quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Cenários de um novo mundo

Por Vilmar Sidnei Demamam Berna*


Nem todos agem da mesma forma diante dos problemas. Uma boa parte das pessoas tende a continuar vivendo como se nada estivesse acontecendo, como se os problemas só afetassem aos outros, ou como se a responsabilidade pela solução dos problemas fosse dos outros, do vizinho, das autoridades, dos
empresários.

Outros preferem fugir e a maneira mais comum de fazer isso é negando a existência do problema ou minimizando sua importância através de piadinhas e ironias que inclusive desqualifiquem os denunciantes! A inteligência humana é brilhante para encontrar soluções quando quer fazer,
mas também pode ser brilhante para encontrar desculpas para não agir quando não quer.

Não é novidade para ninguém que nosso estilo de vida consome mais recursos naturais do que a natureza consegue repor e que usamos o Planeta como se fosse uma enorme lixeira para descartar os nossos restos. Entre as muitas conseqüências, assistimos o agravamento das mudanças climáticas que já afetam a vida e os bens de milhões de pessoas em todo o Planeta.

E este é só o começo dos novos tempos. Alguns falam em processo de extinção de nossa espécie. Não acredito. Nossa maior característica é o de nos adaptar. Estamos presentes desde os desertos às florestas, dos locais mais frios aos mais quentes, dos mais alagados aos mais secos, sobrevivemos a terremotos, vulcões, tsunamis, tigres dente-de-sabre, vírus e bactérias!

Nossa espécie está pronta para continuar, doa a quem doer! Outra característica nossa é a violência. O amor, a generosidade, a solidariedade fazem parte de nossos sonhos, de nossos ideais, inspiram artistas, religiosos, ideólogos, mas a realidade é bem outra! A história da presença humana sobre este Planeta tem sido uma história de sucessivas guerras contra a natureza, contra os deuses, contra os animais, contra nós
mesmos. Ainda hoje, em nossas cidades, e também no trânsito, se mata mais gente que nas guerras! Não deveríamos, mas aprendemos a conviver e a aceitar como naturais uma sociedade organizada na base da exploração de um pelo outro, que submete a natureza não para atender às necessidades de muitos,
mas aos desejos e ganância de uns poucos.

Quem hoje domina o poder de usar dos recursos naturais para enriquecer não irá ceder facilmente quando este domínio for ameaçado por qualquer razão. A tendência será ‘cravar mais fundo os dentes’ para assegurar suas fontes de recursos e poder, como fazem os parasitas quanto o hospedeiro tenta removê-los!

Com o agravamento das secas e inundações e a intrusão da água salina nos lençóis de água subterrânea, devido o aumento dos oceanos, os prejuízos para a agricultura serão enormes e um dos resultados além da fome será a migração de populações de famintos do campo para a cidade, inchando ainda mais as
favelas e pressionando os empregos e salários, demandando serviços de saúde, educação, etc. Se no campo, essas pessoas eram braços e pernas para produzirem alimentos, nas cidades, serão bocas a mais para serem
alimentadas.

Nossa espécie conhece bem o problema e a tendência é aumentar a vigilância sobre as fronteiras e adotar soluções como a dos EUA para impedir a migração de mexicanos. Um mundo mais aquecido será também a de ser um mundo mais dividido, menos solidário, e com mais conflitos!

Existem outras pessoas que, diante de problemas, tendem a enfrentá-los. Primeiro buscando manterem-se bem informadas sobre a real dimensão dos problemas, separando fantasia da realidade. Segundo, capacitando-se para os novos desafios com cursos e treinamentos adequados. Pessoas com visão
empreendedora saberão identificar oportunidades na crise e continuarão produzindo riquezas e gerando empregos, pagando impostos! Em poucos anos, por exemplo, os oceanos estarão maiores e invadirão mais terras, pressionando as infra-estruturas nas cidades.

Os conhecimentos e tecnologias de povos que vivem abaixo do nível do mar, como os holandeses, serão importantes nessa nova fase. E a vida continuará, como sempre, apenas num mundo diferente deste.

* Vilmar é escritor e jornalista, editor da Revista e do Portal do Meio Ambiente. Mais informações: www.escritorvilmarberna.com.br

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