segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Eleições e Marina Silva pautam agenda verde do governo

Por Natuza Nery e Maria Carolina Marcello da Reuters Brasil

O governo quer ficar mais verde. A um ano das eleições de 2010, a agenda ambiental vem ganhando holofotes e passou a pautar ações da Presidência da República.

O objetivo, avaliam analistas e admitem fontes do próprio governo, seria transformar a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) em pré-candidata à sucessão com credenciais para formular ações em favor do meio ambiente, sobretudo após a senadora Marina Silva (PV-AC) ter se transformado em virtual adversária.

Marina deixou as fileiras petistas em agosto e passou a figurar nas previsões eleitorais com a missão de incluir o tema de sua vida na agenda política do país.
Ao que consta, conseguiu.

Nesta quinta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prorrogou por mais três meses o IPI menor somente para eletrodomésticos da linha branca que consumam menos energia. Mostrou que diferentes setores do Executivo estão na mesma pauta.
"Não se espantem se, no futuro, tomarmos outras medidas tributárias com esse caráter (ambiental)", afirmou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que a ministra vá em dezembro à Conferência do Clima, em Copenhague, como chefe da delegação brasileira. Segundo uma fonte do governo, essa ideia surgiu cerca de um mês atrás. Desde então, Dilma está debruçada em estudos sobre a área, abastecidos pelo Ministério do Meio Ambiente e Itamaraty.
"O Lula está tentando passar maquiagem verde na nossa ministra", avaliou João Talocchi, coordenador da campanha de clima do Greenpeace no Brasil. "Vejo a preocupação em dar uma carga ambiental para sua candidata", acrescentou.

O esforço do Planalto também guarda a intenção de ter o que mostrar à comunidade internacional durante o encontro na Dinamarca, no qual Marina Silva também é presença esperada.

A senadora foi ministra do Meio Ambiente por cinco anos na administração Lula. Acabou pedindo demissão após diversos choques com setores desenvolvimentistas do governo, inclusive Dilma.
"É para mostrar que a Dilma tem a face ambiental. É importante também para ampliar a projeção internacional dela e importante para a campanha (presidencial)", apontou David Fleischer, cientista político da Universidade de Brasília (UnB).

PAC VERDE
Apenas um dia depois da filiação da parlamentar ao Partido Verde, em 30 de agosto, o governo anunciou redução recorde no desmatamento da Amazônia.
Na ocasião, a chefe da Casa Civil também entrou em cena. Ela defendeu o viés ambientalista do Programa de Aceleração do Crescimento, afirmando que as obras de saneamento básico do PAC protegem as bacias hidrográficas do país.

"Logo após a filiação da Marina e o lançamento do marco regulatório do pré-sal, Dilma passou a falar (com regularidade) que o Brasil é o país que mais investe no meio ambiente e que busca o desenvolvimento sustentável", acrescentou Talocchi.

Nas palavras de uma fonte palaciana com acesso à pré-candidata, o combate às mudanças climáticas é tema para os próximos anos e, certamente, terá impacto na corrida presidencial de 2010. "Com o surgimento da Marina Silva, tivemos de investir nessa agenda mais rapidamente", disse a fonte sob condição do anonimato.

O Executivo discute metas ambiciosas para reduzir emissões de gases-estufa e um pacote florestal para resolver problemas agrários. Faz isso às vésperas de Copenhague, mas o faz também às vésperas das eleições presidenciais.

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