Por Fábio de Castro, da Agência FAPESP
Considerando a crescente densidade populacional da Amazônia e a complexidade de aspectos ambientais, econômicos e sociais da região, o professor Jacques Marcovitch, da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), conclui que a sustentabilidade amazônica é indissociável do crescimento econômico e de estratégias de gestão voltadas para o empreendedorismo.
Diante desse contexto, em seu novo livro A Gestão da Amazônia – Ações Empresariais, Políticas Públicas, Estudos e Propostas, Marcovitch analisa os desafios estratégicos da região e, a partir de experiências concretas de gestão ambiental, indica aos tomadores de decisão – no âmbito das empresas, governos e sociedade civil – quais são as ações prioritárias para que o Brasil assuma sua responsabilidade diante da sustentabilidade do bioma.
Em novo livro, Jacques Marcovitch faz balanço dos desafios da região e indica como tomadores de decisão poderão melhorar a vida da população amazônica |
A obra será lançada em Manaus (AM), no dia 14 de março, e em São Paulo, dois dias depois. Segundo o autor, o livro se dirige especialmente a esses tomadores de decisão, embora traga uma visão integral da Amazônia que poderá ser útil a todos os interessados pela região.
“Além de apresentar os desafios, o livro apresenta pistas de soluções para eles, a partir de exemplos de ações de diversas empresas, entidades civis e instituições de pesquisa. O objetivo é que, inspirados por essa reflexão, os gestores possam se engajar na melhoria da qualidade de vida dos 20 milhões de brasileiros que moram na região”, disse à Agência FAPESP.
De acordo com Marcovitch, a crescente população amazônica é um dado que não pode deixar de ser considerado em qualquer estratégia de gestão para a região.
Segundo ele, a sustentabilidade e o desenvolvimento andam de mãos dadas, especialmente em um contexto que envolve problemas agudos como a questão fundiária, a pobreza, o desmatamento predatório e as cidades mal planejadas e inchadas pela migração rural. “Não podemos imaginar a Amazônia como uma floresta sem gente, ou com poucas concentrações urbanas. Hoje, temos cidades médias que estão crescendo na região, com muitos problemas de planejamento. Olhar para a floresta sem olhar para as pessoas é um grande equívoco”, afirmou.
No livro, Marcovitch destaca o papel central das instituições de pesquisa. Para ele, não há lugar no Brasil tão propício a experiências avançadas em biotecnologia ou procedimentos de integração e reencontro do homem com a natureza. “A região oferece todas as precondições para a realização do sonho ambientalista. O caminho para isso, entretanto, não é mais a estrada curta da utopia. Aí estão fatores emergentes de ordem econômica e política, incluindo aspectos de um novo capitalismo jamais imaginado pelos visionários de ontem”, disse.
No livro, a Amazônia é abordada em três perspectivas complementares – ambiental, social e econômica – , que estão presentes nas diversas partes da obra. A primeira parte corresponde ao grande cenário da Amazônia, apreciando a situação atual de todo o bioma, com os desafios que ela enfrenta. “Esses problemas envolvem não só a questão ambiental, mas também a questão social, a economia, a gestão de águas – com problemas de contaminação e com o crescimento das cidades sem planejamento e saneamento básico –, além do tema dos mecanismos de mitigação do efeito estufa como Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) e do desafio do respeito à cultura indígena”, explicou.
A segunda parte, de natureza econômica e empresarial, tem foco em uma pesquisa realizada com dez empresas de grande porte que desenvolvem atividades sustentáveis na região. “São empresas que estão à frente de seu tempo, engajadas em projetos envolvidos não só nas três dimensões do problema amazônico – social, econômico e ambiental –, mas também na dimensão cultural, ou seja, nas comunidades locais. São dez casos minuciosamente estudados, que incluem as áreas de extração de madeira, mineração, varejo e empresas de vários segmentos”, afirmou.
Essas empresas, segundo o autor, têm conseguido angariar reconhecimento internacional expressivo, sendo algumas delas premiadas por suas ações ligadas à sustentabilidade.
Gestão integrada
O livro também apresenta parcerias recentes entre o setor público e a iniciativa privada que, segundo o pesquisador, facilitam o caminho para o fortalecimento de uma economia verde no Brasil. “São acertos setoriais que poderiam servir de modelo e ganhar maior amplitude, em escala nacional”, disse Marcovitch.
A terceira parte, intitulada “Propostas na mesa”, reúne depoimentos de especialistas sobre a região, que lidam essencialmente com o uso sustentável dos recursos da natureza.
“Na quarta parte é feito um balanço do conteúdo apresentado e uma discussão sobre a sustentabilidade, encarada como objetivo empresarial estratégico e não como atitude beneficente. O mercado internacional exige que os exportadores apresentem certificações de suas práticas ambientais”, explicou.
Segundo Marcovitch, a complexidade e heterogeneidade da região amazônica não permitem o desenvolvimento de um modelo único de gestão. “É muito difícil pensar em uma gestão única, mas é importante pensarmos em gestão integrada. Temos recursos disponíveis para incentivar uma gestão mais responsável da região, mas eles têm sido utilizados aquém da possibilidade. Isso indica um problema de gestão, ou seja, uma limitação da capacidade de transformar cenários e diagnósticos em resultados e políticas públicas”, disse.
O programa de lançamento do livro em Manaus e São Paulo inclui a realização de dois seminários com a participação de especialistas citados no texto. O programa desses eventos poderá ser consultado no site www.fea.usp.br.
- A Gestão da Amazônia – Ações Empresariais, Políticas Públicas, Estudos e Propostas
Autor: Jacques Marcovitch
Lançamento: 2011
Preço: R$ 48
Páginas: 310
Mais informações: www.edusp.com.br
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