segunda-feira, 26 de julho de 2010

Uma solução para substituir o plástico das embalagens de frutas

Vinicius Zepeda, da Agência Faperj


Caquis embalados com filmes biodegradáveis não apresentaram proliferação de fungos ou de bactérias (Divulgação Embrapa)

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, com cerca de 41,2 milhões de toneladas anuais. A informação é da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, da sigla em inglês). Porém, sua conservação e o lixo gerado pelos plásticos utilizados em embalagens de frutos inteiros, ou mesmo pré-cortados, vêm gerando um sério problema ao meio ambiente. Em busca de uma solução para isso, muito tem sido investido no estudo de filmes biodegradáveis – espécie de plástico biológico, produzido a partir de substâncias que se decompõem rapidamente na natureza e que podem até ser ingeridas pelo homem, como o amido, por exemplo – em substituição aos plásticos comumente usados.

No bairro de Guaratiba, Zona Oeste do Rio, um grupo de pesquisadores coordenados pelo engenheiro agrônomo Carlos Wanderlei Piler de Carvalho, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos, tem buscado, desde 2008, formar profissionais especializados no estudo das aplicações e propriedades desses materiais no armazenamento de maracujá, tangerina e caqui – principais frutos cultivados no estado. O projeto conta com recursos do edital Apoio a Grupos Emergentes de Pesquisa e também do programa de Treinamento e Capacitação Técnica (TCT).

O estudo investigou os filmes biodegradáveis feitos à base de amido (carboidrato de origem vegetal presente no milho, mandioca e batata, entre outros), alginato (substância extraída de algas marinhas e que, adicionada aos alimentos, mantém, melhora ou modifica sua textura e aparência) e quitosana (substância derivada da quitina, presente no esqueleto externo de crustáceos, como camarão, caranguejo e lagosta). Os filmes estudados foram produzidos por duas técnicas: casting e extrusão. “A técnica de casting consiste em depositar sobre um molde uma solução polimérica (amido e outros agentes) que, ao ser espalhada sobre essa superfície, tem o líquido eliminado, formando uma película ou filme bem fino”, ensina o pesquisador.

Um exemplo prático seria o resíduo de cor marrom deixado no fundo do copo ou xícara após tomarmos um cafezinho. Ou seja, após certo tempo, sem a água, os pigmentos marrons do café ficam depositados no fundo, formando uma película fina. “Deste modo, trabalhamos de forma a desenvolver vários filmes sobre superfícies lisas, tal como a superfície de alguns frutos”, acrescenta. Já a técnica de extrusão usa a combinação de cisalhamento (atrito), alta temperatura e pressão por um curto período de tempo para a formação de materiais moldados.

Os resultados obtidos até o momento foram relativos ao caqui. Experimentos com maracujá e tangerina ainda estão em andamento. “Em relação à vida útil, conseguimos conservar por até 42 dias um caqui inteiro com uso de filme comestível e armazenamento refrigerado”, complementa. Também foi feita uma análise dos agentes inibidores do crescimento com os filmes. “A principal função desses agentes é não permitir que os componentes do filme sirvam como alimento para o crescimento de micróbios nos frutos. Caso isso ocorresse, os benefícios da contenção do amadurecimento e melhora na apresentação do produto seriam anulados”, afirma o pesquisador. “Nosso estudo comprovou que não houve formação de fungos nem de colônias de micróbios na superfície do caqui inteiro nem na do pré-cortado”, complementa.

Outro ponto investigado foi a permeabilidade dos filmes. “Observamos que a troca de gases entre esses materiais e o meio ambiente foi suficiente para não permitir a falta de oxigênio e retardar o amadurecimento dos frutos. Além disso, houve redução da perda de massa pela redução da perda de umidade do caqui”, recorda o agrônomo. Carlos Piler ressalta que testes até o momento foram todos feitos no espaço da Embrapa Agroindústria de Alimentos. ”A expectativa é que encerrado o projeto, os filmes com as características desejáveis possam ser utilizados em larga escala pelos produtores, obedecendo os critérios de tecnologia adotados por nossos parceiros”, acrescenta.

Carlos Piler chama a atenção para o aspecto mais importante dos dois editais: a formação de recursos humanos. “Até o momento, já foram defendidas duas teses de mestrado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ): uma sobre o uso de revestimento em caqui pré-cortado e outra com filmes comestíveis à base de amido. Outras duas teses de doutorado estão sendo desenvolvidas no Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na UFRRJ, sobre maracujá e acerola, respectivamente”, explica o agrônomo.

Ele ainda destaca a realização de estágios supervisionados por estudantes de graduação, treinamento de alunos de pós-graduação, a contratação de uma pesquisadora especializada para participar da equipe e a realização do II Simpósio Internacional de Extrusão de Alimentos, em junho deste ano. Por último, o pesquisador enfatiza o apoio da Fundação para a consolidação de seu grupo de pesquisa. “Graças a ele, podemos consolidar nossa linha de pesquisa em filmes comestíveis biodegradáveis para aplicação em embalagens de frutos, iniciado na Embrapa Agroindústria de Alimentos”, conclui.

Mapa-múndi da altura das florestas

Da Agência FAPESP
Um mapa-múndi que detalha as alturas das florestas foi produzido por um grupo de cientistas a partir de imagens obtidas por satélites da Nasa, a agência espacial norte-americana.

Segundo a Nasa, embora existam outros mapas locais ou regionais da altura das copas de florestas, esse é o primeiro a cobrir todo o globo a partir de um método único e uniforme.

Os dados foram coletados pelos satélites ICESat, Terra e Aqua e o resultado poderá ajudar a produzir inventários de quanto carbono é armazenado pelas florestas mundiais e com que rapidez ocorre a circulação de carbono por ecossistemas e de volta para a atmosfera.

O trabalho, de Michael Lefsky, da Universidade do Estado do Colorado, Estados Unidos, e colegas, será descrito em agosto em artigo a ser publicado pelo periódico Geophysical Research Letters.

O mapa mostra que as florestas mais altas do mundo são encontradas principalmente no noroeste da América do Norte e em partes do Sudeste Asiático, enquanto florestas mais baixas estão concentradas no norte do Canadá, no noroeste da América do Sul, na África central e na Eurásia.

O levantamento levou em consideração a altura média em florestas com mais de 5 quilômetros quadrados e não a altura máxima de uma ou um grupo de árvores.

Para produzir o mapa os cientistas se basearam em mais de 250 milhões de pulsos de laser emitidos pelos três satélites em um período de sete anos. Os pulsos, de uma tecnologia conhecida como Lidar, penetram por entre a copa e são capazes de medir a dimensão vertical das árvores.

“Esse mapa é apenas o primeiro esboço e certamente será refinado no futuro”, disse Lefsky. Florestas temperadas de coníferas, de sequoias e outras árvores contêm as copas mais elevadas, chegando facilmente a mais de 40 metros do solo. Florestas boreais, com pinheiros, por exemplo, tipicamente não passam dos 20 metros.

Áreas de mata nativa em florestas tropicais têm cerca de 25 metros, aproximadamente a mesma altura atingida por pontos de vegetação temperada em partes dos Estados Unidos e Europa.

Mas o mapa não tem interesse apenas para se verificar a altura de árvores em cada região. As implicações do trabalho se estendem aos esforços para estimar as quantidades de carbono ligadas às florestas do planeta e ajudar a fechar uma conta que tem intrigado os cientistas.

O homem e suas atividades liberam cerca de 7 bilhões de toneladas de carbono anualmente, a maior parte na forma de CO2. Desse total, sabe-se que cerca de 3 bilhões vão para a atmosfera e 2 bilhões acabam nos oceanos.

Os outros 2 bilhões? Não se sabe. Alguns cientistas suspeitam que são as florestas que capturam e armazenam boa parte dessa quantidade em biomassa por meio da fotossíntese.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Manejar para mitigar

Por Fábio de Castro,  da Agência FAPESP

Evitar o desmatamento continua sendo a melhor estratégia para minimizar a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em regiões como o Estado de Mato Grosso, onde a fronteira agrícola avança sobre o Cerrado. Mas o manejo agrícola e o uso adequado do solo também podem contribuir consideravelmente para um futuro com menos emissões.

As conclusões são de um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e norte-americanos que, utilizando um modelo biogeoquímico, fizeram uma estimativa dos impactos das emissões de GEE até 2050 em diferentes cenários de desmatamento e de usos do solo na fronteira agrícola de Mato Grosso.

O estudo, realizado por cientistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da Universidade de São Paulo (USP), e da Universidade de Brown (Estados Unidos), será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

O autor principal do estudo, Carlos Clemente Cerri, pesquisador do Cena-USP, é coordenador do Projeto Temático “Impacto ambiental da expansão da agricultura no sudoeste da Amazônia”, apoiado pela FAPESP. Seu filho Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, da Esalq-USP – o outro brasileiro envolvido no estudo –, concluiu em março o projeto “Modelagem da dinâmica da matéria orgânica do solo na zona de expansão agrícola do sudoeste da Amazônia: base para pesquisas em mudanças climáticas globais”, apoiado pela FAPESP por meio do Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.

De acordo com Pellegrino Cerri, o estudo surgiu de uma cooperação entre o grupo brasileiro e o norte-americano e é fruto direto do doutorado de Gillian Galford, primeira autora do artigo e aluna do Departamento de Geologia da Universidade de Brown.

O professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq explica que o desmatamento da vegetação nativa causa uma grande emissão de GEE. Mas, após o desflorestamento, também há emissões, que podem ser maiores ou menores dependendo do uso que for dado ao solo.

“Essas áreas originalmente cobertas por vegetação nativa podem ser convertidas em pastagens, ou diretamente em áreas agrícolas. Ou podem servir primeiro à pecuária e depois à agricultura. A ideia do trabalho era estimar as emissões de GEE considerando cenários com diferentes tipos de conversão do uso do solo”, disse à Agência FAPESP.

Três GEE foram considerados no trabalho: dióxido de carbono (CO2), metano e óxido nitroso. Todas as unidades foram expressas em unidades de CO2 equivalente. Com uma abordagem integrada, os cientistas estimaram a dinâmica dos GEE de ecossistemas naturais e de ecossistemas agrícolas após o desmatamento em cenários futuros já utilizados na literatura. As estimativas foram feitas com um modelo biogeoquímico conhecido como Modelo de Ecossistemas Terrestres (TEM, na sigla em inglês).

“Estimamos que as emissões em Mato Grosso possam variar de 2,8 a 15,9 petagramas de CO2-equivalente até 2050. O desmatamento é a maior fonte de GEE nesse período, mas os usos posteriores da terra correspondem a uma parcela substancial – de 24% a 49% – das emissões futuras estimadas no estado. Assim, tanto o desmatamento como o futuro manejo do uso da terra terão papéis importantes para a cadeia de emissão de GEE. Os dois aspectos devem ser considerados na hora de traçar estratégias e políticas públicas relacionadas às mudanças climáticas”, disse.

Segundo Pellegrino Cerri, para validar os dados que seriam obtidos com o modelo TEM, os pesquisadores partiram de cenários atuais em direção ao passado: foram feitas simulações em retrospectiva de cenários já conhecidos de emissões de GEE. Esse procedimento foi aliado a um extenso trabalho de campo.

“Com isso, pudemos comparar os resultados estimados pelo modelo com as nossas observações de campo. A validação dos dados foi feita com uma avaliação baseada em 12 testes estatísticos. Constatando o bom funcionamento do modelo, pudemos utilizá-lo para estimar as emissões de GEE no futuro”, explicou.

Após a conversão do uso do solo, se a área for utilizada para agricultura, as emissões de GEE podem variar muito de acordo com a forma como as práticas agrícolas forem conduzidas. Uma das diferenças mais marcantes pode ser notada entre as produções que utilizam o preparo convencional do solo e as que usam a técnica de plantio direto.

“A técnica de plantio direto muda completamente a concepção da prática agrícola com base em um tripé: a não-mobilização do solo em área total, a manutenção da palha na superfície do solo e a rotação de culturas. Com essas mudanças, as emissões de GEE são substancialmente menores”, disse.

Um dos problemas do preparo convencional do solo, segundo Pellegrino Cerri, é o uso excessivo de aração e gradagem: procedimentos que revolvem o solo com máquinas, invertendo suas camadas superficiais. Essas técnicas, importadas há muito tempo de países de clima temperado, não precisam ser utilizadas em excesso em regiões tropicais.

“Quando o solo é intensamente revolvido, ele é oxigenado e a matéria orgânica fresca fica exposta. Isso acelera a decomposição desse material pelos microrganismos do solo e provoca muitas emissões de GEE. No plantio direto, isso não ocorre. Em vez de usar o arado e a grade em toda a área plantada, o procedimento consiste em fazer um pequeno sulco apenas no local onde a semente é depositada. Como o solo não é revolvido as emissões se reduzem”, disse.

Remoção e rotação
O segundo aspecto da técnica agrícola convencional é a remoção da palha e outros restos vegetais que não são aproveitados na colheita. Esses restos, no entanto, têm grandes porcentagens de carbono em sua composição que, em vez de poluir a atmosfera, podem enriquecer o solo e beneficiar a produção.

“Quando deixamos a palha no campo, ela vai sendo lentamente utilizada pelos microrganismos, transmitindo carbono, nitrogênio, fósforo e outros nutrientes para o solo. É preciso lembrar que todo o carbono presente nessa palha – equivalente a cerca de 50% de sua composição – foi um dia dióxido de carbono que estava na atmosfera e foi sequestrado pela planta durante a fotossíntese”, disse o professor da Esalq.

A rotação de culturas é o terceiro aspecto que, ausente no preparo convencional do solo, poderia contribuir para reduzir emissões de GEE. Além da questão fitossanitária envolvida – as monoculturas são mais suscetíveis a doenças e, portanto, geram maior necessidade de uso de agrotóxicos – a rotação de culturas proporciona o acúmulo de diferentes tipos de palha sobre o solo.

“Quando as culturas são alternadas periodicamente, os restos orgânicos que ficam no solo também variam. Cada microrganismo diferente tem preferência por determinado tipo de material orgânico. Se os restos orgânicos forem sempre provenientes das mesmas plantas, eles vão atender um grupo específico de microrganismos. Se houver uma rotação de culturas, a superposição de palhas de vários tipos também aumentará a biodiversidade local”, explicou.

O artigo Estimating greenhouse gas emissions from land-cover and land-use change: Future scenarios of deforestation and agricultural management (doi: 10.1073/pnas.1000780107), de Carlos Clemente Cerri e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da PNAS em http://www.pnas.org/.

Pesquisa faz diagnóstico da pesca do camarão sete barbas no norte do estado

Débora Motta, da Agência Fapesp

A pesca marinha artesanal de camarões é uma das principais atividades econômicas do extremo norte do Rio de Janeiro. Das cinco espécies capturadas comercialmente no estado, o camarão sete barbas (Xiphopenaeus kroyeri) é a mais representativa, com volume de captura anual de cerca de 500 toneladas, segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Pensando em estabelecer parâmetros para a exploração sustentável da espécie, a professora Ana Paula Madeira Di Beneditto, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), coordena um levantamento quantitativo e qualitativo da pesca do camarão sete barbas nos principais portos da região da costa norte fluminense.
Barcos pesqueiros da região: quantidade de siris e caranguejos
capturada acidentalmente é 2,6 vezes maior que a de camarões

        


Nesses portos – Barra do Itabapoana, Guaxindiba e Gargaú (município de São Francisco do Itabapoana), de Atafona (município de São João da Barra) –, a pesca camaroneira é monoespecífica, ou seja, direcionada apenas ao camarão sete barbas. Isso ocorre devido à abundância das populações naturais da espécie na região. “O camarão sete barbas não é criado em cativeiro, mas capturado artesanalmente no litoral norte do estado. Não é uma espécie nobre, tipo exportação, por ser considerado pequeno, com uma média de 12 centímetros, mas é a principal espécie destinada ao abastecimento do mercado Ceasa, no Rio, e do mercado São Pedro, em Niterói.”

De acordo com Ana Paula, apesar da importância econômica da espécie, poucos estudos foram realizados sobre o tema na região. “No norte do estado não havia pesquisas sobre esse estoque populacional de camarões com proposta de nortear a formação de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável”, diz a pesquisadora do Laboratório de Ciências Ambientais da Uenf. “Essa é uma demanda regional importante porque as áreas estudadas são essencialmente pesqueiras e agrícolas. Além disso, o estado é o maior produtor de pesca extrativa marinha da região sudeste.”

O estudo reúne informações adquiridas durante quatro anos de amostragens na região e vem sendo financiado pela FAPERJ ao longo desse período por meio dos programas APQ1, Jovem Cientista do Nosso Estado e Prioridade Rio. “O projeto tem como objetivo avaliar o estado de conservação desse estoque pesqueiro na região, contribuir para a compreensão do cenário da pesca camaroneira no extremo norte da costa do estado e gerar informações norteadoras de políticas públicas para o setor.”

A pesquisa identificou que a captura desse camarão é realizada na maioria das vezes de forma artesanal, com a rede de arrasto de fundo com portas, sendo que cerca de 30% a 40% do total de embarcações da região utiliza esse instrumento para a pesca. Para a professora, um dos maiores problemas é a captura acidental de outras espécies (rejeitos) durante a atividade de pesca. “O direcionamento dos rejeitos é o maior problema da pesca do camarão, já que para ele ser capturado, uma gama de espécies de siris, peixes e algas, além de outros organismos marinhos, costuma ser descartada”, avalia a bióloga. “Essa questão merece uma atenção especial não só do meio cientifico, mas de órgãos governamentais.”

Segundo a pesquisadora, as redes de arrasto – principal artefato utilizado tanto na pesca artesanal quanto na pesca industrial do camarão – são predatórias por definição. Elas têm malha pequena e baixa seletividade, ocasionando a captura de um elevado número de espécies ainda juvenis. “Além das espécies coletadas acidentalmente, que constituem os rejeitos da pesca, durante a operação, as redes também desestabilizam as comunidades bênticas, que são grupos de organismos que vivem no fundo do mar, como moluscos, poliquetas e algas.”

Captura acidental de outras espécies
Entre os produtos capturados acidentalmente a partir da pesca comercial do camarão sete barbas no norte fluminense, destacam-se várias espécies de peixes e crustáceos braquiúros (siris e caranguejos), com elevada representação quantitativa deste último grupo. O siri corre costa, Calinectes ornatus, é frequentemente capturado na região, onde é aproveitado como isca para outras modalidades pesqueiras. “A quantidade de siris e caranguejos capturada de modo acidental pela pesca camaroneira local pode chegar a 2,6 vezes a mais do que a quantidade de camarão capturada para fins comerciais”, ressalta.

Segundo Ana Paula, o fato merece atenção e monitoramento regular, pois indica a remoção de muitos indivíduos juvenis, que ainda não estão aptos a contribuir para a manutenção dos estoques populacionais da região. No entanto, os impactos da atividade pesqueira do camarão sete barbas ainda não prejudicam a sustentabilidade dessa população na região. “A atual taxa de exploração pela pesca ainda está abaixo da taxa máxima que a população local poderia suportar”, informa. “Também não foram encontrados indícios de efeitos negativos da poluição e a qualidade do camarão sete barbas é considerada boa.”

De acordo com o estudo, o litoral norte do estado é classificado como área de crescimento e reprodução do camarão sete barbas devido à presença de fêmeas e machos nos vários estágios de maturação sexual, durante todo o ano. A pesquisa também identificou o período de recrutamento da espécie em que há maior presença de juvenis (camarões que ainda não atingiram a fase adulta) na malha das amostras, que vai de dezembro a maio. Essa informação é importante para nortear as medidas de proteção (defeso) ao estoque pesqueiro. A atual política de defeso para o camarão sete barbas se baseia na Instrução Normativa Ibama n° 189/2008, que proíbe a pesca na região entre o período de 1º de março a 31 de maio. “Nesse sentido, a atual política de defeso atende à proteção dos juvenis de camarão sete barbas na região.”

A relação das comunidades pesqueiras com o meio ambiente local também foi levada em conta no projeto. De acordo com um levantamento do saber tradicional dos pescadores, a população ainda não estabelece uma relação direta entre o defeso e os camarões sete barbas juvenis, mas sim com a população de camarões como um todo ou mesmo com as fêmeas maturas. “O entendimento equivocado quanto ao objetivo do defeso como medida de proteção decorre, provavelmente, da falta de informação por parte da comunidade”, conclui.

Durante o trabalho de campo, são realizadas coletas marinhas mensais e acompanhamento da pesca em embarcações locais. As amostras de camarão sete barbas são analisadas posteriormente, no laboratório da universidade. Além da professora Ana Paula, participam do projeto uma equipe de dois alunos de pós-graduação da Uenf, um graduando em Biologia e uma bolsista de Treinamento e Capacitação Técnica (TCT 2) da FAPERJ.

Melhores queimas

Por Fabio Reynol, Agência FAPESP
Aumentar a economia no consumo de combustível e reduzir a emissão de poluentes é a meta de qualquer fabricante de motor a combustão. É também o foco de uma pesquisa em andamento no Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em Campinas (SP), e no Departamento de Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais.

A pesquisa tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), tendo sido aprovada na chamada lançada em julho de 2008 no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e do convênio entre as instituições.

“Para aprimorar a combustão, temos que estudar o processo de ignição dos motores”, disse Jayr de Amorim Filho, pesquisador do CTBE que lidera o trabalho em São Paulo, à Agência FAPESP. O estudo é realizado junto à Divisão de Aplicações do Etanol para Motores Automotivos do BIOEN. O grupo mineiro é liderado por Maria Cristina Lopes, professora associada da UFJF.

A pesquisa envolve experimentos com plasma, o quarto estado da matéria e que está presente no processo de ignição. A interação da faísca emitida pela vela de ignição com as moléculas de combustível gera o plasma que provoca a explosão liberadora de energia – que, por sua vez, faz o motor funcionar.

O processo de ignição envolve três fases. Na primeira, é feita a ruptura do gap (espaço vazio) entre os eletrodos da vela. Depois, ocorre a transição para um arco voltaico por meio da aplicação de uma alta corrente com baixa voltagem. Por fim, é obtida uma descarga elétrica rápida, da ordem de milissegundos – nessa última etapa se concentra 90% da energia envolvida no processo.

Para estudar o ciclo está sendo construída uma câmara hiperbárica que pode trabalhar até 14 atm (atmosferas) de pressão para simular as condições de queima. Nela, serão empregados os gases metano e hidrogênio.

“Não usaremos combustível nessa fase porque isso exigiria um sistema mais caro para absorver a energia que seria gerada”, explicou Amorim, ressaltando que a etapa será importante para o levantamento das temperaturas envolvidas no processo.

Para fazer o mapeamento térmico, o CTBE conta com um monocromador com câmera CCD. Por meio da aquisição de espectros, esse equipamento registra vários parâmetros, como temperatura eletrônica, temperatura do gás e densidade eletrônica.

O trabalho também exige um osciloscópio digital de alta performance. “Lidamos com altas correntes que ocorrem em curtíssimos espaços de tempo, por isso os osciloscópios convencionais não dão conta do trabalho”, disse Amorim.

O grupo de pesquisa também desenvolveu o seu próprio gerador de pulsos de alta tensão. Um microprocessador roda um programa em linguagem C (de computação), que gerencia os sinais gerados de acordo com os parâmetros desejados.

Um dos objetivos com o aparato é conseguir controlar o tempo e o volume do plasma e, com isso, encontrar as melhores condições para uma queima mais eficiente do combustível.

O projeto de uma nova vela, que envolverá também um software de controle, deverá ser um dos frutos dessa primeira etapa do projeto. “Na segunda etapa, utilizaremos cilindros transparentes para poder visualizar o experimento”, apontou Amorim.

Colisão de elétrons
A 500 quilômetros do CTBE, a equipe de Juiz de Fora detalha as sessões de choque, que são as áreas de probabilidade de os elétrons colidirem com as moléculas do combustível e assim gerar o plasma.

Para isso, são estudados os processos envolvidos na ignição do plasma e as consequências na pós-descarga em um motor de combustão interna. “O objetivo é encontrar parâmetros adequados para serem aplicados em carros que funcionem com misturas mais pobres de ar-combustível”, explicou Maria Cristina.

Isso significaria um carro mais econômico e menos poluente, uma vez que mais moléculas seriam quebradas durante a combustão. “Quebrando mais moléculas emitiríamos menos partículas danosas ao meio ambiente”, disse a professora da UFJF.

Para chegar a esses resultados, é preciso entender em detalhes o processo de ignição. Isso é feito por meio de equipamentos específicos projetados e construídos na própria universidade. De acordo com Maria Cristina, a ideia é desenvolver tecnologia nacional nessa área e promover a formação de recursos humanos especializados.

O aparelho de sessão de choque total, o espectrômetro de perda de energia de elétrons e o espectrômetro de captura eletrônica são exemplos de equipamentos desenvolvidos na própria UFJF.

O primeiro mede a reatividade como um todo, sem separar os processos. O espectrômetro de perda de energia de elétrons detalha cada um dos processos envolvidos na ignição. E, ao aprisionar por alguns instantes um elétron gerado pela faísca de ignição, o espectrômetro de captura eletrônica é capaz de fornecer a energia contida nessa partícula.

Além das simulações em laboratório, são feitos também modelamentos teóricos que descrevem a colisão dos elétrons com as moléculas de combustível.

O cálculo teórico é feito por meio da colaboração com pesquisadores de outras instituições que também atuam no projeto. São especialistas da Universidade Estadual de Campinas, da Universidade de São Paulo, das universidades federais do Paraná e do ABC e de duas instituições norte-americanas, o Instituto de Tecnologia da Califórnia e a Universidade do Estado da Califórnia em Fullerton.

“Cada reação é estudada a fundo nos experimentos aqui no laboratório em Juiz de Fora. Depois, o professor Michael Ballester, também da UFJF, utiliza-os para fazer a modelagem do plasma e o professor Jayr Amorim reproduz esse plasma no CTBE”, resumiu Maria Cristina.

A ideia é dividir o problema em diferentes especialidades para aumentar as chances de entendê-lo e de apresentar uma resposta eficiente. São ao todo dez pesquisadores colaboradores de seis diferentes instituições de pesquisa além de estudantes de vários níveis, da iniciação científica ao pós-doutorado.

Um convênio bilateral entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, auxilia o intercâmbio entre estudantes brasileiros e norte-americanos.

Desde o início do projeto, cinco estudantes dos Estados Unidos e dois do Brasil fizeram o intercâmbio atuando nesse projeto. “Isso é muito importante porque precisamos formar recursos humanos qualificados em todos os níveis para essa área de conhecimento”, disse Maria Cristina.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Inventário de moluscos

Por Alex Sander Alcântara, da Agência FAPESP

Um levantamento sobre a fauna de moluscos no Estado de São Paulo foi feito por pesquisadores da Divisão de Programas Especiais da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), órgão vinculado à Secretaria Estadual da Saúde.

O objetivo do estudo foi inventariar a fauna malacológica de gastrópodes (como caramujos, lesmas, caracóis) de água doce e terrestres de importância para a saúde pública, além de descrever possíveis formas larvais de helmintos (parasitas) associadas a ela – malacologia é o ramo da biologia que estuda moluscos.

Os resultados da pesquisa deram origem ao Manual de gastrópodes límnicos e terrestres do Estado de São Paulo associados às helmintoses. O inventário fornece dados sobre a morfologia, distribuição, biologia e ecologia das espécies de moluscos, bem como identifica áreas potenciais de ocorrências de zoonoses.

“O manual contém informações de interesse da saúde pública e serve como instrumento de consulta para profissionais da área da saúde e pessoas leigas que tenham interesse em obter conhecimentos mais precisos sobre os moluscos e as doenças por eles transmitidas”, disse Fernanda Pires Ohlweiler, do Laboratório de Malacologia do Sucen e coordenadora da pesquisa, à Agência FAPESP .

O inventário é resultado da pesquisa, coordenada por Fernanda, intitulada “Gastrópodes límnicos e terrestres do Estado de São Paulo associados às helmitoses”, apoiada pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular . O livro recebeu apoio da Fundação por meio de um Auxílio à Pesquisa – Publicações.

Os gastrópodes são hospedeiros intermediários de helmintos, fazendo parte do ciclo de vida desses parasitas. “O fato de muitos helmintos terem os moluscos como hospedeiros intermediários durante a fase larvária os torna importante fonte de infecção para o homem e outros animais”, explicou.

Segundo Fernanda, um dos objetivos do estudo é auxiliar no controle e na vigilância de doenças transmitidas ao homem por moluscos, principalmente com relação à esquistossomose mansônica (transmitida pelo Schistosoma mansoni).

O inventário foi realizado a partir de coletas realizadas em coleções hídricas e seu entorno, bem como em ambientes urbanos dos municípios paulistas.

Para atualizar e ampliar o inventário as foram obtidas informações a partir de dados bibliográficos e de coleções malacológicas como da Sucen, Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotônica do Rio Grande do Sul e Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.

O estudo gerou mapas de distribuição geográfica no Estado de São Paulo. “A falta de investigação malacológica e a ausência de monitoramento das áreas de ocorrência, associadas a não notificação de casos pelo sistema de vigilância epidemiológica, contribuem para a subestimação de dados de prevalência das doenças no Estado”, destaca.

A distribuição dos moluscos é bastante ampla, podendo ser encontrada em ambientes naturais e antrópicos. “Um exemplo importante é o molusco terrestre Achatina fulica, de origem africana, que tem distribuição bastante abrangente, podendo ocorrer em vários países, inclusive no Brasil. Inicialmente, a espécie era encontrada em ambientes antrópicos e, em vista da saturação dessas áreas, passou a invadir ambientes naturais”, disse.

A espécie é uma ameaça à fauna nativa, praga agrícola e de interesse epidemiológico, por ser hospedeira intermediária de nematódeos. Segundo a pesquisadora, a presença da Achatina fulica no Brasil é alarmante, tanto pelos prejuízos causados à agricultura como para a saúde pública, uma vez que a espécie tem se adaptado perfeitamente às condições ambientais no país.

“Mesmo que nenhum caso autóctone de angiostrongilíases (angiostrongilíase abdominal e meningoencefalite eosinofílica) registrado no Brasil seja de responsabilidade da Achatina fulica, deve-se ampliar a vigilância a fim de se evitar a possível instalação de focos destas parasitoses no país por responsabilidade deste molusco”, alertou.

A angiostrongilíase abdominal, segundo a pesquisadora, causa dores abdominais, febre prolongada, falta de apetite e vômitos. “Além disso, pode provocar perfuração intestinal, hemorragia abdominal e infecções que podem levar à morte”, disse.

Já a meningoencefalite eosinofílica provoca cefaleia, rigidez da nuca e em alguns casos paralisia temporária. Possui, normalmente, curso benigno, raramente levando ao óbito.

Com relação à Achatina fulica existe registro da espécie portando larvas de Angiostrongylus cantonensis no município de São Vicente.

“Os moluscos têm uma distribuição bastante dispersa no Estado de São Paulo, existindo ainda muitas lacunas a serem preenchidas, principalmente com relação aos terrestres”, disse Fernanda.

Com relação às parasitoses, a esquistossomose (causada pela Biomphalaria glabrata) é responsável por focos da doença na bacia do rio Paranapanema, no oeste do Estado.

“Os focos de esquistossomose, por responsabilidade da Biomphalaria tenagophila, são mais recorrentes no Vale do Ribeira, Baixada Santista e no Vale do Rio Paraíba do Sul. O único registro da espécie Biomphalaria straminea portando larvas do parasita foi no município de Cruzeiro”, indicou.

Devido às lacunas existentes com relação à distribuição dos moluscos no Estado de São Paulo, o grupo está realizando agora um inquérito malacológico na região da Grande São Paulo, que abrange 39 municípios.

O atual projeto, intitulado “Diversidade da malacofauna de importância epidemiológica na grande São Paulo”, tem apoio da FAPESP, na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, e conclusão prevista para abril de 2011.

O livro Manual de gastrópodes límnicos e terrestres do Estado de São Paulo associados às helmintoses custa R$ 40 incluídas despesas de envio ou R$ 35 se não houver taxas de correio. A obra pode ser solicitada pelo e-mail fernanda@sucen.sp.gov.br ou pelo telefone (11) 3812 – 4859  (11) 3812 – 4859  – ramal 225.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Flora Brasiliensis na Serra dos Órgãos

Da Agência FAPESP
Uma exposição sobre a Flora Brasiliensis, considerada o mais completo levantamento da diversidade vegetal brasileira, acaba de ser inaugurada no Parque da Serra dos Órgãos, localizado no Estado do Rio de Janeiro.

A mostra, que seguirá até maio de 2011, reúne 28 painéis com reproduções de gravuras do naturalista alemão Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) e traz relatos sobre suas viagens pelo Brasil.

Os painéis, pertencentes ao acervo da FAPESP, fazem parte da exposição Flora Brasiliensis On-line, produzida pela Fundação quando da disponibilização da obra de Martius na internet.

A exposição foi apresentada inicialmente em março de 2006 em Curitiba (PR), durante a 8ª Reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 8), ocasião em que foi feito o lançamento da obra original na internet, por meio de uma parceria entre FAPESP, Fundação Vitae e Natura Cosméticos.

A Flora Brasiliensis levou mais de meio século para ser concluída e é resultado da dedicação de Von Martius, August Wilhelm Eichler (1838-1887) e Ignatz Urban (1849-1931), entre outros especialistas.

Na obra original estão descritas 22.767 espécies, que representam o conjunto das plantas conhecidas até meados do século 19. Na obra também estão 3.811 ilustrações de plantas, flores, frutos e sementes.

De acordo com Ernesto Bastos Viveiros de Castro, diretor do Parque da Serra dos Órgãos, a exposição é oportuna porque se soma ao acervo do próprio museu.

“Temos um museu que leva o nome de Von Martius e foi inaugurado em 1971, cujo material ainda está disperso. Esse acervo que a FAPESP nos disponibilizou se encaixa perfeitamente com os nossos objetivos, que era o de fazer uma exposição mais ampla sobre sua obra”, disse à Agência FAPESP .

Além dos 28 painéis, o visitante poderá ver no Museu von Martius exemplares da Flora Brasiliensis original, busto e telas sobre o naturalista alemão e sua obra, além de mobiliário da época em que passou pela região.

“A mostra tenta contar a história da expedição de Von Martius pelo Brasil e traz referências sobre sua importância para a ciência, em particular para a área de botânica. A mostra dá mais unidade ao acervo do museu, além de fazer uma homenagem à região serrana do Rio de Janeiro. Um dos painéis de Von Martius destaca justamente a Serra dos Órgãos, uma das regiões que mais o impressionaram”, disse Castro.

Segundo ele, os visitantes poderão ter uma noção sobre a importância do naturalista, a partir de sua história, além de conhecer um pouco do parque criado em 1939. “Desenvolvemos trabalhos especiais de educação ambiental voltados para escolas. Para essa exposição em particular desenvolvemos atividades mais específicas com os monitores”, disse.

A exposição fica aberta ao público todos os dias das 8 às 17 horas. Para visitas em grupo é necessário agendar pela internet. Para entrar no parque, que fica localizado na Rodovia Rio-Teresópolis (BR 116), Km 98, o ingresso custa R$ 10.

Trabalho pioneiro
O trabalho de adaptação da Flora Brasiliensis para a internet foi realizado pelo Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria) e pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A digitalização das imagens para o site foi feita pelo Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos.

A versão on-line da obra traz os 3,8 mil desenhos, que podem ser consultados pelo nome científico de cada espécie, pelo volume ou pela página da obra impressa. Traz também os textos com as descrições de quase 23 mil espécies.

Apesar de a estimativa atual da diversidade de plantas brasileiras ser de 50 mil espécies, a Flora Brasiliensis é considerada o mais abrangente levantamento da flora do país, sendo utilizada na identificação de plantas e como referência para estudos em botânica do Brasil e de outros países da América do Sul.

Patrocinada pelo imperador da Áustria, Ferdinando I, pelo rei da Baviera, Ludovico I, e pelo imperador do Brasil, Dom Pedro II, a Flora Brasiliensisteve seu primeiro volume publicado em 1840 e o último em 1906, muitos anos após a morte de Martius, em 1868.

Martius percorreu cerca de 10 mil quilômetros por terras brasileiras ao longo de três anos, registrou observações e dados de 20 mil espécies de plantas em quatro dos cinco principais ambientes naturais brasileiros – Cerrado, Caatinga e as florestas Atlântica e Amazônica.

O roteiro da viagem começou nas imediações da Corte do Rio de Janeiro, continuou em São Paulo e Minas Gerais. A expedição cruzou a Bahia, seguindo depois para Pernambuco, Piauí e Maranhão. De navio, rumou para Belém e subiu o Amazonas até o Solimões.

Mais informações sobre a mostra na Serra dos Órgãos: www4.icmbio.gov.br ou (21) 2152-1100,  (21) 2152-1100
Painéis da exposição: www.fapesp.br/publicacoes/flora

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Evolução emprestada

Agência FAPESP – Por que adaptar seus genes se há uma alternativa muito mais rápida: emprestar as adaptações necessárias para sua sobrevivência de outro indivíduo?

Há mais de um século entende-se que um princípio básico da evolução é que animais e plantas podem se adaptar geneticamente de modo que tais mudanças ajudem em sua sobrevivência e reprodução. Agora, uma pesquisa destaca um mecanismo evolucionário até então desconhecido.

Estudos anteriores sempre indicaram que características que aumentam a capacidade de um animal de sobreviver e reproduzir eram conferidas por genes favoráveis, passados de uma geração a outra.

Em artigo publicado na edição desta sexta-feira (9/7) da revista Science, John Jaenike, da Universidade de Rochester, e colegas descrevem um exemplo surpreendente de bactéria que infecta um animal, dando a esse último uma vantagem reprodutiva. E o invasor é passado para as crias, espalhando o benefício e garantindo a permanência da espécie.

A relação simbiótica entre hospedeiro e bactéria dá ao primeiro uma defesa especial contra algum risco em seu ambiente, que é transmitida pela população por meio de seleção natural, de forma similar à que ocorre com um gene favorável.

Segundo os autores do trabalho, o fenômeno foi identificado agora, mas não deve ser exclusivo aos organismos em questão e pode estar ocorrendo há muito tempo.

Os pesquisadores também apontam que, além de colocar em cena um importante mecanismo evolucionário, a descoberta poderá ajudar no desenvolvimento de métodos que usem bactérias como defesa contra doenças em humanos.

A descoberta foi feita em uma espécie de mosca, a Drosophila neotestacea, que é tornada estéril por nematelmintos, vermes parasíticos abundantes que atingem animais e plantas. Os nematelmintos invadem fêmeas jovens dessas moscas, evitando que elas possam reproduzir.

Mas quando uma fêmea de Drosophila neotestacea é infectada também por um gênero de bactéria conhecido como Spiroplasma, o crescimento dos vermes é afetado, impedindo-os de esterilizar a mosca.

Os pesquisadores também descobriram que, como resultado do impacto benéfico da ação da bactéria, essa está se espalhando pela América do Norte, aumentando rapidamente de frequência nas moscas à medida que passa de uma geração a outra.

Por meio da análise de exemplares da Drosophila neotestacea preservados na década de 1980, Jaenike e colegas calcularam que a bactéria estaria então presente em cerca de 10% das moscas. Em 2008, a frequência havia aumentado para 80%.

“Essas moscas estavam realmente sendo esmagadas pelos nematelmintos na década de 1980 e é impressionante ver como elas estão se dando bem melhor atualmente. A proliferação da Spiroplasma nos faz pensar na rapidez das ações evolucionárias que estão ocorrendo abaixo da superfície de tudo o que enxergamos lá fora”, disse Jaenike.

“Esses simbiontes transmissíveis são uma forma de um hospedeiro adquirir uma nova defesa muito rapidamente. Em vez de modificar seus próprios genes – que não são muito diversos, para começo de conversa –, o melhor pode ser simplesmente incorporar um novo organismo”, disse Nancy Moran, da Universidade Yale, em comentário sobre o estudo.

A descoberta pode ter consequências importantes para o controle de doenças em humanos. Nematelmintos transmitem diversas doenças graves, como elefantíase, e podem causar problemas como cegueira. Agora que se conhece uma evidência de defesa natural contra esses vermes, abre-se um caminho para usar esse fenômeno como estratégia contra tais invasores.

O artigo Adaptation via symbiosis: recent spread of a drosophila defensive symbiont (doi: 10.1126/science.1188235), de John Jaenike e outros, pode ser lido por assinantes da Science em http://www.sciencemag.org/.

Não é no grito que se ganha esse jogo

* Por Vilmar S. D. Berna

Qualquer pessoa honesta sabe que o atual Código Florestal precisa ser revisto para se adequar a uma nova realidade, onde o desafio não está mais no desenvolvimento crescente e ilimitado, mas no desenvolvimento com sustentabilidade. Entretanto, ninguém vai ganhar esse jogo no grito.

Estamos ainda nos primeiros minutos do primeiro tempo do jogo pela mudança no Código Florestal. Em 07/07/2010 o que se aprovou não é o novo Código Florestal, como tem anunciado apressadamente a imprensa não especializada em meio ambiente, mas apenas uma proposta, uma espécie de bola que foi colocada em campo pela Comissão Especial que aprovou o assunto, mas que ainda terá de ser arredondada, primeiro no plenário da Câmara dos Deputados, para onde vai agora.

Depois, a bola ainda meio quadrada segue para o Senado, onde naturalmente receberá emendas a fim de aparar algumas arestas, principalmente no que diz respeito ao novo papel proposto para os Estados. E aí, a bola volta para a Câmara dos Deputados, para apreciar as emendas. E assim sucessivamente, até que o texto final, aprovado pelo Congresso Nacional, siga para o Planalto, para ser sancionado pelo Presidente da República, que poderá ouvir o Ministério do Meio Ambiente e outros órgãos afins, e a bola ainda poderá ser novamente arredondada através de vetos parciais, ou a Presidência da República pode até mesmo tirar a bola do jogo, vetando o projeto em sua totalidade.

Assim, em bom português, ainda estamos longe do fim desse jogo, onde o papel da torcida será fundamental para influenciar os jogadores. Está circulando um abaixo-assinado que já enviou mais de 160.000 assinaturas para o Congresso Nacional, tem mais 40.000 para enviar, e a tendência é crescer, pois a sociedade não aceitará facilmente que se perca no grito, de uma hora para outra, décadas de conquistas pelos direitos ambientais. A REBIA (Rede Brasileira de Informação Ambiental) tem procurado manter o seu público bem informado sobre o passo a passo desse jogo, através do Portal do Meio Ambiente e da Revista do Meio Ambiente, apresentando tanto as opiniões e informações de um lado do jogo quanto do outro, democraticamente, como deve ser.

Este debate sobre o novo Código Florestal tem colocado em lados opostos ruralistas e ambientalistas, como se o desenvolvimento humano fosse incompatível com a preservação da natureza. Trata-se de um falso debate, que não leva em conta a realidade. Sem agricultura as pessoas morrem de fome. Sem cuidados ambientais, quem fica no prejuízo são os produtores rurais com a perda de fertilidade do solo, aumento de pragas, erosão, assoreamento de mananciais. Para alguns que acham que apenas os seres humanos têm direitos ambientais, este debate parece meio sem propósito.

Podem estar pensando: 'tanto barulho só por que tiramos umas arvorezinhas que não tem o menor direito de permanecer em pé diante do direito dos seres humanos!' Esquecem que o desrespeito aos limites da natureza, por exemplo, em áreas rurais gaúchas, no sertão baiano e no centro-oeste está produzindo os primeiros desertos fabricados pela mão humana no Brasil. Em algumas épocas do ano, aviões tem dificuldade para pousar em cidades como Cuiabá tanta é a poeira no ar, na verdade, solo agrícola em suspensão. Nas cidades, o desrespeito ao meio ambiente - por extensão, ao Código Florestal - também tem resultado em graves conseqüências, com perdas de vida e patrimônio. É o que assistimos recentemente em Santa Catarina, Niterói, Alagoas. Parece até que a natureza anda se vingando de nós, cansada de tanto abuso e destruição de suas áreas que deveriam ser de preservação permanente.

Com o agravamento das mudanças climáticas, as chuvas estão cada vez mais torrenciais e, sem a cobertura das árvores que protege os solos, os morros, as margens dos rios, as águas tendem a correr cada vez em maior volume e intensidade, arrastando tudo pelo caminho, casas, patrimônios, vidas, e levando o solo rio abaixo para entupir tudo na planície, agravando as enchentes, indo desaguar no mar, tornando-se indisponível ao consumo.

Por trás do debate sobre o Código Florestal está muito mais que uma mera tentativa de proteger florestas. Trata-se de definir nossos limites, até onde estamos dispostos a ir para obter lucros e qualidade de vida, até onde vão nossos direitos e onde começam os direitos da Natureza. Como vivemos numa sociedade de consumo, onde só tem valor o que tem preço, então não conseguimos ver importância nos serviços que a natureza nos presta todos os dias, sem nos cobrar nada por ele. Precisamos nos reconciliar com a natureza, ou continuaremos a produzir conseqüências cada vez mais graves, tanto no campo quanto nas cidades.

E convenhamos, o período eleitoral – quando os ânimos ficam naturalmente mais exaltados – não parece o momento mais oportuno para um bom debate em torno de temas não fundamentais.

* Vilmar é escritor ( www.escritorvilmarberna.com.br ) e jornalista. Fundou a REBIA e edita a Revista do Meio Ambiente e o www.portaldomeioambiente.org.br Em 1999, recebeu o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas.





sexta-feira, 9 de julho de 2010

Estudo identifica espécies de trepadeiras da Mata Atlântica

Por Débora Motta, da Agência Faperj




Fruto da Paullinia weinmaniifolia: pesquisa registrou 74 espécies de trepadeiras da família Sapindaceae
Crédito: Genise Vieira Somner


Uma busca minuciosa para identificar dezenas de espécies de trepadeiras da Mata Atlântica. Esse foi o ponto de partida do trabalho da professora Genise Vieira Somner, do Departamento de Botânica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que empreendeu entre 2008 e 2009 uma série de 28 excursões em restingas e florestas de encostas do estado para coletar material botânico e fazer observações de campo. Com apoio da FAPERJ, por meio de um Auxílio Básico à Pesquisa (APQ 1), ela decidiu investigar as trepadeiras da família Sapindaceae.

Essa família de trepadeiras encontra-se bem representada na Mata Atlântica – a mais rica em espécies por hectare e a mais ameaçada de todo o continente, preservando apenas 8% da sua cobertura vegetal em condições próximas às originais. Comuns nas bordas das matas e nas copas das árvores, elas dão frutos diversos que contribuem para a alimentação da fauna local e apresentam flores pequenas, geralmente brancas ou amareladas. "A Sapindaceae é uma das famílias botânicas que tem maior número de espécies nas áreas remanescentes da Mata Atlântica, mas poucos estudos haviam sido desenvolvidos até então sobre ela no estado do Rio de Janeiro", justifica Genise.

Pensando em suprir essa lacuna de conhecimento, ela coordenou o levantamento e estudo taxonômico das espécies de trepadeiras dessa família no estado, assim como o mapeamento de sua distribuição geográfica, análise dos endemismos – das espécies que são exclusivas da região – e do estado de conservação dessas espécies. Para identificar a flora, a pesquisadora e sua equipe de três estagiários fizeram expedições do norte ao sul do estado, com o objetivo de listar as espécies e registrar a sua distribuição espacial no território fluminense.

"As restingas e florestas de encostas espalhadas pelo interior do estado foram escolhidas como campo de trabalho por serem os dois biomas de Mata Atlântica em que a ocorrência da família Sapindaceae é mais comum", diz Genise. Entre as regiões visitadas nas excursões botânicas, estão os municípios de Cabo Frio, Carapebus, Itatiaia, Magé, Maricá, Paracambi, Paulo de Frontin, Quissamã, Rio das Ostras e Teresópolis, além da Ilha da Marambaia, que abrange os municípios do Rio, Itaguaí e Mangaratiba. As coletas de Sapindaceae foram feitas mensalmente, em caminhadas ao longo de trilhas naturais. Para alcançar espécie nas copas das árvores, foram utilizadas técnicas acrodendrológicas, com materiais de escalada para auxiliar nas coletas.
Essa família de trepadeiras encontra-se bem representada na Mata Atlântica – a mais rica em espécies por hectare e a mais ameaçada de todo o continente, preservando apenas 8% da sua cobertura vegetal em condições próximas às originais. Comuns nas bordas das matas e nas copas das árvores, elas dão frutos diversos que contribuem para a alimentação da fauna local e apresentam flores pequenas, geralmente brancas ou amareladas. "A Sapindaceae é uma das famílias botânicas que tem maior número de espécies nas áreas remanescentes da Mata Atlântica, mas poucos estudos haviam sido desenvolvidos até então sobre ela no estado do Rio de Janeiro", justifica Genise.

Pensando em suprir essa lacuna de conhecimento, ela coordenou o levantamento e estudo taxonômico das espécies de trepadeiras dessa família no estado, assim como o mapeamento de sua distribuição geográfica, análise dos endemismos – das espécies que são exclusivas da região – e do estado de conservação dessas espécies. Para identificar a flora, a pesquisadora e sua equipe de três estagiários fizeram expedições do norte ao sul do estado, com o objetivo de listar as espécies e registrar a sua distribuição espacial no território fluminense.

"As restingas e florestas de encostas espalhadas pelo interior do estado foram escolhidas como campo de trabalho por serem os dois biomas de Mata Atlântica em que a ocorrência da família Sapindaceae é mais comum", diz Genise. Entre as regiões visitadas nas excursões botânicas, estão os municípios de Cabo Frio, Carapebus, Itatiaia, Magé, Maricá, Paracambi, Paulo de Frontin, Quissamã, Rio das Ostras e Teresópolis, além da Ilha da Marambaia, que abrange os municípios do Rio, Itaguaí e Mangaratiba. As coletas de Sapindaceae foram feitas mensalmente, em caminhadas ao longo de trilhas naturais. Para alcançar espécie nas copas das árvores, foram utilizadas técnicas acrodendrológicas, com materiais de escalada para auxiliar nas coletas.

Conhecer para preservar
O trabalho de campo, que deu preferência a locais ainda não pesquisados, rendeu um numeroso inventário de espécies. "Neste estudo foram registradas 74 espécies de trepadeiras, distribuídas em cinco gêneros, que são Cardiospermum (4), Paullinia (20), Serjania (41), Thinouia (3) e Urvillea (6)", conta Genise. Ela acrescenta que esses gêneros são considerados de difícil identificação por serem semelhantes, sendo confundidos nas coleções de herbários. A identificação foi feita por meio da comparação com materiais armazenados nos herbários de diversas instituições e de bibliografia específica.

Genise ressalta que os estudos taxonômicos dessas espécies e a sua caracterização morfológica são um passo fundamental para conhecer melhor a flora e, com base nesses dados, ajudar a preservar a Mata Atlântica. "A caracterização da flora do estado ainda está incompleta", afirma. Ela espera que, a partir desse trabalho, surjam estudos sobre o tema em outras áreas da biologia, como fitoquímica, biologia da reprodução de espécies e fenologia.

Outro resultado foi a criação de um banco de dados com todas as informações obtidas sobre local, data e coordenadas das espécies, assim como dados sobre sua época de floração e frutificação. A partir deles, estão sendo elaborados mapas que mostram a distribuição geográfica de cada uma das espécies nas diferentes localidades fluminenses. Também foi feita uma lista das espécies endêmicas do estado do Rio de Janeiro e das ameaçadas de extinção.

"Das 74 espécies estudadas, 47 são endêmicas do Brasil. Destas, 17 são endêmicas do sudeste do País e seis são endêmicas do estado do Rio de Janeiro. Quarenta espécies ocorrem somente na Mata Atlântica, destacando-se as Serjania, com 30 espécies", conclui Genise, alertando que duas espécies, a Paullinia thalictrifolia e Serjania nigricans, correm risco de extinção.

A professora acaba de ganhar uma bolsa de pós-doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para dar continuidade ao estudo das Paullinia, gênero que foi tema de sua tese de doutorado, nos Estados Unidos. Esse projeto será desenvolvido na Smithsonian Institution, em Washington, em 2011. "Depois de estudar as trepadeiras da família Sapindaceae, a meta para essa nova fase de pesquisa será catalogar as espécies arbóreas e arbustivas da mesma família até dezembro de 2010. Até o momento, já encontramos aproximadamente 20 espécies desse tipo."



Paullinia thalictrifolia: planta identificada no estudo é uma das espécies consideradas em perigo de extinção
Crédito: Annelise Nunes Frazão

Projetos podem prejudicar biodiversidade agrícola, dizem especialistas

Por Noéli Nobre e Verônica Lima, da Rádio Câmara


Em audiência pública, Nazareno Fonteles defendeu a inconstitucionalidade da proposta (PL 268/07) que permite a alteração genética de sementes, a fim de torná-las estéreis.

Projetos de lei que tramitam na Câmara podem prejudicar os produtores e a biodiversidade da agricultura brasileira, segundo especialistas do setor. O assunto foi debatido nesta quinta-feira em audiência pública das comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

Entre as proposições criticadas está o PL 2325/07, que condiciona a venda de produtos agrícolas à autorização expressa do detentor da patente da cultivar utilizada para o plantio. Cultivar é a espécie vegetal certificada de acordo com a Lei de Proteção de Cultivares (9.456/97).

Outra medida contestada foi a proposta (substitutivo ao PL 268/07) que libera, em determinadas situações, o plantio, a comercialização e a pesquisa de sementes geneticamente modificadas para serem estéreis. Nesses casos, essas sementes não se reproduzem, impedindo que o agricultor possa utilizá-las em uma safra futura.

Apropriação de sementes
Na reunião, a promotora de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Juliana Santilli e a representante da Articulação Nacional de Agroecologia Larissa Packer afirmaram que os projetos incentivam a apropriação privada de sementes por grandes empresas multinacionais, impedindo o chamado “uso próprio” por agricultores. Com isso, o País tem de importar cultivares.

Outra consequência, conforme Larissa, é a redução da biodiversidade, uma vez que o agronegócio baseado na tecnologia privilegia a monocultura. “Até 2030, poderemos ter 75% das espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção. Hoje, esse número é de 36%”, disse.

Santilli ressaltou que a agrobiodiversidade será essencial no enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas pelo País. “A diversidade permite que as espécies se adaptem às mudanças ambientais”, afirmou. A promotora sugeriu a criação de um fundo de apoio a programas de conservação da biodiversidade agrícola, formado com recursos da venda de sementes.

Pedido de arquivamento
O deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), que sugeriu a audiência, pediu o arquivamento dos projetos. Fonteles disse que tem se reunido com autores e relatores para discutir o assunto. Caso as propostas sejam aprovadas pela Câmara, ele cogita apelar para a Justiça contra as medidas.

O parlamentar classificou as propostas como inconstitucionais, pois, segundo ele, qualquer prática que leve à redução do patrimônio genético e da diversidade de espécies está proibida pela Constituição.

Anteprojeto
O Ministério da Agricultura apresentou à Casa Civil um anteprojeto de lei que regula o acesso aos recursos genéticos, a fim de desenvolver novas raças de animais e variedades de plantas. “Esse projeto tem como foco promover o melhoramento genético, indistinto de onde ele ocorra (propriedade, empresa ou instituto de pesquisa), e principalmente resguardar as práticas tradicionais”, explicou o assessor de Propriedade Intelectual e Tecnologia da Agropecuária do ministério, Leontino Taveira.

Para os críticos, no entanto, o anteprojeto, assim como as propostas em análise na Câmara, restringe o direito ao livre uso da agrobiodiversidade.

Íntegra da proposta:
* PL-268/2007
* PL-2325/2007

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Jornalismo científico no Brasil

Mariluce Moura, diretora de redação de Pesquisa FAPESP, dá entrevista sobre o tema para televisão espanhola

A diretora de redação de Pequisa FAPESP, Mariluce Moura, fala sobre a situação do jornalismo científico no Brasil. Legendada em espanhol, a entrevista foi feita em Madri, onde Mariluce participou em abril de seminário internacional sobre jornalismo científico e cultural. O vídeo foi produzido pelo Canal Internacional da Television Española, que faz parte rede Noticias Culturales Iberoamericanas (NCI).

Comportamento dos oceanos

Da Revista Fapesp

Uma parceria entre a Noruega e a África do Sul irá levantar dados sobre o comportamento dos oceanos para ajudar a compreender e a enfrentar os efeitos das mudanças climáticas na África. Inaugurado na Cidade do Cabo, o Centro para Pesquisa do Ambiente Marinho Nansen-Tutu irá coletar informações sobre os três oceanos que cercam a África do Sul – o Atlântico, o Índico e o Antártico.

A pesquisa terá como foco a modelagem computacional dos oceanos, o estudo dos ecossistemas e as relações entre anormalidades climáticas em diferentes partes do mundo. John Field, coordenador da iniciativa, diz que há uma lacuna na produção de dados sobre os oceanos em comparação com a profusão de informações sobre chuvas e de previsões meteorológicas. “Os oceanos têm influência no clima e precisamos desse tipo de informação”, disse à agência SciDev.Net. O centro é uma colaboração entre o Instituto de Pesquisa Marinha da Universidade da Cidade do Cabo e o Centro Nansen de Ambiente e Sensoriamento Remoto, na Noruega. Terá orçamento anual de US$ 1,5 milhão e quadro de 20 pesquisadores

Cientistas descobrem novas espécies nas profundezas do Atlântico

Da BBC Brasil
Cientistas da Universidade de Aberdeen, na Escócia, anunciaram ter descoberto mais de 10 espécies marinhas após explorar as profundezas do Oceano Atlântico.

O fotógrafo David Shale, que registrou várias espécies, disse à BBC Brasil que "muitas destas criaturas nunca foram vistas antes".

Segundo os pesquisadores, o resultado da expedição pode revolucionar o conhecimento sobre a vida no mar profundo.

O grupo usou uma sonda britânica de exploração controlada remotamente e que é capaz de alcançar uma profundidade de 3,6 mil metros.

Entre as criaturas capturadas pela equipe do programa internacional de pesquisas MAR-ECO, foi encontrado um grupo que se acredita estar próximo do elo evolucionário que falta entre animais invertebrados e vertebrados.

Muitas outras espécies raras foram coletadas durante a viagem de seis semanas a bordo do navio de pesquisas James Cook.

O estudo, que utilizou a tecnologia submarina mais recente, ocorreu em junho.

2º Workshop Internacional Energia Nuclear, Meio Ambiente e Segurança

Da Agência FAPESP
 O 2º Workshop Internacional Energia Nuclear, Meio Ambiente e Segurança (Enumas 2010) será realizado nos dias 19 e 20 de agosto na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O tema será “Oportunidades em atividades nucleares no Brasil: medicina, agricultura e indústria”.

Entre os participantes programados estão: Afonso Aquino (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares/Conselho Nacional de Energia Nuclear Ipen/CNEN), Julio Hadler (Unicamp), José Bressiani (Ipen/CNEN), Antonio Vargas Figueira (Universidade de São Paulo-USP), Suleman Surti (Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos) e Carlos Buchipguel (USP).

O encontro será organizado em eixos temáticos como “Pesquisa e desenvolvimento da energia nuclear no Brasil”, “Energia nuclear no contexto mundial”, “Ciclo do combustível – salvaguardas e proliferação”, “Energia nuclear e meio ambiente” e ‘Energias alternativas: sinergias politicamente corretas”.

Mais informações: www.nipeunicamp.org.br/enumas2010.

Má notícia: Relatório do deputado Aldo Rebelo é aprovado pela Comissão Especial

Com o placar de 13 votos a favor do relatório do deputado Aldo Rebelo e cinco votos contra, a Comissão Especial sobre o Código Florestal Brasileiro aprovou hoje a proposta a favor do agronegócio e em detrimento da qualidade de vida de milhões de brasileiros.

Agora o novo Código Florestal segue para votação na Câmara dos Deputados. A Fundação SOS Mata Atlântica, diversas ONGs ambientais, movimentos sociais e a Frente Parlamentar Ambientalista realizam amanhã (07/07), às 08h30, no gramado em frente à Câmara dos Deputados, uma vigília para chamar a atenção sobre a possível aprovação de mudanças na legislação ambiental brasileira, retrocessos que colocam em risco todo o patrimônio natural do país. A manifestação contará com caixões, carros de som, coroas de flores, cruzes, faixas de luto e a bandeira da SOS Mata Atlântica, que simboliza a bandeira nacional sem parte do seu verde. A ação representa a morte do Código Florestal e também de bens fundamentais para nossa sobrevivência, como a água, as florestas, a biodiversidade e a regulação do clima.

“Estamos fazendo essa manifestação para mostrar para a população o que está acontecendo em Brasília e como alguns deputados vêm destruindo o meio ambiente e ameaçando nosso futuro”, afirma Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica. Se você quiser registrar suas condolências, entre na www.conexaososma.org.br e para mais informações acesse www.sosma.org.br/exterminadores .O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, com o apoio de diversas outras instituições, enviou para o presidente Luis Inácio Lula da Silva carta em que expõe suas preocupações para com o cumprimento de metas na redução dos gases do efeito estufa. Leia o texto na íntegra no Portal da SOS Mata Atlântica.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Ciência e arte: um olhar muito além do estético

Por Danielle Kiffer, da Agência Faperj


Existe uma relação entre a estética presente na arte e os números e teorias científicas mais estreita do que se imagina. E não é necessário ser um especialista em nenhuma das duas áreas para perceber esta conexão. É o que pretende mostrar o pesquisador Antonio Carlos de Freitas, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ele e mais uma equipe multidisciplinar, formada por biólogos, químicos, físicos e fotógrafos, revelam as belezas da natureza em detalhes através de fotografias, e, por meio das fotos, analisam as formas e padrões geométricos encontrados. O trabalho faz parte do projeto "Arte e ciência das formas e padrões da natureza", apoiado pela FAPERJ, por meio do edital de Produção e Divulgação das Artes.

"A arte e a ciência sempre caminharam juntas. Um grande exemplo de artista-cientista é Leonardo da Vinci, que em muitas de suas obras representou a arte por meio da ciência e vice-versa. Um de seus trabalhos mais conhecidos, o Homem Vitruviano, um desenho feito pelo renomado pintor mostra a estética do corpo humano associada a suas proporções, baseada em cálculos matemáticos", conta o físico Antonio Carlos. O projeto reforça também que a beleza não é apenas um conceito que transita através dos tempos. O belo pode estar intimamente ligado à simetria. E, pelas fotos feitas por membros da equipe, pode-se perceber que as formas geométricas são abundantes na natureza.

Numa das fotos que fazem parte da exposição, as borboletas aparecem como belos exemplares de simetria, tanto nos desenhos geométricos quanto no contorno das asas. Todas essas características são analisadas separadamente, mas, vistas como um todo, representam a beleza que encanta nossos olhos. "A explicação para a simetria das borboletas e suas formas geométricas é a mesma que para todos os seres, inclusive o próprio homem. Somos simétricos por fora. Se passarmos uma linha imaginária que nos corte ao meio, teremos uma metade exata de nós, de cada um dos lados desse eixo. Somos simétricos e apreciamos o que é simétrico.

Na biologia, muitos animais escolhem seus parceiros atraídos pela simetria. Ter os dois lados iguais pode significar boas condições de saúde. Um animal que não seja tão simétrico quanto os outros de sua espécie poderia indicar uma má formação devido a problemas genéticos ou doenças e pode, por essa razão, ser rejeitado pela fêmea, que quer o melhor para sua prole", explica a bióloga Márcia Franco, integrante da equipe.

Interação inseto-planta: a planta produz grande quantidade e tecido vegetal ao redor de uma larva de inseto parasita

Entretanto, não é só na simetria que a beleza é inconscientemente captada por nossos olhos. Quem nunca se encantou com a imagem de um girassol, por exemplo? O que muitos não sabem é que toda a exuberância estética da flor está intimamente ligada à matemática. "Nos girassóis, as sementes na corola são geralmente dispostas num padrão espiral que se relaciona com os números da série de Fibonacci.



Da mesma forma, a proporção entre o número de abelhas fêmeas e machos em qualquer colmeia é de 1,618, assim como a proporção de crescimento do raio no interior da concha de um caramujo nautilus. E se repete no número de segmentos da superfície de uma pinha, na proporção das medidas das pirâmides do Egito e até na métrica dos poemas de alguns poetas romanos", explica Freitas.

O próximo passo do físico e sua equipe é produzir uma exposição aberta ao público no Centro de Visitantes do Jardim Botânico, prevista para ter início em agosto. "A ciência é feita através da observação. Portanto, na mostra, exibiremos fotos que revelem os padrões observados não apenas em asas de pássaros e borboletas, mas também em cascas de frutos, nas marcas observadas em leitos de rios e praias. São tanto formas simétricas quanto assimétricas, circulares ou triangulares, padrões e texturas. Fizemos as fotos de forma a ressaltar esses aspectos, bem como procuramos contextualizá-las do ponto de vista artístico e científico", falam os pesquisadores.

Paralelamente, a mostra também será levada às escolas. "Itinerante, ela também terá uma característica mais didática, com textos explicativos em cada painel de imagens. Pretendemos que um representante de nossa equipe esteja presente na abertura de cada evento nas escolas para tirar dúvidas e interagir com os alunos", diz Marcia.

"Esperamos com isso fazer um trabalho de divulgação científica por meio da fotografia, promovendo uma maior aproximação entre essas duas formas de ver o mundo", acrescenta. Para os pesquisadores, o objetivo é um só: fazer com que, ao observar a imensa beleza dos padrões matemáticos encontrados na natureza, o visitante também sinta despertar seu interesse pela ciência.

Inpe abre centro na Amazônia

Da Agência FAPESP
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) inaugurou nessa quinta-feira (1º/7) as instalações de seu Centro Regional da Amazônia (CRA), que fará parte do Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá, em Belém (PA).

O CRA-Inpe, que vinha operando desde 2009 nas instalações da unidade Amazônia Oriental da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), capacitará técnicos de outros países no monitoramento de florestas tropicais por satélite, trabalho que o instituto realiza há 20 anos na região.

A capacitação internacional será possível graças a um acordo entre o Inpe, a Agência Brasileira de Cooperação, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e a Agência de Cooperação Internacional do Japão.

Além da formalização do acordo, a cerimônia de inauguração da sede do CRA contou com o lançamento da parceria entre o Inpe e o Instituto de Pesquisas para o Desenvolvimento (IRD, na sigla em francês), da França, que permitirá a distribuição de imagens do satélite SPOT (Satélite para observação da terra, na sigla em francês) para pesquisas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil

Mais informações: http://www.inpe.br/

Entidades e personalidades divulgam manifesto contra mudanças no Código Florestal Brasileiro

Movimentos sociais, sindicais e entidades ambientalistas, além de personalidades e intelectuais, divulgam nesta sexta-feira (2/7) um manifesto em defesa do meio ambiente e da produção de alimentos e contrário às mudanças propostas para Código Florestal brasileiro, que devem ser votadas na semana que vem na Câmara dos Deputados.

O documento – assinado por personalidades como Leonardo Boff e D. Pedro Casaldáliga e entidades como a CUT e a Via Campesina - aponta que o relatório deve atender apenas aos interesses dos ruralistas, pela ausência de um debate amplo sobre o tema.

“Podemos afirmar que o texto do Projeto de Lei é insatisfatório, privilegiando exclusivamente os desejos dos latifundiários. Dentre os principais pontos críticos do PL, podemos citar: anistia completa a quem desmatou (em detrimento dos que cumpriram a Lei); a abolição da Reserva Legal para agricultura familiar (nunca reivindicado pelos agricultores/as visto que produzem alimentos para todo o país sem a necessidade de destruição do entorno) possibilidade de compensação desta Reserva fora da região ou da bacia hidrográfica; a transferência do arbítrio ambiental para os Estados e Municípios, para citar algumas”, destacam os signatários.

Confira, abaixo e em anexo, a íntegra do documento.

EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE BRASILEIRO E DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS SAUDÁVEIS:

NÃO AO SUBSTITUTIVO DO CÓDIGO FLORESTAL!

O Código Florestal (Lei nº. 4.771, de 15 de setembro de 1965) está baseado em uma série de princípios que respondem às principais preocupações no que tange ao uso sustentável do meio ambiente.

Apesar disso, entidades populares, agrárias, sindicais e ambientalistas, admitem a concreta necessidade de aperfeiçoamento do Código criando regulamentações que possibilitem atender às especificidades da agricultura familiar e camponesa, reconhecidamente provedoras da maior parte dos alimentos produzidos no país.

É essencial a implementação de uma série de políticas públicas de fomento, crédito, assistência técnica, agro industrialização, comercialização, dentre outras, que garantirão o uso sustentável das áreas de reserva legal e proteção permanente. O Censo Agropecuário de 2006 não deixa dúvidas quanto à capacidade de maior cobertura florestal e preservação do meio ambiente nas produções da agricultura familiar e camponesa, o que só reforça a necessidade de regulamentação específica.

Essas políticas públicas vinham sendo construídas entre os movimentos e o Governo Federal a partir do primeiro semestre de 2009, desde então os movimentos aguardam a efetivação dos Decretos Reguladores para a AF que nos diferenciam do agronegócio.

Foi criada na Câmara dos Deputados uma Comissão Especial, para analisar o Projeto de Lei nº. 1876/99 e outras propostas de mudanças no Código Florestal e na Legislação Ambiental brasileira. No dia 09 de junho de 2010, o Dep. Federal Aldo Rebelo (PCdoB/SP) apresentou à referida Comissão um relatório que continha uma proposta de substituição do Código Florestal.

Podemos afirmar que o texto do Projeto de Lei é insatisfatório, privilegiando exclusivamente os desejos dos latifundiários. Dentre os principais pontos críticos do PL, podemos citar: anistia completa a quem desmatou (em detrimento dos que cumpriram a Lei); a abolição da Reserva Legal para agricultura familiar (nunca reivindicado pelos agricultores/as visto que produzem alimentos para todo o país sem a necessidade de destruição do entorno) possibilidade de compensação desta Reserva fora da região ou da bacia hidrográfica; a transferência do arbítrio ambiental para os Estados e Municípios, para citar algumas.

Estas mudanças, no entanto, são muito distintas das propostas no Projeto de Lei (PL). Nos cabe atentar para o fato de que segundo cálculos de entidades da área ambiental, a aplicação delas resultará na emissão entre 25 a 30 bilhões de toneladas de gás carbônico só na Amazônia. Isso ampliaria em torno de seis vezes a redução estimada de emissões por desmatamento que o Brasil estabeleceu como meta durante a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 15) em Copenhague, em dezembro de 2009 e transformada em Lei (Política Nacional de Mudança do Clima) 12.187/2009.

De acordo com o substitutivo, a responsabilidade de regulamentação ambiental passará para os estados. É fundamental entendermos que os biomas e rios não estão restritos aos limites de um ou dois estados, portanto, não é possível pensar em leis estaduais distintas capazes de garantir a preservação dos mesmos. Por outro lado, esta estadualização representa, na prática, uma flexibilização da legislação, pois segundo o próprio texto, há a possibilidade de redução das áreas de Preservação Permanentes em até a metade se o estado assim o entender.

O Projeto acaba por anistiar todos os produtores rurais que cometeram crimes ambientais até 22 de julho de 2008. Os que descumpriram o Código Florestal terão cinco (5) anos para se ajustar à nova legislação, sendo que não poderão ser multados neste período de moratória e ficam também cancelados embargos e termos de compromisso assinados por produtores rurais por derrubadas ilegais. A recuperação dessas áreas deverá ser feita no longínquo prazo de 30 anos. Surpreendentemente, o Projeto premia a quem descumpriu a legislação.

O Projeto desobriga a manutenção de Reserva Legal para propriedades até quatro (4) módulos fiscais, as quais representam em torno de 90% dos imóveis rurais no Brasil. Essa isenção significa, por exemplo, que imóveis de até 400 hectares podem ser totalmente desmatados na Amazônia – já que cada módulo fiscal tem 100 hectares na região –, o que poderá representar o desmatamento de aproximadamente 85 milhões de hectares. A Constituição Federal estabeleceu a Reserva Legal a partir do princípio de que florestas, o meio ambiente e o patrimônio genético são interesses difusos, pertencentes ao mesmo tempo a todos e a cada cidadão brasileiro indistintamente. É essencial ter claro que nenhum movimento social do campo apresentou como proposta a abolição da RL, sempre discutindo sobre a redução de seu tamanho (percentagem da área total, principalmente na Amazônia) ou sobre formas sustentáveis de exploração e sistemas simplificados de autorização para essa atividade.

Ainda sobre a Reserva Legal, o texto estabelece que, nos casos em que a mesma deve ser mantida, a compensação poderá ser feita fora da região ou bacia hidrográfica. É necessário que estabeleçamos um critério para a recomposição da área impedindo que a supressão de vegetação nativa possa ser compensada, por exemplo, por monoculturas de eucaliptos, pinus, ou qualquer outra espécie, descaracterizando o bioma e empobrecendo a biodiversidade.

O Projeto de Lei traz ainda a isenção em respeitar o mínimo florestal por propriedade, destruindo a possibilidade de desapropriação daquelas propriedades que não cumprem a sua função ambiental ou sócio-ambiental, conforme preceitua a Constituição Federal em seu art. 186, II.

Em um momento onde toda a humanidade está consciente da crise ambiental planetária e lutando por mudanças concretas na postura dos países, onde o próprio Brasil assume uma posição de defesa do desenvolvimento sustentável, é inadmissível que retrocedamos em um assunto de responsabilidade global, como a sustentabilidade ambiental.

O relatório apresentado pelo deputado Aldo Rebelo contradiz com sua história de engajamento e dedicação às questões de interesse da sociedade brasileira. Ao defender um falso nacionalismo, o senhor deputado entrega as florestas brasileiras aos latifundiários e à expansão desenfreada do agronegócio.

Sua postura em defesa do agronegócio é percebida a partir do termo adotado no relatório: Produtor Rural. Essa, mais uma tentativa de desconstrução do conceito de agricultura familiar ou campesina, acumulado pelos movimentos e que trás consigo uma enorme luta política dos agricultores e agricultoras familiares.

Por tudo isso, nós, organizações sociais abaixo-assinadas, exigimos que os assuntos abordados venham a ser amplamente discutidos com o conjunto da sociedade. E cobramos o adiamento da votação até que este necessário debate ocorra e que o relatório do deputado absorva as alterações mencionadas no corpo do texto.

ENTIDADES

CUT – CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES

FETRAF – FEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA FAMILIAR

VIA CAMPESINA

CPT – COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

MAB – MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS

MMC – MOVIMENTO DAS MULHERES CAMPONESAS

MPA – MOVIMENTO DOS PEQUENOS AGRICULTORES

MST – MOVIMENTO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS SEM TERRA

ABEEF – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS ESTUDANTES DE ENGENHARIA FLORESTAL

CIMI – CONSELHO INDIGENÍSTA MISSIONÁRIO

FEAB – FEDERAÇÃO DOS ESTUDANTES DE AGRONOMIA DO BRASIL

MCP - MOVIMENTO CAMPONÊS POPULAR

UNICAFES – UNIÃO NACIONAL DE COOPERATIVAS DA AGRICULTURA FAMILIAR E ECONOMIA SOLIDÁRIA

PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO

ABRA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE REFORMA AGRÁRIA

ABA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGROECOLOGIA

ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS

TERRAS DE DIREITOS

INESC – INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS

Fonte: MST