Por Washington Novaes
Quem venha acompanhando o noticiário sobre vários setores de serviços à população no País provavelmente estará surpreso com certas decisões que vêm sendo - ou deixam de ser - tomadas e que apontam para o que poderia ser chamado de “opção pelo maior”, ou pelo mais caro, em detrimento do mais eficiente, mais barato.Pode-se começar pela questão do abastecimento de água nas capitais, que mereceu farto noticiário, diante da constatação de que se desperdiçam, em média, 45% da água que sai das estações de tratamento.
São Paulo perde 30,8%, Porto Velho, a campeã do desperdício, 78,8%, Brasília, a que menos perde, 27,3% - quando o Japão, por exemplo, perde 4,7%. A principal causa está nos vazamentos e furos nas redes de distribuição, por falta de monitoramento, assistência e reposição. E quem for verificar mais de perto constatará que isso não é feito porque se dá preferência a novas barragens, novas adutoras, novas estações de tratamento - mesmo sabendo que custa até cinco vezes menos conservar um litro de água (mantendo a rede em boas condições) do que gerar um litro “novo”. Mas não há financiamentos para a manutenção, só para obras novas - de custo muito mais alto (e maior retorno para os financiadores) , porém mais visíveis que as do subsolo (de menor rendimento eleitoral). E com isso se perdem, só nas capitais, 6,14 milhões de litros por dia, suficientes para atender ao consumo diário de algumas dezenas milhões de pessoas.
O panorama não é diferente na área de esgotos: mais de 50% da população nem sequer dispõe de redes coletoras e entre 1992 e 2005 o déficit só caiu 0,4% ao ano. Com isso, segundo a Funasa, morrem por dia sete crianças vítimas de doenças veiculadas pela água de má qualidade, que causam também 70% das internações na área pediátrica. Mas só se prevê reduzir o déficit à metade em 2020 e desde que aplicados R$ 10 bilhões por ano. E poderia ser diferente. Neste espaço mesmo já se comentou (31/8) que a instalação de redes de esgoto pelo sistema condominial pode proporcionar uma economia média de 35% nos investimentos, que pode chegar até a 50%, dependendo do lugar e das condições. Mas, com exceção do Distrito Federal, esse sistema não é o usual na maioria dos lugares. Por quê? Uma das razões é que se trata de obras de menor porte, menor visibilidade, menor custo, menor interesse das grandes construtoras. Ainda na área do abastecimento, vale a pena mencionar a questão das cisternas de placa para reter e aproveitar água de chuva no Semi-Árido brasileiro. Todo mundo já sabe que elas são uma solução muito mais barata e viável (podem ser construídas em comunidades isoladas, onde vivem milhões de pessoas, inacessíveis pelos ramais de transposição de águas). Mas até aqui só puderam ser implantadas 216 mil, beneficiando 1 milhão de pessoas, quando é necessário 1 milhão de cisternas. E agora o governo federal, o maior financiador (85%), anuncia que vai “diversificar” os caminhos da implantação, até aqui entregue a um consórcio de ONGs, a Articulação do Semi-Árido. Não por acaso, passará a colocar parte dos recursos nas prefeituras - em ano de eleição.
Nessa área, a Justiça acaba de obrigar o Ministério da Integração Nacional (Veja, 21/11) a abrir todas as propostas para obras da transposição do Rio São Francisco, porque inabilitara duas sem abrir. Ao serem abertas, verificou-se que uma das inabilitadas era R$ 36 milhões mais barata que a proposta considerada vencedora, de R$ 275 milhões. E para onde irá a água? Cerca de 70%, para irrigação de grandes projetos, inclusive em perímetros irrigados (R$ 491 milhões até 2010) - quando o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca admite que 50% dos perímetros irrigados por ele mesmo estão “sem produção alguma” (Folha de S.Paulo, 18/11). Também os projetos da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) prevêem investimentos de R$ 740 milhões em projetos de irrigação até 2010.Quando se passa à área da energia, mais alguns sustos e surpresas. Continua-se sem discutir o estudo da Unicamp que mostra ser possível economizar até 50% da energia consumida no País, tema tantas vezes comentado neste espaço. Mas se decide instalar, a um custo muitas vezes maior, unidades de geração caras, poluidoras e perigosas, quando também o relatório das Academias de Ciências, aqui citado pelo professor José Goldemberg (12/11), afirma que o formato mais barato para o Brasil é o da eficiência energética.
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