Se ainda havia alguma dúvida, ela acaba de ser enterrada. Mas a confirmação está longe de ser uma boa notícia. O mais novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), cuja primeira parte foi divulgada nesta sexta-feira (2/2), em Paris, não deixa dúvidas: o clima do planeta está mudando – e a culpa é do homem.
De acordo com o documento, o aquecimento global está se acelerando, motivado especialmente pela queima descontrolada de combustíveis fósseis. A temperatura média global subiu cerca de 0,7º C entre 1901 e 2005. Os dois anos mais quentes registrados até hoje foram 1998 e 2005.
Mas a situação pode piorar muito. Na estimativa mais otimista, o aumento da temperatura ficará entre 1,8 e 4,0 graus no século 21. O nível do mar pode subir até 59 centímetros e há a possibilidade de o gelo do pólo Norte derreter por completo até o fim do século.
O relatório do IPCC diz haver 90 por cento de probabilidade que atividades humanas são a causa da maior parte do aquecimento nas últimas décadas.
Segundo o texto, a mudança climática, que muitos cientistas diziam esperar para daqui a algumas décadas, já começou. O fenômeno pode ser observado, por exemplo, no derretimento de geleiras e na diminuição da calota polar do Oceano Glacial Ártico.
Entre as conseqüências da mudança climática estão a alteração nos padrões de chuva, com secas e tempestades violentas, e níveis mais elevados nos mares.
Segundo cientistas que participaram da produção do relatório, os resultados apresentam o retrato mais nítido de que a poluição promovida pelo homem na forma de gases estufa (como dióxido de carbono, metano, hidrofluorcarbonos, perfluorcarbonos e hexafluoreto de enxofre) tem um papel fundamental no aquecimento global. “Estamos vendo – e não prevendo – os efeitos do aquecimento global em uma escala e em formas que não eram observáveis anteriormente”, disse Gabriele Hegerl, professora da Universidade de Duke e uma das principais autoras do capítulo dedicado às causas da mudança climática. “Quando olhamos para as alterações em temperatura, circulação e aquecimento nos oceanos, para a redução de gelo no Ártico e para o derretimento de geleiras, vemos um retrato muito claro do papel das causas externas, particularmente dos gases estufa. Estamos mais certos de que as mudanças climáticas atuais não estão ligadas a variações naturais”, disse Gabriele em comunicado da Universidade de Duke.
A equipe coordenada pela cientista e por Francis Zwiers, do Centro Canadense de Modelagem e Análise Climática, analisou dados colhidos por satélites e instrumentos de medição em terra e mares, além de reconstruções feitas em computador que cobriram os últimos mil anos. Ao comparar as observações com as modelagens, os pesquisadores conseguiram identificar que influências externas eram mais importantes. “Por meio da análise dos padrões de mudanças nas temperaturas no século 20, pudemos identificar diferenças entre as alterações promovidas por gases estufa, por aerossóis produzidos pelo homem, por variações na radiação solar ou por grandes erupções vulcânicas”, explicou Gabriele.
Fonte: Agência Fapesp
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