Um trabalho executado por pesquisadores ligados à Coordenação de Ciências Agronômicas (CPCA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) conseguiu descrever o terceiro caso cientificamente comprovado, no mundo, de dispersão de sementes de plantas por abelhas. O trabalho, publicado em língua espanhola em julho de 2006, na Acta Amazônica, periódico científico do instituto, revela o inusitado que acompanha o desenvolvimento da experiência científica.
De acordo com o biólogo Alexandre Coletto, tudo começou quando os pesquisadores perceberam a presença de sementes na porta das colméias, na área do meliponário (onde se criam as abelhas), no Inpa. “Durante o manejo, observamos que as sementes também estavam dentro das colméias e isso nos deixou intrigados, afinal, se eram abelhas que estavam levando as sementes para lá nós precisávamos provar”, acentua. O primeiro passo na tentativa de constatar a hipótese foi instalar uma câmera na frente da colméia e conseguir a imagem do instante em que a abelha entrava "em casa" carregando a semente entre as pernas. Em seguida, o grupo decidiu colocar sementes para germinar, a fim de poder saber qual árvore nasceria dali. “Nesse momento percebemos que demoraríamos muito tempo para chegarmos a uma conclusão. Foi quando sugeri aos colegas para entrarmos juntos na mata, com as mudas do laboratório nas mãos, fazendo uma espécie de busca por comparação mesmo; nosso instrumento, nessa hora, foi a observação pura”, enfatiza o pesquisador. A busca do grupo se realizou na mata do Campus Universitário da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), separada do meliponário apenas por uma rua, e lugar para onde já se havia observado que as abelhas voavam.
Mudas nas mãos e olhos bem abertos acabaram trazendo aos pesquisadores resultados melhores do que esperavam. Em apenas um dia de caminhada eles conseguiram parar bem de baixo da árvore em que as abelhas estavam coletando as sementes – um grande angelim rajado (Zygia racemosa, Barneby & J. W. Grimes), espécie de alto valor comercial para a indústria madeireira. “Foi uma grande alegria e logo perto dali confirmamos também a presença de inúmeras mudas como as que trazíamos conosco”, recorda. Dias depois, Alexandre e mais um membro do grupo subiram no angelim utilizando-se da técnica do clibimg tree. “Lá em cima fotografamos abelhas coletando sementes; estava claro para nós que tínhamos conseguido registrar o terceiro caso, no mundo, de dispersão de sementes por abelhas”. O primeiro caso de sementes de árvore espalhadas por abelhas foi registrado na Austrália. Uma abelha do grupo Trigonas (Trigona carbonaria), espécie sem ferrão menor, carregava a semente de um tipo de eucalipto. Algumas dessas abelhas não produzem mel de consumo humano e têm hábitos não higiênicos como coletar fezes e se alimentar de material orgânico em decomposição. A segunda identificação dessa atividade das abelhas foi no Amazonas. A semente espalhada era de uma planta "Coussapoa asperifolia" e a abelha que fazia o serviço era do tipo melipona, espécie maior tanto no tamanho quanto no interesse científico, em função da produção de um mel de qualidade e de um comportamento considerado dócil. A abelha que carrega a semente do angelim rajado também é uma melipona. Entre o campo e a publicação, a pesquisa durou pouco mais de um ano. Os resultados sinalizam a contribuição direta das abelhas em planos de reflorestamento do angelim rajado. “O angelim é uma madeira presente na vida do caboclo ribeirinho.
Segundo pesquisa do Museu Emílio Goeldi (PA), ela é muito usada na construção de paredes de casas e até no entalhe de móveis como mesas e cadeiras”, comenta o pesquisador. Todavia, as abelhas sem ferrão vêm perdendo espaço para realizarem a sua principal função. Segundo Coletto, pouca gente sabe, mas essas abelhas realizam nada menos que 30% a 90% da polinização de plantas dos principais biomas do Brasil como o cerrado, a caatinga, o pantanal, a mata altlântica e a floresta amazônica. No Amazonas, a importância delas se acentua, pois o estado concentra a maior variedade de abelhas sem ferrão do mundo. “Se hoje existem 400 espécies registradas, 300 estão na Amazônia, e como o Estado do Amazonas é o maior em extensão territorial e mata preservada, a maior diversidade está aqui, bem perto de nós”, alerta.
Algumas curiosidades das Abelhas sem Ferrão
2. O comportamento - Por não terem ferrão são consideradas dóceis. Uma criança ou um adulto sem muitos conhecimentos pode manipulá-las com tranqüilidade.
3. O mel - Tem um sabor exótico quando comparado ao mel da abelha africanizada. A diferença marcante é que é mais fluido, mais claro, mais ácido. Quando ingerido sai queimando a garganta. É menos enjoativo exatamente por causa da concentração maior de água. O sabor é diversificado em função de essas abelhas coletarem néctares de diferentes plantas. Elas adicionam aos néctares substâncias que produzem nas glândulas bucais. 4. bactéria – No mel da abelha sem ferrão já foi encontrado um tipo de bactéria, "Bacillus melitophilus". Houve algumas tentativas de tentar isolar essa bactéria para a produção de vinhos e queijos.
Fonte: Agência Fapeam
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