segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Cidades esparramadas

Fábio de Castro

A urbanização dispersa é uma tendência mundial, mas, ao mesmo tempo, um fenômeno que ainda começa a ser estudado. Nesse tipo de urbanização os novos bairros surgem longe do centro da cidade e se espalham em diferentes formas, que vão desde condomínios de luxo até favelas no entorno de estradas. Para contribuir com a compreensão do fenômeno e com a avaliação de seus impactos sobre a sociedade e o meio ambiente, o pesquisador Ricardo Ojima, do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), construiu um indicador de dispersão urbana inédito no Brasil.

De acordo com o pesquisador, a compreensão da dispersão urbana é fundamental para o planejamento urbano, uma vez que seus custos sociais e ambientais são muito diferentes dos gerados pelo modelo tradicional, centralizado, de ocupação do espaço. “Em termos práticos, o uso de um indicador de dispersão pode ajudar a entender melhor as relações que existem entre a forma urbana e a organização social do espaço”, disse Ojima à Agência FAPESP.

Segundo ele, a pesquisa brasileira sobre dispersão urbana ainda é escassa. “A tradição dos estudos urbanos privilegiou as dimensões sociais, que são prementes no Brasil. Com isso, as dimensões de espaço e forma urbana ficaram de lado. Mas o espaço também transforma a sociedade”, apontou. Ojima explica que esse tipo de urbanização tem vantagens para os moradores, mas pode aumentar o custo social do investimento público, já que para diluir os serviços e a infra-estrutura em áreas pouco densas é preciso gastar mais. “Nesses locais, é preciso investir em obras viárias. O impacto ambiental também aumenta com o crescimento da demanda por transporte automotivo”, disse. A dispersão urbana, no entanto, não se limita às grandes metrópoles, nem às classes altas, segundo o pesquisador. “Duas aglomerações urbanas podem apresentar taxas de crescimento populacional semelhantes no mesmo período, mas uma pode configurar uma forma urbana compacta, verticalizada e monocêntrica, enquanto a outra poderá conformar o seu espaço urbano de modo disperso, horizontalizado e policêntrico”, explicou.

O Indicador de Dispersão Urbana foi construído com base em quatro dimensões sociais e espaciais: densidade, fragmentação, orientação e centralidade. “Adaptei ao caso brasileiro uma metodologia semelhante à encontrada nos Estados Unidos sobre regiões metropolitanas do país. A idéia foi contribuir com a análise desses novos desafios para uma urbanização sustentável”, disse.


Média aritmética

A partir de dados fornecidos pela pesquisa Características e tendências da rede urbana no Brasil, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Unicamp, Ricardo Ojima selecionou 37 aglomerações urbanas com critérios baseados principalmente no grau de mobilidade pendular da população – isto é, na proporção de pessoas que moram em um município e trabalham em outro. “Com foco nessa seleção, criei um indicador para cada uma das quatro dimensões espaciais. Cruzando os quatro, cheguei a um indicador sintético capaz de medir essas aglomerações, em termos comparativos, organizando-as em um ranking que vai da mais compacta à mais dispersa”, explicou.

As dimensões de densidade e fragmentação consideram a concentração populacional da aglomeração e seu grau de pulverização das manchas urbanizadas. A dimensão de orientação se refere à forma espacial da mancha urbana – que algumas vezes é circular e em outras é linear, acompanhando uma rodovia ou uma faixa litorânea. A dimensão da centralidade mede, por meio dos movimentos pendulares, o grau de centralização da aglomeração urbana. “O estudo teve uma perspectiva macro e não identificou se alguma dessas dimensões tem mais peso no grau de dispersão. O indicador é, portanto, uma média aritmética das quatro dimensões”, disse Ojima, que atualmente está aperfeiçoando esse aspecto do indicador em pesquisa de pós-doutorado, com bolsa da FAPESP.

“Tive a preocupação de utilizar uma base de dados disponível gratuitamente, com atualização regular, para que o indicador fosse aplicável em outros estudos. Se o acompanhamento da dispersão urbana for feito sistematicamente, será possível considerar esses vetores de dispersão para fazer planejamentos urbanos regionais”, apontou. O indicador já está sendo aplicado atualmente por Ojima no estudo do Nepo vinculado ao Projeto Temático da FAPESP Dinâmica intrametropolitana e vulnerabilidade sociodemográfica nas metrópoles do interior paulista: Campinas e Santos. “Estou utilizando a mesma metodologia, mas procurando refinar o indicador com informações mais específicas, de modo a articular o estudo com a questão ambiental, que é o meu campo principal de estudos.”

Para ler o artigo Dimensões da urbanização dispersa e proposta metodológica para estudos comparativos: uma abordagem socioespacial em aglomerações urbanas brasileiras, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.

Fonte: Agência Fapesp

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