quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O Escritor e Jornalista Vilmar Berna, em entrevista ao Jornal Monitor

Segue abaixo areportagem completa.

Alicinéia

Jornal Monitor Campista: Bom, sobre o seu livro “O Desafio de Escolher”. Ele chegou ao mercadoeditorial este ano?

Vilmar Berna: sim, está sendo lançado agora.

J.M.C: Sobre o que fala a obra?

VB: No livro O DESAFIO DE ESCOLHER abordo com mais profundidade sobre odireito que temos de escolher o que é melhor para nossa vida. Trata-se de umtema que já havia tratado brevemente em meu outro livro O DESAFIO DO MAR,que está em sua 17ª edição, com mais 100 mil exemplares vendidos, e queretomo agora.

J.M.C: Quanto tempo você levou para fazer?

VB: simplificando quanto ao processo de criação, meu livro divide em conteúdo e forma, ligados à inspiração, e a escrita efetivamente, que é a transpiração. Alguns autores dizem que na primeira parte o escritor gasta 10% do seu tempo e 90% no restante. É mais ou menos isso. Na verdade, o conteúdo diz respeito à mensagem, a moral da história. E aqui não é possível se medir em tempo, por que o tempo que se leva é o de uma vida inteira, e por mais que tenhamos vivido muitas experiências, cada dia é dia de um novo aprendizado. Quanto à forma, é a idéia de como o conteúdo será passado, se na forma de poesia, prosa, história, etc., se a mensagem terá o apoio de ilustrações, etc. Aqui também não dá para se medir em tempo por que depende de inspiração, e esta surge a qualquer momento, ou quase nunca, então é preciso estar atento. Finalmente, o tempo de colocar no papel tudo isso.Engana-se quem pensa que um escritor, só por que tem talento, escreve rapidinho e manda para a editora. Não é assim. A gente literalmente briga com o texto, garimpa as palavras, escreve e reescreve várias vezes até que o livro ganha vida própria e resolve se livrar da gente...

J.M.C: Como está a repercussão do livro?

VB: Muito boa! Só para dar uma idéia, nesta semana, estou em Campos na quarta e viajo já no dia seguinte para São Luis, no Maranhão, onde darei palestra e autógrafos na Feira de Livro de São Luis. Na seqüência, vou direto para São Paulo antes de voltar para Niterói, onde moro. Ainda este mês tenho viagens programadas para Curitiba. São indicadores que revelam o interesse de livreiros, leitores, organizadores de eventos.

J.M.C: Qual é o seu objetivo com este livro?

VB: estimular o gosto pela leitura e escrita e a reflexão sobre o fato de que não temos de ser marionetes ou vítimas do destino, de nossa própria natureza humana ou das circunstâncias da vida - por mais que elas exerçam influência sobre nós -, pois temos alternativas de escolher o que é melhor para nossa vida. Mas, escolher inclui riscos, e por isso é preciso aprender a escolher com cuidado, desde as mais simples decisões sobre o nosso cotidiano, como escolher uma roupa, ou o que comer, até decisões que nos seguirão por toda a vida, como a profissão, um novo relacionamento, a educação dos filhos, a relação com o mundo, com o outro, com o meio ambiente.

J.M.C: Você já veio a Campos em outras ocasiões? Se sim, que lembranças guarda daqui? Se não, qual a sua expectativa para o lançamento?

VB: Em agosto de 2006, tive a honra e a alegria de pronunciar palestra na Academia Campista de Letras, na ocasião em que lancei meu livro “PensamentoEcológico”. Mas Campos faz parte de minha história. Em meu livro “Ecologia Para Ler, Pensar e Agir”, que está esgotado, publico uma foto de uma das vezes em que estive em Campos em ações em defesa do meio ambiente, em parceria com amigos como o Soffiati e do CNFCN. Numa dessas ocasiões, conseguimos descobrir onde morava o ‘rei do desmatamento’ que acabou preso pela Justiça. Voltei a Campos para organizar um abraço ecológico ao Parque Estadual do Desengano entre outras lutas.

J.M.C: Você é gaúcho. Há quanto tempo mora no Estado do Rio?

VB: São mais de 30 anos. Vim do Rio Grande do Sul para viver no Rio deJaneiro na década de 70, para servir o Exército. Eu tinha quase 18 anos.Quando dei baixa, um ano depois, continuei por aqui e só volto ao Sul a passeio.

J.M.C: É verdade que você vive numa comunidade de pescadores artesanais? Você resolveu morar nesta comunidade por opção ou foi alguma “obra do acaso”?

VB: sim e foi resultado meio de escolha meio de acaso. Na verdade já havia tomado a decisão de viver mais perto de uma comunidade, pois os bairros de classe média em que sempre vivi as pessoas parece que procuram se evitar,vivem anos a fio parede colada e não se conhecem. Quando me separei de minha primeira esposa achei que era a hora, mas não queria morar numa casa,propriamente, mas num barco, uma traineira de pesca que eu adaptaria como casa. E foi atrás de um barco assim que comecei a procurar, mas acabei encontrando uma casa, junto à Baía de Guanabara que o dono me facilitou o pagamento e do balanço do mar acabei me fixando como um molusco na rocha.

J.M.C: Pelo que li a seu respeito, você é um defensor da cidadania ambiental no planeta e já teve seu trabalho bastante reconhecido, inclusive, pela ONU.Gostaria que você comentasse um pouco sobre isso, destacando o que mudou na sua vida após esses reconhecimentos.

VB: a história do meu envolvimento com a causa ambiental começou quando eu tinha 16 anos e era interno no Novo Lar de Menores, em Viamão (RS), um colégio interno para menores oriundos da FEBEM, como eu. Os padres costumavam levar os menores para caçar nos banhados do sul, nas épocas próprias de caça e com todas as licenças devidas. Era um grande evento para os menores, por que era também o único em que todos saiam do Novo Lar de Menores. Portanto, um grande acontecimento para todos. Menos para mim. Ia para a caçada a contragosto, preferia não, mas como todos iam, não tinha como ficar. Como me recusava a pegar em armas e ir com o grupo caçar, ficava responsável por ficar ‘cuidando’ do acampamento. Vi ao longe o movimento, os tiros, os gritos de alegria diante da caça abatida, e tudo aquilo me deixava chateado. Até que numa ocasião, ao olhar o grupo de caçadores que vinha em direção ao acampamento onde eu estava, bem junto de mim, numa moita a uns 2 metros de distância, uma família de ratões do banhado, com filhotes e tudo pararam apavorados diante de mim e ficaram paralisados, olhando fixamente para mim. Peguei umas pedras e joguei mo mato para que os animais saíssem dali para não serem caçados. Jamais esqueci do olhar apavorado daqueles animais. Comecei a me interessar e a ler sobre o assunto meio ambiente, mas era difícil obter bibliografia naquela época. Então, numa dessas buscas,acabei tendo acesso a tal carta do índio Seatle, e aí descobri o que queria fazer com o resto de minha vida. Dois anos depois me mudei para o estado do Rio de Janeiro, fixando residência em São Gonçalo, município da região metropolitana do Estado doRio de Janeiro. Em janeiro de 1982, me uni a outros companheiros e fundei a organização não-governamental UNIVERDE, com a proposta de conscientizar a sociedade para a urgência e a importância da cidadania ambiental ativa e participativa como solução para os problemas ambientais. Em janeiro de 1984, fundei com demais companheiros, na Cidade do Rio de Janeiro, a organizaçãonão-governamental Defensores da Terra, quando atuei intensamente em campanhas para tirar as unidades de conservação do papel, em defesa dos rios e lagoas, entre outras, e que resultou na maior conscientizaçã o da sociedadepara as causas ambientais, tendo por conseqüência, entre outras, no aumento da pressão junto às autoridades, parlamentares que passaram a incorporar a questão ambiental em suas atividades. Aos poucos o tema ambiental passou afazer parte com cada vez mais freqüência da pauta dos veículos, levando -o a ganhar cada vez mais importância junto à sociedade e àimprensa. Iniciava aí o embrião da futura REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental (<http://www.portaldo meioambiente. org.br/rebia/ conheca.asp>, com o propósito deenvolver cada vez mais pessoas e instituições com foco na democratização da informação ambiental no Brasil, promovendo sua ação articulada, difundir a“Cultura de Rede” e o fortalecimento dos laços entre os produtores e difusores de informações ambientais no Brasil, editar a Revista do Meio Ambiente e o <http://www.portaldo meioambiente. org.br>

J.M.C: Sustentabilidade, responsabilidade ambiental, aquecimento global são assuntos bastante discutidos hoje em dia (se comparados há alguns anos). Mas, em sua opinião, isso indica uma mudança de comportamento real, na prática, ou ainda está muito no campo teórico?

VB: A conscientizaçã o do brasileiro em relação ao Meio Ambiente aumentou 30%nos últimos 15 anos. (MMA/Iser 2005), o que nos dá motivos para ter esperanças, pois isso tem motivado mudanças concretas como a maior organização da sociedade na luta por seus direitos ambientais com as chamadas ONGs, organizações não-governamentais, dedicadas às lutas ambientais. Surgiu ainda uma legislação ambiental, que se torna mais rigorosa a cada dia. O próprio surgimento da mídia ambiental e o aumento do espaço para a pauta ambiental nos veículos da chamada Grande Mídia. A cada dia são criados novos cursos na área ambiental e realizados feiras,seminários, palestras sobre meio ambiente. Outro indicador importante é o número de novos livros dedicados ao tema ambiental. Os políticos e administradores públicos estão cada vez mais envolvidos com a causa ambiental e preocupados em dar retorno ao seu eleitorado. As empresas, mesmo as mais poluidoras, estão adotando sistemas de gestão ambiental, estão buscando a ecoeficiência, valorizando selos e prêmios ambientais, combatendo a poluição. Definitivamente, este é um caminho sem voltas, pois a tendência é de aumentar a cada dia a consciência ambiental na sociedade. Resta saber se o planeta conseguirá sustentar a vida humana pelo tempo necessário atéque todas as mudanças que estão em curso consigam produzir seus efeitos.Torço para que tenhamos tempo. Na verdade, trabalho por isso, pois tenho netos, e quero o melhor para eles e os filhos deles.

J.M.C: Por fim, e com a bagagem que você tem, que mensagem deixaria aos campistas a respeito da preservação do meio ambiente? O senhor arriscaria apontar uma solução?

VB: Perguntaram uma vez isso ao Confúcio: “Mas, por onde eu devia começar? O mundo é tão vasto, começarei com meu país, que é o que conheço melhor. Meu país, porém, é tão grande. Seria melhor começar com minha cidade. Mas minha cidade também é grande. Seria melhor eu começar com minha rua. Não: minha casa. Não: minha família. Não importa, começarei comigo mesmo.” É preciso,na verdade, é urgente, mudar nosso estilo de vida a fim de assegurar a preservação do meio ambiente e isso além de não ser uma tarefa pequena, não é nada fácil, por que estamos falando de mudança, e mudar não é fácil, ainda mais quando o tipo de mudança necessária requer não apenas nosso esforço pessoal, mas também o esforço de toda uma coletividade planetária. O que está em jogo não é sobrevivência de um ou outro indivíduo, ou mesmo de um coletivo nacional, mas da espécie humana inteira, sem exagero! Os limites de nosso crescimento e a mudança na maneira de produzir e consumir os recursos do planeta precisa ser negociado com a sociedade, por isso é tão importantee estratégico mantê-la bem informada. Se as informações forem falsas,incompletas, mentirosas ou baseadas em fantasias e mitos, nossas escolhas serão influenciadas por elas. Todos nós dese­jamos viver num mundo melhor,mais pací­fico, fraterno e ecológico. O problema é que as pes­soas sempre esperam que esse mundo melhor comece no outro. Por exemplo: preferem esperar que um vizinho ou amigo con­vide para plantar uma árvore ou começar uma coleta seletiva de lixo, em vez de tomar a iniciativa.

Fonte: Jornal Monitor Campista

Nenhum comentário: