A época de maior estiagem em algumas regiões do Brasil acontece entre os meses de agosto e setembro. Este período é marcado pela intensificação das queimadas e pela espessa nuvem de fumaça que cobre as cidades.
Além dos danos causados à natureza, as queimadas prejudicam a saúde porque afetam a qualidade do ar e provocam doenças respiratórias. No início de agosto, o governo do Acre decretou estado de alerta ambiental, devido ao elevado número de queimadas no estado.
Encontrar alternativas ao uso do fogo na agropecuária tem sido um desafio para instituições de pesquisa e fomento do País. Com esta preocupação, há vários anos a Embrapa atua no desenvolvimento de soluções tecnológicas acessíveis ao pequeno produtor, para evitar o fogo nas atividades agrícolas e pecuárias da região.
O fogo é uma das mais antigas práticas incorporadas aos sistemas de produção, por facilitar a limpeza de área e porque, acredita-se, a prática torna a terra mais fértil, incorporando nutrientes da vegetação ao solo. Apesar dessa crença ser verdadeira, parte dos nutrientes incorporados com a queimada como cálcio, potássio e magnésio - promotores do efêmero fenômeno de fertilização do solo - se perde na atmosfera, fazendo com que o efeito dessa “fertilização” seja de rápida ação.
Pesquisas comprovam que a queima provoca a perda de 98% de carbono, 96% de nitrogênio, 76% de enxofre, 48% de potássio, 47% de fósforo, 40% de magnésio e 30% de sódio, provocando o empobrecimento do solo.
Em 2005, quando o Acre vivia uma das maiores secas de sua história, foram registrados 22.948 focos de calor e um recorde de incêndios florestais, com prejuízos para a biodiversidade, fertilidade dos solos, produtores, governo e a população em geral. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), este ano os satélites registram, em um único dia de agosto, 12.629 focos de queimadas em todo o País, a maioria nas regiões Norte e Centro-Oeste. Dados da fiscalização estadual revelam que a quantidade de focos de incêndio no Acre cresceu 123% em comparação a 2008 e 587% em relação ao ano passado.
Alternativas
Tecnologias simples e acessíveis, como o uso de leguminosas, podem substituir o sistema de derruba e queima. A mucuna preta está entre as alternativas utilizadas por agricultores de diversos municípios acrianos para evitar o uso do fogo na agricultura, ajudando na recuperação de áreas degradadas. De fácil cultivo, a planta proporciona benefícios ao solo e pode melhorar a produtividade agrícola.
Segundo o pesquisador da Embrapa Acre, Falberni Costa, o cultivo de plantas de cobertura de solo, como as leguminosas, ajuda na proteção contra os processos erosivos, causados pela ação da chuva, adiciona nitrogênio orgânico ao solo, para cultivos sucessores às leguminosas, auxilia no combate às ervas daninhas, com reflexos na limpeza das áreas para cultivo, e incorpora matéria orgânica ao solo, servindo de adubo natural.
O uso destas plantas, porém, deve ser associado a outras práticas agronômicas para garantir a recuperação e o aumento da fertilidade de solos empobrecidos com o sistema de derruba e queima. Para maior eficiência desta técnica é necessário, por exemplo, a associação a programas de correção e fertilização de solos, além da diversificação da produção e dos sistemas agrícolas que revolvam minimamente o solo, como é o caso do plantio direto”, explica Costa.
Outra alternativa para uma agricultura sem fogo é a trituração da capoeira, que serve de cobertura e adubo natural para o solo. Esta prática é possível com o equipamento conhecido como Tritucap, um trator de grande porte equipado com triturador de capoeira. A tecnologia desenvolvida pela Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA), em parceria com duas Universidades alemãs, já é adotada em alguns estados da Amazônia e, em breve, será realidade também para produtores familiares do Acre.
Por meio de um programa de transferência de tecnologias voltado para o fortalecimento da agricultura familiar, a Embrapa Acre adquiriu dois destes equipamentos para uso em atividades de pesquisa em propriedades rurais nas regiões do Alto Acre, Baixo Acre e Purus, e para atendimento de demandas tecnológicas de comunidades rurais do Vale do Juruá. Segundo Francisco de Assis Silva, chefe adjunto de Comunicação e Negócios da Unidade, os tratores vão estimular a utilização de métodos de recuperação e conservação da fertilidade do solo, evitando a abertura de novas áreas de produção e a prática das queimadas.
As tecnologias alternativas ao uso do fogo, desenvolvidas pela Embrapa Acre, também contemplam a pecuária. Entre elas está o amendoim forrageiro, leguminosa bastante utilizada em consórcio com gramíneas. Suas folhas e talos secos servem para adubar o solo, aumentando a fertilidade e a capacidade produtiva, resultando em melhoria na qualidade das pastagens e aumento da longevidade dos capins e evitando a queima para renovação de pastagens.
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