Fabrício Ângelo
Assessor de comunicação da Rede de ONGS da Mata Atlântica(RMA)
Moderador/coordenador nacional da Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia)
O Ministério do Meio Ambiente, com apoio da Fundação Biodiversitas, Conservação Internacional (CI) Brasil e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), lançou o “Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção”. A obra possui dois volumes totalizando 1.500 páginas e foi subdivido em classes animais (aves, répteis, mamíferos, invertebrados e peixes).
No total são 627 espécies de todos os biomas que tem o risco de desaparecer. A apresentação do livro foi feita pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, a secretária de Biodiversidade e Florestas do MMA, Maria Cecília Brito, o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Barreto e o coordenador de fauna do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), João Pessoa.
Segundo Minc, essa publicação servirá como instrumento para as políticas ambientais do ministério. “Percebemos que é necessário criar novos corredores ecológicos e defender as espécies. Temos o objetivo de criar mais unidades de conservação em todos os biomas. Esse trabalho (o livro) já vem sendo feito há bastante tempo por pesquisadores e técnicos dos órgãos ambientais e com certeza tem respaldo científico”, disse. De acordo com o ministro houve um aumento de quase 300% no número de espécies ameaçadas se comparado a lista divulgada em 1989. “A lista anterior tinha 218 espécies, já no livro são 627. Também podemos destacar que deixaram de estar ameaçadas 79 espécies, como o sagüi bigodeiro, o veado campeiro e o gavião real (harpia)”, destacou. Entre as espécies incluídas estão a baleia azul, o cachalote, a jararaca-ilhoa e o albatroz. Minc ressaltou que o aumento das espécies ameaçadas também se deu devido a inclusão dos peixes na pesquisa, o que não acontecia anteriormente.
Para Rômulo Barreto do ICMBio, o livro vermelho servirá como uma vitrine de informação importante para as ações do órgão. “Isso nos ajudará a ampliar o nosso conhecimento sobre a biodiversidade, além de ser uma forma de mostrar a sociedade que ela também faz parte desse trabalho e que ela pode e deve nos auxiliar a reparar os erros. Cada Unidade de Conservação (UC) do país terá uma edição do livro, que será mostrado aos visitantes e pesquisadores”, disse Barreto.
A secretaria de Biodiversidade e Florestas do ministério, Maria Cecília Brito, se disse satisfeita com o resultado da pesquisa, para ela é importante que o país possua uma obra dessa magnitude que servirá como um marco referencial para ações tanto em políticas ambientais como para novas pesquisas. “O livro possui informações técnico-científicas de pesquisadores renomados. Não é uma obra estática, esperamos estarmos sempre mantendo-a atualizada e que seja cada vez menor. É um registro único sobre a importância da conservação e recuperação da fauna brasileira”.
O ministro Carlos Minc afirmou que o livro terá inicialmente 2.500 edições a serem distribuídas aos órgãos públicos. “Além disso estaremos disponibilizando uma edição da publicação a todas as escolas públicas do país, pois entendemos que a sala de aula é a melhor forma de se apresentar para as crianças a fauna brasileira e como elas podem ajudar em sua preservação”.
João Pessoa, representante do Ibama, ressaltou que o instituto vem realizando diversas ações de proteção e reintrodução da fauna, como os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas).
Conservação de aves de rapina
Junto com o livro vermelho, foi lançado pelo ICMBio o Plano de Ação Nacional para a Conservação de Aves de Rapina. Segundo a instituição, o propósito do plano é diminuir a ameaça de extinção de espécies da fauna brasileira. Por isso o governo brasileiro, por meio do MMA, lançou a série “espécies ameaçadas”, que é composta de planos de ação para a conservação da fauna. Esses planos apresentam informações sobre a biologia da espécie ou grupo de espécies envolvidas e propõem uma serem de medidas a serem implementadas em diversas áreas temáticas visando à conservação dessas espécies.
O quinto plano dessa série é dedicado as aves de rapina como gaviões, falcões, corujas, águias que ocupam o topo da cadeia alimentar caçando ativamente. Essa posição na cadeia alimentar faz essa espécie de aves, animais naturalmente raros. Rômulo Barreto, presidente do ICMBio, afirmou que as principais ações desse plano integram combate ao tráfico de animais e as perdas dos habitats por meio da degradação e fragmentação assim como programas de manejo em cativeiro. “O manejo e a reintrodução dessas espécies deve ser feita da melhor maneira possível, promovendo assim sua conservação e recuperação”, explicou.
Mata Atlântica é a que mais preocupa
Mais uma vez o Bioma da Mata Atlântica, assim como aconteceu com a lista da flora brasileira ameaçada de extinção, tem o maior número de espécies da fauna brasileira ameaçada. São 380 espécies o que significa 60,7%, dentre elas podemos destacar o lambari, o jacu, o tamanduá bandeira e o muriqui.
O ministro Carlos Minc afirmou que a situação do bioma é preocupante, principalmente devido às pressões urbanas que sofre. “As metrópoles brasileiras estão inseridas na Mata Atlântica, isso faz com que os impactos sejam inevitáveis, principalmente devido a ganância pelo desenvolvimento. Se a Amazônia ainda possui 83% de área florestal, a Mata Atlântica tem apenas 7%” , declarou. Ainda conforme o ministro, planos de ação efetiva para o bioma foram debatidos pela equipe técnica do MMA e serão apresentados durante a Semana da Mata Atlântica, que acontece entre os dias 15 a 18 de novembro no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
“Entendemos que esse livro é um grito, um basta. Não se pode , em nome do progresso, se extinguir a vida. O livro é vermelho, um vermelho de alerta, de defesa”, ressaltou.
Segundo a bióloga e mestre em Ciência Ambiental, Karla Beatriz Baldini, o maior problema da Mata Atlântica é a ocupação humana (como especulação imobiliária e a construção de indústrias). Karla que é professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) pesquisou durante cinco anos as relações entre comunidade e biodiversidade no Parque Nacional de Itatiaia, estado do Rio de Janeiro, uma das maiores unidades de conservação do bioma com 30 mil hectares. “Nas unidades de conservação ainda se consegue preservar uma parte da biodiversidade, mas falta estrutura e dinheiro para aprimorar as pesquisas. A criação de novas UC´s pode ajudar a salvar inúmeras espécies. Nesses cinco anos dentro do parque percebemos que alguns animais voltaram a habitar o lugar”, disse.
De acordo com a pesquisadora ações de educação ambiental, revalorização do conhecimento local, limpeza de curso d´ água e projetos de reflorestamento podem ajudar a amenizar o processo de extinção. “O maior problema da fauna é a perda de habitat, pois ali eles vivem, se alimentam e se reproduzem. Quando se destrói essas áreas, é como se lhe tirassem a casa, a comida e o emprego”, disse Baldini.
A Associação Mico Leão Dourado foi criada em 1992 com a intenção de preservar essa espécie de primata brasileiro. Localizada na Reserva Ecológica de Poço das Antas no município de Silva Jardim/RJ, a associação tem como meta para o ano 2025 atingir uma população mínima viável de 2.000 micos-leões-dourados vivendo livremente em 25.000 hectares de florestas protegidas. Denise Rambaldi, é secretária geral da associação e concorda que o principal problema do bioma são as atividades antrópicas. “A Mata Atlântica abriga 80% da população e essa necessidade de infra - estrutura causa a destruição dos habitats”, disse.
De acordo com a secretária há outros problemas a serem solucionados como a invasão biológica e as espécies invasoras. “Não existe uma preocupação do ministério com as espécies invasoras e isso nos preocupa. Sem um controle efetivo elas ameaçam a sobrevivência de outros animais”. Para Denise a divulgação do livro é de fundamental importância, pois mostra a situação real de nossa fauna sendo também um forte instrumento no debate político. “É um guia, que mostra para onde temos que mirar nossos esforços. Existem várias maneiras para tentar se salvar as espécies ameaçadas, como a reprodução em cativeiro, a reintrodução aos habitats, mas com critérios. É importante salientar que a principal política é a preservação, não devemos deixar que o animal entre na lista dos ameaçados para ai sim nos preocuparmos com sua extinção”, falou.
Outro problema enfatizado por Denise Rambaldi foi o econômico, segundo ela um projeto como o Mico Leão é muito dispendioso. “Não adianta acharmos que só criar unidades de conservação vai resolver o problema da fauna, pois sabemos de animais que estão ameaçados mesmo dentro das UC´s, é preciso implementar planos de manejo eficientes e sérios , lembrando a sociedade e principalmente ao poder público que todos temos responsabilidade pelo que acontece aos nossos biomas”, finalizou.