Ao aplicar o método no Brasil, os cientistas verificaram que, apesar de a maioria dos esforços de conservação estar voltada à região mais ao sul do bioma, a região central – grande parte na Bahia – reúne uma diversidade biológica muito maior do que estimavam os conservacionistas.
O estudo, publicado na edição desta sexta-feira (6/2) da revista Science, foi conduzido por Ana Carolina Carnaval, que atualmente fez pós-doutorado no Museu de Zoologia Vertebrada da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, Célio Haddad, professor da Universidade Estadual Paulista em Rio Claro e coordenador da área de biologia da FAPESP, Miguel Trefaut Rodrigues, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, Michael Hickerson, da Universidade da Cidade de Nova York, e Craig Moritz, de Berkeley.
A nova estratégia envolve observar espécies em uma área e, tomando como base registros climáticos históricos, estimar as distribuições das espécies no passado. O método permite obter uma indicação de quais regiões foram estáveis climaticamente e, com isso, estimar a diversidade das espécies e quais áreas se mantiveram instáveis, ou seja, mais propensas a ter menor diversidade biológica. “Com esse método, podemos identificar áreas que têm funcionado como refúgios da biodiversidade. São pontos que se mantiveram climaticamente estáveis durante o tempo, onde comunidades locais foram capazes de persistir”, disse Ana Carolina.
A região central da Mata Atlântica é uma delas. “Ela é pouco conhecida e está sob extrema pressão antropogênica. Isso abre novas prioridades para conservação que devem chegar aos responsáveis pelas políticas públicas, ao público em geral e às organizações não-governamentais”, afirmou.
Os pesquisadores analisaram registros climáticos e sequências de DNA mitocondrial (herdadas apenas do lado materno, diferentemente do DNA nuclear) de três espécies de sapos comuns na Mata Atlântica.
Observaram que a vida em certas áreas da floresta permaneceu estável durante as flutuações glaciais, enquanto outras áreas foram colonizadas apenas recentemente, durante o Pleistoceno, de cerca de 1,8 milhão a 10 mil anos atrás.
“Ana e seus colegas descobriram, por meio de uma abordagem simples de combinar genética com modelagem ambiental, como podemos fazer previsões muito bem fundamentadas que podem guiar esforços de conservação”, destacou Moritz, que dirige o Museu de Zoologia Vertebrada em Berkeley.
Os autores do estudo alertam que, como a região central da Mata Atlântica experimenta elevado índice de desflorestamento, em comparação com as áreas mais ao sul, grande parcela de diversidade única pode se perder. A Mata Atlântica brasileira perdeu mais de 85% de sua área original.
Além disso, a destruição de hábitats na parte central da floresta poderá apagar rapidamente as assinaturas biológicas necessárias para o método desenvolvido por eles, o que prejudicaria iniciativas futuras de conservação.
O artigo Stability predicts genetic diversity in the Brazilian Atlantic Forest hotspot, de Ana Carolina Carnaval e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.
Fonte: Agência Fapesp
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