quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

E para onde vai a garrafa PET?


Experimentos com placas de polímeros e amido: solo e microorganismos degeneram compostos

Roni Filgueiras

"Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo". A máxima do filósofo grego Heráclito, repetida pelo químico Lavoisier ("Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma") séculos depois, nunca esteve tão atual. Para a engenheira química Dilma Alves Costa, isso é uma espécie de sacerdócio que ela prega há mais de 15 anos. E segundo ela mesma acredita, um dia o bom hábito de reutilizar descartes e sucatas será duplicado pelo exemplo. Dilma acredita tanto nisso que cita o caso da mãe. “Depois de aposentada, minha mãe, que trabalhou toda a vida como funcionária pública, se dedica agora à jardinagem. E é um tal de falar em compostagem, reciclagem”, conta, bem-humorada.

Professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro há 23 anos, ela está à frente de três projetos sobre reciclagem. “Desenvolvimento de novos compósitos de polietileno, carepa e e-cat para aplicação de pavimentação”, “Produto de limpeza ecológico: do óleo ao sabão” – estes dois financiados pela FAPERJ –, e “Degradação microbiológica de mistura de polietileno e amido”, com investimento do CNPq.“Para onde olharmos, veremos polímeros”, diz Dilma, que brinca que o maior problema da humanidade não é a violência, mas a garrafa PET (politereftalato de etila, um poliéster, polímero termoplástico, ou plástico, usado na indústria de embalagens e tecelagem). "Já não é possível descartar o plástico na natureza, é preciso descobrir e popularizar um meio fácil de reaproveitá-lo", incentiva a engenheira. Uma dessas formas, ela, que há quase duas décadas se especializou na reutlização de polímeros (longas cadeias orgânicas basicamente compostas de carbono, sendo o mais conhecido o plástico), descobriu ainda na época em que cursava o doutorado ao defender a tese sobre reciclagem de polímeros. “Se eu quebrasse a cadeia orgânica de polímeros usando um determinado catalisador de refinaria degradaria este polímero e produziria um combustível. A tese foi comprovada, mas até hoje só há uma única fábrica na Alemanha que faz isso. Ainda é economicamente inviável”, diz a coordenadora da graduação de engenharia química da UFRRJ. “Conseguimos que o polímero tivesse uma grande resistência, obtivemos um produto tão bom que não sabemos o que fazer com ele hoje”, exemplifica.

Tornar a reciclagem um processo ao alcance de todos é um mantra que ela quer ver aplicado na prática pelos brasileiros. “Os brasileiros ainda resistem, mas para que isso funcione tem de ser simples e barato.”Na pesquisa intitulada “Degradação microbiológica de mistura de polietileno e amido”, Dilma e seus alunos conseguiram comprovar que é possível que um objeto fabricado a partir de polietileno com amido seja decomposto por um determinado microorganismo. “Separamos cinco tipos de solos e enterramos a amostra e o deixamos ao ar livre, sob sol e chuva.” Com a experiência, a pesquisadora e os estudantes observaram que duas amostras de solo com um determinado microorganismo degradava o material, ao contrário dos outros três. “Isso prova que é possível degradar o polietileno com amido e reintegrá-lo ao meio ambiente, o que evitaria a contaminação de solo e leitos de rios." Em janeiro de 2008, o Departamento de Solos da UFRRJ vai testar a composição dos solos dos experimentos. “Nesta fase, vai-se isolar o microorganismo e identificá-lo; até agosto, a pesquisa estará concluída”, prevê Dilma.

A pesquisa “Desenvolvimento de novos compósitos de polietileno, carepa e e-cat para aplicação de pavimentação” surgiu de uma conversa com um professor, que estava de visita marcada à Gerdau Cosigua, no pólo siderúrgico de Santa Cruz. “Acabei me convidando”, lembra-se Dilma. Na unidade do maior grupo do ramo no país, ela observou a grande quantidade de resíduos gerados nas diversas fases da transformação de sucata em arame, arame farpado e pregos. “No processo, eles usam todo tipo de sucata, de carcaças de carros a geladeira velha e vimos que tudo é beneficiado com grande quantidade de resíduo”, enumera. Há dejetos como a carepa (óxido de ferro que se forma na superfície do aço laminado a quente); e o e-cat, um catalisador à base de alumínio silicato, produto fornecido pela Fábrica Carioca de Catalisadores S.A. (única empresa de catalisadores para refino de petróleo do Brasil, formada pela Albemarle Catalysts e Petrobras), que só é usado duas a três vezes na indústria e depois desprezado. “A partir dessa visita, comecei a pensar como esses resíduos poderiam ser reaproveitados. Isso seria um ganho para a Gerdau, que ainda teria lucro na transformação desses dejetos em produtos comercializáveis”, afirma Dilma.

O projeto “Desenvolvimento de novos compósitos de polietileno, carepa e e-cat para aplicação de pavimentação” visa agregar esses dejetos à argila e fabricar uma cerâmica mais resistente. “Seria uma cerâmica plástica, pois o polietileno não deixaria o material quebrar tão facilmente, e ainda o tornaria impermeável, isolando os tóxicos do e-act”, explica Dilma. Além da engenheira, fazem parte da pesquisa o químico Hélio Fernandes Jr. e as arquitetas Liliana Fay e Emília Martins Ribeiro, todos da UFRRJ. Já o estudo “Produto de limpeza ecológico: do óleo ao sabão”, que recebeu recursos do edital “Apoio à Melhoria do Ensino nas Escolas Públicas do Estado do Rio de Janeiro”, da Fundação, quer dar um destino simples ao velho óleo de cozinha. “Esta pesquisa é um desdobramento de meus trabalhos, ainda estamos no estágio inicial, mas hoje já existem ONGs que se especializaram em recolher em domicílio o óleo de cozinha usado para transformá-lo em sabão em barra”. É uma forma, como prega a pesquisadora, de ajudar o meio ambiente e ainda ter uma renda extra.

Fonte: Agência Faperj

Um comentário:

eliana regina disse...

Boa tarde eu sou Eliana de Souza universitária.
Achei super enrriquecedor as informações contidas neste site; a qual ainda era desconhecido para minha pessoa, as grandes utilidades da garrafa pet.
Temos um trabalho na universidade(uninove) que trata exatamente deste tema garrafa pet.
Será que seria possível me mendar mais informação sobre este assunto,
se á também algum conteúdo que relata sobre fabricação de roupa com garrafa pet.
Estou já agradecida pela atenção.