terça-feira, 31 de agosto de 2010

Pirarucu: o gigante das águas doces


O comprimento do pirarucu adulto costuma variar de 2 a 3 metros, e o peso, de 100 a 200 Kg



Por WWF-Brasil

O pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do planeta. Nativo da Amazônia, ele promove benefícios para o ecossistema e comunidades que vivem da pesca. Seu nome vem de dois termos indígenas pira, "peixe", e urucum, "vermelho", devido à cor de sua cauda.

Por ser um peixe de grandes dimensões, o comprimento quando adulto costuma variar de dois a três metros, e o peso, de 100 a 200 kg. Possui dois aparelhos respiratórios, as brânquias, para a respiração aquática, e a bexiga natatória modificada, especializada para funcionar como pulmão na respiração aérea.

A espécie vive em lagos e rios afluentes, de águas claras, com temperaturas que variam de 24° a 37°C. O pirarucu não é encontrado em lugares com fortes correntezas ou em águas com sedimentos.

O pirarucu é um animal onívoro, pois se alimenta de seres animais e vegetais. Na alimentação do peixe, podemos encontrar frutas, vermes, insetos, moluscos, crustáceos, peixes, anfíbios, répteis e até mesmo aves aquáticas.

Durante a seca, os peixes formam casais. Nesse período, o pirarucu macho aumenta a intensidade da coloração avermelhada nos flancos. Antes da fêmea depositar os ovos no leito do rio, o macho faz a limpeza da área e arranca com as mandíbulas raízes e galhos presentes no local escolhido. Em seguida cava uma poça circular, onde a fêmea inicia a desova, para que seu companheiro possa fecundar os ovos. Durante a incubação, a fêmea permanece mais próxima do ninho, enquanto o macho nada nas redondezas para intimidar predadores que possam trazer perigo aos ovos. Os ovos eclodem após oito a 10 dias.

O pirarucu chega ao mercado em mantas, depois de passar por processo de salga ao sol. É conhecido também como o bacalhau da Amazônia devido ao sabor e qualidade da carne, quase sem espinhos.

Risco de extinção
Com o aumento da pesca comercial nas últimas décadas, os estoques pesqueiros vêm sofrendo uma pressão cada vez mais intensa. Isso gera impacto nas populações das principais espécies comerciais, como o pirarucu.

A espécie corre risco de extinção devido à pesca predatória praticada ao longo de muitos anos. A reprodução natural do peixe é insuficiente para repor o número de pirarucus pescados. A exploração não sustentável fez com que o Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - criasse em 2004 uma Instrução Normativa que regulamenta a pesca do pirarucu na Amazônia, proibindo-a em alguns meses do ano e estabelecendo tamanhos mínimos para pesca e comercialização da espécie.

Manejo sustentável
Um dos esforços para evitar que a espécie desaparecesse foi a implantação de projetos para o manejo do pirarucu. Um exemplo de iniciativa para assegurar a sustentabilidade da atividade pesqueira é um projeto coordenado pelo Governo do Acre e WWF-Brasil, com apoio do Ibama e da colônia de pescadores local, no município acreano de Manoel Urbano, onde a espécie estava ameaçada pela pesca excessiva.

O projeto consiste em treinar e capacitar pescadores para manejar o pirarucu de forma ambientalmente adequada, assegurando a sobrevivência da espécie e a viabilidade econômica da atividade pesqueira.

Os principais resultados diretos são o aumento da produtividade dos lagos, o crescimento da produção de pirarucu nos lagos manejados, o repovoamento, com casais da espécie em lagos onde o peixe havia desaparecido e o consequente aumento da renda dos pescadores.

Anualmente, a comunidade local organiza a Feira do Pirarucu Manejado. No evento, pescadores comercializam alimentos e objetos artesanais feitos a partir da espécie, atraindo turistas para Manoel Urbano e gerando receita.

Mapeamento de peixes contra fraudes

Por Michelly Rosa, da Agência UFRJ de notícias

Laboratório da UFRJ identifica DNA de pescado brasileiro e auxilia no combate a fraudes no comércio e na pesca

Você confia na autenticidade do peixe que leva para casa? Como saber se houve ou não troca de espécies?

O Laboratório de Biodiversidade Molecular do Instituto de Biologia da UFRJ desenvolveu através da Rede Nacional de Identificação Molecular de Peixes (Renimp) um método para identificar o pescado que pode dar mais segurança ao consumidor e indicar possíveis erros ou fraudes na comercialização e importação de peixes no Brasil.

O projeto, coordenado pelo professor Antonio Mateo Solé-Cava, diretor do Instituto de Biologia da UFRJ, identifica o pescado através do sequenciamento e armazenamento das informações genéticas de 165 espécies, que representam mais de 95% de pescado comercializadas no Brasil. “O objetivo é criar uma ‘biblioteca’ de DNA para identificação do pescado mais rápida e eficiente”, explica o professor.

A ideia de um instrumento de identificação do pescado através de DNA surge com a vontade do laboratório em desenvolver uma pesquisa aplicada e com os recorrentes casos de erros de rotulagem e fraudes em mercados e feiras de peixe.

“Você via em feiras a troca do peixe namorado pelo peixe batata (espécie muito mais barata e parecida). Em muitos supermercados se comercializavam outros tipos de peixe salgado no lugar de Bacalhau e até o atum em lata foi trocado por outra espécie”, revela Antonio.

Ainda de acordo com o biólogo, a grande vantagem em usar o DNA como instrumento de análise é a possibilidade de identificar peixes mesmo após o processamento, como no caso dos filés, postas e enlatados.

A Renimp, que conta com apoio do Ministério da Pesca, junto ao Ministério da Agricultura e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), é composta por três fases. A primeira, com início em setembro de 2009, e ainda em andamento, se baseia no sequenciamento do DNA das espécies. “O processo é demorado, pois de cada espécie foram coletadas 20 amostras para dois genes diferentes, ou seja, são mais de 6 mil sequências a serem computadas e armazenadas”, afirma Antonio Solé.

A segunda etapa é a construção de uma rede descentralizada da Renimp, com polos regionais e cursos de formação para atender às demandas locais de identificação de pescado. “O processo de identificação ainda está muito concentrado na UFRJ. Nós já temos a parceria da Universidade Federal do Pará (UFPA) no mapeamento da Região Norte e pretendemos abrir polos na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e na Embrapa.”

Já a terceira etapa, com previsão para 2012, almeja a criação de kits de identificação rápida para espécies com mais recorrência em fraudes. Segundo o pesquisador, os kits são mais baratos e mais práticos que o processo atual, em torno de 20 reais por análise.

Sociedade, pesquisa e comércio beneficiados
A possibilidade de fiscalização mais rápida e fácil do comércio e pesca traz uma lista de benefícios não só ao governo, como também ao comércio, à população e ao mundo acadêmico. Segundo Solé, a partir do momento em que o comércio descobre que existe a fiscalização, haverá a mudança de comportamento por medo de punição.

Além disso, o comerciante brasileiro garante que o produto importado é de qualidade e a exportação também se beneficia por se adequar à necessidade de certificação de origem exigida por consumidores da Europa, por exemplo, o que agrega valor ao produto brasileiro no comércio exterior.

Outro ponto positivo do projeto é o auxílio na proteção de espécies ameaçadas e controle da pesca ilegal. “Há um problema grande da pesca ilegal que é a comercialização de pescado da natureza em períodos proibidos, como se fossem espécies criada em fazendas. A identificação do pescado facilita o controle do período exato de proteção da pesca.”

A área de pesquisa da universidade, a partir do projeto, ganha também uma experiência construtiva, ou seja, desenvolve experimentos que podem ser aplicados imediatamente no meio social.

Para Antonio Solé, essa interação dos alunos com a sociedade gerou a possibilidade de associação com a cadeia produtiva e adaptou os pesquisadores do laboratório a seguir protocolos mais rígidos durante suas pesquisas, compatíveis com procedimentos jurídicos peculiares a esse tipo de análises.

“Essa atividade de extensão significa promoção da UFRJ, melhor formação dos alunos e benefício para a sociedade como um todo”, analisa o professor.

Mestrado de Engenharia Ambiental

O Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental comunica aos interessados que, no período de 01 de setembro a 08 de outubrode 2010, estarão abertas as inscrições para a seleção dos candidatos ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental, Curso de Mestrado, Área de Concentração em Saneamento Ambiental : Controle da Poluição Urbana e Industrial, para turma com início em 2011/1º semestre.

O Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental, Área de Concentração em Saneamento Ambiental : Controle da Poluição Urbana e Industrial, estrutura-se em torno de 4 (quatro) Linhas de Pesquisa, a saber:

a) Controle de Efluentes Líquidos e Emissões Atmosféricas;

b) Gestão Sustentável dos Recursos Hídricos;

c) Saúde Ambiental e Trabalho;

d) Tratamento e Destino Final de Resíduos Sólidos.

Serão oferecidas até 36 (trinta e seis) vagas para o curso de mestrado, destinadas a portadores de diploma de Graduação Plena em Engenharia, Arquitetura, Agronomia, além de profissionais da área de Ciências Biológicas, Química, Física, Geologia, Oceanografia, Geografia, Desenho Industrial, Matemática, Estatística, Informática, Medicina, Enfermagem e Tecnologia Ambiental (Graduação Plena), com diploma reconhecido pelo Conselho Nacional de Educação.

As vagas serão distribuídas segundo as linhas de pesquisa abaixo discriminadas:

a) Controle de Efluentes Líquidos e Emissões Atmosféricas: 10 (dez) vagas;

b) Gestão Sustentável dos Recursos Hídricos: 11 (onze) vagas;

c) Saúde Ambiental e Trabalho: 5 (cinco) vagas;

d) Tratamento e Destino Final de Resíduos Sólidos: 10 (dez) vagas.
 
Clique aqui para ver o Edital e demais informações da seleção 2011.

Ibama aprova manejo sustentável de madeira e óleo de copaíba na floresta do Jamari

O Ibama concluiu a análise do Inventário Florestal e do Planos Operacionais Anuais (POA) referente às concessões de Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS), na Floresta Nacional de Jamari, em Rondônia.

Foi aprovada a exploração de 66.267m³ de madeira, de 37.107m³ de resíduos florestais, e de cerca de 500 litros de óleo de copaíba nos 2.800 hectares de efetiva exploração prevista no ano de 2010 para as três concessionárias envolvidas no processo.

Segundo os laudos dos analistas ambientais da diretoria de Uso Sustentável de Biodiversidade e Florestas do Ibama (DBFlo), a intensidade de corte gira em torno de 25m³ por hectare, no caso de uma das concessionárias, será explorada 2,5 árvores por hectare.

O grupo de analistas também vistoriou uma das guaritas que está sendo construídas no interior das áreas de manejo das empresas para abrigar as operações de controle e monitoramento das atividades.

Ao fim dos procedimentos administrativos, que incluem a homologação do POA 2010 pelo Superintendente do Ibama no estado de Rondônia, a Autorização de Exploração será emitida por aquela Superintendência.

O diretor da DBFlo, Américo Tunes, declarou que a aprovação do POA, seguindo todos os critérios técnicos , “consiste na busca da sustentabilidade especialmente no que se refere à oferta de madeira legal no mercado, cujo incremento deverá propiciar um esvaziamento na cadeia à exploração ilegal”.

Fonte: DBFlo Ibama

Mato Grosso é o estado com maior número de focos de incêndio em agosto

Da Agência Brasil

Mato Grosso é o estado brasileiro com maior número de incêndios provocados pela baixa umidade e pelo tempo seco, que vêm atingindo grande parte do país. De acordo com monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), durante os dias 1º e 29 de agosto, foram registrados, apenas no estado, mais de 8 mil focos de incêndio, seguido do Pará com 5.772 e Tocantins com 4.355. O total de queimadas no Brasil ultrapassa 26 mil neste período.

A previsão é de que as queimadas permaneçam, uma vez que não há previsão de chuvas para os próximos dias nos estados mais atingidos pelo clima seco do país, como no Centro-Oeste e no norte de Minas Gerais.

Os estados com os menores índices de umidade relativa de ar são Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiás, Bahia, Piauí, Maranhão, Minas Gerais e o Distrito Federal.

Bjørn Lomborg: $100bn a year needed to fight climate change

From The Guardian

Exclusive 'Sceptical environmentalist' and critic of climate scientists to declare global warming a chief concern facing world
Danish professor Bjorn Lomborg. Photograph: Adrian Dennis/AFP/Getty Images

The world's most high-profile climate change sceptic is to declare that global warming is "undoubtedly one of the chief concerns facing the world today" and "a challenge humanity must confront", in an apparent U-turn that will give a huge boost to the embattled environmental lobby.

Bjørn Lomborg, the self-styled "sceptical environmentalist" once compared to Adolf Hitler by the UN's climate chief, is famous for attacking climate scientists, campaigners, the media and others for exaggerating the rate of global warming and its effects on humans, and the costly waste of policies to stop the problem.

But in a new book to be published next month, Lomborg will call for tens of billions of dollars a year to be invested in tackling climate change. "Investing $100bn annually would mean that we could essentially resolve the climate change problem by the end of this century," the book concludes.

Examining eight methods to reduce or stop global warming, Lomborg and his fellow economists recommend pouring money into researching and developing clean energy sources such as wind, wave, solar and nuclear power, and more work on climate engineering ideas such as "cloud whitening" to reflect the sun's heat back into the outer atmosphere.

In a Guardian interview, he said he would finance investment through a tax on carbon emissions that would also raise $50bn to mitigate the effect of climate change, for example by building better sea defences, and $100bn for global healthcare.

His declaration about the importance of action on climate change comes at a crucial point in the debate, with international efforts to agree a global deal on emissions stalled amid a resurgence in scepticism caused by rows over the reliability of the scientific evidence for global warming.

The fallout from those rows continued yesterday when Rajendra Pachauri, head of the UN Intergovernmental Panel on Climate Change, came under new pressure to step down after an independent review of the panel's work called for tighter term limits for its senior executives and greater transparency in its workings. The IPCC has come under fire in recent months following revelations of inaccuracies in the last assessment of global warming, provided to governments in 2007 – for which it won the Nobel peace prize with former the US vice-president Al Gore. The mistakes, including a claim that the Himalayan glaciers could melt by 2035, prompted a review of the IPCC's processes and procedures by the InterAcademy Council (IAC), an organisation of world science bodies.

The IAC said the IPCC needed to be as transparent as possible in how it worked, how it selected people to participate in assessments and its choice of scientific information to assess.


Although Pachauri once compared Lomborg to Hitler, he has now given an unlikely endorsement to the new book, Smart Solutions to Climate Change. In a quote for the launch, Pachauri said: "This book provides not only a reservoir of information on the reality of human-induced climate change, but raises vital questions and examines viable options on what can be done."

Lomborg denies he has performed a volte face, pointing out that even in his first book he accepted the existence of man-made global warming. "The point I've always been making is it's not the end of the world," he told the Guardian. "That's why we should be measuring up to what everybody else says, which is we should be spending our money well."

But he said the crucial turning point in his argument was the Copenhagen Consensus project, in which a group of economists were asked to consider how best to spend $50bn. The first results, in 2004, put global warming near the bottom of the list, arguing instead for policies such as fighting malaria and HIV/Aids. But a repeat analysis in 2008 included new ideas for reducing the temperature rise, some of which emerged about halfway up the ranking. Lomborg said he then decided to consider a much wider variety of policies to reduce global warming, "so it wouldn't end up at the bottom".

The difference was made by examining not just the dominant international policy to cut carbon emissions, but also seven other "solutions" including more investment in technology, climate engineering, and planting more trees and reducing soot and methane, also significant contributors to climate change, said Lomborg.

"If the world is going to spend hundreds of millions to treat climate, where could you get the most bang for your buck?" was the question posed, he added.After the analyses, five economists were asked to rank the 15 possible policies which emerged. Current policies to cut carbon emissions through taxes - of which Lomborg has long been critical - were ranked largely at the bottom of four of the lists. At the top were more direct public investment in research and development rather than spending money on low carbon energy now, and climate engineering.

Lomborg acknowledged trust was a problem when committing to long term R&D, but said politicians were already reneging on promises to cut emissions, and spending on R&D would be easier to monitor. Although many believe private companies are better at R&D than governments, Lomborg said low carbon energy was a special case comparable to massive public investment in computers from the 1950s, which later precpitated the commercial IT revolution.

Lomborg also admitted climate engineering could cause "really bad stuff" to happen, but argued if it could be a cheap and quick way to reduce the worst impacts of climate change and thus there was an "obligation to at least look at it".

He added: "This is not about 'we have all got to live with less, wear hair-shirts and cut our carbon emissions'. It's about technologies, about realising there's a vast array of solutions."

Despite his change of tack, however, Lomborg is likely to continue to have trenchant critics. Writing for today's Guardian, Howard Friel, author of the book The Lomborg Deception, said: "If Lomborg were really looking for smart solutions, he would push for an end to perpetual and brutal war, which diverts scarce resources from nearly everything that Lomborg legitimately says needs more money."
• This article was amended on 31st August 2010 to remove an accidental duplication of the quote from Rajendra Pachauri.

Mais que tradutores

Por Fábio de Castro, de Itatiba (SP), da Agência FAPESP

O jornalismo voltado para a cobertura de ciência foi um dos temas debatidos por especialistas em Itatiba (SP), diante de uma plateia composta por alguns dos mais proeminentes cientistas do Brasil e do Reino Unido em diferentes áreas do conhecimento.

O debate ocorreu durante o UK-Brazil Frontiers of Science Symposium, evento que terminou nesta segunda-feira (30/8) e integra o programa Fronteiras da Ciência da Royal Society. A instituição britânica – que comemora 350 anos – e a FAPESP organizaram o evento em parceria com o Consulado Britânico em São Paulo, a Academia Brasileira de Ciências, a Academia Chilena de Ciências e a Cooperação Reino Unido-Brasil em Ciência e Inovação.

Com base em seus estudos sobre jornalismo científico e a percepção pública da ciência, o sociólogo Yurij Castelfranchi defendeu que o envolvimento do público com o universo científico é importante para a sociedade e fundamental para a própria ciência. De acordo com o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Brasil tem atualmente um ambiente favorável para essa aproximação entre ciência e sociedade.

“Quando aprofundamos os estudos sobre o tema, nos surpreendemos ao descobrir que o apoio do público à ciência no Brasil é imenso. Cerca de 80% das pessoas têm uma atitude positiva em relação à ciência. Isso não quer dizer que as pessoas compreendam a ciência. A questão que nos interessa é como transformar essa ‘confiança ignorante’ na ciência e na tecnologia em conhecimento real”, disse.

Segundo ele, não se trata apenas de transmitir informação de forma autoritária, trazendo “a luz do conhecimento” para o público. A tarefa consiste em mostrar ao público, por meio de um jornalismo crítico, como a ciência funciona do ponto de vista político e epistemológico. O jornalista não seria um vulgarizador, mas “uma ponte entre dois mundos”.

“Se transmitirmos a ideia da ciência como uma máquina de invenções maravilhosas, tentando conquistar o interesse do público com uma brilhante lista de descobertas, o efeito pode ser o inverso do desejado. Isso equivale a apresentar a ciência como uma solução mágica. Não temos que fazer marketing da ciência, mas mostrar como ela é feita a partir de um ponto de vista crítico”, afirmou.

A jornalista Mariluce Moura, diretora da revista Pesquisa FAPESP apresentou uma análise da evolução do jornalismo científico no Brasil nas últimas décadas. Segundo ela, nos últimos dez anos, o foco da mídia brasileira sobre o conhecimento científico tem se acentuado de forma extraordinária. A própria revista, derivada do boletim Notícias FAPESP, lançado em 1995, teve um papel central nessa evolução.

“A Pesquisa FAPESP é um exemplo de sucesso em relação à cooperação entre cientistas e jornalistas. A revista se tornou muito próxima da comunidade científica paulista, estabelecendo uma relação de confiança”, disse.

Essa cooperação, segundo Mariluce, é exercida por um procedimento particular adotado na produção da revista: antes de chegar ao público, a informação apurada pelos jornalistas é, em geral, revisada pelos entrevistados.

“Pertencendo a uma instituição pública, normalmente enviamos o texto final para os pesquisadores. Entretanto, há uma recomendação expressa: eles podem corrigir todo tipo de informação científica, mas o texto é a nossa área de excelência. A noção estética e a ideia de produto jornalístico cabem ao profissional da área”, afirmou.

O britânico Tim Hirsch comentou as dificuldades do jornalismo científico e destacou as diferenças marcantes das experiências de divulgação da ciência no Brasil e no Reino Unido. Hirsch foi correspondente da área de meio ambiente da BBC News entre 1997 e 2006 e hoje atua no Brasil como consultor e jornalista independente.

Segundo ele, a interação entre os cientistas e os meios de comunicação de massa é bastante difícil. “Há uma área de cooperação, mas nem sempre isso é possível. O limite entre a informação científica responsável e a liberdade da comunicação não é nada fácil de estabelecer. Não há respostas fáceis nesse terreno. É preciso unir talento e coragem para traduzir um processo de expertise em uma linguagem que seja acessível ao grande público”, afirmou.

Para contornar essas dificuldades, a saída seria desenvolver um relacionamento de confiança entre cientistas e jornalistas. “No Brasil, parece-me, a autocrítica em relação à cobertura jornalística da ciência é muito severa. Há bastante preocupação com a tensão entre jornalistas e cientistas e com a qualidade do material publicado, mas o fato é que grande parte do noticiário é muito bom”, afirmou.

Comitê propõe mudanças fundamentais no funcionamento do IPCC

Entre as conclusões da análise sobre o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas estão que o IPCC precisa reformar sua estrutura gerencial, fortalecer procedimentos, ser mais transparente e destacar a base científica e até mesmo as discordâncias em seus relatórios (foto: Nasa)


Da Agência FAPESP 
Os processos empregados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) para produzir seus relatórios periódicos têm sido, de modo geral, bem sucedidos. Entretanto, o IPCC precisa reformar fundamentalmente sua estrutura gerencial e fortalecer seus procedimentos, para que possa lidar com avaliações climáticas cada vez mais complexas, bem como com uma intensa demanda pública a respeito dos efeitos das mudanças climáticas globais.

A conclusão é de um comitê independente de especialistas reunido pelo InterAcademy Council (IAC), organização que reúne academias de ciências de diversos países, e está em relatório entregue nesta segunda-feira (30/8), na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e ao presidente do conselho do IPCC, Rajendra Pachauri.

O relatório, intitulado Climate change assessments: review of the processes and procedures of the IPCC, foi produzido por 12 especialistas coordenados pelo economista Harold Shapiro, ex-reitor das universidades Princeton e de Michigan, nos Estados Unidos. Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, integra o comitê indicado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), uma das academias de ciência que aprovaram o relatório.

“O comitê fez recomendações sobre a governança do IPCC, funções e limites dos mandatos de dirigentes do painel e enfatizou o debate e a valorização de ideias contraditórias. A análise feita trata de como lidar com as incertezas e recomenda cuidado com a avaliação de impactos”, disse Brito Cruz.

A revisão do IPCC foi solicitada pelas Nações Unidas. O comitê revisou os procedimentos empregados pelo painel na preparação de seus relatórios. Entre os assuntos analisados estão o controle e a qualidade dos dados utilizados e a forma como os relatórios lidaram com diferentes pontos de vista científicos.

“Operar sob o foco do microscópio do público da forma como o IPCC faz exige liderança firme, a participação contínua e entusiástica de cientistas destacados, capacidade de adaptação e um comprometimento com a transparência”, disse Shapiro.

O IPCC foi estabelecido em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente com o objetivo de auxiliar na formulação de políticas públicas a partir da divulgação de relatórios sobre os aspectos científicos conhecidos sobre as mudanças climáticas, os impactos globais e regionais dessas mudanças e as alternativas de adaptação e mitigação.

Após a divulgação de seu primeiro relatório, em 1990, o IPCC passou a ganhar a atenção e o respeito do público, a ponto de ter sido premiado com o Nobel da Paz de 2007. No entanto, com a divulgação do relatório de 2007, o painel de especialistas passou a ser alvo de questionamentos a respeito de suas conclusões.

O crescente debate público sobre a acurácia dos relatórios levou a ONU a solicitar ao IAC uma revisão do IPCC e recomendações sobre como fortalecer os procedimentos e processos do painel para os próximos relatórios.

A análise do IAC faz diversas recomendações para que o IPCC melhore sua estrutura gerencial, entre as quais estabelecer um comitê executivo que atue em nome do painel e garanta a manutenção de sua capacidade de tomar decisões.

“Para aumentar sua credibilidade e a independência, esse comitê executivo deveria incluir especialistas externos, não ligados ao IPCC e nem mesmo à comunidade mundial dos cientistas climáticos”, disse Shapiro.

O IPCC também deveria ter um diretor executivo que liderasse o secretariado do painel. Esse diretor seria o responsável pelas operações diárias e falaria em nome do IPCC. Segundo a análise do IAC, o atual secretário do IPCC não tem os níveis de autonomia e responsabilidade equivalentes aos dos diretores executivos de outras organizações.

Os mandatos do presidente do conselho e do novo diretor executivo também deveriam ser menores do que os dos atuais coordenadores do IPCC, limitando-se ao período de produção e divulgação de cada relatório, de modo a manter a variedade de perspectivas e o frescor das abordagens em cada relatório – o mandato atual do presidente do conselho é de até 12 anos.

A análise do IAC também recomenda que o IPCC adote uma política rigorosa para evitar conflitos de interesse entre as lideranças do painel, autores, revisores e responsáveis pela publicação dos relatórios.

Para a produção de sua análise, o comitê de especialistas consultou não apenas o próprio IPCC, mas também pesquisadores de diversos países que participaram na produção dos relatórios, bem como cientistas que criticaram os procedimentos adotados pelo painel em suas conclusões.

O público em geral participou da avaliação, por meio de questionários publicados na internet. O comitê também realizou diversas reuniões, inclusive no Brasil, para chegar às suas considerações.

Abordagem de controvérsias
Como a análise do comitê de especialistas convocado pelo IAC foi solicitada em parte por problemas no mais recente relatório do IPCC, o comitê também examinou os processos de revisão adotados pelo painel.

A conclusão é que o processo é eficaz, mas o comitê sugere que os procedimentos de revisão empregados atualmente sejam fortalecidos de modo a minimizar o número de erros. Para isso, o IPCC deveria encorajar seus editores a exercer sua autoridade de modo que todas as conclusões fossem consideradas adequadamente.

Os editores também deveriam garantir que os relatórios abordem controvérsias genuínas e que a consideração devida seja dada a pontos de vista conflitantes e propriamente bem documentados. Os autores principais deveriam documentar explicitamente que a mais completa gama de abordagens científicas foi considerada.

O uso da chamada “literatura cinza” (de trabalhos científicos não publicados ou não revisados por pares) tem sido bastante discutido, mas a análise do IAC destaca que frequentemente tais fontes de dados e informações são relevantes e apropriadas para utilização nos relatórios do IPCC.

“O IPCC já tem uma norma sobre uso criterioso de fontes de informação sem revisão por pares. O relatório do comitê de revisão confirma que esse tipo de fonte pode ser usado, desde que sejam seguidas as normas estritas já existentes e que protegem a qualidade científica das conclusões”, disse Brito Cruz.

Os problemas ocorrem quando os autores não seguem as normas do painel para a avaliação de tais fontes ou porque tais normas são muito vagas. O comitê recomenda que as normas sejam revisadas de modo a se tornarem mais claras e específicas, principalmente na orientação de que dados do tipo sejam destacados nos relatórios.

O comitê também sugere que os três grupos de trabalho do IPCC sejam mais consistentes nos momentos de caracterizar as incertezas. No relatório de 2007, o comitê identificou que cada grupo usou uma variação diferente das normas do painel sobre incertezas e que as próprias normas não foram sempre seguidas.

O relatório do grupo de trabalho 2, por exemplo, continha conclusões consideradas como de “alta confiança”, mas para as quais havia pouca evidência. O comitê recomenda que os grupos de trabalho descrevam a quantidade de evidência disponível bem como as discordâncias entre os especialistas.

“O relatório do comitê sugere atenção para levar em consideração as diferentes opiniões baseadas em fatos com base científica e para considerar atentamente o uso da literatura científica revisada por pares em línguas que não a inglesa. A intenção é tornar o relatório o mais abrangente possível”, disse Brito Cruz.

A demora do IPCC em responder a críticas sobre as conclusões de seu relatório de 2007 faz da comunicação um assunto crítico para o painel, de acordo com o comitê de revisão.

Os 12 especialistas recomendam que o IPCC complete e implemente a estratégia de comunicação que está em desenvolvimento. Essa estratégia deve se pautar na transparência e incluir um plano de contingência para respostas rápidas e eficazes em momentos de crise.

Segundo o comitê, como o escrutínio intenso por parte dos responsáveis pela formação de políticas públicas, bem como do público em geral, deverá continuar, o IPCC precisa ser “o mais transparente possível no detalhamento de seus processos, particularmente nos seus critérios de seleção de participantes e no tipo de informação científica e técnica utilizado”, disse Shapiro.
O relatório do comitê do IAC e mais informações podem ser lidos em: http://reviewipcc.interacademycouncil.net/. Mais informações sobre o IPCC: http://www.ipcc.ch/

Tratamento conjunto de lixiviado e esgoto é viável


Tratamento de lixiviado com esgotos pode trazer vantagens ao meio ambiente

Da Agência USP

Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP demonstra a viabilidade de tratar o lixiviado, líquido produzido em aterros sanitários, em estações de tratamento de esgotos. O estudo da engenheira Miriam Moreira Bocchiglieri aponta que o tratamento conjunto pode trazer vantagens ambientais, desde que planejado e executado adequadamente, respeitando a capacidade das estações.

O trabalho procurou analisar experiências de tratamento do lixiviado de aterros sanitários (mais conhecido como chorume), em conjunto com o esgoto, em estações do sistema público no Estado de São Paulo. “O tratamento pode ser feito no próprio aterro de maneira integral ou parcial, ou em conjunto com os esgotos sanitários”, relata a pesquisadora. “Em muitos casos, entretanto, ele não é tratado, sendo usual a prática de recirculação do lixiviado pelas células do aterro”.

O estudo foi desenvolvido na Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) de Barueri, de grande porte. Também foram analisadas estações menores, em São Sebastião (ETE Boiçucanga), no litoral, e nos municípios de Tupã e Fernandópolis, no interior de São Paulo.

A estação de Barueri emprega o processo de tratamento por lodos ativados convencional. “A vazão elevada confere flexibilidade ao sistema pela diluição dos lixiviados com os esgotos sanitários”. Em Boiçucanga é usado o método de lodos ativados por batelada. A estação de Tupã emprega o sistema de lagoa aerada, enquanto Fernandópolis utiliza um processo natural, o chamado sistema australiano, composto por lagoa anaeróbia seguida de facultativa.

Capacidade
Todas as estações estudadas podem receber o lixiviado, mas é necessário estabelecer limites de recebimento. “Para dimensionar o potencial de recebimento, deve-se verificar a capacidade de suporte das estações, na fase líquida e na fase sólida, considerando a proteção aos sistemas biológicos de tratamento(aeróbios e anaeróbios) e o atendimento à legislação quanto ao efluente e lodo gerados nas estações”, observa Miriam.

Segundo a pesquisadora, dentro da tendência mundial de se tratar fontes de poluição “da porta para dentro”, o ideal seria tratar o lixiviado no próprio aterro. “Porém, em função das características específicas dos lixiviados, como a elevada carga orgânica, a flutuação de vazão em decorrência das chuvas, o tratamento “isolado” pode se tornar complexo e caro”, aponta a engenheira.

O tratamento conjunto, sob condições específicas, pode se configurar numa alternativa sanitária e ambientalmente segura, se os sistemas forem bem projetados, bem concebidos e bem operados, mediante critérios já conhecidos e consagrados tecnicamente. “Essa integração pode representar avanços importantes nas questões de desenvolvimento urbano e qualidade ambiental”, diz Miriam. ”Para sua viabilização é preciso haver o envolvimento das esferas competentes, nas quais têm início os processos de planejamento das cidades”.

O estudo recomenda que os municípios, ao implantarem aterros sanitários e estações de tratamento de esgotos, analisem a possibilidade de operação conjunta. A pesquisa de Miriam é descrita em tese de doutorado apresentada na FSP em maio deste ano. O trabalho teve a orientação do professor Wanderley da Silva Paganini.

Mais informações: miriammoreira@sabesp.com.br

Cai comércio ilegal de madeira

Toras ilegais na Indonésia: redução


Por Revista Fapesp

A produção mundial de madeira de origem ilegal caiu 21% desde 2002, segundo relatório elaborado pelo instituto londrino Chatham House. O estudo analisou a trajetória da madeira extraída de um grupo de países que respondem por 40% da atividade ilegal (Brasil, Indonésia, Malásia, Camarões e Gana) até sua entrada em grandes mercados consumidores (Estados Unidos, Japão, Reino Unido, França e Holanda), depois de passar por portos e fábricas principalmente da China. Constatou-se que a prática diminuiu entre 50% e 75% na Amazônia brasileira, mais de 75% na Indonésia e 50% em Camarões. Isso permitiu evitar, apenas nesses países, a degradação de mais de 17 milhões de hectares de floresta, área equivalente à do Uruguai, e contribuiu para frear a liberação de 14,6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera. Ainda assim, diz o relatório, 100 milhões de metros cúbicos de madeira ilegal são extraídos a cada ano. “Enfileiradas, as toras dariam mais de 10 voltas ao redor do globo”, afirma o estudo. A madeira ilegal representa, pelos cálculos mais conservadores, 35% do total extraído da Amazônia brasileira, 22% em Camarões, 59% em Gana, 40% na Indonésia e 14% na Malásia.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

TERRAMÉRICA - Amazônia: lei ou burocracia?

Por Mario Osava, da IPS*

Proibições rígidas impedem que seja aproveitada uma parte da fauna amazônica brasileira que é destruída por causas naturais, afirmam especialistas.

A cada ano, mais de um milhão de ovos de tartarugas da Amazônia não chegam a dar filhotes nem servem de alimento humano no Tabuleiro do Embaubal, um conjunto de praias no trecho final do Rio Xingu, no Brasil. Milhares de tartarugas põem 1,8 milhão de ovos por ano em Embaubal, na Amazônia oriental. Contudo, cerca de 70% deles acabam destruídos pela cheia do rio ou pelas próprias fêmeas, que escavam a areia onde já há ovos de posturas anteriores, explica o biólogo Juarez Pezzuti, pesquisador de quelônios e ecologia amazônica.

A rigidez da lei que proíbe a caça desde 1967 e de outra que estabelece punições aos crimes ambientais, de 1998, impede que seja aproveitada de maneira sustentável a fauna silvestre, desperdiçando uma imensa riqueza do país, afirmou Juarez. Além do mais, essas leis colocam na ilegalidade milhares de habitantes da Amazônia que dependem da caça e da pesca para se alimentar, acrescentou.

Trata-se de “um tabu” nacional, porque a proibição de tocar nos ovos segue um “critério burocrático e não científico”, e ignora experiências de sucesso em outros países, como Costa Rica e Equador, lamentou Juarez, professor da Universidade Federal do Pará. É uma medida contraditória: os peixes, moluscos e crustáceos podem ser explorados comercialmente em seu próprio hábitat, mas não podem quelônios nem jacarés (da ordem dos crocodilos), ou outras espécies como capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris), mamífero roedor, disse.

Aproveitar uma parte dos ovos dos quelônios de Embaubal e de muitos outros lugares melhoraria a alimentação dos ribeirinhos e proporcionaria uma renda adicional, sem afetar a espécie, pois somente seria substituída uma destruição natural, argumentou Juarez em uma entrevista. O manejo participativo dos ovos, com a própria população interessada, oferece as vantagens de promover a segurança alimentar e a educação ambiental e abre a oportunidade de se conhecer mais da ecologia desses animais, disse.

O manejo também pode favorecer a diversidade biológica e melhorar a relação entre as autoridades ambientais e a população, ressentida pelo enfoque repressivo de leis que não levam em conta a forma de vida tradicional dos que vivem nas ribeiras, ressaltou o pesquisador. São normas que “ignoram a tradição e os hábitos alimentares” da população amazônica, e resultam “irreais e sem eficácia” ao serem aplicadas a realidades regionais muito diferentes do Brasil, acrescentou ao Terramérica Serguei Camargo, professor de Direito Ambiental na Universidade do Estado do Amazonas.

A lei 9.605 de 1998, “sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente”, protege “mais o administrador público do que o meio ambiente”, já que as questões ambientais são “mais administrativas do que penais”, e o Estado é incapaz de lidar com elas, alertou Serguei. A caça só é tolerada para evitar a fome do caçador e de sua família, proteger a agricultura e o gado e eliminar animais nocivos, e é exigida autorização oficial nos dois últimos casos.

A solução é uma nova lei de manejo de fauna com regras para sua prática e mecanismos de gestão participativa ou comunitária, disse Serguei. Não haveria conflito com as leis anteriores porque uma lei específica tem mais força na atividade regulada, explicou. Os jacarés, abundantes na Amazônia e no úmido Pantanal Matogrossense do centro-oeste brasileiro, agregaram dramatismo a este debate no qual os ecologistas defendem “uma legislação que está entre as mais avançadas no mundo” e temem que uma flexibilização faça florescer a caça predadora que ameaçou várias espécies de extinção.

No dia 30 de dezembro, um jacaré negro, conhecido como jacaré-açu (Melanosuchs niger), arrancou quase toda perna direita da bióloga Deise Nishimura na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, na margem esquerda do Rio Solimões, nome do Rio Amazonas em seu trecho médio. A pesquisadora de botos (golfinhos de rio) sobreviveu por milagre. Algo bloqueou sua artéria femoral e evitou uma hemorragia fatal antes que chegasse ao hospital mais próximo, após uma hora de barco.

O jacaré, morto no dia seguinte ainda com a perna de Nishimura em suas entranhas, tinha quatro metros de comprimento. Esta espécie única da Amazônia pode atingir seis metros, o que a torna alvo preferencial dos caçadores de peles. Nos últimos tempos, aumentou este tipo de “acidente”, pela crescente quantidade de jacarés amazônicos que atemorizam a população ribeirinha, disse ao Terramérica George Rebêlo, especialista nessas espécies do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

Justamente em Mamirauá está em prática, desde 2003, um projeto pioneiro de aproveitamento controlado do jacaré, baseado em uma brecha da lei 9.985 de 2000, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Da cota permitida para caça, 736 animais por ano, em 2008 só foram abatidos 446, e nenhum em 2009, informou Sonia Canto, gerente de Apoio à Produção de Animais Silvestres do governo do Estado do Amazonas.

Como a caça está proibida há mais de 40 anos – e só é praticada de forma clandestina – desapareceu a antiga cadeia de produção, como a indústria do couro curtido, transporte em barcos frigoríficos adequados e sistema de inspeção sanitária. “Esse é hoje o maior entrave”, lamentou Sonia. O jacaré-açu já não figura na lista de animais em risco de extinção, e sua pele alcança bons preços por seu tamanho e boa qualidade, disse. Sua exploração com manejo tem excelentes perspectivas se forem superados esses gargalos. Além disso, sua carne “é boa e sem colesterol”, acrescentou.

Em sua opinião, a atividade deve limitar-se inicialmente às unidades de conservação, para controlá-la. No Amazonas são 34, que permitem uso sustentável dos recursos naturais, acrescentou. O manejo equilibrado mantém a biodiversidade e o ecossistema, melhora a segurança alimentar e proporciona renda adicional à população, segundo Sonia. As autoridades autorizam a criação em fazendas de jacarés e quelônios, mas esta prática em condições artificiais, além de agregar pouco conhecimento sobre os animais, não reduz a pressão predadora, já que não serve para a maioria dos consumidores ribeirinhos que caçam para sobreviver.

* Este artigo é parte de uma série de reportagens sobre biodiversidade produzida por IPS, CGIAR/Bioversity International, IFEJ e Pnuma/CDB, membros da Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (http://www.complusalliance.org).

LINKS
Rio Xingu entre a eletricidade e a diversidade

Expedição em busca de quelônios amazônicos

Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas, em português

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, em português

Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, em português, inglês e espanhol

Lei 9.605, em português

Lei 9.985, em português

Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

Fonte: Envolverde/Terramérica

ONU saúda conclusões de relatório sobre alterações climáticas

Documento foi apresentado esta segunda-feira pela 'InterAcademy Council', uma organização internacional com sede na Holanda; ela foi nomeada em Março para avaliar erros de informação produzidos pelo Ipcc, o principal órgão da ONU para mudanças climáticas.

Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU em Nova Iorque.

A estrutura de administração do Painel Intergovernamental de Mudança Climática da ONU, Ipcc, tem de passar por uma 'reforma fundamental'.

A recomendação foi apresentada esta segunda-feira em Nova Iorque, com a divulgação de um relatório do 'InterAcademy Council'.

Recomendação
A organização internacional, com sede em Amsterdão, na Holanda, foi nomeada, em Março, para avaliar erros de informação produzidos pelo Ipcc sobre efeitos da mudança climática.

As informações foram divulgadas em 2007. No mesmo ano, o Ipcc admitiu que tinha cometido um erro ao afirmar que as geleiras do Himalaia poderiam desaparecer até 2035.

Uma outra recomendação do relatório é a revisão da maneira sobre como as constatações científicas são apresentadas ao público.

Relatório
Numa nota, o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, agradeceu o relatório e disse que, devido à gravidade da mudança climática, é vital que o mundo receba as melhores avaliações sobre o tema através do Ipcc.

Durante uma entrevista a jornalistas em Nova Iorque, e por videoconferência em Genebra, o chefe do Ipcc, Rajendra Pachauri, disse que não podia comentar as conslusões do relatório porque ainda não tinha lido o documento.

Respondendo a uma pergunta sobre se renunciaria ao cargo, Pachauri disse que está disposto a implementar as mudanças sugeridas e que não especularia sobre nenhum ponto antes de ler o documento.

Avaliações
Pachauri disse que quaisquer que sejam as ações e recomendações, elas ajudarão a guiar as futuras avaliações sobre a ciência da mundaça climática.

Em 2007, o Ipcc recebeu o Prémio Nobel da Paz pelos seus trabalhos contra o aquecimento global.

Jardim das Borboletas é nova atração da Fiocruz

Um lugar ornamentado por plantas, protegido por rede e habitado por dezenas dos mais lindos e fascinantes insetos do reino animal. O cenário é o "Jardim das Borboletas", a nova atração no campus Manguinhos da Fiocruz, que inaugura nesta terça-feira (31/8), às 9h30m. Em 84m² de área, o visitante vai interagir com quatro espécies de borboletas, de diversas cores e tamanhos, em diferentes etapas de seu ciclo de vida, que começa no ovo, passa pelo estágio larval, depois pelo casulo, para só então atingir a fase adulta. Além das borboletas, o espaço abriga uma série de plantas e flores criteriosamente escolhidas por fornecerem o alimento ideal às espécies do Jardim.

Entrada gratuita!

Serviço
Inauguração: 31 de agosto, às 9h30
Local: ao lado da Tenda da Ciência do Museu da Vida, no campus da Fiocruz
Visitação: de terça a sexta-feira, das 9h às 16h30; sábado, de 10h às 16h
Informações: 21 2590-6747 ou 21 2590-6747 / 3865-2150 / recepcaomv@coc.fiocruz.br

Leia mais no site do Museu da Vida/Fiocruz.

ONU aconselha uma reforma do grupo de especialistas do IPCC

O grupo intergovernamental de especialistas sobre a mudança climática deve sofrer uma reforma profunda para evitar novos erros como os cometidos em 2007 a respeito do Himalaia, concluiu a ONU nesta segunda-feira.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mudou muito pouco desde sua criação, concluiu um grupo de especialistas que examinou seu funcionamento e recomendou a reforma para incrementar o processo de transparência e responsabilidade.

Aconselhou, além disso, a criação de um comitê executivo e a nomeação de um "cientista iminente" para que atue como diretor do organismo e adote, além disso, medidas para evitar os "conflitos de interesse".

Criado há 20 anos pela ONU, premiado com um Nobel da Paz, o IPCC publica a cada seis ou sete anos um relatório que serve de referência para as negociações internacionais sobre a mudança climática.

O IPCC admitiu em janeiro passado que cometeu um "erro lamentável" ao afirmar, em 2007, que as geleiras do Himalaia derretiam mais rápido do que as outras e que podiam desaparecer por volta de 2035 ou mesmo antes.

O fator transportes nas mudanças climáticas no Brasil



De Adriana Vargas, da Redação Planeta Verde

O planejamento urbano está intimamente relacionado às mudanças climáticas

O trabalho "Diagnóstico da legislação: identificação das normas com incidência em mitigação e adaptação às mudanças climáticas - Transportes", de autoria de Paula Lavratti, Coordenadora Técnica do Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, e Vanêsca Buzelato Prestes, Coordenadora-Geral, apresenta dados do Brasil sobre o tema.

Ao relacionarem as mudanças climáticas com o tema, destacam que o setor de transportes tem sido apontado como a fonte emissora de gases de efeito estufa com maior e mais rápido crescimento, com cerca de 2,5% ao ano: "Isso se deve à escalada da mobilidade de bens e pessoas, fruto do processo de globalização. Se de um lado, a intensificação do comércio internacional associada aos hábitos de consumo aumentam as emissões de GEEs, de outro, a expansão urbana provoca uma maior utilização de veículos automotores".

Ainda, segundo o relatório, considerando o quadro de emissões brasileiras, os transportes ostentam 9% do total: "Tal dado é coerente com o atual contexto nacional, no qual a matriz de transporte é majoritariamente rodoviária, com 58% do total da quilometragem existente".

Com relação às normas com incidência em mitigação e/ou adaptação, dividiram a pesquisa em "Padrões de emissões atmosféricas veiculares", "Manutenção de veículos e inspeção veicular obrigatória", "Adição obrigatória de biocombustível à gasolina ou diesel e da qualidade dos combustíveis e incentivo à utilização de biocombustíveis", "Controle do tráfego" e "A importância dos instrumentos de planejamento".

Concluíram que o controle das emissões atmosféricas veiculares está centrado, basicamente, na imposição de limites a substâncias prejudiciais à saúde humana, não havendo qualquer limitação específica à emissão de gases de efeito estufa. No entanto, ainda que os GEEs não sejam especificamente regulados legislação em vigor, a redução da emissão de poluentes atmosféricos veiculares de forma geral contribui para a adaptação às mudanças climáticas, especialmente no que se refere sobre seus impactos sobre a saúde humana: "Isso porque o aumento das temperaturas - que intensifica ainda mais o efeito das ilhas de calor nas grandes cidades - prejudica a dispersão dos poluentes, contribuindo para o aumento das doenças respiratórias na população", apontam as autoras.

Outra conclusão importante é que a adequada manutenção dos veículos e a exigência de inspeção veicular obrigatória pelo Poder Público são medidas complementares ao controle de emissões: "O veículo ou motociclo que recebe manutenção periódica, e em observância às especificações indicadas pelo fabricante, emite menos poluentes e não consome combustível em excesso, contribuindo, assim, para que não haja emissões de gases de efeito estufa acima do patamar esperado".".

As normas que preveem a obrigatoriedade de adição de um percentual determinado de biocombustível - álcool ou biodiesel - à gasolina e diesel, respectivamente, com o objetivo de reduzir a quantidade de combustíveis fósseis utilizados, diminuindo as emissões de gases de efeito estufa geradas com a sua queima, incidem na mitigação das mudanças climáticas, conclui a pesquisa. Da mesma forma, encontram-se as normas que incentivam a utilização de biocombustíveis.

Identificou-se, ainda, com incidência em mitigação, todas as normas que visam a controlar o tráfego, na medida em que, ao reduzir congestionamentos, diminuem o consumo e combustíveis, e, consequentemente, seus efeitos sobre as emissões de GEEs.

Para as autoras, o próprio planejamento urbano está intimamente relacionado com o tema: "A opção por cidades mais ou menos compactas, a definição da capacidade das vias de circulação, para fins de tráfego, bem como o estudo a localização do traçado, levando-se em conta critérios de drenagem pluvial e áreas de risco, são exemplos que refletem a imprescindibilidade da inserção da variável climática na estruturação das cidades".

O relatório na íntegra pode ser acessado no endereço:

Desafio brasileiro

Por Fábio de Castro, de Itatiba (SP)

Da Agência FAPESP

O Brasil poderá produzir e exportar etanol em larga escala sem que exista um mercado internacional para o biocombustível? É possível confiar nos modelos utilizados para prever as mudanças no uso do solo decorrentes do aumento da produção de cana-de-açúcar? As tecnologias desenvolvidas no Brasil podem ser aplicadas em outros lugares do mundo?

No último sábado (28/8), em Itatiba (SP), um grupo de especialistas em biocombustíveis respondeu a essas e muitas outras perguntas feitas por proeminentes cientistas de áreas como geologia, matemática e astrofísica.

O debate multidisciplinar sobre os avanços, desafios e limitações dos biocombustíveis abriu o UK-Brazil Frontiers of Science Symposium, que integra o programa Fronteiras da Ciência, uma série de encontros promovidos periodicamente pela Royal Society em diversos países. Durante o evento, que se encerra hoje (30/8), 78 destacados cientistas do Brasil, do Reino Unido e do Chile discutem importantes questões das fronteiras do conhecimento.

A edição brasileira do evento foi organizada pela Royal Society e pela FAPESP, em parceria com British Council, Academia Brasileira de Ciências, Academia Chilena de Ciências e Cooperação Reino Unido-Brasil em Ciência e Inovação. O objetivo é estimular os participantes a refletir sobre os novos rumos de diversas áreas do saber.

No debate de abertura, a professora Glaucia Mendes de Souza, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), comentou que o etanol ainda não se tornou uma commodity e isso poderá ser um obstáculo para os planos brasileiros de expansão da produção do biocombustível.

O projeto nacional é aumentar a produção de etanol para que o país se torne o grande fornecedor mundial do biocombusível. Mas, para isso, precisamos ter um mercado internacional de biocombustíveis. Uma das saídas é fazer com que o etanol se torne uma commodity”, disse Glaucia, que é uma das coordenadoras do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).

Segundo ela, análises sugerem que o advento de um mercado internacional não seria vantajoso para o Brasil, pois ao transformar o etanol em commodity o país deixaria de ser competitivo. Mas a pesquisadora afirma que só assim o etanol nacional poderia ganhar o espaço desejado no contexto mundial.

“Sem um mercado internacional, não há regulação e isso gera incertezas. Trata-se de uma questão de segurança energética. Se quisermos propor que o Brasil seja uma fonte de etanol para o mundo, precisamos de um mercado internacional regulado. Transformar o etanol em commodity implica padronização, acesso à bolsa de valores e mercadorias e garantia de oferta”, disse Glaucia à Agência FAPESP.

Além da ausência de um mercado internacional, o principal obstáculo à expansão da produção, segundo Glaucia, é o excesso de barreiras tarifárias. “É preciso também produzir estudos capazes de dirimir qualquer desconfiança internacional relacionada à sustentabilidade do etanol. O mercado também está sendo definido por essa discussão ”, afirmou.

As questões de sustentabilidade estão sendo debatidas no âmbito internacional para definir quais biocombustíveis irão efetivamente diminuir a emissão dos gases de efeito estufa. Os Estados Unidos, por meio da Environmental Protection Agency (EPA) já definiu o etanol brasileiro como biocombustível avançado. Essa iniciativa foi um importante passo para o Brasil.

“Agora, a Europa está debatendo publicamente uma nova legislação sobre biocombustíveis. O continente decidirá se, ao avaliar a sustentabilidade, levará em consideração as mudanças no uso da terra. Isso poderá gerar barreiras, pois é muito difícil medir essas mudanças, especialmente em relação aos seus efeitos indiretos”, afirmou.

A questão da confiabilidade dos modelos utilizados para medir os efeitos indiretos das mudanças de uso do solo foi levantada, durante o evento, por cientistas de outras áreas. Segundo Glaucia, de fato ainda há grandes limitações, que demandam grandes esforços de pesquisa.

“Não há conhecimento suficiente em muitos dos parâmetros usados para medir os efeitos indiretos. Os modelos que existem são ainda tentativos. Trata-se de uma área nova do conhecimento e a ciência ainda não está madura nesse campo. Temos um longo caminho de estudos pela frente”, disse.

No estágio atual, com poucos dados para servir de parâmetros aos modelos, a maior parte deles não gera resultados confiáveis, segundo Glaucia. “Hoje, pode-se provar pontos contraditórios de acordo com os parâmetros que forem usados. Para chegar a um consenso sobre como usar os modelos, a única solução é ter uma comunidade de cientistas debatendo intensamente. Para isso, é preciso aumentar o número de pesquisadores na área”, afirmou.

Cientistas britânicos, durante o simpósio, demonstraram preocupação em relação à viabilidade do etanol como biocombustível em contextos diferentes do brasileiro e à aplicabilidade, em outros países, do avançado conhecimento produzido no Brasil sobre o etanol. De acordo com os pesquisadores brasileiros , a cana-de-açúcar pode ser plantada em outras regiões e tem grande potencial para ser utilizada em produção de etanol em outros países.

“Acredito que não teremos uma única resposta para a questão energética. Mas, com toda certeza, o etanol será uma delas. Outros países poderão produzir também. O Brasil, no entanto, já tem há muito tempo uma legislação sobre biocombustíveis e fez esforços para o avanço do conhecimento sobre etanol que não têm paralelo no mundo. Com isso, o que está ocorrendo é que o país não apenas se destaca como o principal produtor da planta, mas está se tornando uma referência para modelos de biorrefinarias”, disse.

Proposta obriga laudo técnico para registro de agrotóxicos

Por Carol Siqueira, da Agência Câmara

A Câmara analisa o Projeto de Lei 7490/10, do deputado Beto Faro (PT-PA), que obriga a emissão de laudo técnico para que seja autorizado o registro de agrotóxicos nos órgãos oficiais.

O documento deve comprovar que a substância atende aos requisitos legais e não causa dano ao meio ambiente e à saúde. Segundo o autor da proposta, a exigência de laudos não está prevista na legislação atual, apesar de se tratar de uma "determinação óbvia".

O texto também estipula o prazo de 30 dias para que o governo cancele o registro de defensivos agrícolas considerados inadequados por organizações internacionais de saúde, alimentação ou meio ambiente. A Lei dos Agrotóxicos (Lei 7.802/89) em vigor determina apenas que o Poder Público deve tomar providências imediatas, sem determinar prazos ou sanções.

Impugnação de registro
Outro ponto que o projeto pretende incluir na lei é a determinação de que a impugnação de registro de agrotóxicos - que pode ser solicitada por partidos, associações de classe ou de defesa do meio ambiente ou do consumidor - seja acompanhada de laudo técnico assinado por, no mínimo, dois profissionais habilitados, comprovando a inadequação da substância à lei. As entidades também podem apresentar a documentação científica que fundamentou o cancelamento dos mesmos produtos em outros países.

As mudanças, segundo Beto Faro, buscam dar eficácia aos dispositivos da Lei dos Agrotóxicos. "A lei estabeleceu salvaguardas para a população, mas esses dispositivos ou apresentam-se com redação inadequada ou com exigências inalcançáveis", argumenta.

Tramitação
A proposta será analisada em caráter conclusivo pelas comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Íntegra da proposta:

Incêndios florestais são menores nas unidades de conservação atendidas pelo Bolsa Floresta

Prevenção de incêndios florestais foi incorporada logo no início da concepção do Programa Bolsa Floresta, e faz parte da primeira oficina de educação ambiental

Por Monick Maciel, da Fundação Amazônia Sustentável

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que as unidades de conservação estaduais onde o Programa Bolsa Floresta está presente registraram, de 1º de maio a 20 de agosto deste ano, menor incidência de focos de incêndio do que outras áreas protegidas no estado do Amazonas. Em média, essas áreas tiveram 3,6 focos para cada um milhão de hectares, e as demais unidades de conservação estaduais tiveram 5,7 focos, as terras indígenas 6,5 focos e as UC´s federais 17,5 focos (Figura abaixo). O número de focos de incêndios florestais é obtido com base em imagens de 11 satélites processadas pelo INPE.

A análise foi realizada com base em recentes números divulgados pelo INPE sobre a incidência de focos de incêndio nas áreas protegidas (http://www.dpi.inpe.br/proarco/bdqueimadas/).

O Programa Bolsa Floresta é o maior projeto de pagamentos por serviços ambientais do mundo em área, totalizando mais de 10 milhões de hectares, por recompensar e melhorar a qualidade de vida das populações tradicionais pela manutenção dos serviços ambientais prestados pelas florestas tropicais, reduzindo o desmatamento e valorizando a floresta em pé. O PBF beneficia mais de sete mil famílias, o que representa mais de 30 mil ribeirinhos.

O superintendente geral da FAS, Virgílio Viana, afirma que este resultado é fruto de uma meta estabelecida (prevenção de incêndios florestais) no início do Programa Bolsa Floresta. E tem relação direta com as oficinas introdutórias do programa, onde há o ensino da educação ambiental a todos os participantes.

“A prevenção de incêndios florestais foi incorporada logo no início da concepção do Programa Bolsa Floresta. O assunto é parte da primeira oficina de educação ambiental, que é obrigatória para todos os participantes do Programa”, afirma Viana.

Durante essas oficinas do PBF também são discutidas práticas para a prevenção das queimadas, como abrir aceiros (quebra fogo ao redor dos roçados), evitar a queima de roçados em dias muito secos e com vento, com o objetivo de evitar que o fogo saia do controle e se transforme em incêndio florestal. No final dessa primeira oficina, os participantes são convidados pela FAS a assinar um termo de compromisso, que envolve quatro pontos, incluindo “fazer aceiros e usar boas práticas para evitar incêndios florestais”. Não há a proibição de queimadas para os participantes do Bolsa Floresta, pois os mesmos têm a tradição de fazer agricultura itinerante, processo que envolve a queima de capoeiras. Para estimular a redução do uso do fogo, a FAS faz um trabalho de disseminação de técnicas que eliminam a necessidade da queima, como permacultura e sistemas agroflorestais.
 
Com quatro componentes, o Programa Bolsa Floresta incentiva a produção sustentável (Bolsa Floresta Renda), investe em educação, saúde, transporte e comunicação nas unidades de conservação (Bolsa Floresta Social), beneficia famílias envolvidas na redução de desmatamentos (Bolsa Floresta Familiar) e auxilia no fortalecimento de associações de moradores e promove o controle social do programa (Bolsa Floresta Associação).

Atualmente, a FAS está presente em 15 unidades de conservação estaduais do Amazonas com o Programa Bolsa Floresta. Em todo o estado, são 41 áreas protegidas. O Bolsa Floresta foi criado em 2007 pelo Governo do Estado, que em dezembro do mesmo ano passou a gestão do programa à FAS, instituição público-privada, não governamental e de interesse público.

O vice-presidente da Associação Comunitária da RDS do Rio Negro, Nelson Brito, afirma que percebeu a redução de queimadas nas comunidades em que trabalha por meio da ACS. “Com o programa Bolsa Floresta a gente teve uma educação ambiental de como fazer os aceiros, através da oficina. Acredito que boa parte dos comunitários entendeu essa mensagem, e acredito que por isso reduziu muito, e nossa meta é reduzir 100%”, disse.

A redução de queimadas é perceptível, é o afirma o presidente da comunidade Terra Preta e tesoureiro da ACS Rio Negro, José Roberto. “O Bolsa Floresta colaborou muito com o meio ambiente, a gente começou a dar o primeiro passo nas oficinas de serviços ambientais, e hoje as famílias recebem uma ajuda como o Bolsa Floresta. E no decorrer dos encontros nós, lideranças, vamos aprendendo e repassando para toda a comunidade”, afirmou.

Brasil apoia medidas da ONU para banir substâncias químicas poluentes

Por Vladimir Platonow, da Agência Brasil

A partir da última quinta-feira (26) o Brasil reforçou o banimento de nove substâncias químicas classificadas como poluentes orgânicos persistentes, conhecidas internacionalmente pela sigla POP, contidas em agrotóxicos e produtos antichamas. O anúncio mundial das substâncias que passam a integrar a nova lista de banimento, divulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi realizado durante teleconferência entre representantes do governo brasileiro, no Rio, e integrantes da Convenção de Estocolmo sobre Contaminantes Persistentes da ONU, em Genebra, Suíça.

O Brasil foi representado pela secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Branca Americano, e pela coordenadora do Centro Regional da Convenção de
Estocolmo para América Latina, Lady Virgínia Menezes. Branca ressaltou que o Brasil já vinha restringindo a maior parte dos produtos químicos que aparecem na lista da ONU e que apenas um continua sendo produzido no país: um agrotóxico em forma de iscas antiformigas.

“Estamos realizando um trabalho de inventário para identificar onde estão essas substâncias e para eliminar os remanescentes desses produtos no Brasil. Dessas nove substâncias que foram incluídas, nós só produzimos a sulfluramida, usada no combate a formigas e em equipamentos eletrônicos, como retardador de chamas”, explicou Branca.
A ONU já havia divulgado uma lista com 12 POPs, que agora será acrescida de mais nove, totalizando 21 substâncias com recomendação de banimento em todo o mundo. São elementos químicos que permanecem
durante muito tempo na natureza, sendo absorvidos pelos animais em toda a cadeia alimentar, chegando até os seres humanos, onde se depositam principalmente nas camadas gordurosas, podendo gerar doenças nervosas, imunológicas, reprodutivas e câncer.

Para Lady Virgínia, é necessário haver intercâmbio entre os países da América Latina, a fim de gerar conhecimento sobre o assunto e controle na circulação dos componentes proibidos de um país para outro. “Os países da América Latina e Caribe têm basicamente os mesmos problemas, como gestão de resíduos sólidos, principalmente industriais e de saúde, e pesticidas obsoletos”, disse Lady Virgínia, que desenvolve na Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) projetos de assistência técnica para países latino-americanos.

A teleconferência foi realizada no veleiro científico Sea Dragon, que começou nesta quinta-feira uma viagem de coleta de resíduos sólidos pelo Atlântico Sul, principalmente plásticos, para monitorar a presença e o impacto de POPs na água e em peixes de águas profundas.

Segundo o cientista Marcus Eriksen, responsável pela expedição, em medições anteriores, realizadas no Atlântico Norte, verificou-se que 35% dos peixes coletados tinham pedaços de plásticos em seus estômagos.

Na primeira fase da expedição, a tripulação seguirá até Recife. Em seguida, rumará para Cape Town, na África do Sul, percorrendo depois rotas que incluem Uruguai, Chile, Taiti e Havaí. A viagem dos cientistas e demais informações sobre POPs podem ser acompanhadas na página www.pops.int ou www.facebook.com/safeplanet.
A nova lista divulgada pela ONU contém as seguintes substâncias: alpha hexachlorocyclohexane, beta hexachlorocyclohexane, chlordecone, hexabromobiphenyl, hexabromobiphenyl ether, lindane,pentachlorobenzene, perfluorooctane sulfonic e tetrabromodiphenylether. 

Saída de indústrias deixa risco de contaminação do solo

Passivos ambientais de reestruturação produtiva e saída de indústrias deixam riscos de contaminação. Existem cerca de 2.900 áreas contaminadas no Estado de São Paulo.

Por Júlio Bernardes - Agência USP de Notícias

Levantamento realizado pelo arquiteto Luís Sérgio Ozório Valentim em pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP aponta a relação entre os eixos históricos de industrialização da Região Metropolitana de São Paulo, a produção de impactos ambientais e a identificação de cenários de risco á saúde da população. Além dos postos de combustíveis, atividade econômica que mais contribui atualmente para a contaminação do solo e das águas subterrâneas, há na região 191 áreas contaminadas de origem industrial, onde se concentram solventes, metais pesados e outras substâncias químicas tóxicas.

De acordo com a Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), existem cerca de 2.900 áreas contaminadas cadastradas em todo o Estado, quase metade delas na Região Metropolitana de São Paulo. “Os contextos urbanos contemporâneos, especialmente os de escala metropolitana, apresentam perturbações de várias ordens, dentre outras, as decorrentes das contaminações ambientais”, aponta Valentim. “As áreas contaminadas, que só recentemente passaram a ser objeto de atenção do poder público, são fenômenos simbólicos de um modelo histórico de produção e reprodução do capital de bases urbanas e fabris”, ressalta o arquiteto.

O trabalho menciona a região de Jurubatuba (Zona Sul de São Paulo) para explicar a relação entre atividades produtivas e áreas contaminadas. “Esta é uma área de concentração industrial que se formou a partir de meados do século passado, cujos atrativos estavam então nos modais ferroviário e rodoviário, no rio Pinheiros e nos generosos terrenos planos varzeanos”, conta o pesquisador. “Nos últimos anos, intensificou-se a vocação do bairro para abrigar condomínios residenciais, comércio e serviços de alto padrão, com retração das atividades fabris.”

O cenário mais evidente de risco à saúde legado pelos processos produtivos fabris em Jurubatuba está relacionado à contaminação de aquíferos. “Ainda não está caracterizada totalmente a extensão dessa contaminação, mas há evidências que ela é significativa”, afirma Valentim. “As vulnerabilidades hidrogeológicas potencializam a contaminação e os modos da população interagir com o ambiente favorecem ou dificultam situações de risco.”

Eixos
O arquiteto aponta que a localização histórica das indústrias na Grande São Paulo está estreitamente associada com as vias de transporte ferroviário e as várzeas. “Um dos mais antigos eixos de desenvolvimento industrial acompanha o rio Tamanduateí e a ferrovia, em direção ao porto de Santos”, relata. “O mesmo se deu às margens do Tietê, cuja industrialização remonta às primeiras décadas do século XX.”

O processo de reestruturação produtiva que tem caracterizado a Região Metropolitana de São Paulo nas últimas décadas implicaria, então, em novas localizações, prenunciando novas possibilidades de saúde ou novos cenários de riscos de doenças. “Na pesquisa, os cenários de risco são tidos como localizações onde incidem um feixe de fatores que potencializam condições adversas de saúde”, enfatiza Valentim.

As indústrias com maior potencial de impacto ao meio ambiente já não se instalam com facilidade na Região Metropolitana de São Paulo devido a restrições econômicas e ambientais, ganhando espaço atividades comerciais e de serviço. “No entanto, o acúmulo histórico de processos produtivos extremamente agressivos confere à região cenários de risco diferenciados, que podem ser interpretados a partir do modo como a metrópole se estruturou e está se reestruturando”, diz o arquiteto.

Na opinião do arquiteto, políticas públicas para áreas contaminadas em ambientes urbanos que se pretendam efetivas demandam uma visão ampla, integrando as áreas de desenvolvimento urbano, saúde e meio ambiente. “Assim, a gestão das áreas contaminadas em contextos complexos como o metropolitano demandaria a compreensão do problema para além do factual, pois a produção de passivos ambientais marca profundamente, há mais de século, a paisagem de nossas cidades”, conclui. A pesquisa Sobre a produção de bens e males nas cidades : estrutura urbana e cenários de risco à saúde em áreas contaminadas da região metropolitana de São Paulo teve a orientação da professora Gilda Collet Bruna, da FAU.

Fonte: Agência USP de Notícias/EcoAgência