segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Investimento em ecossistema é chave para adaptação

Marcela Valente, da IPS/Envolverde

Se houver investimento no manejo sustentável dos ecossistemas e se deter sua atual degradação, haverá melhorar sensível na capacidade de adaptação dos países à mudança climática, afirma um estudo apresentado nesta quinta-feira por duas organizações ambientalistas realizado em 16 países. O Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e a fundação Vida Silvestre da Argentina (FVSA) apresentaram em Buenos Aires um informe no qual afirmam que a conservação e o manejo sustentável dos ecossistemas são chaves para melhor adaptação ao aumento da temperatura do planeta.

As estimativas mais conservadoras indicam que são necessários US$ 63 bilhões ao ano para proteger os serviços ambientais que esses ecossistemas proporcionam à humanidade, avaliados em US$ 33 trilhões anuais, segundo uma pesquisa a um informe da revista norte-americana Nature. Às vésperas da 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 15), que acontecerá de 7 a 18 de dezembro em Copenhague, estas entidades não-governamentais proporão que “o manejo efetivo do meio ambiente seja um componente fundamental das estratégias de adaptação”.

Foi o que destacou o diretor-geral da FVSA, Diego Moreno, antes da apresentação do estudo “Novos Modelos para Financiamento, Desenvolvimento e Natureza. Casos de adaptação para responder aos impactos da mudança climática”, que será lançado na próxima cúpula. O informe apresenta 16 casos de adaptação nos cinco continentes, em uma área total que envolve 10% da população mundial, que hoje supera os 6,8 bilhões de pessoas.

Em Copenhague, as nações deverão acordar um novo regime climático global que substitua o Protocolo de Kyoto a partir de 2012. O compromisso incluirá medidas de redução das emissões de gases de efeito estufa por parte dos países industrializados e planos de adaptação à mudança climática em nações do Sul. Segundo o Painel Intergovernamental de Especialistas em mudança climática (IPCC), a adaptação é qualquer ajuste nos sistemas naturais e humanos realizado para responder ao estímulo esperado ou aos seus efeitos, que modere o prejuízo ou explore oportunidades benéficas para o meio ambiente.

Se as emissões de gases que provocam o efeito estufa na atmosfera pararem imediatamente, a temperatura global continuaria subindo. Por isso os países devem propor-se estratégias de adaptação, para minimizar os impactos negativos da mudança climática. No geral, quando os governos discutem sobre adaptação fala-se dos recursos financeiros que necessitam os países em desenvolvimento para realizar uma série de obras de infraestrutura que permitam enfrentar eventos climáticos extremos, como aumento do nível do mar, tempestades severas ou doenças tropicais.

Neste contexto WWF e FVSA destacaram que os ecossistemas, tanto terrestres quanto marinhos, proporcionam serviços valiosos de água potável, proteção de bacias hídricas e do solo, provisão de alimentos, ar puro, polinização, redução de desastres e captura de carbono que devem ser preservados para evitar a mudança climática.

A secretaria da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática estima que o investimento anual necessário para gastos de adaptação oscila entre US$ 49 bilhões e US$ 171 bilhões ao ano, quantia que deve ser fornecida pelo Fundo de Adaptação da Convenção. Porém, as entidades que apresentaram seu informe destacaram que esses investimentos deveriam velar pela preservação dos ecossistemas que fornece serviços ao equilíbrio climático global e são vitimas do aquecimento.

O estudo divulgado pelas organizações ambientalistas destaca, por exemplo, a importância crítica de preservar o Grande Chaco Americano, área com mais de um milhão de quilômetros quadrados que pega parte de Argentina, Bolívia, Paraguai e em menor medida do Brasil, ameaçada pelas mais freqüentes secas e a consequente desertificação. Esta região “proporciona uma grande diversidade de bens e serviços ambientais” com regulação hídrica e climática, captação de carbono, conservação da produtividade do solo e provisão de madeira, lenha, carvão, frutas, fibras e produtos medicinais para as comunidades. “Diante da ameaça da mudança climática, a perda de capacidade do ecossistema de fornecer estes serviços redundará em menores possibilidades de adaptação para a região”, alerta o informe.

Ameaças semelhantes pendem sobre os Arrecifes Mesoamericanos no México, Belize, Guatemala e Honduras. O aumento do nível do mar e da temperatura da água afeta mangues, estuários, rios a pântanos costeiros, com grande diversidade de espécies de peixes e tartarugas aquáticas, que sustentam a economia local. A pesquisa também colocou na mira ecossistemas de outros continentes como o Triângulo de Coral na Indonésia, Filipinas, Malásia, Papua Nova Guiné, ilhas Salomão, Timor Leste e o Caribe, com arrecifes de enorme biodiversidade ameaçados pela superpopulação, depredação pesqueira e pelo desmatamento.
(IPS/Envolverde)

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