segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ação quer difundir fogão a álcool no Brasil

Por Fábio Brandt da PrimaPagina

Moradores de uma comunidade em Salinas (no Vale do Jequitinhonha), de um assentamento rural em Betim e de Urucânia (região metropolitana de Belo Horizonte), utilizaram fogões a etanol durante nove meses e os aprovaram, afirma relatório do Projeto Gaia, grupo responsável pela iniciativa. A intenção foi substituir os fogões que usam lenha e gás por uma alternativa de combustível mais sustentável. “É de fácil manuseio”, sintetiza a diretora do projeto no Brasil, Regina Couto.

Ela diz que, após os testes, as famílias ganharam os fogões, mas muitas encerraram o uso por causa do preço do etanol no interior de Minas Gerais. “A lenha é de graça”, acrescenta a diretora, indicando que viabilizar o uso do etanol é uma dificuldade que o projeto tenta superar no Brasil.

No entanto, comunidades como a de Betim, onde 71% das famílias do assentamento usam fogões a lenha, já sentem dificuldade no acesso ao combustível, já que na região, de pequenas propriedades há áreas se preservação, onde é proibido coletar lenha.

Além da proibição de corte das árvores, outros fatores podem estimular a mudança de fogão, como mudanças climáticas, oscilações no preço do gás de cozinha e necessidade de diminuir o uso de produtos do petróleo o. O etanol, diz Regina, entra como boa alternativa, já que pode obtido a partir de fontes, como cana de açúcar, mandioca e batata doce, abundantes no Brasil. “Mais da metade da população mundial precisa da lenha para cozinhar ou se aquecer. Nos países africanos, a falta da lenha já é um problema sério. Na Etiópia há lugares desertificados”, argumenta Regina.

Aplicações
Antes de ser testado em Minas Gerais, entre abril e dezembro de 2006, o “Clean Cook”, como é chamado o fogão de duas bocas do Projeto Gaia , foi introduzido, em 2003, na Etiópia e na Nigéria. Até hoje, o projeto é mantido nesses países com apoio financeiro do PNUD e do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).

Na Etiópia, o produto foi testado em campos de refugiados por ser um utensílio prático. Regina recorda que, antes de ganhar versão rústica e barateada para projetos sociais, ele era visto em lojas para camping e embarcações. Na Nigéria, o fogão foi apresentado a comunidades que cozinhavam com lenha ou querosene – combustível considerado inseguro porque provoca, frequentemente, queimaduras.

No Brasil as 87 famílias que testaram o Clean Cook eram de três comunidades “bem diferentes” mas que, segundo Regina, têm algo em comum: “costumam ter os dois: fogão a gás e a lenha, para quando falta gás”. Quase dois anos após os testes, a diretora percebe que as famílias até aceitam deixar de lado o gás pelo etanol porque os dois combustíveis têm custo. “Mas quem usa lenha, que é de graça, não troca”, admite.

Soluções
No início dos testes, as famílias receberam os galões de etanol e o fogão de graça. Depois, o preço do combustível subiu progressivamente até atingir o valor de mercado. No assentamento Dom Orione, em Betim (35 quilômetros de Belo Horizonte), o valor pago era menor que o de Salinas, no norte do estado, por causa da disponibilidade local do combustível, diz Regina. Urucânia (a 200 quilômetros de BH) não teve problemas porque ali o projeto foi conduzido em parceria com o Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais. Mas a diretora ressalva que após o teste, a parceria também acabou e os moradores ficaram sem o etanol.

Diferentemente da África, o Brasil não precisa importar etanol e já possui o conhecimento necessário para produzi-lo em pequena escala, o que, segundo Regina, é a solução viável para o Gaia. “O equipamento de uma biorefinaria é compacto, cabe em um espaço de três por cinco metros. Tem uma torre de destilação que não passa dos cinco metros de altura, uma mini caldeira e dornas de fermentação, de onde já sai o etanol”.

O equipamento, acrescenta a diretora do Projeto Gaia, pode ser operado pela própria comunidade. A próxima meta do Projeto Gaia é estender suas ações a comunidades afastadas de centros urbanos, como as da Amazônia. Para isso, a iniciativa pretende firmar parcerias de financiamento, como a que possui na África, e de fornecimento de etanol e tecnologia com usinas. “Toda a tecnologia de uma biorefinaria, todo o equipamento movido a etanol, pode prover energia pra residências, para computadores e chuveiro, por exemplo. É a produção social do etanol”, conclui Regina.

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