Um estudo do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco, quer identificar quais são os animais que ajudam a manter o ciclo de transmissão da leishmaniose tegumentar americana (LTA) em um campo militar na Zona da Mata Norte do estado. A pesquisa, alvo de um projeto de doutorado, está sendo feita no Centro de Instrução Marechal Newton Cavalcanti (CIMNC), situado no município de Paudalho, a 60 quilômetros do Recife. No local de 6,28 mil hectares de mata, são treinados, anualmente, mais de cinco mil militares do Exército oriundos de todo o Nordeste. De 2002 a 2007, 110 pessoas foram contaminadas pela LTA na área. O maior surto aconteceu em 2006, quando foram registrados 71 casos no CIMNC.
Segundo o orientador do estudo, Sinval Brandão Filho, do Departamento de Imunologia do Centro, a hipótese levantada é que os reservatórios da doença sejam pequenos roedores, a exemplo do preá (Nectomys squamipes) e o rato-de-rabo-peludo (Bolomys lasiurus). Os animais já estão sendo capturados na área. Uma vez identificados os roedores, os responsáveis pelo CIMNC poderão tomar medidas profiláticas mais adequadas, reduzindo a contaminação dos militares. “Com a identificação dos reservatórios conheceremos o padrão de transmissão da leishmaniose naquela área”, pontuou a enfermeira do Hospital Geral do Recife (HGeR) Maria Sandra Andrade, que é major do Exército e a doutoranda responsável pelo trabalho.
Com a colaboração do Laboratório de Leishmaniose do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, no Rio de Janeiro, foram feitos, paralelamente à captura, isolamentos do parasita que infectou os militares na área, em 2006. Os testes classificaram-no como o Leishmania braziliensis, causador da LTA. “O estudo tem importância epidemiológica, mas tem cunho absolutamente científico”, esclareceu Brandão Filho. A tese de Maria Sandra será defendida em 2009. Apesar disso, um pôster sobre o trabalho recebeu menção honrosa no 20º Congresso Brasileiro de Parasitologia, promovido de 28 de outubro a 1º de novembro, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. A apresentação ficou entre os dez melhores trabalhos do evento e foi a única do CPqAM selecionada pela comissão julgadora do congresso.
Em 2003, Maria Sandra concluiu o mestrado em saúde pública também no CPqAM. Na dissertação, ela verificou o período de maior ocorrência da doença na região e de maior incidência do flebotomíneo (de maio a agosto, devido às chuvas), além das áreas mais susceptíveis ao contágio. “Instruímos os militares que treinavam na região e os médicos que acompanhavam os grupos para evitarem as áreas de contágio, tanto que, nos anos em que fizemos essa ação educativa (2004 e 2005), não foram registrados casos na localidade”, pontuou a enfermeira. Seu interesse pelo estudo da leishmaniose surgiu depois de acompanhar os pacientes que chegavam ao HGeR para tratamento da doença. O Exército já havia solicitado apoio do CPqAM para realizar um inquérito sobre a leishmaniose no CMINC. O levantamento foi feito em 1997, pelo pesquisador Sinval Brandão. Nele, foram identificadas as espécies de flebotomíneos e sugeridas medidas preventivas, como o uso de repelentes ou de roupas com maior proteção. Naquele ano, o Exército registrou um surto na área, com 56 casos.
Fonte: Fiocruz
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