Poluição atmosférica é fator agravante para internação de crianças |
Por Rafaela Carvalho, da Agência USP
Organismos de crianças menores de cinco anos e de idosos com idade superior a 60 anos reagem de forma diferente quando se expõem à poluição atmosférica da cidade de São Paulo. Segundo uma pesquisa apresentada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, as doenças respiratórias podem aparecer nas duas fases da vida, mas os idosos sofrem também com problemas no aparelho circulatório.
No estudo de doutorado Ambientes atmosféricos intraurbanos da cidade de São Paulo e possíveis correlações com doenças dos aparelhos: respiratório e circulatório, a geógrafa Edelci Nunes da Silva focou a parte Sul/Sudeste da cidade de São Paulo, dividindo-a em 14 distritos: Ibirapuera, Moema, Vila Mariana, Santo Amaro, Campo Belo, Socorro, Saúde, Cursino, Sacomã, Jabaquara, Cidade Ademar, Pedreira, Campo Grande e Cidade Dutra. Nessa região, há duas estações meteorológicas, sendo uma no Aeroporto de Congonhas e outra no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. A partir delas, a pesquisadora tinha uma boa base de dados para avaliar o clima nos distritos.
Para a realização de sua pesquisa, Edelci fez uma associação estatística entre os dados de internação e variáveis climáticas como temperatura, umidade relativa do ar, amplitude térmica e índice de conforto. Assim, foi possível separar os distritos por perfis socioambientais, que mostraram que a poluição atmosférica não era sempre o principal fator de aumento do risco de internações em cada local. “A temperatura e a amplitude térmica também são fortes fatores de influência”, conta a pesquisadora.
Edelci analisou 12.269 casos de internação por doenças respiratórias em crianças. Nos idosos, observou 24.318 internações por doenças do sistema circulatório e 8.894 do aparelho respiratório. Foi constatado, de forma geral, que tanto as doenças circulatórias nos idosos quanto as doenças respiratórias em ambas as idades apresentam maior risco de provocar internações quando as pessoas se sentem desconfortáveis com baixas temperaturas e com alta amplitude térmica — e não necessariamente com a poluição do ar.
Para classificar a magnitude dos efeitos climáticos nos 14 distritos, a geógrafa classificou os perfis socioambientais de cada um deles em três categorias: melhor, intermediário e pior. A partir daí, foi possível distinguir o que mais incomoda crianças e velhos e quais regiões se mostram mais perigosas para os organismos de cada um, dependendo da idade.
Amplitude térmica
A geógrafa conta que as pessoas com mais de 60 anos correm maior risco de internações por problemas circulatórios em distritos que apresentam amplitude térmica alta. Porém, a poluição não foi significativa nessa parte do estudo. “Não houve associação expressiva entre as duas coisas”, explica. As áreas de maior risco entre os 14 distritos, segundo a pesquisadora, são Jabaquara, Cidade Ademar e Pedreira.
Analisando mais a fundo a situação do clima no Jabaquara, notou-se que esse bairro também foi o que apresentou maior amplitude térmica e, ao mesmo tempo, temperaturas mais baixas, causando desconforto também no aparelho respiratório dos idosos, tornando o distrito ainda mais agressivo às pessoas dessa faixa etária.
Por fim, analisando as consequências do clima de cada distrito no aparelho respiratório das crianças, Santo Amaro se mostrou como o bairro mais inadequado: o desconforto causado nas crianças por conta do frio e do aumento da amplitude térmica aumenta o risco de internações por doenças respiratórias. A poluição do distrito também afeta mais as crianças.
Contudo, Edelci diz que não é só o clima que torna grande e iminente o risco de internações. “As más condições de urbanização da cidade agravam as condições de desconforto térmico e aguçam os efeitos das temperaturas e amplitude térmica.”
Soluções
Sobre as medidas que devem ser tomadas, a pesquisadora diz que é necessário intervir no espaço, para que as condições de vida sejam melhoradas e as pessoas possam ficar mais protegidas contra as situações climáticas extremas. “A intervenção pode ser tomada em dois níveis: o primeiro seria um planejamento urbano com a implementação de fatores controladores do clima como arborização, praças, arruamentos, políticas para diminuição das emissões de poluente; e o segundo seria em casa, na melhoria nas condições construtivas para proteção dos moradores”.
A pesquisadora também enfatiza a importância da intervenção na educação: “Devem ser feitas campanhas de esclarecimento e conscientização dos efeitos adversos do clima e deve haver orientação de atitudes que podem proteger do frio, do calor ou da poluição”, encerra.
As análises da região estudada para a composição da tese foram realizadas entre 2003 e 2007.
Mais informações: enunes@usp.br
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