Reinaldo José Lopes
Não se deixe enganar pela pele escura e lustrosa e pelos olhos de tom vermelho-sangue: apesar da cara de "sapo das trevas", o pequeno Frostius erythrophthalmus é completamente inofensivo. Com apenas 2,5 cm de comprimento, o bichinho é a mais nova espécie de anfíbio do Brasil, descoberta na mata atlântica do sul da Bahia. O animal foi descrito por Bruno Pimenta e Ulisses Caramaschi, pesquisadores do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, num artigo na revista científica "Zootaxa" (www.mapress.com/zootaxa). É mais uma prova do pouco que ainda se sabe sobre a biodiversidade da floresta tropical que um dia dominou o litoral do Brasil - e de como esse conhecimento anda crescendo. "É a nossa oitava descoberta de anfíbios no sul da Bahia publicada desde 2003, sem contar três redescobertas de espécies que não eram vistas há mais de 50 anos", contou Pimenta ao G1. O achado faz parte de um levantamento mais amplo da biodiversidade da região, envolvendo anfíbios, aves e mamíferos em 21 fragmentos de mata, que começou em 2000, com apoio do Ministério do Meio Ambiente, da ONG de pesquisa Conservação Internacional e do Iesb (Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia).
O nome científico do bicho homenageia um especialista americano em anfíbios, cujo sobrenome é Frost, e seus olhinhos peculiares (em grego latinizado, erythrophthalmus significa "olhos vermelhos"). Como a maioria dos sapos, ele tem corpo atarracado e pele verruguenta. As fêmeas são um pouquinho maiores que os machos. A espécie foi achada vagando pela serrapilheira (a camada de folhas que cobre o chão da floresta) ou trepada em folhas de arbustos e bromélias. Isso dá, inclusive, uma pista de como ele provavelmente se reproduz: "Como ele não foi encontrado perto de poças ou outro corpo d'água, é possível que ele use a água acumulada no interior das bromélias para isso", diz Pimenta. Embora eles ainda não tenham observado o comportamento, um primo de primeiro grau da nova espécie, o F. pernambucensis, usa as bromélias como berçário para seus girinos. Como outros anfíbios, o F. erythrophthalmus é um predador oportunista, comendo "tudo o que se mexe e que cabe na boca dele", brinca Pimenta.
A boa e a má
Poucas espécies estão numa situação confortável na mata atlântica, ecossistema hoje reduzido a apenas 7% de sua área original. No caso do sapinho 'dark', ainda é cedo para dizer se ele corre riscos, mas há tanto razões para otimismo quanto para pessimismo. "Por um lado, é bom ver que ele ocorre em áreas protegidas, como o Parque Estadual Serra do Conduru", diz Pimenta. Por outro lado, o bicho também está presente na região de Boa Nova, onde o desmatamento (motivado pela extração de madeira) tem avançado. Por enquanto, a única certeza é que novos estudos vão trazer ainda mais novidades sobre a fauna de anfíbios da mata atlântica, principalmente no Nordeste. "Até pouco tempo atrás, pouca gente estudava a área, quase ninguém ia até lá coletar espécimes", diz o pesquisador do Museu Nacional.
Fonte: Globo.com
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