por Luciana Silvestre, enviada Especial a Eunápolis (BA)
O Ibama e o CRA foram condenados por concederem, indevidamente,autorizações para a Veracruz implantar os plantios de eucalipto. O Ibama terá que apresentar o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA)para licenciamento da Veracel. Já o CRA precisará pagar 10% do total da multa. Para o padre José Koopmans, de Teixeira de Freitas (BA), que acompanhou todo o processo de implantação da empresa no extremo sul do Estado, a sentença da Justiça foi uma vitória. "Apenas agora, quinzeanos depois, estamos vendo o resultado das primeiras denúncias quefizemos contra a Veracel. Ficou comprovado que aquele processo de implantação sem os estudos necessários foi ilegal". Padre José reitera que, passados tantos anos, o que ficou para a região foi uma total degradação. "Além da completa destruição da faunae da flora, houve muitos impactos socioeconômicos. A população foi expulsa do campo, sob falsas promessas de emprego. O que vemos hoje é um crescimento da violência e do desemprego, bem como uma falta de estrutura básica, de saúde e educação nesses municípios onde se instalou a monocultura do eucalipto", ressaltou Koopmans.
O que mais chama a atenção do Fórum Socioambiental do Extremo Sul,integrado por ONG's, movimentos sociais, pesquisadores e estudantes, é a facilidade com que a empresa conseguiu se fixar na região. Mesmo sem a realização dos estudos necessários, os órgãos ambientais estaduais(CRA) e federais (Ibama) expediram licenças que continuam sendo liberadas indiscriminadamente até hoje. "Essas empresas sempre contaram com o apadrinhamento do Estado, que continua licenciando o plantio de eucalipto, mesmo admitindo que não tem condições técnicas para acompanhar e fiscalizar um projeto desse porte, e mesmo sabendo que a Veracel não cumpre a maioria das condicionantes para continuarem execução", explicou Ivonete Gonçalves, coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul (Cepedes).
Projeto de expansão
Estão sendo apuradas denúncias sobre a omissão do Estado da Bahia e de órgãos ambientais estaduais na realização de estudos imprescindíveis para a implantação de projetos como o da monocultura de eucalipto na região, a fim de favorecer a empresa Veracel Celulose na execução de seu projeto."Estamos acompanhando o inquérito do MPE e confirmando o que já suspeitávamos: que a Veracel inaugurou uma forma própria para consolidar seu empreendimento junto ao Estado, envolvendo funcionários públicos para obter benefícios em função do aumento da produção e do lucro", relatou Ivonete.
Organizações sociais denunciam o caso há quinze anos
Após as denúncias, o então ministro do Meio Ambiente, Fernando Coutinho Jorge, embargou o projeto de implantação da empresa e determinou que o Ibama fizesse uma vistoria técnica para apurar averacidade da denúncia.O grande problema é que esses estudos, além de realizados depois do início das atividades da empresa, foram feitos às pressas, principal crítica feita pelos auditores independentes. Além disso, foram executados por uma empresa consultora finlandesa (Jaakko Poyry) que,depois, ganhou contratos de serviços prestados à empresa Veracel. Ou seja, tinha um grande interesse em fazer um estudo de impactoambiental favorável à empresa.
Reviravolta
A Procuradoria Geral da República, acionada pelas ONG's Greenpeace,SOS Mata Atlântica e IBASE, encaminhou em outubro de 1993 uma Ação Civil Pública, na Justiça Federal, contra Veracruz, CRA e Ibama. A sentença foi proferida apenas quinze anos depois, em junho de 2008. O veredicto foi a condenação da empresa e dos órgãos ambientais (LS).
O que diz a legislação?
Tem por objetivo geral organizar as decisões dos agentes públicos e privados quanto a planos, programas,projetos e atividades que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais, assegurando a plena manutenção do capital e dos serviçosambientais dos ecossistemas.
Quem é a Veracel Celulose?
Área: possui cerca de 205 mil hectares de terras no extremo Sul daBahia, sendo cerca de 96 mil hectares de monocultura de eucalipto.
Produção: mais de um milhão de toneladas de celulose destinadas à exportação, sendo que metade pertence à Aracruz Celulose.
Financiamento público: BNDES (R$ 1,43 bilhões)
Quem a Veracel financia: Jaques Wagner, atual governador da Bahia (R$100.000 para sua campanha em 2006).
Empregos para quem? gera apenas 410 empregos diretos na fábrica. Possui mais de 180 empresas terceirizadas; há mais de 800 ações movidas contra a empresa por direitos trabalhistas;
Hoje, em 146.927 hectares da Veracel, moram apenas 71 pessoas, e são gerados apenas 1 emprego em cada 156 hectares de terras;
– Mais de 800 pessoas tiveram que sair das suas casas por causa daVeracel, perdendo seu meio de sustento;
Em Santa Cruz de Cabrália, dos 193 trabalhadores e empregados que existiam nas terras compradas pela Veracel, apenas 56 trabalhadores restaram, e dos 240 moradores, restaram apenas 14;
No município de Porto Seguro, o número de trabalhadores/empregados passou de 88 para dois, e o de moradores passou de 138 para nove.
Empregos terceirizados e sem garantias
Segundo dados do sindicato, a Veracel possui apenas 410 trabalhadores diretos em sua fábrica e cerca de 9 mil terceirizados, além de contar com serviços terceirizados de 180 empresas. A lógica da terceirização prejudica profundamente o trabalhador, pois,além de ele não ter a total garantia aos direitos trabalhistas, também é sobrecarregado no cotidiano. Com o passar do tempo, as empresas de celulose foram reduzindo o número de trabalhadores, ao mesmo tempo emque aumentavam a produtividade. "O que era feito por 20 trabalhadoresantes, é feito por 4 hoje. Isso é a causa de tantos acidentes de trabalho e de lesões por esforço repetitivo", explica Fábio.
Diante do anúncio da duplicação da Veracel, o Sindicelpa apresentou sua preocupação. "O aumento da capacidade de produção da empresa ocorrerá pela criação de empregos com vínculo empregatício terceirizado, num processo desenfreado de precarização", argumentou Carlos Ribeiro Monteiro, do Sindicelpa. Ele ainda ressaltou que teme que o Brasil se transforme totalmente em um paraíso de mão-de-obra barata, o que já vem ocorrendo.
Concomitante a esse processo no Brasil, ocorre o fechamento dessasfábricas na Europa, aumentando o desemprego lá também. (LS)Stora Enso projeta duplicação da Veracel. A Stora Enso anunciou, em maio, a construção de mais uma empresa decelulose no extremo Sul da Bahia, a Veracel II. A previsão é de que aárea de plantação de eucalipto seja duplicada.
Jouko Karvinen, um dos principais executivos da transnacional,informou também que a nova fábrica produzirá mais de 1 milhão de toneladas de celulose. Para assegurar a matéria-prima para a segunda linha de produção, serão necessários, pelo menos, 70 mil novoshectares de plantio de eucaliptos.
Fonte: Brasil de Fato
Um comentário:
Prezados,
Muito interessante esta reportagem, pena que foram ouvidas apenas pessoas altamente contra o empreendimento e nenhuma a favor. O Padre que tanto se diz ambientalista vem de um pais onde mata nativa não existe mais. Sempre me pergunto por que ele não volta para lá e obriga seu governo a reflorestar com espécies nativas 20 a 30% do terrítorio, ou no caso do Cepedes, organização regional que nunca se viu fazer nada de útil para a população carente da região, pois tanto eles como Padre não recebem R$ de fora para isso mas sim para emperrar o desenvolvimento da empresa.
Este infelizmente o retrato do nosso Brasil ataul. Quem produz tem menos valor do que quem invade terras e se diz ambientalista.
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