sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Pesquisador desenvolve soro contra serpentes africanas

O pesquisador brasileiro, Wilmar Dias da Silva, obteve as primeiras partidas de anti-soros em condições de uso em pacientes humanos picados por cobras africanas a partir de pesquisa em interação com o Governo de Moçambique e apoiada pelo CNPq. Contando com a participação do Instituto Butantan, a pesquisa coordenada por Wilmar Dias, professor titular da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), também produziu antivenenos para tratamento de animais de interesse econômico em Moçambique. O projeto, denominado “Produção de Antivenenos Específicos para Venenos de Cobras Africanas” conta com recursos do em torno de R$ 142 mil, com previsão de execução até dezembro de 2008.

Os antivenenos foram desenvolvidos a partir de anticorpos IgG produzidos em eqüinos para tratamento de seres humanos e anticorpos IgY produzidos em galinhas e isolados da gema de ovos para tratamento de animais. “Os métodos de produção de anticorpos IgY podem ser considerados uma novidade e têm a vantagem de serem significativamente mais baratos e tão eficientes quanto os produzidos em mamíferos.”, explicou o Professor Wilmar Dias. Na primeira etapa do projeto, foram produzidos, para doação durante três anos, anti-soros em cavalos específicos para as serpentes das espécies Bitis e Naja, consideradas as que causam maior número de acidentes, e preparar anti-soros polivalentes anti-Bitis e anti-Naja. O Instituto Butantan já produziu cerca de 1200 ampolas de cada um desses soros e está providenciando a doação dos anti-soros ao governo de Moçambique.

Venenos fatais

Não há dados oficiais sobre envenenamentos causados por picada de cobras no continente africano, mas sabe-se do perigo que elas representam para a região. A serpente Bitis arietans, a mais perigosa, largamente distribuída na África Sub-Sahariana e responsável por cerca de 80% dos acidentes, são comuns tanto naquelas áreas como nas vizinhanças das cidades. “Além disso, exibem características biológicas que aumentam sua periculosidade. Elas escondem-se e camuflam-se com grande habilidade para pegar suas presas ou atacar suas vítimas”, aponta Wilmar Dias. Seu veneno é rico em fatores cardiotóxicos, hemorrágicos ou anticoagulantes, sendo alto o índice de fatalidades em pessoas picadas por essa espécie. Já o veneno das cobras do gênero Naja é rico em fatores essencialmente neurotóxicos e produzem alterações neurológicas. A gravidade depende da quantidade de veneno inoculada e do tempo decorrido entre o acidente e o atendimento médico com soroterapia, isto é, com emprego do antiveneno específico, anti-naja ou anti-Bitis. A importância do projeto do professor Wimar Dias se dá, principalmente, pelo fato de que Moçambique não dispõe de laboratórios para produção de anti-soros específicos e os produzidos em laboratórios privados são caros. Além disso, os países africanos não possuem especialistas em desenvolvimento de processos de produção e controle de qualidade de imunobiológicos.

Futuro

Segundo o professor, os próximos passos do projeto inclui um ensaio clínico desses antivenenos em Moçambique e o treinamento de pessoal local no atendimento de acidentados. “Além disso, será implantado o serpentário na Universidade Eduardo Mondlane, Maputo. Moçambique, visando à produção de venenos para produção local dos antivenenos e, o que é de grande importância, estudo das correspondentes toxinas com técnicas refinadas de proteoma e biologia molecular”, finalizou o professor.

O Proáfrica

O PROÁFRICA é um programa do Ministério da Ciência e Tecnologia, operacionalizado pelo CNPq, instituído em 2004. O objetivo do programa é contribuir para a elevação da capacidade científico-tecnológica dos países africanos, por meio do financiamento da mobilidade de cientistas e pesquisadores com atuação em projetos nas áreas selecionadas por sua relevância estratégica e interesse prioritário para a cooperação científico-tecnológica. Mais informações sobre o PROÁFRICA em: http://www.cnpq.br/programasespeciais/coopint/proafrica.htm

Fonte: CNPq

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