quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Crise mundial derruba mercado de carbono

Roberto do Nascimento

A crise provocada pela especulação financeira a partir dos Estados Unidos, tendo como base a valorização irreal de imóveis financiados, se espalhou pelas bolsas de todo o mundo, e, nesta semana, atingiu também o mercado de carbono. O preço da tonelada evitada de dióxido de carbono (CO2) entre os países europeus (allowance) com vencimento em dezembro caiu de 23 para 20 euros. A tonelada de CO2 não emitida por países em desenvolvimento, caso do Brasil, as chamadas reduções certificadas de emissões ou créditos de carbono, também sentiu os efeitos da recessão norte-americana e seu impacto nos preços das commodities energéticas. Também para entrega em dezembro, os créditos de carbono caíram de cerca de 18 para 15,5 euros por tonelada, informam os especialistas em vendas do setor no Banco Real Maurik Jehee e Desiree Hanna.

No longo prazo, segundo o informe do Real, os analistas dizem não haver fundamento para tanta preocupação, mas o preço mais baixo da energia e a desaceleração econômica terão efeitos sobre o mercado de carbono no curto prazo. "Há outros fatores, contudo, que não são influenciados por isto. Lembramos que a diferença de preço entre gás natural e carvão é um dos fatores predominantes, mais do que o nível em si destes combustíveis. E um inverno rigoroso pode aumentar muito a demanda pelos allowances", afirmam. Jehee e Desiree destacaram ainda a decisão da Comissão Européia de reduzir as emissões de CO2 em 21% até 2020, em relação aos níveis de 2005, além da meta de uso mínimo de 20% de fontes renováveis. Outra medida importante é que as companhias energéticas terão de pagar pelos allowances a partir de 2013 (atualmente, são gratuitos). "Enquanto os ambientalistas reclamaram que não será suficiente, pedindo uma redução unilateral de 30%, as indústrias reclamaram que o plano pode levar a suicídio econômico, correndo o risco de transferências massivas de empregos para países como China, Índia e Estados Unidos, onde as restrições às emissões são bem menos severas.

Porém, segundo a Comissão, os custos serão reduzidos: espera-se um aumento do custo de energia elétrica de 10% a 15% e um custo total do pacote de medidas de menos de 0,5% de PIB em 2020." E se os outros países não seguirem o exemplo, há sempre a possibilidade de taxar a importação de produtos com altas emissões de carbono, comentam. "A nossa análise é bem mais positiva. Avaliamos, assim como a Comissão Européia, que as medidas darão uma vantagem para a indústria européia na criação de uma economia com baixas emissões de carbono, com a expectativa de uma onda grande de inovações e criação de novos empregos nas tecnologias limpas. Esta é uma tendência que já está em andamento e deve acelerar com a aprovação destas medidas", dizem Jehee e Desiree. "Em nossa visão, a Europa está mostrando que as mudanças climáticas trazem não apenas problemas, mas geram muitas oportunidades de novos negócios também."

Fonte: DiárioNet

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