Por Maria Alice da Cruz, do Jornal da Unicamp
Eventos naturais extremos, como a chuva que vitimou várias pessoas entre março e abril deste ano, em Teresópolis (RJ), mesmo após a tragédia que atingiu a região serrana fluminense no ano passado, exigem novos olhares para os estudos da dinâmica populacional. As transformações que se apresentam nos últimos anos, incluindo atividades econômicas e mudanças climáticas, sugerem inovações nas pesquisas sobre população e ambiente, inserindo novos componentes importantes para compreender essa relação.
Há 15 anos, o professor e demógrafo Daniel Hogan, falecido em abril de 2010, sugeria a inserção das mudanças ambientais globais como forma de tornar mais eficientes os resultados de pesquisas sobre dinâmica demográfica. Seus passos nessa linha de pesquisa, iniciados há 30 anos com a fundação do Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Unicamp, continuam a ser seguidos por 20 estudiosos do grupo População e Ambiente do núcleo, de acordo com o sociólogo e doutor em demografia Roberto Luiz do Carmo, um dos coordenadores do grupo, ao lado do professor Alvaro de Oliveira D’Antona.
Além das discussões sobre mudanças climáticas e suas relações com a dinâmica social e demográfica, existe uma série de outros aspectos da relação entre população e ambiente em estudo, como por exemplo, os processos de mudança no uso e ocupação da terra em várias partes do país, o processo de urbanização e suas decorrências, a redistribuição espacial da população e sua conexão com os processos ambientais.
Entre outros resultados, os estudos mostram como as mudanças climáticas rebatem na dinâmica populacional. Conforme Carmo, as transformações têm impacto em aspectos relacionados com a própria estruturação da cidade, como, por exemplo, a ocupação pela população de áreas mais vulneráveis. “Esses eventos extremos de chuva, como este último em Teresópolis, representam um conjunto de riscos relacionados às mudanças climáticas que afetará um grupo populacional que já era vulnerável, por uma série de razões sociais, entre as quais a habitação em áreas ambientalmente mais frágeis, expostas a inundações e alagamentos”, adverte Carmo.
De acordo com o demógrafo, com o crescimento urbano não planejado e dirigido pelo capital imobiliário, as pessoas em piores condições econômicas acabaram ocupando áreas de maior suscetibilidade a alagamentos e inundações, alguns dos principais riscos a ser potencializados pelas mudanças climáticas. Antes dessa potencialização, os riscos tinham um significativo impacto sobre a vida das populações que habitam áreas frágeis, segundo Carmo. “Foi esse o espaço que restou para esta população ocupar”, acentua.
Conforme o pesquisador, a leitura que se faz hoje é de que existe uma dívida social em relação a esse processo de urbanização ocorrido no Brasil. “Uma dívida social que a cada ano apresenta sua conta, em forma de vida de pessoas e precisamos começar a pagar como sociedade”, questiona. A urbanização, um dos dois maiores fenômenos demográficos ocorridos na segunda metade do século 20 no país, tem recebido atenção especial do grupo. O segundo, conforme Carmo, é queda da taxa de fecundidade, que provocou um processo de transição demográfica, mas não garantiu avanços no que diz respeito à sustentabilidade. As desigualdades sociais permanecem, fazendo as vítimas da má distribuição de bens naturais e dos riscos ambientais que foram socialmente construídos ao longo da história do país, segundo o professor. “O número de famílias que vivem em situação de vulnerabilidade ainda é expressivo”, acentua.
Eventos naturais extremos, como a chuva que vitimou várias pessoas entre março e abril deste ano, em Teresópolis (RJ), mesmo após a tragédia que atingiu a região serrana fluminense no ano passado, exigem novos olhares para os estudos da dinâmica populacional. As transformações que se apresentam nos últimos anos, incluindo atividades econômicas e mudanças climáticas, sugerem inovações nas pesquisas sobre população e ambiente, inserindo novos componentes importantes para compreender essa relação. Há 15 anos, o professor e demógrafo Daniel Hogan, falecido em abril de 2010, sugeria a inserção das mudanças ambientais globais como forma de tornar mais eficientes os resultados de pesquisas sobre dinâmica demográfica. Seus passos nessa linha de pesquisa, iniciados há 30 anos com a fundação do Núcleo de
Estudos da População (Nepo) da Unicamp, continuam a ser seguidos por 20 estudiosos do grupo População e Ambiente do núcleo, de acordo com o sociólogo e doutor em demografia Roberto Luiz do Carmo, um dos coordenadores do grupo, ao lado do professor Alvaro de Oliveira D’Antona. Além das discussões sobre mudanças climáticas e suas relações com a dinâmica social e demográfica, existe uma série de outros aspectos da relação entre população e ambiente em estudo, como por exemplo, os processos de mudança no uso e ocupação da terra em várias partes do país, o processo de urbanização e suas decorrências, a redistribuição espacial da população e sua conexão com os processos ambientais.
Entre outros resultados, os estudos mostram como as mudanças climáticas rebatem na dinâmica populacional. Conforme Carmo, as transformações têm impacto em aspectos relacionados com a própria estruturação da cidade, como, por exemplo, a ocupação pela população de áreas mais vulneráveis. “Esses eventos extremos de chuva, como este último em Teresópolis, representam um conjunto de riscos relacionados às mudanças climáticas que afetará um grupo populacional que já era vulnerável, por uma série de razões sociais, entre as quais a habitação em áreas ambientalmente mais frágeis, expostas a inundações e alagamentos”, adverte Carmo.
De acordo com o demógrafo, com o crescimento urbano não planejado e dirigido pelo capital imobiliário, as pessoas em piores condições econômicas acabaram ocupando áreas de maior suscetibilidade a alagamentos e inundações, alguns dos principais riscos a ser potencializados pelas mudanças climáticas. Antes dessa potencialização, os riscos tinham um significativo impacto sobre a vida das populações que habitam áreas frágeis, segundo Carmo. “Foi esse o espaço que restou para esta população ocupar”, acentua.
Conforme o pesquisador, a leitura que se faz hoje é de que existe uma dívida social em relação a esse processo de urbanização ocorrido no Brasil. “Uma dívida social que a cada ano apresenta sua conta, em forma de vida de pessoas e precisamos começar a pagar como sociedade”, questiona. A urbanização, um dos dois maiores fenômenos demográficos ocorridos na segunda metade do século 20 no país, tem recebido atenção especial do grupo.
O segundo, conforme Carmo, é queda da taxa de fecundidade, que provocou um processo de transição demográfica, mas não garantiu avanços no que diz respeito à sustentabilidade. As desigualdades sociais permanecem, fazendo as vítimas da má distribuição de bens naturais e dos riscos ambientais que foram socialmente construídos ao longo da história do país, segundo o professor. “O número de famílias que vivem em situação de vulnerabilidade ainda é expressivo”, acentua.A transição demográfica faz com que os demógrafos lancem um olhar diferenciado para a dinâmica populacional no Brasil, apesar de todo o movimento em torno da chegada aos 7 bilhões de habitantes no mundo. “Se olharmos para a escala mundial, colocaríamos um peso muito grande na questão dos números absolutos de volume de população, mas se analisarmos um processo recente de população brasileira, veremos que nas últimas três décadas houve um processo tão grande de queda da fecundidade, que começamos a ver o momento que a população vai parar de crescer no Brasil.
Mas até que ponto essa questão da diminuição de crescimento efetivamente vai significar uma diminuição da desigualdade social? Não houve transformação muito grande em termos de diminuição das desigualdades sociais”, acrescenta.
Na avaliação de Carmo, o grupo avançou muito no conceito de vulnerabilidade durante um longo período, pensando nele, num primeiro momento, como o reverso da moeda da sustentabilidade. “Começamos a pensar, principalmente, no âmbito desses projetos que temos sobre mudanças climáticas, em termos de adaptação de resiliência. Como os grupos sociais vão se adaptar a esse novo contexto e como é possível pensar essa organização diante desses riscos que poderão ser cada vez maiores”, reflete.
Carmo recorda que, há 20 anos, quando membros do grupo iniciaram as pesquisas sobre a utilização da água e o impacto na dinâmica populacional, a questão não era estudada. Dados mais recentes de pesquisa desenvolvida no Nepo mostram o impacto da expansão do cultivo da soja em larga escala na modificação da paisagem e na nova dinâmica ambiental do Cerrado. O trabalho mostra que a demanda grande por água pode levar a processo muito intenso de uso e até a um conflito pelo uso do recurso num contexto onde existe característica ambiental bastante frágil. A expansão agrícola, segundo ele, demanda uma quantidade maior de água. No Cerrado, principalmente, onde essa atividade se expandiu, a produção é calcada no aumento do uso da irrigação e no uso intensivo de produtos agroquímicos, tendo impacto na qualidade da água.
Os impactos em termos de qualidade podem vir a ter impacto em termos de quantidade, no futuro, segundo o pesquisador. Ele enfatiza que todo processo de expansão das atividades econômicas no Cerrado são fundamentais hoje para o país, pois uma parcela significativa da balança comercial brasileira vem da exportação desses produtos, que são primários, mas os impactos precisam ser avaliados.
Em um trabalho dedicado às questões demográficas e hídricas em São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Santos e no Recife, os pesquisadores observaram que a expansão metropolitana brasileira foi acompanhada de problemas como o aumento da demanda por água e a degradação de recursos hídricos. Essas mudanças refletiram-se no surgimento de significativos grupos populacionais com condições de vida precárias, segundo Carmo. Ele acentua que ao longo dos últimos dez anos houve uma evolução muito importante em termos de aumento da cobertura dos serviços de água, coleta de esgoto no país como um todo, entretanto, em localidades onde não há legislação de recursos hídricos implementada a situação continua difícil em termos de serviços básicos de saneamento para grande parte da população. “Em muitos casos, o que vemos é melhoria da coleta do esgoto, mas com despejo diretamente nos cursos de água. As grandes cidades, entre as quais Recife, ainda enfrentarão uma série de aspectos envolvidos com essa questão da água.”
Ele acrescenta que a região metropolitana de São Paulo, por estar situada na parte mais alta da bacia, não tem muita água disponível, em relação à demanda existente. Por conta disso, a capital paulista capta água do sistema Cantareira, que é da Bacia do Piracicaba. Segundo Carmo, há uma competição por água entre Campinas e São Paulo, e isso certamente se refletirá em 2014, quando a renovação da outorga será discutida.
As novas formas de organização social constituídas em um mundo que passa por grandes transformações, pelo acesso à tecnologia, pela nova cobertura de serviços públicos, pela queda de fecundidade, trazem uma situação de conforto para uma parte significativa da população, entretanto, as questões se colocam aos demógrafos em termos geracionais. “O que nossa geração vai deixar para a de nossos filhos? Um mundo arrasado em que eles terão dificuldade para sobreviver? Nossa discussão vem nesse sentido, nossa geração vive momento de afluência e riqueza que nunca existiu em outro momento da história. Ao mesmo tempo, isso traz uma grande responsabilidade, pois precisamos pensar no que deixar para o futuro.” Para ele, as pessoas que estão num determinado nível social em que se pode desfrutar de tudo o que a tecnologia e os recursos econômicos podem oferecer precisam olhar para o lado, pois há uma parcela da população que não tem acesso.
Trabalhos recentes
A dissertação “Mineração e dinâmica populacional”, de autoria de Vinicius Correa, orientado por Carmo, mostra o impacto da atividade de mineração na dimensão populacional da Serra Pelada. Para o orientador, o trabalho mostra que a mineração deixou um legado de população masculina que impacta até hoje a demografia da região. “É preciso pensar nos impactos populacionais que esses processos deixam em termos de longo prazo”, pontua.
Outra linha desenvolvida dentro do grupo, em parceria com a Prefeitura de Campinas, mostra o impacto da dengue na organização populacional. Os resultados revelam que, por um lado, ao longo da década de 2000, houve duas situações bem diferenciadas: a primeira mostra uma incidência maior da doença numa população com menor acesso aos serviços de água; a segunda, um grupo populacional com todos os recursos econômicos, mas preocupado em manter vasos e plantas nos quais os mosquitos se reproduzem. “Para cada um dos casos é preciso realizar uma política pública diferente. Por um lado, aumento do oferecimento de água tratada, para que as pessoas não tenham que estocar. Por outro lado, uma política massiva de informação e de ação direta para mudança de cultura em relação à manutenção das áreas urbanas, sejam elas privadas ou públicas”, opina Carmo.
Um trabalho de iniciação científica realizado em Altamira (PA), premiado no Congresso de Iniciação Científica de 2011 da Unicamp, mostra elementos importantes para a compreensão da dificuldade de se combater a dengue no Brasil. Segundo Carmo, os resultados mostram que a doença envolve desde questões da urbanização até características da mobilidade espacial da população. “É um resultado interessante em termos de aplicabilidade de políticas públicas, porque a dengue sintetiza toda a complexidade da relação entre população e ambiente com todos os meandros”, justifica o orientador.
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