segunda-feira, 17 de julho de 2006

Destruição atinge metade de santuário

Maceió, 17/07/06

Placas delimitam área de mangue em reserva ecológica onde não poderia haver construções

Niviane Rodrigues


Após 21 anos de criação, a Área de Proteção Ambiental (APA) de Santa Rita deve ganhar, finalmente, seu Plano de Manejo. O documento, que disciplina o uso do solo e dos recursos ambientais sustentáveis, pode ir à votação no Conselho Estadual de Proteção Ambiental (Cepram) em agosto, de onde saiu após a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) recomendar diversas modificações, entre as quais o disciplinamento da parte aquática, com projeto de gerenciamento costeiro e de controle de embarcações, delimitando áreas de pesca e praia para o turismo. Antes de ser votado, o plano passará ainda pela análise de uma comissão do próprio Cepram para constatar se as mudanças foram, de fato, implementadas pela empresa de consultoria responsável pelo estudo, o Instituto de Pesquisa e Preservação Ambiental (IPPA).

Omissão do poder público é agravante

"O litoral alagoano, do qual a APA de Santa Rita faz parte, é um grande patrimônio paisagístico, cultural e histórico que evidencia Alagoas como pólo turístico para o Brasil e o mundo. No entanto, a omissão do poder público faz com que esse patrimônio esteja sendo destruído”, alerta Sinval Autran e Melchior Nascimento, membros da comissão executiva da Associação Profissional dos Geógrafos do Estado de Alagoas (Aprogeo).
Ações no MP tentam barrar degradação - Para tentar impedir que o processo de degradação ambiental avance, o Instituto Salsa-de-Praia, uma Organização Não-Governamental criada há dez anos por ambientalistas no município de Marechal Deodoro, recorreu ao Ministério Público pedindo que embargue empreendimentos que possam provocar impactos na região. A última ação foi contra a construção de um canal artificial no Loteamento Ilhas Belas, na APA.

Mangue é loteado na reserva natural do Saco da Pedra

Uma das áreas críticas da APA é a Reserva Ecológica do Saco da Pedra, um paraíso ambiental, ponto de desova de tartarugas marinhas e de pássaros migratórios, cercada por mangues, restingas e coqueirais onde por lei não poderia haver ocupação humana, apenas visitas técnicas para estudos científicos e com finalidade educativa. O lugar também abriga mansões que ocuparam irregularmente boa parte da área e acabaram privatizando a praia. São verdadeiros palacetes construídos à beira-mar.
Enchentes ameaçam e tiram fonte de renda de moradores - As agressões às áreas de preservação ambiental trazem conseqüências desastrosas ao meio ambiente e às comunidades onde estão inseridas. Na APA de Santa Rita, em épocas de chuva, são freqüentes os alagamentos provocados pela impermeabilização do solo com as construções desordenadas e destruição da vegetação. Com um lençol freático de apenas 2 metros de profundidade, vários trechos da APA correm o risco de ser inundados num futuro próximo.
Alagoas abandona áreas de proteção - A gota d’água na polêmica em torno das áreas de proteção ambiental em Alagoas surgiu com a licença prévia pelo Cepram, após análise do IMA, indicando a viabilidade para construção de um canal artificial dentro do Condomínio Ilha Bela, em Marechal Deodoro. O projeto prevê a construção de 90 residências e o objetivo do canal, que terá entre 700 e 800 metros, é facilitar o acesso dos futuros moradores a suas casas. A polêmica foi parar no Ministério Público Federal (MPF).



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