quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Moradores de baixa renda se unem para criar artesanato com fibra da bananeira

Da Redação

Associação Fibras da Serra, nome escolhido pelo grupo de artesãos, inaugura dia 26 de novembro sede própria em Rio Grande da Serra para a criação e fabricação em escala comercial de produtos feitos com a matéria-prima, abundante na região dos mananciais.

Dia 26 de novembro foi dia de festa para 30 moradores de Rio Grande da Serra. O grupo de artesãos sairá do anonimato para se tornar exemplo de empreendedorismo 100% sustentável para o Brasil. Neste dia, às 14h30, o grupo, formado por pessoas de baixa renda e sem trabalho fixo, inaugurou na cidade a sede da Associação Fibras da Serra, projeto de responsabilidade socioambiental e economia solidária, desenvolvido pela empresa Solvay Indupa junto às comunidades vizinhas da fábrica, com objetivo de gerar fonte de trabalho e renda para as famílias envolvidas, com sustentabilidade.

Instalado num galpão de 250 m², da rua do Autonomista, 357, centro, o Fibras da Serra começa a produzir em escala comercial artesanato, feito com palha e fibra de bananeira, como bolsas, cestas, bijuterias, artigos de decoração e outros frutos do talento e descobertas do grupo, sempre à caça de novas aplicações da abundante matéria-prima em Rio Grande da Serra e região.Com as mãos marcadas pelo trabalho de pedreiro, Agnaldo Ribeiro Dantas, 44 anos, produz cestas, bolsas femininas, jogos-americanos, portas-copos e outros objetos, uma arte que considera terapia.

Dantas faz parte do Núcleo Duro, o grupo de frente com funções fixas no projeto, que são a gestão da associação, operacionalização do trabalho e disseminação da arte. No Núcleo, Dantas ajudará a cuidar do plantio manejado de 800 mudas de bananeira, para a extração da fibra e a sustentabilidade do projeto. “Nas horas vagas lá no bananal, vou tecer o meu artesanato”, avisa. Aparecida Damazia Gomes, 49 anos, é uma dona-de-casa que fazia panos de prato para as amigas e adora cestaria. “Na verdade, gosto de todo tipo de artesanato, tanto que se eu vejo um diferente descubro rápido e faço igual”, diz Cida Gaia, como é conhecida a artesã, desde que entrou para o Fibras da Serra há quatro anos. O nome da associação, Cida Gaia também ajudou a escolher.

Originalidade
“Fibras é uma atribuição à matéria-prima, o pseudocaule extraído da bananeira, e serra é uma homenagem à Rio Grande da Serra, área de proteção aos mananciais onde há facilidade do plantio de bananal”, explica Maria Aparecida Falceti, presidente da associação e escultora de portas de madeira. Aparecida Falceti explica que o Fibras da Serra utiliza derivados da bananeira descartados quando a árvore dá os frutos. “Reaproveitamos o material para extração de palhas e fibras para confecção de produtos”, adianta Aparecida Falceti. O Fibras da Serra conta com o trabalho direto de 30 pessoas da comunidade, maioria mulheres, num total aproximado de 170 familiares e, destes, mais de 40 prestam pequenos serviços ao grupo em grandes encomendas.

“Todos têm algum talento para artesanato e muitos exercem a atividade para ajudar na renda familiar”, afirma Lisandre de Assis, coordenadora de Comunicação da Solvay Indupa e responsável pelo Fibras da Serra na empresa petroquímica. Além de consultoria especializada, o projeto fornece apoio na aquisição de materiais e infra-estrutura para produção da palha e fibra e o desenvolvimento de derivados. “Esse apoio visa garantir a sustentabilidade do projeto até alcançar a comercialização dos produtos”, diz Lisandre.

Atualmente, os integrantes do Núcleo Duro recebem treinamento com profissional de design para desenvolvimento de produtos com valor estético e com processos de produção compatíveis com a condição ambiental da região. Isso inclui visitas técnicas e participação em seminários, eventos e feiras. Desde que começou, o grupo aprendeu a extrair pigmentos de corantes vegetais e com eles tingir tecidos, e retirar fibra e palha de bananeira. Também descobriu novos métodos de secagem e armazenamento da fibra, como tecer a fibra em diferentes técnicas e produzir objetos de adorno e decoração com fibra de bananeira.
Aprendeu a calcular o valor do produto para venda, iniciar a fase de comercialização e como produzir um catálogo de técnicas e produtos.

Bananal
A plantação do bananal é feita em terreno da Prefeitura local (av.Francisco de Moraes Ramos, s/n, bairro Novo Horizonte), onde o grupo irá aprender, com orientação de engenheiro agrônomo, como dominar toda a operação de manejo, desde a preparação e correção do solo, compra e plantio de cerca de 800 mudas de banana prata (considerada pelo grupo como a mais apropriada para extração da fibra), adubação, eliminação de ervas daninhas até combate às pragas e retirada da matéria-prima.

Isso envolve capacitação de mão-de-obra e planejamento de produção de bananas para viabilização de produção escalonada e de manejo otimizado dos pseudocaules. “É um processo que o Núcleo Duro terá de dominar para a sustentabilidade do empreendimento”, comenta Lisandre de Assis. Durante o processo educacional, os integrantes do Fibras da Serra desenvolveram até uma ‘carta de valores’, definida para avaliação contínua e apresentação para parceiros externos.

São eles: união, iniciativa, capricho, organização, honestidade, auto-respeito e perseverança. O objetivo de produzir belezas sem destruir a natureza, com geração de trabalho e renda e ingresso até no mercado internacional está presente no dia-a-dia de cada integrante.Para viabilizar a construção da sede, compra de maquinário (máquina de costura e teares) e a execução do plantio manejado do bananal, a Solvay Indupa investiu R$ 420 mil, financiados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Mais R$ 150 mil foram investidos em formação e orientação do projeto, desde o início do projeto em 2006.

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