terça-feira, 19 de agosto de 2008

Fiocruz Minas investiga casos de esquistossomose em região turística

A Secretaria de Saúde de Minas Gerais foi notificada sobre dois casos de esquistossomose na região de Jaboticatubas, área turística próxima a Belo Horizonte e rica em cachoeiras, rios e córregos, em 2007. Recorreu, então, ao Laboratório de Helmintologia e Malacologia Médica da Fiocruz Minas para identificar a presença do molusco Biomphalaria glabrata, transmissor da esquistossomose, e determinar a prevalência da doença no local. Os resultados, divulgados nos Cadernos de Saúde Pública, apontam para a necessidade de uma maior vigilância epidemiológica.

Dos 65 exemplares de moluscos coletados em três diferentes ambientes aquáticos de Jaboticatubas, um estava infectado pelo parasito Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose. Já das 268 amostras de fezes coletadas na população, 35% apresentavam ovos do parasito. “Apesar da prevalência de doença estimada em 13%, índice relativamente baixo, a vigilância deve ser constante, pois há risco de expansão geográfica do molusco e, conseqüentemente, da esquistossomose”, explica o parasitologista Cristiano Lara Massara, coordenador do trabalho.

Alguns fatores podem explicar a presença da doença no município. O primeiro é a falta de saneamento básico: a construção de esgotos que desembocam sem tratamento nos córregos favorece a infecção dos caramujos e a poluição do ambiente com material orgânico transforma-se em alimento para esses moluscos, aumentando sua população. Além disso, a concentração de caramujos cresceu, desde 1986, com a interrupção da aplicação de moluscocida em larga escala no controle de B. glabrata. “O uso deste produto químico foi interrompido pelos danos que causava ao ambiente, como a morte de peixes, moluscos não transmissores da esquistossomose e até plantas”, justifica o especialista.

Para Massara, é necessário investir em tratamento da população local, obras de saneamento e intervenções educativas. Além disso, as atividades turísticas também devem ser alvo de atenção, pois o turismo sem controle e planejamento modifica o ambiente, criando novos locais de transmissão e situações de risco para adquirir a doença. Antigas fazendas e pequenas chácaras, por exemplo, são transformadas em pousadas, balneários e condomínios de luxo, sem considerarem, para isso, as condições de transmissão da doença. Assim, pessoas de áreas não endêmicas se infectam durante atividades turísticas que incluem contato com águas contaminadas.

Segundo os pesquisadores do Laboratório de Helmintologia e Malacologia Médica, referência nacional para exame e identificação de moluscos do gênero Biomphalaria, os surtos de esquistossomose em regiões turísticas estão cada vez mais freqüentes no Brasil. Relatos já foram feitos nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Recife, e Aracaju, além do interior de São Paulo.

Fonte: Fiocruz

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