quarta-feira, 2 de maio de 2012

USP discute desafios da Rio+20 e lança site com contribuições ao evento


Da Agência Fapesp

Com o objetivo de debaterem os desafios da Rio+20 e a contribuição da USP para a formulação de propostas e soluções para os problemas socioambientais, pesquisadores se reuniram na tarde da quarta-feira (26) no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG). A Rio+20, que acontecerá nos dias 20 a 22 de junho no Rio de Janeiro, marca os vinte anos de realização da Conferência das ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e deve contribuir para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas.

O evento, iniciado em uma mesa-redonda, também contou com o lançamento da coletânea Governança e inclusão social: desafios centrais da Rio+20 (Editora Annablume, 2012) organizada pelo professor Wagner Costa Ribeiro, coordenador do Grupo de Pesquisa de Ciências Ambientais do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. “Converger iniciativas e buscar o conhecimento das diversas unidades para trazer soluções”, apontou Ildo Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE), destacando o foco do encontro durante Após o debate, foi lançado o site USP Rio+20, que reúne contribuições da Universidade  para a conferência Rio+20. O portal é uma iniciativa da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP e é organizado também pelos professores Wagner Costa Ribeiro, Edmilson Dias de Freitas (IAG) e Arlindo Philippi Jr. (FSP).

A página eletrônica reúne um conjunto de teses e dissertações que tratam dos temas vinculados à Rio+20, defendidas na USP entre junho de 1992 e setembro de 2011. Além disso, o site oferece uma análise desse material por especialistas da USP, que pretendem indicar os avanços e desafios das pesquisas em seus respectivos campos de estudo.

Energia e economia verde
Com um balanço dos últimos 20 anos de produção científica voltada para sustentabilidade ambiental e inclusão social, a discussão procurou não apenas reconhecer o esforço empreendido por parte dos pesquisadores. Fez também a crítica frente aos tópicos principais do evento que segue na trilha da conferência realizada no início dos anos 1990.

Com foco na chamada questão energética, o pesquisador Célio Berman (IEE) reforçou a crítica de que, apesar de ser uma pauta central, “existe um ambiente de indefinição ao redor da ideia de que a atividade antrópica [dos seres humanos]seja a responsável pelo processo conhecido como aquecimento global”.

Em sua contribuição ao livro lançado no mesmo evento, Célio debateu a dependência de combustível que assola o planeta. “Utilizamos no mundo 86,7% de fontes não renováveis, sendo 61,7% a gasolina e o diesel somente para transporte”, declarou, citando dados da Agência Internacional de Energia. Resultado inevitável do processo de globalização, o uso excessivo de recursos que podem contribuir para a degradação ambiental deve ser o estopim para que “os fluxos de mercadorias sejam revistos”.

Sugerindo o biodiesel como alternativa ao uso de combustíveis fósseis, Célio compreende que o objetivo final para se obter tecnologias limpas e sustentáveis deve ser atingido via investimento em inovações ainda inexploradas, como a produção deste mesmo combustível por meio de algas marinhas, sem a utilização da terra no processo.

Na tentativa de compreender o relacionamento dos seres humanos com o consumo excessivo tanto de bens, quanto de combustíveis e geração de energia, Helena Ribeiro, professora do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, reforçou o conceito de “economia verde” como uma das possíveis soluções. “A economia verde é uma proposta de enfrentamento da crise atual, baseada sobretudo na baixa emissão do carbono e na diminuição da pobreza”, explica.

Helena defende que a mudança de enfoque seria suficiente para diminuir custos, melhorar o meio ambiente e dinamizar a economia com a criação de novos postos de trabalho. Tendo como base a proposta do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) de uso de 2% do PIB global em 10 setores-chave (agricultura, edificações, energia, pesca, silvicultura, indústria, turismo, transporte, água e gestão de resíduos), a ideia é investir U$ 1,3 trilhões de dólares até 2050 para a solução dos diversos problemas globais.

Patrimônio e governança ambiental
Para promover a inclusão social especificamente no Brasil, é necessário compreender o fenômeno da pobreza. Sivia Zanirato, professora do Curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) e do Programa de pós-graduação em Mudança Social e Participação Política da USP, aponta que a melhoria da qualidade de vida da população pode ser implementada com o uso consciente do patrimônio cultural edificado. “Precisamos promover um melhor aproveitamento do estoque imobiliário vazio nos centros urbanos”, reitera.

Com 10 a 15 milhões de famílias latino-americanas vivendo em moradias inadequadas e 62% em imóveis degradados nas regiões centrais das cidades brasileiras, dados do IPEA e do IBGE, respectivamente, torna-se urgente recuperar a noção constitucional de que a moradia é um direito social. Para a pesquisadora, as noções de “reabitar, revitalizar e incluir” devem fazer parte de uma compreensão holística de patrimônio, para que a sustentabilidade social possa efetivamente ser uma realidade.

“A palavra certa hoje é o consenso” – Pedro Jacobi.

O professor Pedro Jacobi, coordenador do Grupo de Pesquisa GovAmb USP e membro do Grupo de Estudos de Ciências Ambientais do IEA, introduziu o tema da governança e da participação popular. “Entender o conceito (de governança) é absolutamente essencial para se pensar uma sociedade democrática”, afirma Jacobi, reforçando que a premissa da própria Rio+20 é a da negociação.

Construir públicos participativos ao redor dos temas de meio ambiente e inclusão, debatidos durante a mesa-redonda, é também fortalecer o papel da sociedade civil frente aos desafios enfrentados globalmente. “A palavra certa hoje é o consenso”, encerra o professor.

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