quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Satélites: linha de frente no combate ao aquecimento global

Informações providas por satélites serão essenciais para subsidiar políticas públicas

O aquecimento do Planeta pela ação do homem já é uma realidade, segundo o Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC). A taxa de elevação tem sido de 0,2ºC por década, o que parece pouco perto das variações de temperatura que uma pessoa enfrenta durante o dia. No entanto, não se deve esquecer que apenas 5ºC nos separam da última era glacial. As conseqüências para o meio ambiente não serão das mais animadoras.

Prevêem-se o aumento do nível dos oceanos e alterações na linha costeira, desertificação da Amazônia, maior incidência de furacões e toda sorte de fenômenos influenciados pela temperatura no Planeta. Entre os especialistas, diz-se que mesmo que as emissões cessem imediatamente, o mundo sentirá os efeitos de todo o gás carbônico que já foi despejado na atmosfera. Se o marco limite para se retornar já foi ultrapassado, como estar preparado para enfrentar os desafios que se apresentarão nas próximas décadas? A resposta pode estar nos “olhos” que o homem conseguiu colocar no espaço para vigiar a Terra: os satélites. Segundo o chefe da Divisão de Sistemas e Satélites Ambientais do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec/Inpe), Luiz Augusto Machado, os satélites atuam em duas frentes fundamentais: a previsão climática e o monitoramento.

Enquanto a previsão analisa as condições meteorológicas e as tendências da temperatura, pressão, precipitação, nuvens, aerosóis, vento, ou seja, o clima em si, o monitoramento inclui a observação das conseqüências na superfície, principalmente na vegetação. “O satélite é a ferramenta que permite fazer medições contínuas de todo o globo terrestre; ele espacializa a informação, além de ter resolução temporal constante”, diz. Para o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT), em São José dos Campos (SP), isso é um sinal de que os dados fornecidos por esses artefatos se tornarão cada vez mais importantes. “Nós precisamos ter sensores de monitoramento ambiental que possam nos ajudar a responder às grandes questões referentes ao Brasil: como o clima está mudando, como a vegetação está mudando, como o nível do mar está mudando, como a linha costeira está mudando”, afirma. “Em um país tão grande como o nosso, a melhor ferramenta para monitorar a variabilidade na paisagem são as plataformas orbitais”.

Três satélites nacionais em operação contribuem tanto para a previsão do tempo quanto para o estudo do território brasileiro. Aliado à nossa tecnologia de observação da Terra, o Brasil também faz uso de diversos artefatos estrangeiros. Dois dos equipamentos nacionais são os Satélites de Coleta de Dados (SCDs), lançados em 1993 e 1998. Os SCDs compõem o Sistema de Coleta de Dados Ambientais (SBCDA), que recolhem dados de cerca de 700 plataformas automáticas de superfície, instaladas de Norte a Sul. Esses satélites registram informações agrometeorológicas, meteorológicas, hidrológicas e oceanográficas. Para o responsável pelo SBCDA no Inpe, Wilson Yamaguti, a aquisição de dados ambientais “in-situ” por meio de plataformas de coleta de dados é uma ferramenta importante para a observação e o conhecimento do nosso Planeta, com reflexos na calibração de modelos de diversos fenômenos naturais e conseqüente melhora das previsões de tempo e clima.

Mas, na sua opinião, mesmo com o número de plataformas já instaladas e em operação no Brasil, há necessidade de incrementar esse número face às dimensões continentais do País, bem como investir na reposição dos SCDs para permitir a continuidade dos serviços de coleta de dados. Por outro lado, a parte de monitoramento ambiental tem grande auxílio do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (Cbers). As imagens geradas pelo Cbers cobrem todo tipo de estudo que envolva uso ou alteração na superfície, seja vegetação, cidades, plantações ou cursos d´agua, por exemplo. “Uma das principais funções das câmeras do Cbers é a detecção de alterações na vegetação, particularmente aquelas mais drásticas, como remoção, mudanças fortes de uso, alterações sazonais. Como uma das variáveis importantes nas componentes das mudanças globais é o uso do território, conclui-se que os satélites como o CBERS são fundamentais no acompanhamento desses processos”, observa o coordenador do Segmento de Aplicações do Programa Cbers, José Carlos Epiphânio.

Floresta

Nobre, que redigiu, em conjunto com outros pesquisadores, um artigo publicado na revista científica Science sobre a possibilidade de savanização da Amazônia em decorrência das mudanças climáticas, confirma a relevância do satélite sino-brasileiro. “O Cbers é uma ferramenta fantástica, tem permitido o monitoramento da floresta amazônica com grande precisão e tem mostrado ser um instrumento da vegetação nativa. É desse tipo de satélite que nós precisamos ter um compromisso para comparar o que já temos e expandir”. Nobre acredita que os dados obtidos pelos satélites e os estudos decorrentes dessas informações vão subsidiar decisões políticas de combate às causas e às conseqüências do aquecimento global. “São vários os componentes antes de propor políticas públicas: analisar, acompanhar os dados, e aí, sim, nós teremos a condição de criar políticas públicas ou de adaptação ou de redução dos riscos associados. E, para isso, os satélites são essenciais”, justifica. Para tanto, Nobre defende a constância de ações nesse campo. “É importante que o Brasil faça uso de sensores de monitoramento ambiental em um programa de longo prazo, para que haja comparabilidade entre os dados”, o que compreenderia um período de, pelo menos, 20 a 50 anos. Sem uma sequência de satélites que dêem informações sobre um determinado fator, quebra-se a continuidade da sequência histórica, fundamental para permitir a comparação. Assim como os desafios impostos pelo aquecimento global devem crescer nos próximos anos, os satélites terão de acompanhar cada vez mais de perto novos parâmetros. Para contribuir com essa demanda, o Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae) prevê o lançamento de mais três Cbers, o satélite Amazônia-1, além do Mapsar - um satélite radar que enxerga a superfície mesmo à noite ou coberta por nuvens.

Fonte: Coordenação de Comunicação Social da AEB

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