Os biocombustíveis não apenas desviaram os cultivos como também têm desviado subvenções públicas aos agricultores.
“Esta é a coisa mais louca que estamos fazendo”, diz Peter Brabeck, presidente da Nestlé. Ele fala sobre as metas dos governos em cima da política de biocombustíveis (geralmente feitos a partir de culturas como o milho e açúcar). As metas são ambiciosas.
Brasil, Japão , Indonésia e União Européia dizem que os biocombustíveis devem suprir 10% da demanda de transporte em 2020. As metas da China, hoje, são de 5%. Americanos pretendem buscar nesses biocombustíveis 30% da sua demanda, em 2030.
Mesmo os menores objetivos no mercado de energia traduzem enormes demandas por culturas. O etanol é responsável por apenas 8% dos combustíveis dos veículos da América, mas ele consome quase 40% da sua safra de milho. A produção mundial de etanol cresceu cinco vezes entre 2000 e 2010, mas deveria aumentar muito mais para atingir suas metas. Um cálculo mostra que, se isso ocorresse — o que parece improvável –, um décimo da produção mundial de cereais seria desviada para produção de combustíveis. Se a produção de culturas permanecer estável, uma enorme quantidade de terras extras seriam necessárias para os combustíveis. Caso contrário, o preço dos alimentos cresceria entre 15 e 40%, trazendo terríveis consequências.
Nem todos os tipos de etanol são os mesmo. Brasil, o segundo maior produtor do mundo, retira seu combustível apenas do açúcar. O país recebe oito unidades de energia para cada unidade de insumo, o processo torna-se relativamente eficiente e ambientalmente correto. Em contraste, o etanol norte-americano produz apenas 1,5 unidades de energia, mas sua ineficácia é coberta pelos subsídios do governo e as altas tarifas alfandegárias. Agricultores norte-americanos dizem que a demanda do governo pelo etanol está começando a diminuir, de modo que o impacto na oferta de milho e seus preços estão mais modestos agora.
Uma das medidas mais simples para ajudar a garantir alimento suficiente para a população mundial, em 2050, seria descartar todas as metas de biocombustíveis. Se toda a safra de milho norte-americana, que é direcionada para a produção de etanol, fosse usada como alimento, o aproveitamento mundial do alimento aumentaria em 14%.
Mas isso não irá acontecer. Os biocombustíveis não apenas desviaram os cultivos para sua produção como também têm desviado subvenções públicas aos agricultores, sem provocar grandes oposições. Os governos não gostam da ideia de abandonar os biocombustiveis apenas por serem ineficientes e prejudiciais. “Não temos capacidade para produzir biocombustíveis e, ao mesmo tempo, alimentar a crescente população mundial”, diz Brabeck. Mas, ao menos por este momento, teremos de fazê-lo.
Fonte: Opinião e notícia
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