sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Planta medicinal pode ser o ponto de partida para remédio contra a dengue

Unha-de-gato: efeitos anti-inflamatórios reduzem o agravamento da dengue

Vilma Homero

Estudando a Uncaria tomentosa, a popular unha-de-gato, entre outras plantas com características imunossupressoras, a biomédica Claire Kubelka e a bióloga Sônia Reis, do Laboratório de Imunologia Viral do Instituto Oswaldo Cruz, se entusiasmaram com os resultados dos testes in vitro de alguns dos princípios ativos da planta.

Usando uma técnica inédita de cultivo das células de defesa do organismo, as pesquisadoras observaram que alguns dos princípios ativos da unha-de-gato reduziram a produção de citocinas – proteínas associadas à resposta inflamatória do organismo –, diminuindo as chances de agravamento da doença. "Observamos que uma fração enriquecida em alcalóides da Uncaria tomentosa mostrou-se eficaz na redução de fatores inflamatórios", fala Sônia Reis sobre os resultados dos testes iniciais. Sua tese de doutorado – Identificação de produtos originados de plantas medicinais com atividade imunomoduladora e antiviral em modelos in vitro de infecção pelo vírus da dengue – foi exatamente sobre o tema.

A pesquisa faz parte de um projeto da Fiocruz, desenvolvido inicialmente em Farmanguinhos, de testar diversas substâncias extraídas de plantas medicinais para criar novos medicamentos. "Estamos trabalhando com substâncias ainda inéditas, embora com tradição na medicina popular e abundantes em nossa região, para que mais tarde possam ser usadas como matéria-prima. A unha-de-gato, por exemplo, vem sendo empregada popularmente contra a artrite e também como suplemento para aumentar a imunidade", fala Claire Kubelka.

Mas como ambas as pesquisadoras fazem questão de enfatizar, tudo isso ainda é um primeiro passo num amplo quebra-cabeças até se chegar a um resultado efetivo na criação de um medicamento para tratar a dengue. Inicialmente, foram testados alguns dos vários constituintes que fazem parte da concentração do princípio ativo da Uncaria. "O extrato bruto, em si, não apresentou bons resultados", fala Kubelka. O que significa também que a planta propriamente dita não leva aos efeitos desejados e não deve ser usada aleatoriamente.

Nos testes iniciais, foram examinadas a atuação desses constituintes contra algumas moléculas-alvo envolvidas na gravidade de casos de dengue. "A questão é que sabemos que há uma série de moléculas que podem levar à gravidade da dengue. Por isso pretendemos estender os testes a outros marcadores de gravidade da doença", fala Kubelka.

Atualmente, o tratamento nos casos de dengue é feito apenas no sentido de aliviar os sintomas, como dores e febre. "Embora outros grupos de pesquisadores também estejam testando outras substâncias, não há, na clínica, atualmente, drogas específicas que estejam sendo usadas no tratamento da doença. Com isso, muitos casos se agravam", explica Kubelka.

O sistema imunológico é uma rede que atua com homeostasia, ou seja, um processo de regulação que mantém constante o equilíbrio do organismo. A presença do vírus da dengue pode exacerbar a atividade do sistema imunológico, rompendo a homeostasia do organismo e levando a uma produção exagerada de citocinas e outros fatores. Uma dessas respostas, por exemplo, é o desequilíbrio na coagulação, que já é uma reação imunológica à presença do vírus no organismo. A possibilidade de um medicamento que atue de forma específica é uma perspectiva animadora, que também tem envolvido outros pesquisadores, como Ligia Valente, do Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a farmacêutica Maria das Graças Henriques e a química Maria Raquel Figueiredo, ambas de Farmanguinhos. "Por enquanto, foi dado apenas um primeiro passo no que será um longo caminho".

Fonte: Faperj

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Cobertura completa da Amazônia

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) está adquirindo novos componentes para o Amazônia-1. Com lançamento previsto para 2011, será o primeiro satélite de observação da Terra desenvolvido pelo Brasil e o primeiro a utilizar a Plataforma Multimissão (PMM).
Segundo o Inpe, os satélites Amazônia-1 e CBERS 3 e 4 permitirão, juntos, uma cobertura completa da Terra em menos de cinco dias, tornando o Brasil autônomo para obtenção de imagens em média resolução. O norte-americano Landsat-5, que é utilizado na avaliação de desmatamento da Amazônia, está há mais de 22 anos no espaço e apresenta sinais claros de degradação.

O Amazônia-1 é baseado em uma plataforma nacional, denominada PMM, que será também utilizada em outros satélites propostos para o Programa Espacial Brasileiro: o satélite científico Lattes-1, o satélite radar de observação da Terra Mapsar e o satélite meteorológico de medidas de precipitação GPM-Br.

Para desenvolver a PMM, o Inpe contratou na indústria nacional os subsistemas de telecomunicações, estrutura, propulsão e energia, cujos chamados modelos de voo deverão ser entregues até meados de 2010, para dar início à etapa de integração e testes do primeiro satélite, o Amazônia-1.

Em paralelo, o Inpe está adquirindo os componentes para a carga útil do satélite, que envolvem equipamentos de transmissão e gravação a bordo e uma câmera óptica (denominada AWFI), operando nas faixas do visível e do infravermelho próximo, com largura de faixa imageada de 750 quilômetros, com resolução de 40 metros.
Além disso, um acordo assinado entre o Brasil, representado pelo Inpe, e o Reino Unido, representado pelo Rutherford Appleton Laboratory, permitirá incluir no Amazônia-1 a câmera inglesa Ralcam-3, com resolução da ordem de 10 metros, que complementará as imagens coletadas pela AWFI.

No fim de 2008, o Inpe firmou contratos para aquisição de mais dois componentes do Amazônia-1: a câmera AWFI, contratada na indústria nacional, e o sistema de controle e computação embarcada, objeto de uma cooperação entre as agências espaciais brasileira e argentina. Mais informações: www.inpe.br

Fonte: Agência Fapesp

Calor polar

Cientistas que estudam mudanças climáticas estimavam que, enquanto o resto do mundo está se aquecendo, grande parte da Antártica estava no sentido contrário, tornando-se cada vez mais fria. Mas um novo estudo mostra que nos últimos 50 anos o continente tem aquecido em taxas comparáveis com as dos demais.

Segundo artigo publicado na edição desta quinta-feira (22/1) da revista Nature, o aquecimento no oeste da Antártica é maior do que o esfriamento no leste e, na média, as temperaturas no continente estão mais elevadas do que há meio século. “O oeste da Antártica é muito diferente do leste e há uma barreira física, as montanhas Transantárticas, que separa os dois lados”, disse Eric Steig, diretor do Centro de Pesquisa Quaternária da Universidade de Washington e principal autor do estudo.

Há anos se achava que uma relativamente pequena área conhecida como península Antártica, mais ao sul, estivesse se aquecendo, enquanto o restante do continente estaria esfriando. Mas a nova pesquisa verificou que o manto de gelo da Antártica ocidental, que está em média a 1,8 mil metros acima do nível do mar, é significativamente menor do que o manto no lado oriental, que está a 3 mil metros.

O manto no oeste é o que está mais suscetível a entrar em colapso no futuro. Segundo os pesquisadores, o aquecimento no lado ocidental tem sido maior do que 0,1ºC por década nos últimos 50 anos, ou seja, um total de 0,5ºC no período. Os autores do estudo usaram dados de satélites e de estações meteorológicas para calcular as variações na temperatura de 1957 a 2006 e desenvolveram um novo modelo probabilístico para estimar variações no futuro.
Satélites ajudam a calcular a temperatura superficial por meio da medição da intensidade de luz infravermelha radiada pelo gelo. Mas, apesar de cobrirem todo o continente, estão em operação há apenas 25 anos.

De outro lado, as estações meteorológicas operam no continente desde 1957, o Ano Geofísico Internacional, mas a grande maioria está a curtas distâncias da costa e, portanto, não fornece informações diretas das condições no interior. Até então os cientistas estimavam que a Antártica estava esfriando por conta do buraco na camada de ozônio, que diminuiria a conservação da temperatura feita pela camada. “Assumiu-se que o buraco estaria afetando o continente por inteiro, quando não há evidências que comprovem tal ideia”, disse Steig.

O artigo Warming of the Antarctic ice-sheet surface since the 1957 International Geophysical Year, de Eric Steig e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

Fonte: Agência Fapesp

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Indução humana

Um grupo de 3.146 cientistas concordou, em estudo publicado nesta segunda-feira (19/1) na revista Eos, Transactions, American Geophysical Union, que há mais de 200 anos a atividade humana tem contribuído para o aumento na temperatura média global.

O estudo envolveu um inquérito conduzido no ano passado por Peter Doran, professor associado de Ciências da Terra e do Ambiente da Universidade de Illinois, em Chicago, Estados Unidos, em parceria com sua ex-aluna Maggie Kendall Zimmerman, cujos resultados apontam consenso sobre as mudanças climáticas e suas prováveis causas.

Os pesquisadores receberam um convite por correio eletrônico para participar da sondagem realizada pelo site questionpro.com, composta de nove questões curtas.
Doran e Zimmerman contataram inicialmente mais de 10,2 mil especialistas internacionais, listados em 2007 pelo Instituto Geológico Norte-Americano. Apenas os convidados participaram e seus computadores foram registrados para impedir a repetição da votação.

Duas das questões foram consideradas fundamentais: se a temperatura global média tem aumentado em comparação com níveis anteriores a 1800 e se a atividade humana tem sido um fator significativo na mudança da temperatura média global.

Do total, cerca de 90% dos cientistas que responderam ao questionário concordaram com a primeira questão e 82% com a segunda. O maior consenso foi identificado com a análise detalhada das respostas dos climatologistas, sendo que 97% concordaram que os seres humanos têm um papel importante nas causas do aquecimento global.

Por outro lado, os geólogos que trabalham com petróleo e os meteorologistas estiveram entre os mais céticos, uma vez que apenas 47% e 64%, respectivamente, disseram acreditar no envolvimento humano.
“As respostas dos geólogos do petróleo não foram muito surpreendentes, mas a dos meteorologistas nos chamou a atenção. A maioria dos meteorologistas entende o clima, mas muitos estudam o fenômeno das mudanças climáticas há pouco tempo”, disse Doran.

Doran não foi surpreendido, no entanto, pela quase unanimidade de climatologistas. “Eles são os que mais estudam e publicam sobre a pesquisa do clima, o que nos mostra que, quanto mais se sabe sobre o clima, maior a probabilidade de se acreditar na contribuição da humanidade para o aquecimento global”, apontou.

EOS (para assinantes): www.agu.org

REBIA realiza Oficina de Comunicação Ambiental no FSM2009

A Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia), estará participando do Fórum Social Mundial 2009 (FSM 2009), que acontece entre os dias 27 de janeiro e 02 de fevereiro em Belém/PA.

A Rebia realizará no dia 31 de janeiro, das 12h às 18h, uma Oficina sobre Comunicação e Sustentabilidade. A oficina será ministrada pelos jornalistas Fabrício Ângelo, coordenador nacional da Rebia e assessor de comunicação da Rede de Ongs da Mata Atlântica (RMA) e Efraim Neto, coordenador da Rebia Nordeste, moderador da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA) e coordenador nacional do Programa TUNZA do PNUMA.

Na oficina serão abordados temas como jornalismo científico, ambiental, juventude e meio ambiente, democratização da informação ambiental, além de outros relacionados com a temática socioambiental.

Segundo Fabrício Ângelo essa é uma grande oportunidade para que as pessoas conheçam a rede e possam debater a comunicação ambiental como um todo. “Hoje a pauta ambiental está em evidência, principalmente nos temas que envolvem mudanças climáticas e Amazônia, e não poderia haver um melhor lugar para essa troca de idéias sobre políticas e ações ambientais do que em um estado privilegiado pela natureza como o Pára”, disse.

Para Efraim Neto, o FSM é caracterizado pela pluralidade e pela diversidade, tendo um caráter não confessional, não governamental e não partidário, se propondo a facilitar a articulação, de forma descentralizada e em rede, de entidades e movimentos engajados em ações concretas, no nível local ao internacional. “Pela primeira vez na Amazônia, não poderia existir cenário melhor para a capacitação e formação em Comunicação e Sustentabilidade”, ressaltou.

A REBIA

O Projeto REBIA – Rede Brasileira de Informações Ambientais é uma iniciativa do Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente, escritor, jornalista e ambientalista Vilmar Sidnei Demamam Berna, em parceria com diversas pessoas e organizações, e tem por objetivo contribuir com a formação da consciência ambiental e mobilização da Sociedade para um mundo melhor, mais ecológico e também mais justo, fraterno, democrático. Usa como ferramenta a democratização da informação ambiental através da REVISTA DO MEIO AMBIENTE, PORTAL DO MEIO AMBIENTE e FÓRUNS REBIA DE DEBATES AMBIENTAIS.

A REBIA é constituída pela articulação e cooperação entre pessoas, ONG’s, instituições e profissionais da comunicação com foco em meio ambiente. A atração e o envolvimento de muitos parceiros para a democratização da informação ambiental o Brasil é de vital importância para o sucesso do projeto REBIA.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Os limites do Capital são os limites da Terra

Por Leonardo Boff
"Uma semana após o estouro da bolha econômico-financeira, no dia 23 de setembro, ocorreu o assim chamado *Earth Overshoot Day* , quer dizer, "o dia da ultrapassagem da Terra". Grandes institutos que acompanham sistematicamente o estado da Terra anunciaram: a partir deste dia o consumo da humanidade ultrapassou em 40% a capacidade de suporte e degeneração do sistema-Terra. Traduzindo: a humanidade está consumindo um planeta inteiro e mais 40% dele que não existe.

O resultado é a manifestação insofismável da insustentabilidade global da Terra e do sistema de produção e consumo imperante. Entramos no vermelho e assim não poderemos continuar porque não temos mais fundos para cobrir nossas dívidas ecológicas. Esta notícia, alarmante e ameaçadora, ganhou apenas algumas linhas na parte internacional dos jornais, ao contrário da outra que até hoje ocupa as manchetes dos meios de comunicação e os principais noticiários de televisão. Lógico, nem poderia ser diferente. O que estrutura as sociedades mundiais, como há muitos anos o analisou Polaniy em seu famoso livro *A Grande Transformação*, não é nem a política nem a ética e muito menos a ecologia, mas unicamente a economia. Tudo virou mercadoria, inclusive a própria Terra. E a economia submeteu a si a política e mandou para o limbo a ética.

Até hoje somos castigados dia a dia a ler mais e mais relatórios e análises da crise econômico-financeira como se somente ela constituisse a realidade realmente existente. Tudo o mais é secundarizado ou silenciado. A discussão dominante se restringe a esta questão: que correções importa fazer para salvar o capitalismo e regular os mercados? Assim poderíamos continuar “as usual” a fazer nossos negócios dentro da lógica própria do capital que é: quanto posso ganhar com o menor investimento possível, no lapso de tempo mais curto e com mais chances de aumentar o meu poder de competição e de acumulação?
Tudo isso tem um preço: a dilapidação da natureza e o esquecimento da solidariedade generacional para com os que virão depois de nós. Eles precisam também satisfazer suas necessidades e habitar um planeta minimamente saudável. Mas esta não é a preocupação nem o discurso dos principais atores econômicos mundiais mesmo da maioria dos Estados, como o brasileiro que, nesta questão, é administrado por analfabetos ecológicos.

Poucos são os que colocam a questão axial: afinal se trata de salvar o sistema ou resolver os problemas da humanidade? Esta é constituída em grande parte por sobreviventes de uma tribulação que não conhece pausa nem fim, provocada exatamente por um sistema econômico e por políticas que beneficiam apenas 20% da humanidade, deixando os demais 80% a comer migalhas ou entregues à sua própria sorte. Curiosamente, as vitimas que são a maioria sequer estão presentes ou representadas nos foros em que se discute o caos econômico atual. E “pour cause”, para o mercado são tidos como zeros econômicos, pois o que produzem e o que consomem é irrelevante para contabilidade geral do sistema.

A crise atual constitui uma oportunidade única de a humanidade parar, pensar, ver onde se cometeram erros, como evitá-los e que rumos novos devemos conjuntamente construir para sair da crise, preservar a natureza e projetar um horizonte de esperança, promissor para toda a comunidade de vida, incluídas as pessoas humanas. Trata-se sem mais nem menos de articular um novo padrão de produção e de consumo com uma repartição mais equânime dos benefícios naturais e tecnológicos, respeitando a capacidade de suporte de cada ecossistema, do conjunto do sistema-Terra e vivendo em harmonia com a natureza.

Milkahil Gorbachev, presidente da Cruz Verde Internacional e um dos principais animadores da Carta da Terra, grupo o qual pertenço, advertiu recentemente: Precisamos de um novo paradigma de civilização porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades. Temos que chegar a um consenso sobre novos valores. Em 30 ou 40 anos a Terra poderá existir sem nós. A busca de um novo paradigma civilizatório é condição de nossa sobrevivência como espécie. Assim como está não podemos continuar. Na última página de seu livro “A era dos extremos” diz enfaticamente Eric Hobsbawm: Nosso mundo corre o risco de explosão e de implosão. Tem de mudar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para a mudança da sociedade é a escuridão.

Importa entender que estamos enredados em quatro grandes crises: duas conjunturais – a econômica e a alimentar – e duas estruturais – a energética e a climática. Todas elas estão interligadas e a solução deve ser includente. Não dá para se ater apenas à questão econômica, como é predominante nos debates atuais. Deve-se começar pelas crises estruturais pois que se não forem bem encaminhadas, tornarão insustentáveis todas as demais.

As crises estruturais, portanto, são as que mais atenção merecem. A crise energética revela que a matriz baseada na energia fóssil que movimenta 80% da máquina produtiva mundial tem dias contados. Ou inventamos energias alternativas ou entraremos em poucos anos num incomensurável colapso. A crise climática possui traços de tragédia. Não estamos indo ao encontro dela. Já estamos dentro dela. A Terra já começou a se aquecer. A roda começou a girar e não há mais como pará-la, apenas diminuir sua velocidade ao minimizar seus efeitos catastróficos e ao adaptar-se a ela. Bilhões e bilhões de dólares devem ser investidos anualmente para estabilizar o clima entorno de 2 a 3 graus Celsius já que seu aquecimento poderá ficar entre 1,6 a 6 graus, o que poderia configurar uma devastação gigantesca da biodiversidade e o holocausto de milhões de seres humanos.

De todas as formas, mesmo mitigado, este aquecimento vai produzir transtornos significativos no equilíbrio climático da Terra e provocar nos próximos anos cerca de 150-200 milhões de refugiados climáticos segundo dados fornecidos pelo atual Presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel d'Escoto, em seu discurso inaugural em meados de outubro de 2008. E estes dificilmente aceitarão o veredicto de morte sobre suas vidas. Romperão fronteiras nacionais, desestabilizando politicamente muitas nações.

Estas duas crises estruturais vão inviabilizar o projeto do capital. Ele partia do falso pressuposto de que a Terra é uma espécie de baú do qual podemos tirar recursos indefinidamente. Hoje ficou claro que a Terra é um planeta pequeno, velho e limitado que não suporta um projeto de exploração ilimitada.

Em 1961 precisávamos de metade da Terra para atender as demandas humanas. Em 1981 empatávamos: precisávamos de um Terra inteira. Em 1995 já ultrapassamos em 10% de sua capacidade de regeneração, mas era ainda suportável. Em 2008 passamos de 40% e a Terra está dando sinais inequívocos de que já não agüenta mais. Se mantivermos o crescimento do PIB mundial entre 2-3% ao ano, em 2050 vamos precisar de duas Terras, o que é impossível. Mas não chegaremos lá. Resta ainda lembrar que entre 1900 quando a humanidade tinha 1,6 bilhões de habitantes e 2008 com 6,7 bilhões, o consumo aumentou 16 vezes. Se os países ricos quisessem generalizar para toda a humanidade o seu bem-estar - cálculos já foram feitos - iríamos precisar de duas Terras iguais a nossa.

A crise de 1929 dava por descontada a sustentabilidade da Terra. A nossa não pode mais contar com este fato e com a abundancia dos recursos naturais. Nenhuma solução meramente econômica da crise pode suprir este déficit da Terra. Não considerar este dado torna a análise manca naquilo que é a determinação fundamental e a nova centralidade.

Tudo isso nos convence de que a crise do capital não é crise cíclica. É crise terminal. Em 300 anos de hegemonia praticamente mundial, esse modo de produção com sua expressão política, o liberalismo, destruiu com sua voracidade desenfreada, as bases que o sustentam: a força de trabalho, substituindo-a pela máquina e a natureza devastando-a a ponto de ela não conseguir, sozinha, se auto-regenerar. Por mais estratagemas que seus ideólogos vindos da tradição marxiana, keneysiana ou outras tentem inventar saídas para este corpo moribundo, elas não serão capazes de reanimá-lo. Suas dores não são de parto de um novo ser, mas dores de um moribundo. Ele não morrerá nem hoje nem amanhã. Possui capacidade de prolongar sua agonia, mas esgotou sua virtualidade de nos oferecer um futuro discernível. Quem o está matando não somos nós, já que não nos cabe matá-lo, mas superá-lo, na boa tradição marxiana bem lembrada por Chico Oliveria em sua lúcida entrevista, mas a própria natureza e a Terra.

Repetimos: os limites do capitalismo são os limites da Terra. Já encostamos nestes limites tanto da Terra quanto do capitalismo. A continuar seremos destruídos por Gaia, pois ela, no processo evolucionário, sempre elimina aquelas espécies que de forma persistente e continuada ameaçam a todas as demais. Nós, homo sapiens e demen”, nos fizemos, na dura expressão do grande biólogo E. Wilson, o Satã da Terra, quando nossa vocação era o de sermos seu cuidador, guardião e anjo bom.

Para onde iremos? Nem o Papa nem o Dalai Lama, nem Barack Obama nem muito menos os economistas nos poderão apontar uma solução. Mas pelo menos podemos indicar uma direção. Se esta estiver certa, o caminho poderá fazer curvas, subir e descer e até conhecer atalhos, esta direção nos levará a uma terra na qual os seres humanos podem ainda viver humanamente e tratar com cuidado, com compaixão e com amor a Terra, Pacha Mama, Nana e nossa Grande Mãe.

Esta direção, como tantos outros já o assinalaram, se assenta nestes cinco eixos:
(1) um uso sustentável, responsável e solidário dos limitados recursos e serviços da natureza;
(2) o valor de uso dos bens deve ter prioridade sobre seu valor de troca;
(3) um controle democrático deve ser construído nas relações sociais, especialmente sobre os mercados e os capitais especulativos;
(4) o ethos mínimo mundial deve nascer do intercâmbio multicultural, dando ênfase à ética do cuidado, da compaixão, da cooperação e da responsabilidade universal;
(5) a espiritualidade, como expressão da singularidade humana e não como monopólio das religiões, deve ser incentivada como uma espécie de aura benfazeja que acompanha a trajetória humana, pois ancora o ser humano e a história numa dimensão para além do espaço e do tempo, conferindo sentido à nossa curta passagem por este pequeno planeta.

Devemos crer, como nos ensinam os cosmólogos contemporâneos, nas virtualidades escondidas naquela energia de fundo da qual tudo provém, que sustenta o universo, que atua por detrás de cada ser e que subjaz a todos os eventos históricos e que permite emergências surpreendentes. É do caos que nasce a nova ordem. Devemos fazer de tudo para que o atual caos não seja destrutivo, mas criativo. “Então sobrevivemos com o mesmo destino da Terra, a única casa comum que temos para morar."

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Plano de energia do governo é uma 'banana' para Copenhagen

Texto que traça planejamento energético do país para 10 anos prioriza fontes sujas de energia, como termelétricas a carvão e óleo diesel.

O governo brasileiro deu uma banana para as negociações que mundo vem fazendo para chegar a um acordo sobre novas e rígidas metas de redução das emissões dos gases do efeito estufa. Às vésperas do Natal, o Ministério das Minas e Energia abriu o Plano Decenal de Energia (2008-2017) para consulta pública, com um texto que vai na contramão de tudo que vem sendo discutido até agora para a construção de um novo acordo climático, a ser finalizado em dezembro de 2009, na reunião da ONU sobre clima, em Copenhangen.

Enquanto o mundo estuda meios de reduzir drasticamente as emissões globais dos gases do efeito estufa, o Plano Decenal de Energia do Brasil prioriza e estimula as fontes sujas de energia, ignora o potencial da eficiência energética e considera a questão socioambiental como mero entrave para o progresso do país. Um desastre total.

O Plano Decenal prevê a construção de 81 usinas termelétricas no país entre 2008 e 2017. O Nordeste, por exemplo, que conta com os melhores regimes de ventos no Brasil, vai receber 55 novas usinas térmicas. Enquanto o Greenpeace discute a geração de uma Itaipu de ventos na região com o Banco do Nordeste, governadores e a comissão de energias renováveis do Congresso, o governo federal promove uma energia cara e suja. Na reunião da ONU sobre clima realizada em Poznan, na Polônia (dezembro de 2008), o Ministério do Meio Ambiente anunciou com pompa e circunstância o Plano Nacional de Mudanças Climáticas com metas de redução de emissões.

Agora, para consumo interno, mostra a sua verdadeira face."Mais uma vez, o governo mostra a esquizofrenia da sua política ambiental. Fez barulho em Poznan com um plano de metas para reduzir o desmatamento e as emissões, mas no Brasil, anuncia às vésperas do Natal um aumento de 172% nas emissões de CO2 no setor termelétrico, um belo presente de grego para os brasileiros”, diz Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace. Num primeiro momento, a expansão de usinas termelétricas ocorre no Nordeste, com unidades prioritariamente à base de óleo diesel. Num segundo momento, entre 2014 e 2017, a expansão ocorre na região sul com uma fonte ainda mais poluente – o carvão mineral. O IPCC aponta o ano de 2015 como ano-chave para atingirmos o pico das emissões globais de gases do efeito estufa. A partir deste ponto deveremos reduzir de maneira equitativa essas emissões.

Enquanto o mundo busca converter sua matriz elétrica suja em renovável, o Brasil toma justamente o caminho oposto.O planejamento energético proposto pelo governo em seu Plano Decenal é orientado por uma abordagem ultrapassada e que privilegia o aumento da geração e não a administração da demanda. Ou seja, ignora de maneira espetacular os benefícios da redução do consumo pelo aumento da eficiência energética como troca de lâmpadas incandescentes e outros equipamentos por substitutos com menor consumo. É emblemático o fato de que o plano, em nenhum momento, faz referência à ‘eficiência energética’.

A referência bibliográfica do plano deixa claro que toda a contribuição técnica proporcionada pela sociedade civil na discussão de uma nova matriz elétrica para o Brasil foi ignorada. O plano ignora, por exemplo, o verdadeiro potencial das fontes de energia renováveis modernas no Brasil, como solar e eólica, e minimiza completamente o papel da biomassa e das pequenas centrais hidrelétricas. A participação prevista para a geração a biomassa é de apenas 2,7% e a energia eólica, restrita aos projetos do Proinfa, totaliza apenas 0,9% da matriz elétrica em 2017.

Por outro lado, promove novas (e desnecessárias) usinas hidrelétricas na Amazônia, que têm alto impacto ambiental e consumirão grandes quantidades de recursos financeiros, que poderiam ser melhor aproveitados para a geração de emprego e renda no país, com fontes limpas e sustentáveis. O potencial hidrelétrico a ser instalado na próxima década é estimado em 43.053 MW, dos quais apenas 341,8 MW seriam provenientes de PCHs. O Brasil não precisa de mais hidrelétricas na Amazônia nem de termelétricas em qualquer parte.

O estudo [R]evolução Energética, do Greenpeace, apresenta um cenário para o país em que poderemos atingir uma matriz elétrica com 88% de energias renováveis e índices de eficiência energética de até 30%. Como não bastasse, essa matriz limpa é bilhões de reais mais barata do que a proposta pelo governo. “Momentos de crise são também momentos de oportunidade, e o governo brasileiro deveria estar, a exemplo de outras nações, comprometido com a solução para as mudanças climáticas.

Os novos investimentos para o setor elétrico deveriam ser prioritariamente feitos para promover as energias renováveis, especialmente num país que é privilegiado nesse tipo de fonte energética”, afirma Marcelo Furtado.

Fonte: Greenpeace

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Academia nos EUA recicla energia gerada por clientes

Uma academia de ginástica nos Estados Unidos instalou bicicletas ergométricas que reciclam a energia gerada pelos clientes.

The Green Microgym, em Portland, no Estado americano de Oregon, conectou um gerador às rodas das bicicletas que transforma a energia cinética em elétrica. Ela é depois armazenada em uma bateria que coloca em funcionamento os televisores, esteiras e até um liquidificador que a academia usa para oferecer sucos e vitaminas à clientela.
A tecnologia que permite a geração de eletricidade a partir de aparelhos para ginástica não é nova. Há décadas as pessoas usam dínamos em suas bicicletas para acender as luzes traseira e dianteira.

A academia usa o mesmo princípio, diz Adam Boesel, proprietário do Green Microgym. "Se você pensar em uma academia, quase todos os aparelhos para exercício têm uma roda que gira e, se você pode girar uma roda você pode produzir eletricidade, assim como um moinho produz eletricidade."

A academia se aliou a uma empresa do Texas, Henry Works, que trabalha no desenvolvimento de um artefato chamado Dínamo Humano.

Fonte: BBC Brasil