segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Morcegos: ataques preocupam

Niterói, 15/10/06

Isabel de Araújo

A depredação da natureza e a invasão dos condomínios e casas no meio ambiente culminaram com uma perigosa aproximação entre morcegos e humanos. Das 150 espécies do mamífero, três são sugadores de sangue e, entre eles, um é transmissor da raiva, o hematófago, que representa grande risco aos homens. Segundo dados do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), nos últimos anos tem aumentado a incidência de ataques a pessoas e, principalmente, a animais domésticos. Somente nos últimos dois anos, foram registrados ataques em Itacoatiara, Rio do Ouro, Charitas, Vila Progresso, Muriqui, Estrada do Jacaré, Pendotiba, Maria Paula e Morro do Cavalão.

O diretor do CCZ, Francisco Massa, no entanto, destaca que os ataques são esporádicos e pontuais. Ele assegura que os morcegos são animais silvestres protegidos por lei, ou seja, não podem ser mortos. Entre as áreas onde foram notificados os ataques, o maior número de casos foi em Muriqui, nos limites de Maria Paula e São Gonçalo. Além de um homem, não identificado, cachorros e galinhas foram mordidos por morcegos do tipo hematófago.Nas demais localidades, não foram registrados ataques a pessoas. Os notificados não chegaram a dez casos. "Os hematófagos se alimentam de sangue e escolhem como vítimas principalmente galinhas, cavalos, bois, cães e, em último caso, homens. Mas estes últimos não fazem parte da cadeia alimentar. Somente em casos extremos é que são atacados", frisou Francisco Massa.
Aves - O veterinário da Fundação Jardim Zoológico de Niterói (ZooNit), no Fonseca, Thiago Muniz, lembrou que há seis meses, em Várzea das Moças, atendeu a um caso de aves atacadas por hematófagos. Ele frisou que o morcego, atualmente, é considerado o maior transmissor de raiva. "Todo morcego é transmissor do vírus da raiva. Mesmo os frutíferos, mas somente os hematófagos são espécies sugadoras de sangue. Estes mamíferos têm substância anticoagulante na saliva e, na medida em que vão mordendo, realizam um corte na pele com auxílio do incisivo e do canino. O animal vitimado perde até 200ml de sangue, mas o morcego só precisa de 15ml para se alimentar", explicou Thiago.
Transmissores - Por sua vez, Márcio José de Figueiredo, professor de veterinária da Universidade Federal Fluminense (UFF), é especialista em diagnóstico de raiva.
Ele também alertou que estes mamíferos representam os maiores transmissores da doença, superando os cães e gatos. Figueiredo destacou as campanhas de vacinação dos animais domésticos, que anualmente acontece em agosto, como fator fundamental para extinguir o vírus entre os caninos e felinos. Márcio José de Figueiredo, no entanto, esclareceu que não há forma eficaz para prevenir a disseminação dos morcegos. Segundo ele, esta espécie tem grande capacidade de adaptação e longevidade, podendo viver mais de 20 anos. "Não temos mecanismo de controlar a raiva na espécie. Não é viável vacinar os animais, assim como fazemos com os cães e gatos. Além disso, somente a espécie hematófaga representa risco aos seres humanos, uma vez que necessitam sugar sangue para sobreviver, e o vírus é transmitido pela mordida", comentou Figueiredo.

Identificação da espécie é fundamental
De acordo como o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), sempre que é notificado um caso de ataque de morcegos, uma equipe vai ao local e procura identificar a espécie. Sendo hematófagos, a equipe monta uma armadilha e fica esperando o animal ficar preso. "Ficamos no local de dois a três dias e, assim que capturamos o animal, passamos uma pasta de soro anticoagulante nas suas costas e o liberamos. Por conta de sua natureza sociável, um tem o hábito de limpar o outro e, com isso, eliminamos toda a colônia", explicou Francisco Massa, diretor do CCZ. Ainda segundo o diretor, é fundamental que as pessoas sigam algumas orientações para evitar serem contaminadas por doenças transmitidas por estes mamíferos voadores. Entre as principais recomendações, Massa destacou não tentar capturar o animal, no caso de encontrar um morcego voando em plena luz do dia. Neste caso, desconfie, pois na certa ele está doente. Caso seja localizado algum caído no chão, mesmo morto, não encostar.
Prevenção - Outras mudanças drásticas que indicam que o animal está contaminado são as seguintes: ele estar pousado em grade de jardim, ou em locais inusitados, tais como cortina.
Como precaução, Francisco Massa aconselha colocar telas de proteção em galinheiros, canis e entradas de sótãos. "Devemos prestar atenção também para o caso de morte súbita nos animais que apresentem algum tipo de ferida. Por exemplo, galinha que são criadas soltas e cachorros criados em ambientes externos", concluiu. Massa pede aos que tenham dúvidas que entrem em contato com o CCZ através do telefone 2625-8441, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.

Fonte: O Fluminense

Nenhum comentário: