ie.ufrj.br/redesist10
Fonte: Agência Fapesp
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