quarta-feira, 23 de abril de 2008

Dengue põe em evidência pesquisas realizadas no Rio de Janeiro

Vinicius Zepeda

A nova epidemia de dengue, que atingiu o Rio ao longo das últimas semanas, trouxe visibilidade para diversos estudos que visam ao combate à doença e que vêm sendo realizados em instituições de ensino e pesquisa fluminense. Pelo menos três deles, que ganharam a mídia recentemente, receberam apoio da FAPERJ, direta ou indiretamente. Na Uerj uma equipe coordenada pelo médico Antônio Cláudio Mendes-Ribeiro anunciou uma descoberta mundial a respeito dos sangramentos decorrentes da doença. Já no Instituto de Microbiologia da UFRJ, Maulori Currié Cabral apresentou uma armadilha simples e artesanal para prevenir a incidência de novos focos. Além disso, uma equipe da Coppe/UFRJ, em parceria com pesquisadores de outras duas instituições, desenvolveu um sistema de softwares computacionais para agilizar a prevenção e o controle da doença.

Na Uerj, uma equipe de pesquisadores, coordenada pelo médico e professor Antônio Cláudio Mendes-Ribeiro, do Laboratório de Transporte de Membranas (LTM) do Departamento de Farmacologia e Psicobiologia, acaba de concluir um artigo em fase de publicação em uma revista internacional, com o apoio do edital Pesquisa para o SUS, da FAPERJ, e também com bolsas da Fundação ligadas ao Programa de pós-graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental (Fisclinex), o estudo A via L-arginina – óxido nítrico, sangramento e dengue. “Nossa pesquisa demonstrou pela primeira vez no mundo, que em pacientes com dengue clássica (não–hemorrágica), suas plaquetas têm um transporte aumentado do aminoácido L-arginina, substrato da síntese do óxido nítrico, que é um potente vasodilatador e anti-agregante plaquetário”, explica Mendes-Ribeiro. “Desta forma, não somente na dengue hemorrágica, mas em qualquer que seja seu tipo, as plaquetas têm sua função diminuída. Com esta diminuição, os pacientes ficam mais sujeitos a hemorragia ou sangramento”, acrescenta.

A descoberta realizada pelos pesquisadores do LTM/Uerj resultou na publicação de um artigo que já está no prelo de uma revista internacional. Para o desenvolvimento da pesquisa, a equipe coordenada por Mendes-Ribeiro estudou 16 pacientes em Hospitais da Zona Oeste do Rio, entre 2005 e 2006. “Agora vamos propor novas formas de combate à desagregação plaquetária. Inibir a entrada da L-arginina, desativando a ação do óxido nítrico dentro da plaqueta, é uma das possibilidades”, afirma o pesquisador. Atualmente os pesquisadores do LTM já estão terminando um novo estudo, desta vez com 20 pacientes com dengue hemorrágica. “Neste outro trabalho, constatamos que o uso indiscriminado do medicamento paracetamol pode estar associado ao aumento da mortalidade da doença. Apesar de este remédio não inibir a função plaquetária, ele causa efeitos colaterais no fígado, onde a dengue é tóxica. Para quem consome bebidas alcoólicas então, o risco é maior ainda”, explica. “Portanto, além de combater os focos do mosquito é essencial que a pessoa com suspeita de dengue procure os postos ou tendas de saúde para receber o tratamento adequado, em vez de se automedicar”, conclui.
Garrafa PET, tesoura, alpiste, microtule e fita isolante criam armadilha para mosquito

Dengue põe em evidência pesquisas realizadas no Rio de Janeiro

Uma armadilha simples e eficaz para eliminar mosquitos e em particular os da espécie Aedes aegypti, transmissores da dengue no ambiente urbano; a “mosquitérica” tornou célebre o Prof Maulori Curié Cabral, do Departamento de Virologia do Instituto de Microbiologia da UFRJ. Feita de garrafa plástica (PET), fita isolante, lixa, tesoura e um pedaço de tecido chamado microtule (tecido do véu de noiva com a trama de no máximo 1 mm de diâmetro), grãos de alpiste, arroz ou de ração para gatos triturada, a armadilha já foi apresentada em programas de TV e jornais de todo o país, e sua confecção tem sido ensinada em escolas públicas e privadas do estado, como motivação educacional para prevenção de doenças transmitidas por mosquitos. Graças ao apoio do edital Apoio à Melhoria do Ensino nas Escolas Públicas do Estado do RJ, da FAPERJ, o artefato está sendo ensinado a estudantes dos municípios de Saquarema, Volta Redonda, Três Rios, entre outros.

Para construir a mosquitérica corta-se a garrafa PET na altura em que ela começa a afunilar. Depois do corte formam-se duas peças: o copo e o funil. Lixa-se a parte interna do funil. Tira-se a argola que lacra a tampa da garrafa. Cobre-se a boca da garrafa com um pedaço do microtule e usa-se a argola como presilha do microtule. Tritura-se uma pequena quantidade de arroz ou alpiste (4 ou 5 grãos) ou um grão de ração felina. Usa-se um desses materiais como fonte de alimento para o desenvolvimento das larvas, colocando-o no fundo do copo, junto com água. Tampa-se o copo com a boca do funil para baixo. Veda-se, com a fita isolante, a parte externa do funil com a borda do copo (clique e confira passo a passo para construir a mosquitérica – PDF).

É importante manter sempre a água num nível acima da boca da garrafa (onde se encontra o pedaço de microtule) e marcar esse nível com um pequeno pedaço de fita isolante. A água com o alimento (arroz, alpiste ou ração) atrai a fêmea do mosquito. Em poucos dias, se no ambiente em volta houver o vetor, os ovos e as larvas aparecerão no recipiente. “Para saber se a larva é realmente do mosquito da dengue, pode-se apontar uma lanterna acesa para a base da garrafa. Se as larvas fugirem da luminosidade (se movimentando em direção à superfície), é um sinal de que se trata do Aedes aegypti” explica Cabral.

O pesquisador lembra que a mosquitérica não deve ser mantida em local exposto ao sol, pois isso anula sua atratividade aos A. aegypti. “O nível da água deve estar sempre próximo da marca. Por isso, é preciso enchê-la sempre, pois a água evapora e seu nível diminui”, afirma. Maulori Cabral chama a atenção para o fato de que a “mosquitérica” não substitui o trabalho de prevenção contra focos dos mosquitos. Seu objetivo é indicar se há, na vizinhança, alguém mantendo os criadouros de mosquitos da dengue. Além disso, pode servir para prevenir a infestação por focos de outros tipos de mosquitos e muriçocas.

Segundo Maulori Cabral, em 2007 escolas municipais e privadas de Saquarema confeccionaram sete mil mosquitéricas. Já nesta semana, as escolas de Volta Redonda produzirão, juntas, um total de 16 mil dessas armadilhas. A equipe que colabora com Cabral conta ainda com pesquisadores da UFRJ, Fiocruz (Fundação Instituto Oswaldo Cruz) e UFF (Universidade Federal Fluminense). Eles visitam escolas e cidades orientando a população sobre formas de prevenir a doença. No último dia 5 de abril, estiveram na Ilha de Paquetá. “Por ser um ambiente fechado, esperamos que a população daqui transforme este local no modelo experimental de prevenção para todo o país”, prevê Cabral. Para atender a solicitações para apresentações e esclarecer dúvidas, o Instituto de Microbiologia da UFRJ oferece ainda o Disque-Dengue, com dois telefones: 2560-6698 e 2560-8344 ramal 163, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.

Em parceria com Uece e Universidade de Avignon, Coppe/UFRJ desenvolve softwares
Uma equipe da Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia) desenvolveu, em parceria com pesquisadores da Uece (Universidade Estadual do Ceará) e da Université de Avignon, França, um conjunto de softwares computacionais para a prevenção e controle da dengue. Segundo seus criadores, o sistema, testado com bom resultado em Fortaleza, permitirá aos gestores de saúde visualizar, de uma única vez e de forma imediata, as diversas dimensões do problema como controle de focos, casos de infecções e logística dos agentes.

O novo sistema é composto de cinco softwares. O primeiro é GeogRAPHVS, voltado para a produção e edição paralela georeferenciada de mapas urbanos. O segundo é o Gestor, voltado par a gestão de planejamento e distribuição de agentes de saúde. O terceiro é o Supervisor, voltado para a supervisão e distribuição de tarefas, transferência de dados coletados em campo por meio da internet. O quarto é o Palm Agent, que monitora por meio de um GPS, a localização dos agentes de saúde. O quinto e último é o Webdengue, um sistema georeferenciado para ser usado via internet, permitindo a visualização e notificação de casos de infecção e focos da doença em tempo real.

Envolvido no projeto, o professor da Coppe/UFRJ Adilson Elias Xavier, afirma que com o novo sistema será possível, em pouco tempo, fazer o cruzamento das informações, analisar os locais infestados e os casos da doença. “Neste ambiente, múltiplas cidades podem ser acompanhadas, dia-a-dia, basta que se tenha os mapas digitais”, conclui Adilson.Clique e confira passo a passo para construir a mosquitérica (doc. em PDF)

Fonte: Agência Faperj

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