quarta-feira, 2 de maio de 2007

Reflexões quentes

Luiz Paulo Juttel

A manhã nublada e de temperatura amena contrastou com o que se discutiu no auditório do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na sexta-feira (27/4). Ali, o tema central foi aquecimento global.

Em homenagem aos 25 anos do Nepo e aos 20 anos do Núcleo de Pesquisas Ambientais (Nepam), também da Unicamp, foi realizada a mesa-redonda “Mudanças ambientais globais: a contribuição dos estudos ambientais e populacionais”. O evento começou com outra homenagem, de cunho pessoal, a Daniel Joseph Hogan, chefe do Departamento de Demografia da Unicamp. Hogan, que teve participação na implantação e no desenvolvimento tanto do Nepo como do Nepam, foi aplaudido pelos colegas presentes, entre os quais o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge.

Na mesa-redonda, os expositores trataram de pontos importantes referentes ao aquecimento global, como mudanças climáticas e as conseqüências para o Brasil. Foi abordado o mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês). Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, falou sobre a evolução dos estudos sobre aquecimento global. Segundo lembrou, o primeiro cientista a indicar que gases na atmosfera poderiam contribuir para o aumento na temperatura superficial terrestre foi o físico e matemático francês Jean Baptiste Fourier, em ensaio publicado em 1827. Depois do efeito estufa previsto por Fourier, o naturalista irlandês John Tyndall, em 1863, ampliou os estudos sobre os gases e o aquecimento do planeta. Em 1896, o químico sueco Svante Arrhenius evidenciou a influência que dióxido de carbono lançado na atmosfera pela atividade industrial humana teria sobre o aquecimento global. “Cada pesquisador coloca um tijolo e sobe um degrau”, disse Brito Cruz, que também destacou a importância para a compreensão do clima do planeta do trabalho de cientistas como o inglês Guy Stewart Callendar, que em 1938 realizou um processo meticuloso de medição da temperatura em regiões extensas, e o norte-americano Charles Keeling, que em 1957 criou um mecanismo de medição de dióxido de carbono na atmosfera. “O que sabemos sobre o aquecimento global, hoje, deve-se à boa ciência, aos esforços obsessivos de muitos cientistas há mais de um século”, afirmou Brito Cruz.

Daniel Hogan e Ulisses Confalonieri, professor da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, falaram sobre os possíveis impactos ecológicos e sociais do aquecimento global destacados nas duas partes do relatório do IPCC publicadas este ano.
De acordo com o relatório, a Amazônia ficará mais quente, com menos chuva e com aspecto semelhante ao das savanas africanas. O Nordeste brasileiro também esquentará ainda mais e terá menos chuva. “Mas é preciso ressaltar que o relatório do IPCC generaliza bastante. Ainda precisamos entender melhor os efeitos do aquecimento global”, disse Confalonieri. O pesquisador falou também sobre alterações na saúde humana em decorrência do aquecimento global, como mortes provocadas por ondas de calor na Europa e na América do Norte e a falta de chuva em diversas regiões do Brasil e de outros países. “Estamos em um momento singular da história, pois nos tornamos majoritariamente urbanos. E as regiões em que a urbanização mais cresceu nos últimos 50 anos, África e Ásia, por fatalidade ou manipulação humana, serão as que mais sofrerão com os problemas gerados pelo aquecimento global”, destacou Hogan.

Fonte: Agência Fapesp

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