Vilma Homero
Estudando a Uncaria tomentosa, a popular unha-de-gato, entre outras plantas com características imunossupressoras, a biomédica Claire Kubelka e a bióloga Sônia Reis, do Laboratório de Imunologia Viral do Instituto Oswaldo Cruz, se entusiasmaram com os resultados dos testes in vitro de alguns dos princípios ativos da planta.
Usando uma técnica inédita de cultivo das células de defesa do organismo, as pesquisadoras observaram que alguns dos princípios ativos da unha-de-gato reduziram a produção de citocinas – proteínas associadas à resposta inflamatória do organismo –, diminuindo as chances de agravamento da doença. "Observamos que uma fração enriquecida em alcalóides da Uncaria tomentosa mostrou-se eficaz na redução de fatores inflamatórios", fala Sônia Reis sobre os resultados dos testes iniciais. Sua tese de doutorado – Identificação de produtos originados de plantas medicinais com atividade imunomoduladora e antiviral em modelos in vitro de infecção pelo vírus da dengue – foi exatamente sobre o tema.
A pesquisa faz parte de um projeto da Fiocruz, desenvolvido inicialmente em Farmanguinhos, de testar diversas substâncias extraídas de plantas medicinais para criar novos medicamentos. "Estamos trabalhando com substâncias ainda inéditas, embora com tradição na medicina popular e abundantes em nossa região, para que mais tarde possam ser usadas como matéria-prima. A unha-de-gato, por exemplo, vem sendo empregada popularmente contra a artrite e também como suplemento para aumentar a imunidade", fala Claire Kubelka.
Mas como ambas as pesquisadoras fazem questão de enfatizar, tudo isso ainda é um primeiro passo num amplo quebra-cabeças até se chegar a um resultado efetivo na criação de um medicamento para tratar a dengue. Inicialmente, foram testados alguns dos vários constituintes que fazem parte da concentração do princípio ativo da Uncaria. "O extrato bruto, em si, não apresentou bons resultados", fala Kubelka. O que significa também que a planta propriamente dita não leva aos efeitos desejados e não deve ser usada aleatoriamente.
Nos testes iniciais, foram examinadas a atuação desses constituintes contra algumas moléculas-alvo envolvidas na gravidade de casos de dengue. "A questão é que sabemos que há uma série de moléculas que podem levar à gravidade da dengue. Por isso pretendemos estender os testes a outros marcadores de gravidade da doença", fala Kubelka.
Atualmente, o tratamento nos casos de dengue é feito apenas no sentido de aliviar os sintomas, como dores e febre. "Embora outros grupos de pesquisadores também estejam testando outras substâncias, não há, na clínica, atualmente, drogas específicas que estejam sendo usadas no tratamento da doença. Com isso, muitos casos se agravam", explica Kubelka.
O sistema imunológico é uma rede que atua com homeostasia, ou seja, um processo de regulação que mantém constante o equilíbrio do organismo. A presença do vírus da dengue pode exacerbar a atividade do sistema imunológico, rompendo a homeostasia do organismo e levando a uma produção exagerada de citocinas e outros fatores. Uma dessas respostas, por exemplo, é o desequilíbrio na coagulação, que já é uma reação imunológica à presença do vírus no organismo. A possibilidade de um medicamento que atue de forma específica é uma perspectiva animadora, que também tem envolvido outros pesquisadores, como Ligia Valente, do Instituto de Química, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a farmacêutica Maria das Graças Henriques e a química Maria Raquel Figueiredo, ambas de Farmanguinhos. "Por enquanto, foi dado apenas um primeiro passo no que será um longo caminho".
Fonte: Faperj
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