segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Políticas públicas para mudanças climáticas

Por Fabio Reynol, da Agência FAPESP

Se o Estado de São Paulo fosse um país estaria em 39º no ranking das nações que mais emitem dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Em 2003, foram 83 milhões de toneladas do gás, praticamente um quarto do montante brasileiro.

Esses números lançam ao estado um enorme desafio para reduzir as emissões e já estimularam a implantação de várias políticas públicas, entre as quais a ativação do Conselho Estadual de Mudanças Climáticas, ocorrida na sexta-feira (15/10).

O tema foi tratado em mesa durante o fórum “Mudanças Climáticas Globais – Desafios e oportunidades de pesquisa”, realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) nos dias 14 e 15 de outubro. A mesa teve a participação do diretor-presidente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Fernando Rei, do diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, e do diretor do Instituto de Estudos Avançados da Faculdade de Economia e Administração da USP, Jacques Marcovitch.

“As emissões de CO2 em São Paulo são tímidas em relação aos países desenvolvidos, mas, ao se considerar o índice de ocupação do solo, são emissões superiores à média nacional”, disse Rei.

O executivo fez um histórico das políticas públicas paulistas desde o Programa Estadual de Mudanças Climáticas do Estado de São Paulo (Proclima), lançado em 1995, e destacou a participação paulista em organizações internacionais de estados subnacionais, que englobam regiões internas de países como estados e províncias. “São Paulo é copresidente pela segunda vez da rede de Governos Regionais para o Desenvolvimento Sustentável”, destacou.

O Conselho Estadual de Mudanças Climáticas estava previsto na Lei Estadual 13.798, assinada em novembro de 2009, e possui uma estrutura tripartite: um terço de representantes do governo estadual, um terço vindo de governos municipais e um terço de membros da sociedade civil.

São Paulo também iniciou o Registro Público de Emissões a fim de identificar, por setores e por empresas, os maiores emissores de gases de efeito estufa. Todas essas medidas têm como objetivo tentar alcançar uma redução de 20% do CO2 emitido até o ano de 2020 em relação aos valores de 2005, meta que o Estado se comprometeu a cumprir.

“Trata-se de um objetivo extremamente difícil e que exigirá a participação da sociedade civil”, salientou Rei. No ano de 2005, São Paulo lançou na atmosfera 122 milhões de toneladas de CO2, o que significa que em 2020 poderia lançar até 98 milhões de toneladas, de acordo com a meta.

A tarefa é ainda mais complexa ao considerar que São Paulo já substituiu quase a metade das fontes energéticas de origem fóssil para fontes renováveis na última década, como ressaltou Brito Cruz. “Cerca de 60% do consumo de energia do estado era de origem fóssil e hoje esse índice é de apenas 33%”, disse.

O diretor científico da FAPESP focou na contribuição que a ciência deu ao longo da história à questão do clima, desde o matemático francês Jean Jacques Baptiste Fourier, que em 1827 publicou um artigo no qual concebeu o conceito de efeito estufa, até as experiências do norte-americano Charles Kelling, que de 1957 a 1972 escalou periodicamente o vulcão inativo Mauna Loa, no Havaí, para coletar amostras de ar e medir o teor de carbono da atmosfera.

“Foram pesquisas que pareciam inúteis em suas épocas e que hoje se mostram extremamente pertinentes em relação aos problemas que estamos enfrentando”, disse, destacando que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) foi criado pela Organização das Nações Unidas para que as lideranças políticas pudessem entender a produção científica a respeito do clima.

Brito Cruz também apresentou os principais pontos abordados pelo Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), que tem procurado intensificar a produção científica nacional no clima e conta com projetos em andamento em áreas como agronomia, química, geociências, demografia e economia.

"Não queremos apenas aumentar a quantidade dos trabalhos científicos, mas também a sua qualidade para que ganhem visibilidade internacional”, disse. Nesse sentido, a FAPESP financiou a compra de um supercomputador em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência e Tecnologia.

A máquina está sendo instalada no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em Cachoeira Paulista (SP) e será dedicada a processar modelos de simulação do clima.

O supercomputador deverá colocar o Brasil entre os maiores do mundo em investigação do clima e poderá processar modelos que contemplem os sistemas climáticos nacionais, como a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica e o Cerrado.

Além do computador, Brito Cruz anunciou que a FAPESP também está financiando a compra de um barco e de um navio oceanográfico que deverão auxiliar pesquisas sobre a temperatura, acidificação e nível dos oceanos, entre outras pesquisas.

Aprimorar incentivos e aumentar sanções
Marcovitch falou sobre os impactos econômicos e a participação do setor empresarial no esforço para mitigar as mudanças climáticas. O professor, que foi reitor da USP entre 1997 e 2001, afirmou que é preciso respeitar o tempo de ação de cada ator social para que o esforço conjunto funcione.

“As pautas de cada um são diferentes: membros do governo enfatizam o poder, cientistas se pautam na busca pela verdade, empresas focam no resultado e a sociedade civil trabalha com valores. É preciso enxergar isso para haver o diálogo e avançar”, disse.

No caso do setor empresarial, Marcovitch defende políticas públicas que promovam incentivos mais eficientes para as companhias que participarem e, ao mesmo tempo, sanções mais rigorosas para aquelas que não quiserem colaborar.

Por fim, o pesquisador apresentou partes do Estudo Econômico das Mudanças Climáticas no Brasil, que coordenou junto a 11 instituições.

O trabalho procurou identificar as vulnerabilidades que a economia e a sociedade brasileira possuem em relação às alterações do clima. “Os países que promoveram os maiores saltos da civilização foram os mais ousados e que enfrentaram grandes desafios, a área do clima é um deles”, disse.

Mais vida no mar

Censo internacional amplia conhecimento sobre a biodiversidade

Por Carlos Fioravanti, da Revista Fapesp



O Censo bate no fundo do mar: estrela-do-mar entre corais e outros invertebrados


No dia 4 de outubro, na Royal Society de Londres, um grupo de biólogos apresentou os resultados finais do Censo da Vida Marinha, o mais abrangente programa de pesquisa sobre a vida nos mares. Durante 10 anos, 2.700 pesquisadores de 80 países realizaram 568 expedições, encontraram pelo menos 1.200 espécies desconhecidas e agora estimaram em 230 mil o número de espécies de plantas, invertebrados, peixes e outros vertebrados marinhos. Desse total, 33 mil vivem nos mares da Austrália e outras 33 mil na costa do Japão, os mais ricos em diversidade biológica.

O Brasil, um dos líderes em biodiversidade terrestre, com cerca de 20% das formas de vida encontradas no planeta, aparece nesse levantamento em uma posição modesta, com 9.101 espécies de organismos marinhos, o equivalente a 4% do total. Esta é a primeira vez que se tem uma visão de conjunto – provavelmente incompleta – da biodiversidade marinha brasileira, antes avaliada apenas por meio de estudos esparsos, concentrados nas regiões Sul e Sudeste, e limitados a poucos grupos de animais encontrados na praia ou no mar raso.

A maioria das espécies marinhas encontradas no litoral brasileiro vive também no mar do Caribe, cuja biodiversidade é uma das mais altas do mundo, com 12 mil espécies. “Por ser um dos extremos do mar de Tétis, o Caribe tem mais espécies que o Atlântico Sul ocidental”, diz Tavares. No outro extremo de Tétis, esse oceano primitivo que separava os continentes há 280 milhões de anos, estão a Austrália e a Nova Caledônia, regiões ricas em diversidade marinha.

O mar brasileiro pode estar guardando muita riqueza ainda desconhecida. “Nossa biodiversidade marinha é no mínimo inadequadamente avaliada e muito subestimada”, afirma o zoólogo Marcos Tavares, pesquisador e vice-diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP). Sua conclusão se apoia na ramificação de espécies que está ajudando a criar em apenas um dos grupos dos crustáceos, com 2.500 espécies nas Américas e 700 no Brasil. Em levantamentos anteriores, os especialistas contavam apenas com amostras de crustáceos do Atlântico Sul que viviam em praias e mangues, subdimensionando a diversidade biológica dos 8 mil quilômetros da costa brasileira.

A luz da genética – Agora, exames mais detalhados estão mostrando que espécies antes vistas como únicas são na verdade várias. “Antes havia só uma espécie Chaceon quinquidens, o caranguejo-vermelho, de mais de meio metro com as pernas estendidas, encontrado desde o Canadá até a Argentina. Hoje são cinco espécies diferentes, porque aquela antes considerada única foi mais bem estudada e exemplares de regiões diferentes mais bem examinados”, diz Tavares, que participou da reclassificação, ao lado de pesquisadores do Instituto Smithsonian, Estados Unidos. Um dos frascos sobre suas mesas contém um caranguejo amarelado de garras pretas, encontrado no litoral do Rio Grande do Sul. “Pensávamos que fosse mais uma espécie em comum com o Caribe, mas hoje sabemos que é exclusiva do Brasil”, diz ele.

Em um workshop sobre biodiversidade marinha realizado na FAPESP em setembro, Antonio Solé-Cava, pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), contou que sua equipe tem avançado bastante na diferenciação de espécies complementando as tradicionais descrições morfológicas com análises genéticas. Como resultado, verificaram que o cação-anjo, bastante pescado no Rio Grande do Sul, eram na verdade três espécies, e não uma só. A lagosta comercialmente mais importante no Caribe e no Brasil são na verdade duas espécies, uma em cada região.

Duas espécies de esponjas do gênero Placospongia agora são oito, das quais quatro ainda precisam ser nomeadas e descritas. Dimensionar a diversidade de formas de vida nos oceanos é essencial, entre outras razões, para impulsionar a busca de medicamentos inspirados em compostos extraídos de organismos marinhos: seres antes tão semelhantes a ponto de serem vistos como sendo da mesma espécie podem fornecer substâncias diferentes da desejada.

O número de espécies marinhas ainda pode aumentar, embora fazer ciência no mar seja difícil e caro. “É muito mais fácil organizar uma expedição aos confins da Amazônia do que para o mar”, afirma Tavares. “A coleta em praia arenosa é bem mais simples, precisamos apenas de equipamentos como pá, saco plástico, peneira e balde, e mesmo assim nossas praias são pouco estudadas”, diz Cecília Amaral, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Em alto-mar, além de precisarmos de embarcação e grandes equipes, a coleta é bem mais difícil, demorada e de alto custo.” Outra dificuldade é que os ambientes marinhos podem mudar rapidamente, em consequência dos ventos fortes ou da ação humana.

As coletas do programa Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva Brasileira (Revizee), o mais amplo levantamento nacional já realizado sobre a diversidade marinha, chegaram a 1,5 mil metros de profundidade em alguns pontos do litoral brasileiro. Agora as coletas estão ganhando profundidade: em setembro e outubro do ano passado, quatro pesquisadores brasileiros participaram de uma das expedições do Mar-Eco: Atlântico Sul e trouxeram 976 exemplares de crustáceos, moluscos, vermes e corais que vivem a até 4 mil metros abaixo da superfície.

Integrado ao Censo da Vida Ma­rinha, o Mar-Eco: Atlântico Sul reuniu equipes de nove instituições de pesquisa nacionais e sete estrangeiras interessadas em saber como a cordilheira Meso-Oceânica, cadeia montanhosa de 14 mil quilômetros de extensão que se eleva a 2 mil metros de altura do assoalho oceânico, separa as espécies marinhas a leste e oeste do Atlântico. Segundo José Angel Alvarez Perez, pesquisador da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e coordenador da equipe da América Latina, as conclusões sobre a riqueza no mar profundo e o efeito da cordilheira devem estar prontas no início em 2011, quando partirá outra expedição.

WWF alerta cúpula de biodiversidade : valorizar

Da WWF Brasil

As nações reunidas que estão se reunindo em Nagoia (Japão) para encontro mais crucial da década, a Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas (COP 10/CDB), precisam não somente estabelecer novas metas para estancar as perdas de biodiversidade como, também, estabelecer mecanismos e prover fundos para alcançá-las.

“O que o mundo espera de Nagoia, em primeiro lugar, é uma serie de acordos capaz de por fim às perdas dramáticas e contínuas do patrimônio natural do mundo e degradação constante dos sistemas que dão suporte às nossas vidas,” declarou o Diretor Geral da Rede WWF International, Jim Leape.

“Em primeiro lugar, precisamos garantir que o imenso valor representado por ecossistemas saudáveis, diversos e em pleno funcionamento, seja incluído como fator importante nas decisões econômicas. Precisamos especificar o valor dos serviços prestados pela Natureza no fornecimento de ar puro e água limpa para nossas cidades, solos saudáveis e recursos pesqueiros para nossa alimentação e recursos genéticos e medicamentos para nossa saúde.”

Por isso, o WWF vai pressionar fortemente na CDB a adoção de uma meta que inclua a incorporação do valor da biodiversidade na contabilidade das nações, nas suas estratégias de desenvolvimento e redução de pobreza e nos processos de planejamento.

No início desta semana o WWF documentou, no relatório Planeta Vivo, a dimensão das demandas que a humanidade faz da Terra e seus impactos sobre a biodiversidade. Estamos usando recursos equivalentes aos recursos de um Planeta e meio, enquanto o índice Planeta Vivo – um indicador do estado de saúde do planeta muito respeitado e de longa data – tem caido em mais de 30% desde 1970, sendo que nos países tropicais essa queda foi de mais de 60%.

“O Relatório Planeta Vivo é um histórico da saúde do planeta e um meio de aferir as pressões que ele sofre. O estudo está nos mostrando que nas regiões tropicais existe uma verdadeira crise de biodiversidade, minando as perspectivas de desenvolvimento dos países mais pobres”, afirmou Jim Leape.

Em 2002, os 193 países signatários da CDB – praticamente todas as nações do mundo – concordaram em “reduzir significativamente” o índice de perda de biodiversidade até o ano 2010 por meio da proteção de 10% dos habitats mais significativos nas esferas nacionais. No entanto, até maio de 2010, a Secretaria da CBD constatou que 21 das metas globais de proteção da biodiversidade não tinham sido alcançadas. Não foram protegidos os habitats de nem uma quinta parte de todas as espécies ameaçadas e menos de um por cento de proteção dos oceanos abertos.

“Nossa prosperidade, até mesmo nossa própria sobrevivência, depende da existência de ecossistemas saudáveis,” disse Jim Leape. “As florestas, oceanos e rios da Terra formam o alicerce da nossa sociedade e economia. Mesmo em termos estritamente econômicos a relação custo/benefício de se conservar ou restaurar os ecossistemas é de longe muito mais efetiva do que ter que prover artificialmente esses serviços naturais que até o momento sempre desfrutamos sem dar conta do fato.”

“Os governos poderiam ter ganhos imensos se eles simplesmente cortassem os subsídios que hoje impulsionam o uso excessivo dos recursos naturais.”

Por exemplo, a capacidade da frota pesqueira mundial é duas vezes maior de que os oceanos e zonas costeiras são capazes de sustentar e o Banco Mundial está estimando uma perda de rentabilidade da atividade pesqueira de $50 bilhões por ano; a provável extinção de 27 milhões de empregos; e mais de um bilhão de pessoas prejudicadas.

De acordo com o Programa para o Meio Ambiente das Nações Unidas, um investimento em torno de $8 bilhões por ano na reconstrução dos estoques e “esverdeamento” da pesca globalmente, poderia elevar as cotas de captura, melhorar a segurança alimentar e aumentar a renda de centenas de milhões de pessoas. A redução paulativa e a eliminação dos subsídios para a atividade pesqueira, que totalizam talvez três vezes o valor do investimento sugerido, ajudariam a reduzir a pesca predatória e, ao mesmo tempo, liberar fundos para investimento na proteção e restauração das áreas pesqueiras.

O WWF está promovendo uma meta de “20 por cento até 2020” para áreas protegidas as quais, na esfera nacional, assegurariam a sobrevivência e a riqueza de todos os ecossistemas terrestres e costeiras e incluiriam acordos multinacionais para que uma porcentagem de proteção semelhante fosse estendida para áreas de oceano aberto, biologicamente ricas, mas fora de jurisdições nacionais.

Concomitantemente com o apelo para que as considerações sobre a biodiversidade sejam destacadas nos processos de tomadas de decisão e planejamento, o WWF está pressionando especificamente, para que haja o estabelecimento de limites definidos para a extração de água, mantendo-a em níveis compatíveis com a capacidade de sustentação dos rios e da água subterrânea. Todos os subsídios “perversos” que ameaçam a biodiversidade precisam ser radicalmente cortados e um esforço internacional precisa ser envidado para tornar a pesca mundial sustentável.

“As mudanças climáticas constituem um fator chave entre aqueles que contribuem para a perda de biodiversidade. São justamente os ecossistemas mais saudáveis e diversos que demonstram maior resiliência face aos impactos das mudanças climáticas,” frisa Jim Leape. “Este encontro tem uma oportunidade de construir as pontes para sobrepor os abismos que separam as agendas internacionais de desenvolvimento, biodiversidade e clima - e da forma mais clara e imediata, por meio do seu apoio à meta de saldo zero de desmatamento até 2020.”

Os Programas para a Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação florestal (REDD) – que já se encontram na agenda de discussões sobre o clima - poderiam ter um papel importante no enfrentamento das perdas atuais de florestas, hoje em torno de 36 campos de futebol por minuto, nas regiões tropicais.

“As iniciativas REDD oferecem uma oportunidade única para financiar um dos serviços mais importantes prestados pelas plantas tropicais – o sequestro de carbono. As nações presentes em Nagoia têm a oportunidade de criar as salvaguardas necessárias para garantir que os programas projetados para reduzir as emissões de carbono produzidos pelo desmatamento sirvam também para proteger a biodiversidade extraordinária das florestas e os interesses das comunidades que delas dependam,” disse Jim Leape.

O WWF estará demandando progresso em relação aos 3 objetivos originais da CDB, estabelendo um critério justo para regular o compartilhamento dos benefícios oriundos dos recursos genéticos. Em 2008 o encontro da CDB estabeleceu uma diretriz ordenando que o encontro de Nagoia estabelecesse um Protocolo de Acesso e Compartilhamento de Benefícios (ABS na sigla em inglês).

“Estamos devendo, há muito tempo, um Protocolo ABS que reconheça os interesses dos países ricos em biodiversidade e garanta os direitos dos povos indígenas e das comunidades locais sobre os recursos genéticos e conhecimentos tradicionais,” disse Jim Leape.

Para maiores informaçãoes:
Natalia Reiter nreiter@wwfint.org +41 79 873 8099
Sarah Bladen sbladen@wwfint.org +41 79 415 0220

WWF-Brasil

Maristela Pessoa – maristela@wwf.org.br 61-3364-7464

WWF CBD Media Centre: www.panda.org/CBD/media
WWF Living Planet Report Media Centre: www.panda.org/lpr/media

Projeto autoriza desconto no IR de gastos com reflorestamento

Por Marúcia Lima, da Agência Câmara

A Câmara analisa o Projeto de Lei 7224/10 do deputado Homero Pereira (PR-MT), que autoriza pessoas físicas e jurídicas a deduzirem, do imposto de renda, gastos com projetos de reflorestamento e de preservação do meio ambiente. De acordo com a proposta, a dedução será de até 10% do imposto devido.

O deputado Homero Pereira considera que “além de promover a preservação ambiental, a iniciativa vai fomentar a geração de empregos e renda”. O desconto não exclui e nem reduz outros benefícios, abatimentos e benefícios em vigor hoje.

Conforme o projeto, o direito à dedução deverá ser previamente reconhecido pela Delegacia da Receita Federal da jurisdição do contribuinte. A Receita ficará encarregada de fiscalizar a aplicação do incentivo fiscal.

O contribuinte que efetuar as deduções será responsável por irregularidades resultantes dos projetos executados. Na hipótese de fraude ou desvio de recursos, o projeto estabelece que será aplicada multa ao contribuinte, correspondente ao dobro do valor da vantagem recebida.

Tramitação
O PL 7224/10 está apensado ao PL 5974/05, que já foi aprovado nas comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. A proposta, que tramita em urgênciaRegime de tramitação que dispensa prazos e formalidades regimentais, para que a proposição seja votada rapidamente. Nesse regime, os projetos tramitam simultaneamente nas comissões - e não em uma cada de vez, como na tramitação normal. Para tramitar nesse regime é preciso a aprovação, pelo Plenário, de requerimento apresentado por: 1/3 dos deputados; líderes que representem esse número ou 2/3 dos integrantes de uma das comissões que avaliarão a proposta. Alguns projetos já tramitam automaticamente em regime de urgência, como os que tratam de acordos internacionais., agora será analisada pelo Plenário.

Íntegra da proposta:

Entre o homem e a natureza

Dilema entre preservação e desenvolvimento é constante na história brasileira

Por Carlos Haag, da Fapesp online


Queimada: problemas desde a colônia

O projeto do novo Código Florestal, aprovado em agosto pela comissão especial da Câmara dos Deputados, deverá ser votado no Congresso após as eleições, sob críticas de cientistas e ambientalistas, para os quais a sua homologação causará impactos graves na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos em razão das reduções significativas nas áreas de preservação permanentes (APP) e da anistia a desmatamentos feitos até 2008.

A polêmica ambiental mais recente tem raízes antigas: o dilema entre preservação da natureza e desenvolvimento econômico é tema de discussões no país desde os tempos da colônia. Um pouco posterior é a dificuldade de se fazer uma parceria entre Estado e sociedade para uma solução equilibrada. “No Brasil há um padrão histórico: as preocupações com o meio ambiente, em geral, resultaram da atuação de grupos de cientistas, intelectuais e funcionários públicos que, por meio de suas inserções no Executivo, procuraram influenciar as decisões dos governantes em favor da valorização da natureza”, explica o historiador José Luiz de Andrade Franco, da Universidade de Brasília, autor de Proteção à natureza e identidade nacional no Brasil (Fiocruz). “Por isso, o andamento das políticas de proteção à natureza sempre dependeu mais de ligações com governos e apenas secundariamente do eco que as pessoas preocupadas com as questões ambientais alcançam na sociedade”, avalia.

Foi assim com o Código Florestal original, criado em 1934 por Getúlio Vargas, fruto de articulações de um grupo de pesquisadores do Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ), que, usando a sua influência junto a círculos do poder, defendeu a intervenção de um Estado forte para garantir, por meio de leis, o equilíbrio entre progresso e patrimônio natural. A legislação, que colocava limites ao direito de propriedade em nome da conservação, protegendo áreas florestais, foi revista em 1965 durante a ditadura militar. Pela primeira vez o código será revisto em uma sociedade democrática e aberta ao debate com a opinião pública.

Colheremos melhores frutos do que no passado? “Os protetores da natureza dos anos 1920-1940, que geraram a legislação, eram a favor de um Estado forte, mas tinham propostas de transformação social e ambiental bastante renovadoras. Os conservacionistas dos anos 1960-1980 não estavam na vanguarda do questionamento político do regime militar, mas tinham preocupações com a natureza ainda muito distantes do itinerário político das esquerdas”, lembra Franco. “Hoje os ambientalistas mais preocupados com as questões sociais têm uma postura bastante antropocêntrica, deixando, muitas vezes, as questões urgentíssimas da biodiversidade na sombra.” Segundo o pesquisador, sociedade e Estado, no Brasil, ainda são hegemonicamente desenvolvimentistas.

“O sucesso a médio e longo prazo do ambientalismo está na sua capacidade de reverter essa disposição de promover o crescimento econômico a qualquer custo.” Para o pesquisador, não é de estranhar que esses protetores da natureza do passado tenham sido quase esquecidos na corrente forte do desenvolvimentismo que prevaleceu no país da década de 1940 em diante. “Surpreende, sim, que eles tenham sido esquecidos pelos ambientalistas brasileiros, ‘científicos’ e ‘sociais’, que, a partir dos anos 1980, emergiram como atores relevantes na ciência, no ativismo, na mídia e nos movimentos sociais.”

Franco chama esses protetores de “a segunda geração de conservacionistas” brasileiros, intelectuais que, entre os anos 1920 e 1940, cobraram do Executivo a manutenção de um vínculo orgânico entre natureza e sociedade, porque, afirmavam, defender a natureza era uma forma de construir a nossa nacionalidade. Eram, na sua maioria, cientistas do MNRJ: Alberto José Sampaio (1881-1946), Armando Magalhães Correa (1889-1944), Cândido de Mello Leitão (1886-1948) e Carlos Frederico Hoehne (1882-1959). A tendência desses círculos intelectuais, como característico na história ambiental nacional, foi integrar-se ao Estado para reclamar das autoridades um comportamento mais racional dos agentes econômicos privados. “Havia entre eles a convicção de sua responsabilidade na construção da identidade nacional e na organização das instituições do Estado”, observa Franco.

A série de códigos ambientais decretados pelo governo Vargas, somada à criação dos primeiros parques nacionais, indica o relativo sucesso alcançado por eles. “Eles acreditavam que a intervenção autoritária de Vargas iria resolver os conflitos e a competição injusta. A partir disso, pensavam, um novo homem se ligaria à natureza e aos outros homens”, analisa a historiadora Regina Horta Duarte, da Universidade Federal de Minas Gerais, autora do artigo “Pássaros e cientistas no Brasil”. Para colocar em prática suas teorias eles criaram sociedades públicas para proteção da natureza: Sociedade dos Amigos das Árvores, Sociedade dos Amigos do Museu Nacional, Sociedade dos Amigos da Flora Brasílica, entre outras.

A iniciativa mais ambiciosa dessas organizações foi a Primeira Conferência Brasileira de Proteção à Natureza, realizada em 1934, com o apoio do regime varguista, que acabara de criar o Código Florestal, o Código de Caça e Pesca e a Lei sobre Expedições Científicas. A Constituição de 1934 também incluía um artigo sobre o papel dos governos federal e estaduais na proteção das “belezas naturais”. O ciclo de palestras foi aberto com a leitura de “Natureza”, do poeta alemão Goethe. “Uma evidência da importância dada pelos participantes à percepção estética do mundo natural. Por essa visão, a natureza deveria ser admirada, cuidada e transformada num jardim”, conta Franco. “Essa influência romântica, porém, nunca descartou a possibilidade do uso econômico da natureza e a necessidade de renovar fontes esgotadas sempre era lembrada. Além de ser um ‘jardim’, o mundo natural era percebido como indústria.

Daí as várias propostas da criação de ‘berçários de árvores’, que eram, ao mesmo tempo, jardins e áreas de produção de madeira em larga escala.” Os organizadores da conferência estavam atualizados sobre a ação dos protetores da natureza de outros países. Conheciam a fundo a experiência americana e o debate entre os preservacionistas de John Muir, que defendiam a contemplação estética da natureza, e os conservacionistas liderados por Guif­ford Pinchot, que acreditavam na exploração racional de recursos naturais. As duas correntes ganharam seu espaço na Presidência de Theodore Roosevelt (1901-1909), o que resultou no crescimento do Parque Yosemite e na criação de várias reservas e mais cinco novos parques nacionais.

Mas o que dividia os americanos era consenso no Brasil e não havia ingenuidade no grupo, apesar da combinação que faziam de romantismo, ciência e nacionalismo. “Naquele momento, os conceitos de proteção, conservação e preservação eram intercambiáveis. Para os cientistas, a natureza deveria ser protegida, tanto como conjunto de recursos produtivos a ser explorado racionalmente pelas gerações futuras, quanto como diversidade biológica, objeto de ciência e contemplação estética.” Argumentos utilitários coexistiam em harmonia com estéticos, e tudo era parte de um projeto maior da união entre natureza e nacionalidade. “As metáforas que eles usaram para representar a sociedade brasileira convergiam com as imagens do ideário político varguista”, nota Franco. “Essa forma de proteger a natureza estava em sintonia com o projeto de Estado corporativista de Vargas e essa convergência ajudou a elevar o status institucional adquirido por um número de propostas relacionadas à proteção ambiental e ao controle público e privado dos recursos naturais”, analisa o pesquisador.

“Antes da revolução de 1930, a descentralização política fortaleceu o controle das elites regionais, incentivando a exploração extrema de recursos naturais. A destruição das florestas era agravada pelas ferrovias que, na definição de Euclides da Cunha, eram ‘fazedoras de desertos’”, observa o historiador José Augusto Pádua, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (Zahar).

Devastação: preço do atraso, e não do progresso
Em 1915, o jurista e filósofo Alberto Torres (1865-1917) alertou para a situação: “Os brasileiros são, todos, estrangeiros em sua terra, a qual não aprendem a explorar sem destruir”. “Ele foi o primeiro brasileiro a usar o termo conservação como se empregava nos EUA, incluindo-o na sua proposta de uma nova Constituição. Suas ideias iram influenciar os cientistas do MNRJ”, observa Franco. Apesar do prestígio de intelectuais como Torres, as ações políticas concretas foram nulas. “Mesmo com o apoio do presidente Epitácio Pessoa, que confessava o seu incômodo pelo fato de o Brasil ser o único país de grandes florestas sem um Código Florestal, a legislação continuou omissa”, lembra Pádua.

É possível, então, imaginar o impacto da ação dos protetores da natureza quando, poucos anos depois do código e poucos meses antes da nova Constituição de 1937, que elevou os bens naturais à categoria de patrimônio público, foi decretada a criação do Parque Nacional de Itatiaia. A ditadura estado-novista iria criar, até 1939, mais outros dois parques: o da Serra dos Órgãos, no Rio, e o do Iguaçu, no Paraná.

“Mas nos anos seguintes a ação governamental para a preservação mostraria seus limites claros, com orçamentos ínfimos para órgãos florestais, precariedade da fiscalização e ausência de uma participação efetiva da sociedade civil. A fundação de parques nacionais não privilegiou ecossistemas de grande biodiversidade, mas áreas próximas a centros urbanos, como Itatiaia ou serra dos Órgãos, ou estratégicas, como Iguaçu”, nota Regina Horta. “A preservação patrimonial era realmente importante nos projetos do governo Vargas. Mas, além de seu simbolismo cultural e político, a natureza, para além dos parques, era principalmente vista como fonte de riquezas exploráveis para o desenvolvimento econômico, e os projetos industrializantes ganharam o comprometimento do Estado Novo.”

"A ideologia do crescimento a qualquer custo sempre retirou a importância dos temas ambientais. Só hoje temos uma situação potencialmente nova, em que a união entre um Estado poderoso e uma esfera pública mais dinâmica pode criar uma verdadeira política de gestão sustentável da natureza”, nota Pádua. Segundo o pesquisador, há uma continuidade dos problemas ambientais desde a colônia, como queimadas, desflorestamento e degradação dos solos e das águas, mas, ao mesmo tempo, houve muita reflexão sobre essas questões, desde o século XVIII. Basta lembrar que em 1876 o engenheiro e líder abolicionista André Rebouças já pedia a criação de parques nacionais, pois “a geração atual não pode fazer melhor doação às gerações vindouras do que reservar intactas, livres do ferro e do fogo, as belas ilhas do Araguaia e do Paraná”.

Para Rebouças, a razão do descaso com a natureza era a escravidão, hipótese também defendida pelo abolicionista Joaquim Nabuco, para quem era preciso o uso econômico racional da natureza brasileira. “Eles procuraram estabelecer uma relação causal entre escravismo e práticas predatórias. A combinação entre a abundância de trabalho cativo, barato, e uma fronteira aberta para a ocupação de novas terras teria estimulado uma ação extensiva e descuidada na produção rural, baseada no avanço das queimadas, deixando terras degradadas e abandonadas”, explica Pádua. Para esses intelectuais, a devastação ambiental não era o “preço do progresso”, mas o “preço do atraso”, resultado da permanência de práticas rudimentares de exploração da terra.

Nisso ambos eram herdeiros da preocupação ambiental iluminista de José Bonifácio, um fisiocrata egresso da Universidade de Coimbra, a primeira instituição, já no século XVIII, a formar intelectuais que refutavam a exploração descuidada dos recursos naturais da colônia. “Destruir matos virgens, nos quais a natureza ofertou com mão pródiga as mais preciosas madeiras do mundo, e sem causa, como se tem praticado no Brasil, é extravagância insofrível, crime horrendo e grande insulto. Que defesa produziremos no tribunal da Razão quando os nossos netos nos acusarem de fatos tão culposos?”, escreveu o futuro Patriarca da Independência em 1819. “É preciso lembrar a riqueza do debate intelectual sobre temas ecológicos no país; e em alguns momentos, como no século XIX, ele foi um dos mais intensos do mundo, apesar da pobreza dos resultados. O que ‘relativiza’ o papel dos EUA e da Europa na gênese da preocupação ambiental moderna”, explica Pádua.

A análise da história ambiental transforma a contribuição dos intelectuais dos séculos XIX e meados do XX em algo surpreendentemente atual. “Eles não eram ambientalistas no sentido moderno, mas in­cluíam os temas da destruição do mundo natural no debate sobre o futuro do país como um todo, relacionando-os com traços estruturais da sociedade, como, por exemplo, o escravismo. Guardadas as diferenças de contexto, é disso que precisamos hoje: incluir a dimensão ambiental no centro do debate sobre o futuro do Brasil e da humanidade.” O Código Florestal do século XXI agradece as lições do passado.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Desafios das mudanças climáticas

Por Fabio Reynol, da Agência FAPESP

Em média, cada metro quadrado da superfície terrestre recebe 342 watts de energia em forma de radiação solar. Desse montante, estima-se que 1,66 watt fique no solo e contribua para tornar o planeta mais quente.

Os dados foram calculados por meio do conceito da forçante radiativa, uma das contribuições da física ao problema do aquecimento global, segundo apresentação do físico Paulo Artaxo durante o fórum “Mudanças Climáticas Globais – Desafios e oportunidades de pesquisa”, realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) nos dias 14 e 15 de outubro.

Artaxo, que é professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), apresentou os aspectos físicos presentes nessas mudanças. “Essa é uma área de pesquisa muito dinâmica e na qual a cada semana são publicados em torno de sete artigos científicos”, disse.

Além de acompanhar a produção na área, outro desafio é a complexidade dos dados envolvidos. O resultado, segundo Artaxo, é que o quadro geral mundial com relação às mudanças climáticas é ainda pouco preciso ou, então, é formado por um mosaico de conhecimentos fragmentados os quais, ainda que precisos, apresentam pouca conexão entre eles.

Mesmo com essas limitações, Artaxo estima ser possível concluir que a ação humana tem causado sérios impactos sobre o planeta, a ponto de alguns pesquisadores proporem chamar a era contemporânea de Antropocênica, na qual a atividade humana teria suplantado a da natureza na modificação do planeta.

“Já ultrapassamos a capacidade de regeneração do planeta em três áreas: na razão da perda da biodiversidade, nas alterações do ciclo do nitrogênio e nas mudanças climáticas”, destacou o também membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU).

Na mesma mesa, Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador executivo do PFPMCG, falou sobre o impacto das mudanças climáticas na Amazônia.

A contribuição do Brasil nas mudanças climáticas ocorre principalmente nas emissões de dióxido de carbono (CO2) por queimadas na região amazônica, que contribuem com 56% das emissões brasileiras. Elas são seguidas pela atividade agropecuária (24% das emissões) e pelos meios de transporte e geração de energia (12%).

Segundo Nobre, o Brasil está em uma posição privilegiada por conseguir reduzir as emissões com a diminuição das queimadas. “A China, por exemplo, não conseguirá cortar as emissões sem afetar seu produto interno bruto. O Brasil não sofreria esse mesmo efeito em sua economia”, disse.

Outra boa notícia é que as queimadas brasileiras têm diminuído nos últimos anos. Enquanto em 2004 o país emitiu cerca de 900 toneladas de CO2 na atmosfera dessa forma, em 2008 o total caiu para 500 toneladas.

Nobre, que também integra o IPCC, apresentou resultados de pesquisas que simulam a recuperação vegetal que ocorreria caso a Floresta Amazônica fosse totalmente devastada.

As simulações apontam o índice de 40% como limite de devastação para que a cobertura vegetal não sofra uma degradação irreversível. Nesse ponto, o Cerrado se misturaria à Floresta Amazônica, descaracterizando boa parte desse bioma, em processo chamado de savanização da floresta.

Outro limite importante para que a Amazônia seja preservada, de acordo com Nobre, está relacionado à temperatura global, que não poderia se elevar em mais do que 3ºC. Acima disso, a floresta estaria seriamente ameaçada, conforme indicam vários modelos climáticos.

Nobre ainda apontou a necessidade de se avançar em mais experimentos que envolvam florestas tropicais. “As informações de que dispomos sobre a influência do aumento de carbono na cobertura vegetal são de florestas temperadas”, disse.

Em experimentos realizados no hemisfério Norte, descobriu-se que o aumento na concentração de carbono na atmosfera é capaz de elevar em até 25% a capacidade dos vegetais em fixar material orgânico, o que aceleraria o seu crescimento e poderia compensar a falta de outros recursos. “No entanto, não podemos dizer que isso também vale para a Floresta Amazônica, pois não temos estudos sobre o tema”, disse.

Para o cientista, apenas uma parte da preservação da floresta passa por questões de políticas públicas. “Podemos reduzir as queimadas, mas não temos controle sozinhos sobre o aumento da temperatura global. Se a temperatura aumentar em mais de 5º C, as florestas tropicais estarão em grande risco”, afirmou.

Homenagem a Daniel Hogan
O fórum “Mudanças Climáticas Globais” também contou com uma homenagem ao demógrafo Daniel Hogan, morto em abril. Professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, Hogan se dedicou nos últimos anos ao estudo de mudanças climáticas e de centros urbanos.

"Tive o privilégio de trabalhar com o professor Daniel, que participou de forma intensa da vida universitária. Ele marcou de uma maneira importante os docentes de todas as unidades de pesquisa da Unicamp”, disse o reitor da Unicamp, Fernando Costa, durante cerimônia que contou com a presença de vários ex-colegas de trabalho de Hogan.

Hogan foi pró-reitor de Pós-Graduação da Unicamp de 2002 a 2005 e teve vasta produção científica na área de demografia. Atuou junto aos Núcleos de Estudos da População (Nepo) e de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam), centros de pesquisa que ajudou a criar.

Nascido nos Estados Unidos, Hogan graduou-se em 1964 em letras pela universidade Le Moyne College e fez mestrado em sociologia do desenvolvimento (1968) e doutorado em sociologia e demografia (1974), ambos pela Universidade Cornell.

Hogan ministrou na Unicamp aulas nos cursos de pós-graduação de demografia, de ambiente e sociedade e de geografia. Suas atividades de pesquisa se concentraram nas relações entre dinâmica demográfica e mudança ambiental, focando também as dimensões humanas das mudanças ambientais globais. Ele também integrou a coordenação do PFPMCG.

Cientistas debatem florestas e saúde pública

Por Fábio de Castro da Agência FAPESP 

O conhecimento científico é fundamental para que a humanidade possa avançar em relação a dois dos principais desafios contemporâneos: a conservação dos ecossistemas florestais e o aprimoramento das políticas públicas de saúde.

Esse foi o mote do debate realizado por especialistas em torno dos dois temas nesta quinta-feira (14/10), durante o Seminário Internacional Ciências Florestais, Medicina Preventiva e Saúde Pública, em São Paulo, promovido pela FAPESP e pela Fundação Bunge.

O evento fez parte das atividades do 55º Prêmio Fundação Bunge e do 31º Prêmio Fundação Bunge Juventude. Cada um deles foi concedido a pesquisadores que atuam nas áreas de “Ciências Florestais” e “Medicina Preventiva e Saúde Pública”. O seminário contou com apresentações dos quatro pesquisadores brasileiros premiados, além de dois convidados estrangeiros.

No tema das Ciências Florestais, Niro Higuchi, da Coordenação de Silvicultura Tropical do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), foi o vencedor na categoria “Vida e Obra”, enquanto Alexandre Fadigas de Souza, professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), ganhou na categoria “Juventude”.

Na área de Medicina Preventiva e Saúde Pública, Isaias Raw, presidente do Conselho Técnico-Científico da Fundação Butantan, ganhou o prêmio na categoria “Vida e Obra” e Guilherme de Sousa Ribeiro, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), recebeu o prêmio na categoria “Juventude”.

Além de diploma e medalha, os agraciados na categoria “Vida e Obra” receberam R$ 100 mil e os contemplados em “Juventude” foram premiados com R$ 40 mil. A cerimônia de premiação foi realizada na quarta-feira (13/10), na Sala São Paulo, na capital paulista.

A programação do seminário contou ainda com apresentações de Jean-Paul Laclau, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), da França, e de Sergio Sosa-Estani, chefe da unidade de epidemiologia do Centro Nacional de Diagnóstico e Pesquisa do Ministério da Saúde da Argentina.

Na abertura do evento, Celso Lafer, presidente da FAPESP, ressaltou que o seminário, organizado em torno dos temas que foram objetos das pesquisas, foi concebido para ampliar o significado da premiação.

“A ideia de aproveitar a premiação para organizar um seminário sobre aquilo que configura a identidade intelectual dos vencedores é uma oportunidade de dar sequência àquela que é uma das missões da FAPESP, além de respaldar e apoiar a pesquisa: divulgar os resultados das atividades de pesquisa e o conhecimento, estimulando assim o seu avanço”, disse.

Lafer destacou também que os dois temas escolhidos para a premiação correspondem a áreas nas quais o Brasil tem grande necessidade de avanços científicos.

“Ciências Florestais é fundamental no capítulo da sustentabilidade. A medicina preventiva, por outro lado, também é um assunto da maior relevância, e, por isso, a FAPESP despende um volume maior de recursos para a área de saúde lato sensu. O Brasil tem uma clara consciência dessas necessidades”, afirmou.

Jacques Marcovitch, presidente do Conselho Administrativo da Fundação Bunge, situou os temas entre os principais desafios brasileiros no contexto global.

“Esse contexto é marcado por três grandes crises: a crise financeira e econômica, a crise do meio ambiente e da sustentabilidade e a crise de segurança internacional, com a proliferação de armamentos nucleares”, disse.

Segundo ele, além dos três planos as discussões que precederam a escolha dos temas da premiação e do seminário também identificaram três convicções nacionais.

“O Brasil está convicto de que pode e deve erradicar a miséria, tomar responsabilidade sobre seu próprio território e se tornar um ator central no plano mundial. Tanto as três crises como as três convicções se constituem em oportunidades para a nossa juventude. Temos muito a fazer, por isso é importante discutir o conhecimento que está em construção”, afirmou.

Novas ferramentas
Fadigas de Souza falou em sua apresentação no seminário sobre a importância do desenvolvimento de novas ferramentas matemáticas aplicadas à ecologia de populações vegetais, que permitem a elaboração de previsões numéricas e quantitativas sobre o comportamento futuro desses organismos.

“Temos utilizado ferramentas geoestatísticas para compreender a distribuição espacial das plantas, em associação com os chamados modelos matriciais, para compreender a dinâmica temporal das florestas. São ferramentas muito úteis que permitem descrever muito melhor o que está ocorrendo na natureza”, disse à Agência FAPESP.

O pesquisador, que teve contato com essas ferramentas durante seu doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), atualmente aplica as mesmas abordagens em estudos sobre a floresta de araucárias, no Rio Grande do Sul.

“Esses estudos poderão se tornar muito mais precisos quando passarmos a utilizar modelos baseados em indivíduos. Com eles, poderemos simular nos computadores o que ocorrerá com cada indivíduo em uma população vegetal. Com o uso de abordagens cada vez mais sofisticadas, poderemos compreender o funcionamento de toda a floresta – o que terá um impacto incalculável nas possibilidades de manejo ambiental”, disse.

Os modelos baseados em indivíduos já existem no hemisfério Norte, segundo Fadigas de Souza, mas os cientistas brasileiros terão um longo trabalho pela frente se quiserem adaptá-los para aplicação nas florestas locais.

“No hemisfério Norte há florestas enormes com apenas cinco ou seis espécies vegetais. As nossas florestas muitas vezes têm 300 espécies, e isso contando somente as árvores. O desafio é fazer modelos sofisticados rodarem com tantas espécies. Esse é o trabalho que temos pela frente”, afirmou.

Quando a adaptação tiver sido concluída, os pesquisadores brasileiros poderão responder questões cruciais a respeito da dinâmica florestal, segundo o professor da Unisinos. “Saberemos, por exemplo, se o extrativismo sustentável é viável e qual é a estabilidade da composição de espécies em florestas nativas”, disse.

Higuchi falou no seminário sobre o desafio de compreender o papel da Floresta Amazônica no processo de mudanças climáticas globais. Segundo ele, o aspecto central das pesquisas com esse objetivo consiste em desenvolver métodos para calcular a quantidade de carbono disponível na floresta – seja ele estocado, sequestrado, fixado ou emitido pelo desmatamento.

“O volume de madeira é uma das variáveis mais importantes a se considerar. Calculando com precisão esse volume, podemos avaliar qual é o estoque de carbono disponível. Mas o grande desafio, além de medir o estoque e compreender os processos de fixação de carbono na floresta, consiste em saber qual é a magnitude das trocas de carbono entre a floresta e a atmosfera”, apontou.

O método utilizado pelo grupo de Higuchi no Inpa para fazer essa avaliação se baseia em uma equação matemática que relaciona algumas variáveis das árvores, como o diâmetro e a altura, com a biomassa. Para fazer as medidas, é preciso derrubar, serrar e pesar as árvores.

“Estudamos 1.527 árvores que variam de 5 quilos a 30 mil quilos. Medimos o teor de água nas diferentes partes de cada uma delas, para determinar o peso seco da árvore e avaliar a quantidade de carbono. De uma peça de madeira seca, 48,5% é carbono. A partir desses dados, fizemos um inventário florestal e concluímos que o estoque na Amazônia é de uma média de 160 toneladas de carbono por hectare por ano”, disse.

O grupo do Inpa descreveu uma série de fenômenos climáticos que têm atingido a região amazônica, enfatizando a necessidade de estudos sobre a dinâmica da troca de carbono entre floresta e atmosfera.

“Todos se lembram da grande seca de outubro de 2005 como um marco dos impactos das mudanças climáticas globais sobre a Amazônia. Mas poucos se lembram de um fenômeno extremo de chuvas convectivas ocorridas entre 16 e 18 de janeiro de 2004, que atingiu toda a região. Estudamos o resultado desse fenômeno atípico sobre a floresta na nossa área experimental de pesquisa e ele foi devastador, equivalente a um corte raso”, disse.

As chuvas convectivas causaram a morte de 500 milhões de árvores naquele mês, segundo Higuchi. O grupo iniciou o trabalho de campo em 2006 e em 2010 publicou na revista Geophysical Research Letter um artigo descrevendo o novo fenômeno.

“Outro fenômeno singular ocorreu em 2009, quando tivemos um recorde de cheias da Amazônia. Tratava-se do chamado ‘El Niño Modoki’. Em vez de ocorrer no Natal, como o El Niño, esse fenômeno teve início em julho de 2009, com pico em outubro e terminou só em julho de 2010”, disse.

Doença socioeconômica
Guilherme de Sousa Ribeiro falou a respeito de seus estudos sobre a dinâmica de transmissão da leptospirose urbana e seu impacto na saúde pública. De acordo com o cientista, a doença tem uma profunda correlação com a desigualdade social, com alta incidência em áreas sem infraestrutura adequada em relação a saneamento e moradia. A maior parte dos casos da doença, segundo ele, são subclínicos – isto é, não apresentam sintomas.

“A partir de 1995 começamos a fazer um trabalho de vigilância ativa em Salvador e identificamos cerca de 2,7 mil casos de leptospirose grave no período que vai de 1996 a 2009. Verificamos verdadeiras epidemias anuais, fortemente correlacionadas ao índice pluviométrico da cidade. A doença aparecia sempre nas áreas mais pobres da cidade, com incidência de 6 casos por 100 mil habitantes. A letalidade é de 13% e, na forma hemorrágica pulmonar, chega a 77%”, disse.

O grupo realizou, entre 2004 e 2006, um estudo de seguimento de coorte (estudo observacional com classificação de acordo com o estado de exposição para avaliar a incidência de uma doença) na comunidade de Pau da Lima, em Salvador. No início o estudo incluiu mais de 2 mil pessoas, caindo a 1.264 indivíduos no fim do período. Houve 102 casos de infecção.

“Em 2009, fizemos um trabalho de vigilância populacional na única unidade de saúde situada em toda a área da comunidade, que tem 62 mil habitantes. Qualquer paciente com febre referida era examinado para verificar se tinha a doença. Entre janeiro e dezembro, 6,5 mil pacientes foram registrados com síndrome febril aguda. Desse total, 1.239 foram estudados. No total, 13 pessoas – cerca de 1% da amostra – tiveram diagnóstico confirmado para leptospirose”, afirmou.

A partir de estudos de coorte baseados em diferentes metodologias, os pesquisadores estimam que a cada caso grave da doença devem ocorrer cinco casos leves e 112 casos subclínicos.

“Com o uso de modelos aditivos generalizados, vimos que o risco de infecção aumenta à medida que os domicílios se localizam em locais mais próximos dos fundos de vale. Aumenta também em proporção inversa à renda domiciliar per capita. E aumenta ainda em relação à proximidade entre as casas e o esgoto a céu aberto”, disse.

Sofisticação tecnológica
Isaias Raw apresentou um quadro geral das atividades do Instituto Butantan no desenvolvimento de tecnologia e na produção de imunobiológicos. Segundo ele, o instituto paulista está cada vez mais concentrando suas atividades na área de pesquisa básica.

As vacinas são distribuídas pelo Ministério da Saúde. Raw enfatizou as qualidades desse modelo de desenvolvimento, produção e distribuição de vacinas.

“É uma situação muito diferente e muito melhor que a de outros países. A Índia, por exemplo, tem uma imensa indústria de biotecnologia e de vacinas, mas não vacina ninguém e continua sendo um repositório de diversas doenças. Isso ocorre porque, naquele país, o governo não se articula com a indústria. A produção de vacinas é um negócio lucrativo que compete no mercado global e a população continua sem acesso à vacinação”, afirmou.

Embora o instituto se dedique à pesquisa básica, segundo Raw, os seus laboratórios buscam encontrar soluções tecnológicas que permitam viabilizar uma produção suficiente para cobrir a totalidade da demanda nacional. Segundo Raw, esse modelo levou a uma sofisticação tecnológica que não tem paralelo em nenhuma instituição pública.

“A fábrica de vacina de influenza e a fábrica de hemoderivados – que será a mais moderna do mundo em termos de tecnologia – são exemplos de sucesso desse modelo. Grande parte dos países usa um modelo que se baseia em comprar a vacina pronta, formular e vender. Mas o verdadeiro desenvolvimento é feito em poucos lugares do planeta. Há basicamente cinco companhias que dominam a produção mundial de vacinas – e elas não perdoam os países que querem ser autossuficientes”, afirmou.

Raw destacou o avanço conquistado na produção da vacina contra coqueluche, desenvolvida no instituto. Segundo ele, as vacinas seguras contra coqueluche custam 50 vezes mais que as vacinas normais – como a que era utilizada no Japão, causando a morte de muitas crianças vacinadas.

“Pesquisamos e chegamos a uma tecnologia que se baseava na remoção de um componente que causa o processo inflamatório – um lipopolissacarídeo. Quando conseguimos removê-lo, pudemos desenvolver uma vacina mais eficiente e mais barata do que a original. O componente removido foi usado para a produção de adjuvantes para a fábrica de vacina contra influenza. Hoje, somos autossuficientes também na produção de adjuvantes”, disse.

Mais informações: www.fapesp.br/fundacaobunge2010

Encontro discute redução de emissões na agricultura brasileira

Na última sexta-feira (8/10), em São Paulo, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) realizaram nova reunião para discutir como o setor agropecuário irá se comportar sob a nova demanda mundial por produtos de baixo carbono.

Este encontro, continuidade de outras reuniões e discussões, teve o setor privado, público e sociedade civil organizada unidos para discutir metas e meios de se diminuir os impactos ambientais da produção de alimentos (agricultura e pecuária) sem diminuir a produtividade.

O analista de Projetos Especiais da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Victor Salviati, participante do último encontro, destaca que esta discussão é relevante por dois motivos principais. “O Brasil é um dos países que mais produz e exporta commodities agrícolas no mundo e o (esperado) pioneirismo do Brasil nas discussões climáticas internacionais com relação às ações ligadas à mudança do uso do solo, como por exemplo, desmatamento para produção de grãos e criação de gado”, afirma.

Para ele, esse cenário apresenta duas oportunidades distintas, mas complementares: quebrar o paradigma que a produção agrícola tem que estar ligada ao desmatamento e ao impacto negativo no meio ambiente; e mudança da lógica econômica para valorizar a floresta em pé.

O evento, ao longo do dia, teve em seu formato palestras e fóruns de discussões com o objetivo de fomentar e incentivar o debate dos temas apresentados. Com isso, foi possível reunir diversos dados e estratégias de baixo carbono a serem aplicados à agropecuária.

Podem ser citados como destaque: o investimento sólido e planejado em infraestrutura para escoar a produção e interligar centros produtores aos compradores, diminuindo custos e as respectivas emissões oriundas do transporte; treinar o agricultor sob a luz das novas técnicas e práticas de baixo carbono fazendo uma ponte entre o setor produtivo e a Academia; fortalecer os agricultores que seguem práticas e técnicas sustentáveis valorizando seus respectivos produtos estabelecendo políticas de incentivos; criar metodologias e estabelecer outras para mensurar e monitorar tais avanços; e incentivar iniciativas de conservação de biodiversidade e produção sustentável. Neste último caso, o REDD+ pode ser citado como exemplo, já que há a conservação do ecossistema mais o incremento do estoque de carbono via manejo florestal.

“Graças a este evento e as discussões que se seguem, o Brasil poderá se posicionar ao mundo como um País que preza tanto pelos fatores socioeconômicos (produtividade) quanto pelos ambientais (conservação da biodiversidade). Antes do Brasil ser o celeiro do mundo, somos o País que possui mais espécies de plantas e animais que qualquer outro lugar no planeta, e isso não pode ser esquecido”, destaca Salviati.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Após eleições, bancada ruralista no Congresso sofre desfalques de quase 40%

Por Guilherme Barros do IG

Depois que os votos foram computados em urnas de todo o País, um dos segmentos mais representativos da nossa economia, o agronegócio, sentiu um bom baque no contingente de parlamentares votados para honrar o setor no Congresso Nacional. Dos 241 deputados federais e senadores que compõem hoje a Frente Parlamentar da Agropecuária, a chamada bancada ruralista, apenas 147 foram reeleitos: um desfalque de 38,6%.

Dos 94 congressistas que ficaram de fora da próxima legislatura, 15 não se candidataram, três faleceram antes do fim do mandato, e para fechar a conta, 76 não conseguiram voltar ao palco das decisões macropolíticas.

Para o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, Abelardo Lupion (DEM-PR), o que importa são os coordenadores da bancada, que são os líderes de seus partidos ou representantes regionais dos produtores do campo.

“Dos 18 coordenadores, só perdemos dois: os deputados do PMDB, Silas Brasileiro (MG) e Valdir Colato (SC). Mas isso não é problema, pois muitos dos parlamentares de primeiro mandato são produtores rurais e potenciais integrantes da bancada.” Segundo o deputado federal, 95% dos componentes da bancada ruralista são empresários do agronegócio.

Para Lupion, esse setor da economia, que hoje responde por 40% do PIB nacional, vem se politizando muito e os produtores, principalmente os pequenos, entenderam que precisam votar em políticos da bancada ruralista. O deputado enumera o novo Código Florestal, o endividamento agrícola e o seguro de renda familiar como os principais desafios desse grupo nos próximos quatro anos.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

FAS e Imazon capacitam rede de monitores do desmatamento nas reservas

Convênio entre as instituições estabelece que o desmatamento nas UC´s do Bolsa Floresta será monitorado através do sensoriamento remoto e também em atividades de campo

Por Monick Maciel, da Fundação Amazonas Sustentável

O Imazon capacitou membros da equipe da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) em introdução a geotecnologia com o intuito de utilizar uma ferramenta de coleta de dados para validar o monitoramento do desmatamento dentro das unidades de conservação atendidas pelo Programa Bolsa Floresta.


O treinamento foi realizado na comunidade do Tumbiras, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro (Iranduba/AM), durante os dias 2 e 3 deste mês. O coordenador de Geoprocessamento de Dados da FAS, Rafael Valente, explica que a iniciativa faz parte de um convênio entre FAS e Imazon, no qual está estabelecido que o desmatamento nas UC´s do Bolsa Floresta será monitorado através do sensoriamento remoto e também em atividades de campo.

“Nós estamos fazendo a classificação do desmatamento através da avaliação das imagens de satélite, utilizando o conhecimento do Imazon e indo a campo com a equipe da FAS para validar o que vemos através das imagens de satélite”, afirma Valente.

Esse foi o primeiro treinamento. A partir dele, funcionários da FAS receberão um equipamento de coleta de dados com o sistema operacional “andróide” (Google), que funciona através de telefonia celular. Os dados coletados em campo serão repassados pela equipe, através da internet, para alimentar a base de dados do PBF corrigindo possíveis imperfeições das imagens de satélites.

De acordo com Rafael Valente, o Imazon tem essa produção desenvolvida em Paragominas (PA), com o cadastro rural das propriedades do município. O que promoveu resultados na redução do desmatamento muito positivos.

No total, 16 pessoas participaram do treinamento. Além de membros da equipe da FAS, quatro pessoas do Centro Estadual de Unidades de Conservação (Ceuc), responsável pela gestão das unidades de conservação, também foram capacitados. Além do comunitário Roberto Brito, presidente da comunidade do Tumbiras. O técnico do Imazon responsável foi Eron Martins.

Para Rafael Valete, a parceria entre FAS e Imazon aumenta a sensibilidade do monitoramento das imagens de satélite, porque sairá do Prodes (sistema via satélite) e vai para uma resolução mais compatível com a realidade ribeirinha. “Teremos um retorno do campo com uma agilidade muito grande, sempre verificando se os dados estão em conformidade com os satélites, vamos conhecer melhor a dinâmica da realidade da reserva”, ressalta.

O coordenador da FAS na regional Solimões, Rosival Dias, afirma que com a capacitação do Imazon, a equipe da FAS está mais preparada e compreendendo melhor como funciona a dinâmica do monitoramento. “O investimento que a FAS está fazendo na capacitação da equipe e em equipamento vão nos emponderar para o monitoramento do desmatamento, assim como de outras atividades da FAS, inclusive os investimentos, já que o questionário é bem completo”, diz.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Abertas as inscrições para a especialização em Divulgação e Jornalismo Científico em Saúde na Amazônia

Por Ana Paula Gioia, da Assessoria de Comunciação - ILMD/Fiocruz

Oferecer formação profissional e acadêmica na área de divulgação e do Jornalismo Científico em Saúde na Amazônia, capacitar para os processos gerais e técnicas, e aprofundar a reflexão sobre a divulgação e o jornalismo científico em saúde, com particular ênfase no contexto Amazônico.

Estes são os objetivos do curso de especialização em Divulgação e Jornalismo Científico em Saúde na Amazônia que será oferecido em Manaus, através da parceria entre o Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz AM) e o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz RJ), com o apoio Fundação de Amparo à Pesquisa no Amazonas (Fapeam).

Serão oferecidas 24 vagas destinadas a profissionais com formação em comunicação social e áreas afins, em especial jornalistas atuantes na mídia local e assessores de comunicação das Instituições de Pesquisa e Ensino Superior do Amazonas. As inscrições ocorrerão no período de 4 a 22 de outubro deste ano.

A seleção dos candidatos ocorrerá nos dias 25, 26 e 27 de outubro e envolverá a análise da documentação do candidato e entrevista.

O curso será desenvolvido em regime presencial no município de Manaus e terá carga horária total de 400 horas/aula, em períodos de uma semana de concentração, nos turnos da manhã e tarde.

Para se inscrever e obter mais informações acesse o Instrumento de Seleção Pública disponível neste link.

Conferência Internacional da Rede Waterlat

Da Agência FAPESP

Entre os dias 25 e 27 de outubro, o Memorial da América Latina em São Paulo (SP) receberá a Conferência Internacional da Rede Waterlat voltada a pesquisas sobre governabilidade e cidadania relacionadas à gestão da água e da saúde ambiental na América Latina e Caribe.

O evento será organizado pela Escola de Geografia, Ciência Política e Sociologia da Universidade de Newcastle no Reino Unido, pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e pelo Centro de Estudos Brasileiros para América Latina da Fundação Memorial.

A conferência será organizada em torno de três temas centrais: “A tensão entre justiça ambiental e justiça social da gestão da água”, “Conflitos ecológicos distributivos relacionados à água” e “Confrontando a vulnerabilidade e indefensabilidade social relacionadas às ameaças hídricas”.

Durante os três dias serão trabalhados três temas transversais: “Geopolítica da água, gestão de águas transfronteiriças”, “Grandes obras de infraestrutura hídrica” e “Riscos, ameaças hídricas e vulnerabilidade”.

O Memorial da América Latina fica na avenida Auro Soares de Moura Andrade, 664, São Paulo (SP), próximo à estação Barra Funda do metrô.

Mais informações: www.waterlat.org/pt/Chamada.html ou waterlat@ncl.ac.uk.

Instituições discutem qualidade ambiental do Rio Japaratuba

Por Saulo Coelho, da Embrapa

A Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE) realiza na quarta-feira( 6 ) , a ‘Oficina para Avaliação da Qualidade Ambiental da Bacia do Rio Japaratuba’. Promovido em parceria com a Universidade Federal de Sergipe – UFS, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos – Semarh e o Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe – ITPS, o encontro terá a participação de representantes das instituições parcerias e membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Japaratuba – CBHJ.

A oficina inicia às 8 horas e se estende até o final da tarde, na Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB) de Capela, no Leste Sergipano. A iniciativa integra as ações do projeto ‘Aplicação de ferramentas de geoprocessamento e de modelagem matemática na avaliação dos impactos ambientais decorrentes das atividades antrópicas na Bacia do Rio Japaratuba, em Sergipe’. O projeto foi aprovado pelo sistema nacional de editais da Embrapa e iniciado em abril de 2010, com duração de dois anos.

O objetivo principal da ação é avaliar os impactos sobre os recursos hídricos, decorrentes das atividades relacionadas ao uso da terra na bacia do Rio Japaratuba. A ferramenta científica utilizada será a modelagem matemática associada a Sistemas de Informações Geográficas – SIGs.

A ideia da oficina é envolver os atores sociais das comunidades ligadas à bacia do rio Japaratuba no processo de levantamento de informações sobre a qualidade ambiental. Os aspectos mais importantes a ser analisados são os recursos hídricos e o solo. As discussões serão feitas em grupos de trabalho, utilizando-se recursos da metodologia de Planejamento Estratégico-Participativo (PEP).

Mais Informações: sac@cpatc.embrapa.br

China calls on rich nations to improve emission targets

Hosts of latest round of UN climate talks say emission reduction goals of developed countries must be focus of negotiations

Por Jonathan Watts , do The Guardian


China today called on wealthy nations to dramatically increase the rate at which they plan to cut their carbon emissions at international climate negotiations in Tianjin.

The more forthright rhetoric from the hosts broaches a crucial topic that has been notable mainly by its absence at the talks, which began yesterday.

"The emissions reductions goals of developed countries should be dramatically increased," said China's chief negotiator, Su Wei. "We can't discuss other elements and not discuss emissions reductions. It's unavoidable."

Many delegates at this week's working-level negotiations would prefer to leave to a later date this divisive - but fundamental - issue.

Following the disappointment of the Copenhagen climate talks last December, the UN's climate chief, Christiana Figueres, has called on participants this week to focus on achievable goals.

The most likely progress is in the least contentious areas - forestry, finance and technology. If countries can narrow their differences on these issues, they may be able to sign a limited agreement at higher-level talks in Cancún later in the year.

This "balanced package" - as it is vaguely referred to - would include the commitments that countries made last year to reduce greenhouse gas emissions, but critics warn that such a deal can only serve as a band-aid.

"One of the main things here is management of expectations. They are dangerously low," said Li Yan of Greenpeace. "If countries settle for low ambitions, it will become a self-fulfilling prophecy in Cancún."

Scientists and environmental groups warn that existing pledges are far from sufficient to reach the Copenhagen accord goal of keeping global warming within 2C by 2050.

Small island states, which are most at risk from rising sea levels, want to push quickly for a higher target, but in the interests of compromise, they announced in Tianjin that they would be willing to wait until Cancún - or even next year's meeting in South Africa - to secure an agreement.

But patience is limited. China - keen to show leadership among developing nations - said rich countries had to make deeper cuts. "We believe it is a positive thing that they have put forward these targets, but they are certainly still far from the expectations of developing countries and the requirements of science," said Su.

Europe, in turn, wants China to make a bolder long-term commitment about when its own emissions will peak. Jiang Kejun, director of China's leading climate thinktank, the Energy Research Institute, said it would have to come in 2025 if China is to do its share of work in keeping the global temperature rise within two degrees. "That will be technically very difficult for China," he said. "We may have to buy carbon credits." The government has yet to set a peak date.

Jiang, who is relatively optimistic among Chinese advisers, estimates that China's coal production may peak in 2015 at 3.4bn tonnes. But carbon may continue to rise due to gas and oil use. His institute is working on a new study looking at how China might reach the 2025 goal.

"The ball is now in the US court because China is already moving forward with aggressive measures to implement the targets they announced earlier as well as studying more aggressive scenarious," said Barbara Finamore, head of the China programme of the US-based Natural Resources Defense Council. "While China acts, the US is still debating. It's time to move forward."

China's emphasis on carbon reduction targets may be strategic. Any emphasis on emission reductions puts the onus on the United States, which has the world's greatest historic responsibility for greenhouse gases and one of the lowest targets for abating them. US delegates, by contrast, tend to press the issue of transparency, which puts China on the defensive. 

WWF-Brasil lança o movimento “Cuidar da natureza é cuidar da vida”

Depois de um mês colhendo contribuições da população, organização inicia movimento com o objetivo de chamar atenção para a relação entre conservação da natureza e qualidade de vida da população.

O WWF-Brasil lança hoje o movimento “Cuidar da natureza é cuidar da vida”, sobre a importância da conservação da biodiversidade, como um alerta às consequências que o descuido com a natureza pode provocar. Associada à meta do WWF-Brasil de contribuir para que a sociedade brasileira alcance o desmatamento zero até 2015, a iniciativa teve uma primeira etapa que, durante o mês de setembro, instigou a população a responder à pergunta “O que você precisa pra viver?”. Sem saber que o WWF-Brasil era o autor da campanha, foram enviadas respostas variadas. Hoje, ao lançar o movimento, a organização responde que “Para viver você precisa que a natureza também viva” e apresenta uma lista com 10 áreas prioritárias para a criação de novas unidades de conservação na Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal.

Amor, amigos, sol, saúde e família foram as principais respostas da primeira etapa coletadas nas ruas, no Twitter, no Facebook e no Youtube. “A ausência da natureza nesse tipo de preocupação mostra a necessidade de valorização desse tema na opinião pública nacional”, afirma Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil. “Esse processo de conscientização sobre o papel que a biodiversidade tem na vida de todos nós é mais urgente do que nunca, pois não é exagero dizer que, vivemos uma crise de biodiversidade, que coloca em risco a nossa saúde e meios de subsistência. Podemos reverter essa situação, por isso a campanha pretende indicar soluções para a sociedade brasileira.”

A resposta “Para viver você precisa que a natureza também viva” sustenta sua argumentação na manutenção dos serviços ecológicos, como o equilíbrio climático e a prevenção e recuperação de desastres ambientais; no uso direto da biodiversidade, como os recursos naturais que fornecem remédios, fibras e combustíveis para a garantia do nosso bem-estar; na segurança de estoques de alimentos naturais como peixes, frutas e verduras; e no uso público, pois as áreas protegidas também podem ser fonte de lazer e aprendizado. Sem esquecer os benefícios econômicos, pois a biodiversidade é um recurso do qual dependem famílias, comunidades e gerações futuras.

A campanha de comunicação integrada foi criada pela agência Repense, e incluí ações on-line, com foco nas mídias sociais, propaganda e ações de mobilização urbana que serão implementadas nos próximos meses. Grandes empresas também aderiram à primeira etapa do movimento, apoiando a disseminação da mensagem.

O Walmart Brasil veiculou a vinheta “O que você precisa para viver?” em quatro mil televisores em suas lojas por meio de seu canal TV Walmart; o Yazigi divulga em sua rede que conta com 420 escolas; a Seguros Unimed espalhou peças da campanha por sua comunicação interna; e os hotéis da rede Sol Meliá em Brasília prepararam uma comunicação especial para engajar os hóspedes no movimento, com cartazes nos elevadores e cartões-postais na recepção.

A indústria farmacêutica Boehringer Ingelheim programou a distribuição de cartões postais da campanha e sementes para o público do Edifício Rochaverá, o primeiro empreendimento greenbuilding de São Paulo.

WWF-Brasil propõe a criação de unidades de conservação em 10 áreas prioritárias
Em tempos relativamente recentes, o mundo começou a perder espécies e habitats a uma velocidade alarmante. Na área de farmacologia, a estimativa é que entre 50 mil e 70 mil espécies vegetais sejam fontes de ativos para uso na medicina tradicional e moderna em todo o mundo. A poluição, o uso excessivo dos recursos naturais e a expansão urbana e industrial levam muitas espécies à extinção. A cada ano, aproximadamente 17 milhões de hectares de floresta tropical são desmatados. Avaliações sugerem que, se esse ritmo se mantiver, entre 5% e 10% das espécies que habitam as florestas tropicais poderão estar extintas dentro dos próximos 30 anos.

Por isso, uma ação diretamente ligada ao movimento é a proposta de criação de unidades de conservação em dez áreas prioritárias. Estes espaços instituídos pelo poder público terão a finalidade de conservar as características naturais relevantes em cada área. A lista criada pelo WWF-Brasil é uma sugestão para o governo brasileiro alcançar, ainda em 2010, as metas de cobertura natural protegida por unidades de conservação estabelecidas pela Convenção sobre Diversidade Biológica da Organização das Nações Unidas (CDB).

Os focos são a Reserva Extrativista Baixo Rio Branco – Jauaperi (Amazonas), o Parque Nacional dos Lavrados (Roraima), o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros (Goiás), o Parque Nacional Boqueirão da Onça (Bahia) e outras unidades no Cerrado do Amapá, no Tabuleiro do Embaubal (Pará), no Croa (Acre), no extremo Sudoeste do Pantanal e em Bertioga, São Paulo. No âmbito da CDB, o governo brasileiro se comprometeu a garantir a cobertura, por unidades de conservação, de 10% em cada bioma (conforme a área original) e de 30% na Amazônia. Hoje, somando todas as unidades existentes no País, ainda resta proteger aproximadamente 2,5% do território nacional em área terrestre e 8,5% em área marinha.

Saiba mais: www.wwf.org.br/cuidardanatureza

Contatos:
Maristela Pessôa: 61-3364-7464 - maristela@wwf.org.br
Gabriela Davies: 21-3535-8330 – gabriela.davies@cdn.com.br
Anna Catharina Siqueira: 21-3535-8361 – anna.catharina@cdn.com.br

Fonte: WWF Brasil

Biofotônica aplicada ao controle ambiental

Método detecta contaminação fecal e acompanha crescimento de coliformes

Por Jeverson Barbieri, do Jornal da Unicamp

Estudo conduzido na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) em parceria com a Faculdade de Tecnologia (FT), de Limeira, ambas da Unicamp, permitiu ao tecnólogo em saneamento ambiental Samuel Santos desenvolver um método capaz de detectar contaminação fecal e acompanhar o crescimento de coliformes em meio nutritivo, em tempo real, em amostras de água. O método utiliza os conceitos da biofotônica, com medidas da emissão espontânea de luz por seres vivos.

O termo biofóton é usado para denotar a emissão espontânea de fótons provenientes de todos os sistemas vivos com comprimentos de onda variando de 260 a 800 nm e intimamente relacionados com as condições metabólicas dos organismos. Os biofótons se relacionam também com a luminescência retardada (delayed luminescence), que reflete o comportamento do sistema biológico em termos da reemissão de luz ultrafraca após a excitação por fonte luminosa. Esta emissão espontânea de fótons é influenciada pela temperatura e pelas funções biológicas como a permeabilidade seletiva da membrana celular e as reações bioquímicas refletindo diretamente no comportamento biofotônico.

A partir da construção de dois protótipos – câmaras escuras acopladas à válvulas foto-multiplicadoras (sensor capaz de contar fótons de luz no espectro visível) – foram feitas medidas de emissão espontânea nas amostras estudadas. A partir do momento que se iniciam as medidas de fotoemissão na amostra, dados significativos já começam a aparecer nas primeiras seis horas, em contraste às 24 horas dos testes-padrão atuais para detecção e quantificação da presença/ausência de coliformes. Essa redução de tempo, de acordo com o coordenador do Laboratório de Fotônica Aplicada (LaFA) da FT, professor Cristiano de Mello Gallep, implica numa rapidez de tomada de decisão a respeito do tipo de tratamento de um efluente, além da diminuição da quantidade de material utilizado e de pessoal envolvido. O trabalho de Santos resultou na sua dissertação de mestrado orientada pelo professor José Euclides Stipp Paterniani, da Feagri.

Em outra frente de trabalho do grupo, encabeçada pelo aluno Thiago Moraes, como explicou Gallep, são usadas medidas de emissão espontânea em testes de germinação de trigo. Aqui também a ideia é reduzir a quantidade de material e fazer uma análise semi-objetiva que, comparada com ensaios controle, torna possível detectar se uma solução é mais ou menos estressante.

Basicamente, o que é feito é a colocação de amostra biológica dentro da câmara para medir sua emissão espontânea de luz. “Dessa maneira foi possível estudar a relação das condições de germinação com a intensidade dessa emissão, e também com os períodos, os ritmos naturais envolvidos”, disse Gallep. Para as sementes, foi possível observar crescimento com períodos de 6, 12 e 24 horas, e também como esses ciclos se modificam quando há estresse, tanto na utilização de soluções de esgoto ou produzidas em laboratório, como, por exemplo, sais de metais pesados.

Santos contou que, para a pesquisa do seu mestrado, foram feitos ensaios com três meios de cultura. O primero, que é conhecido como meio P/A (presença/ausência); o segundo, substrato cromogênico – disponível e encontrado no mercado, muito simples de ser usado; e o terceiro é o meio EC, específico para crescimento de E.coli, uma bactéria que é indicadora de poluição por contaminação fecal. A idéia desenvolvida foi correlacionar as medidas biofotônicas com o crescimento dessa bactéria.

Com uma cepa fornecida pelo Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, foram feitos ensaios controle positivo e negativo e, depois, ensaios com amostras reais, coletadas na estação de tratamento de esgoto da Feagri. Os resultados finais demonstraram que o crescimento dos coliformes pode ser acompanhado por emissão de luz. Com isso, pode-se correlacionar também com a qualidade do tratamento de esgoto: à medida que há redução da quantidade de coliformes, os patamares de emissão de luzes começam a variar, e isso pode ser acompanhado em tempo real.

Alguns meios de cultura utilizados atualmente, seja para a análise de pre­sença/ausência ou a quantificação de coliformes, levam em conta características como, por exemplo, a acidificação, mudança de cor, fermentação e formação de gás. Essas características só podem ser confirmadas depois de pelo menos 12 horas de ensaio. O intuito do mestrado foi conseguir acompanhar, via ensaios biofotônicos, as correlações com essas características do crescimento e desenvolvimento bacteriano. Uma vez que se sabe que todo ser vivo emite luz, e essa luz está intimamente relacionada com o seu metabolismo, à medida que se incuba uma amostra de água num meio nutritivo para crescimento de bactérias é possível acompanhar o seu crescimento através da emissão de luz.

Foi possível mostrar que o crescimento de micro-organismos típicos de efluentes sanitários, quando incubados em meios de cultura utiliza­dos tradicionalmente nos laboratórios de microbiologia e estação de tratamento de água, pode ser acompanhado em tempo real via detecção de luz ultra-fraca, não havendo, portanto, a necessidade de se se esperar 24 horas para saber se há coliformes numa amostra de água.

Órgãos
Na avaliação de Santos, principalmente os órgãos de controle ambiental se interessariam no desenvolvimento dessa técnica. No caso das sementes, outra aplicação é a avaliação de fertilizantes ou mesmo reutilização de resíduos do tratamento de esgoto com esse fim, facilitando o estudo da melhor diluição de modo a não estressar as plantas. É necessário encontrar uma relação entre a utilização do composto e o crescimento do vegetal, de modo a não estressar as plantas. Os resultados da iniciação científica do Samuel mostraram que uma solução de esgoto de 5% a 10% é adubo, porém depois disso ela se torna mais deletéria do que fertilizante.

Aplicações de técnicas biofotônicas podem ser de grande utilidade no estudo da aplicação de resíduos urbanos na agricultura e no monitoramento ambiental ambiental, como no tratamento de resíduos pelas próprias indústrias. Existe uma demanda para que as in­dústrias tenham seu próprio controle de resíduos, de forma que o governo não precisaria ficar fiscalizando a qualidade de efluentes continuamente.

Atualmente, por causa dos custos envolvidos, isso ainda não é realidade. “Se conseguirmos desenvolver uma técnica barata e rápida, que a empresa possa aplicar diariamen­te, sem dúvida facilitaria a expansão dos usos dos procedimentos de controle necessários”, acrescentou o coordenador.

Sobre os protótipos, Gallep esclareceu que existem alguns modelos comerciais, porém com alto custo. “O nosso protótipo é genérico e bem grande; porém, o próximo a ser construído deverá ser menor e mais dedicado aos tipos de experimentos desenvolvidos pelo grupo”, disse. O objetivo é, também, comprar um modelo japonês desenvolvido para controle ambiental utilizando algas como organismo-teste. Nesse equipamento, cujo procedimento utiliza excitação prévia com fonte luminosa externa, o teste dura poucos segundos e consegue detectar a ação deletéria de vários estressantes químicos presentes na água. A idéia é ter um equipamento portátil, para ser levado a campo para coletar amostras e ter os resultados in-loco.

O gargalo dessa aquisição está no valor do equipamen­to. “Enquanto os japoneses cobram US$ 35 mil por um modelo, gastamos cerca de US$ 12 mil para a construção dos nossos dois protótipos”, afirmou.

Já pensando no doutorado, Santos revelou que o trabalho ruma agora para área aplicada à parasitologia ambiental. A portaria 518 do Ministério da Saúde (MS) apresenta um parágrafo que versa sobre a verificação da presença de cistos e oocistos de protozoários em estações de tratamento de água, mais especificamente oocistos de Cryptosporidium e cistos Giardia, que são considerados hoje micro-organismos emergentes. Só que um dos problemas é sobre a sua detecção.

Atualmente, as técnicas disponíveis para detectar esses organismos se valem da isolação destes parasitos em amostras por processos físico-químicos e, com o uso de anticorpos monoclonais, a quantificação é efetuada com uso de microscopia de fluorescência que inclui como etapa do processo a visualização dos cistos e oocistos através da reação de imunofluorescência direta. Trata-se um processo demorado, ex­tremamente caro e que não detecta a infectividade do parasito. Detecta-se apenas a presença deste numa amostra, porém, sem saber se ele está infectante.

Atualmente, um dos métodos utilizados para testes de infectividade, é a incubação em hospedeiros – modelos animais – como o camundongo. Desde a coleta no manancial até a etapa de isolação e confirmação de infectividade, o período de observação pode chegar a semanas. A ideia do doutorado é eliminar a etapa de administração em camundongo, porque a partir do mo­mento que se sabe que há correlação entre emissão de luz e metabolismo é possível inferir que esse protozoário detectado esteja metabolicamente ati­vo. Portanto, existe a probabilidade de estar infectante, mas que do ponto de vista sanitarista, um micro-organismo patogênico capaz de comprometer a saúde pública, estando metabolicamen­te ativo há a necessidade de eliminá-lo com o uso de técnicas de desinfecção.

Publicação
Dissertação de mestrado “Biofotônica Aplicada ao Monitoramento Microbiológico de Efluentes Sanitários”
Autor: Samuel Ricardo dos Santos
Orientador: José Euclides Stipp Paterniani
Coorientador: Cristiano de Mello Gallep
Unidade: Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri)
Fonte de financiamento: CNPq