quinta-feira, 24 de março de 2011

Em visita ao Brasil, pesquisadora fala sobre panorama da mídia na Grécia contemporânea

A comunicação de massa na Grécia, especialmente a televisão, bem como uma introdução e debate sobre a interface entre as Olimpíadas e a mídia neste país são alguns dos temas da palestra de abertura da disciplina de Jornalismo Internacional da Escola de Comunicação da UFRJ,aberta ao público, na quarta 30 na UFRJ (Campus Praia Vermelha). A palestrante é a pesquisadora Tessa-Anastasia Doulkeri, professora da Escola de Jornalismo e Comunicação de Massa da Universidade Aristóteles, a maior instituição de ensino superior da Grécia.

A palestra ocorrerá na próxima quarta-feira, 30 de março, às 18h30, e fará um panorama da mídia na Grécia a partir da longa experiência de Doulkeri em universidades e outros centros de pesquisa na Europa (vide perfil da pesquisadora mais abaixo).

O evento, que também conta com um debate, dá inicio à disciplina de Jornalismo Internacional, é gratuita e os inscritos receberão um certificado de participação. Para se inscrever no evento, envie um e-mail para peteco@ufrj.br com seu nome completo e ocupação, com o título do email “Inscrição”. O evento será no Auditório Prof. Manoel Maurício (ao lado do Banco Real), no CFCH, campus da Praia Vermelha da UFRJ.

De passagem pelo Brasil, a pesquisadora grega Tessa Doulkeri leciona comunicação na maior universidade da Grécia, a Universidade Aristóteles, que fica localizada em Salônica, segunda maior cidade da Grécia. Formada em Direito pela Universidade Aristóteles, é Mestre em Sociologia pela Universidade de Sorbonne e em Ciências Políticas e Direito Público pela Universidade Aristóteles. Seu Doutorado é na área de Ciências da Comunicação, também pela Universidade de Sorbonne.

Já trabalhou como consultora na União Europeia (Bruxelas), no Conselho da Europa (Estrasburgo) e na televisão francesa (Paris). Lecionou na Universidade de Atenas como professora assistente. Suas publicações (livros e artigos) dizem respeito a temas diversos como televisão (questões sócio-político-legais), igualdade de gênero, publicidade (comercial e política), as crianças e os meios de comunicação de massa, bem como esportes e mídia.

A disciplina de Jornalismo Internacional é oferecida pelo Programa de Educação Tutorial (PET) da ECO-UFRJ, sob coordenação do prof. Mohammed ElHajji. Ouvintes externos poderão se inscrever neste evento para participar do curso semestral, por meio de formulário que será disponibilizado no próprio local. A disciplina acontece toda quarta-feira do primeiro semestre de 2011, das 19h às 20h, no Núcleo de Imprensa da ECO/UFRJ (Campus Praia Vermelha). Neste semestre, está sendo ministrada pelo doutorando do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Cultura da ECO/UFRJ, Gustavo Barreto, com apoio de integrantes do Programa de Educação Tutorial (PET) e do Laboratório de Comunicação Social Aplicada da UFRJ, ambos vinculados à Escola de Comunicação.

Panorama da mídia na Grécia contemporânea

Palestrante: Profa. Dra. Tessa-Anastasia Doulkeri, professora da Escola de Jornalismo e Comunicação de Massa da Universidade Aristóteles, Grécia
Local: Auditório Prof. Manoel Maurício (ao lado do Banco Real), no CFCH, campus da Praia Vermelha da UFRJ
Data: Quarta-feira, 30 de março de 2011
Horário: 18h30
Inscrição: Gratuita. Para se inscrever no evento, envie um e-mail para peteco@ufrj.br com seu nome completo e ocupação, com o título do email “Inscrição”. 
Vagas limitadas.

Mudanças climáticas e o princípio da precaução

Há quem diga que sim, há quem diga que não. Não faltam os que dizem não ter opinião formada. Isso é natural nas coisas ligadas a natureza. Não poderia ser diferente ao se tratar , por exemplo, dos temas Aquecimento Global (efeito) e Mudanças Climáticas (causas).

E é neste ponto que precisamos saber o que realmente pensa a sociedade de tudo isso e, neste sentido o NEPA fez uma pesquisa na Região da Grande Vitória (ES). Esta pesquisa evidenciou um aspecto preocupante; uma sociedade que se diz "conhecedora dos temas", mas ao ser perguntando sobre como eles agem, ficou insegura. Ou seja, uma sociedade que "diz saber" aquilo que, infelizmente, "não sabe explicar".


Obviamente isso não quer dizer (necessariamente) nada em relação a real posição da sociedade (pelo menos tendo em conta o grupo pesquisado), mas deixa claro a insegurança de não saber definir de que lado cada um está, ou seja, dos crentes ou dos incrédulos em relação ao Aquecimento Global e as Mudanças Climáticas.


E você, frente às conclusões dessa pesquisa, poderia dizer (com convicção) de que lado está?  Entretanto, independente do lado que estiver, não deixe de adotar o princípio da precaução, ou seja, se não for verdade o que se fala, menos mal, mas se for não dá para deixar para depois a decisão que deveria estar sendo tomada agora. Não deixe que os outros decidam por você; o custo (se houver) será rateado por toda a sociedade, queiram ou não,  crentes e descrentes.


Os dados disponíveis mostram que 2005 e 2010 foram os anos mais quentes da história desde que os registros passaram a ser feitos em 1880. A temperatura do planeta em 2010 foi a segunda mais quente já registrada (quase um grau acima da média do século XX). Diriam uns, coincidências; diriam outros, evidências de uma mudança de comportamento global do planeta.


Estudos mostram que a seca na Amazônia em 2010 foi ainda superior a observada em 2005, esta até então 
considerada a mais grave da região nos últimos 100 anos. Em 2005 a região afetada foi da ordem de 2 milhões de quilômetros quadrados; em 2010 a região foi de 3 milhões. Desde 1963 não se viu uma redução tão drástica nas vazões dos rios Negro e Amazonas.


A temporada de furações no Atlântico em 2010 foi intensamente ativa (19 tempestades e 12 furações). Coincidência; evidências?


Poderíamos citar outros eventos climáticos extremos – caso da incidência de chuvas – poderiam ser também relatados de modo a consolidar que, no mínimo, algo está mudando e, certamente, não para melhor, em relação aos padrões conhecidos de clima.  


Diriam os incrédulos; está é a tática usada para induzir a sociedade a acreditar que algo está acontecendo com a natureza. O anúncio do fim do mundo levaria todos a acreditar em algo que não é verdade. Os crédulos diriam; se os fatos mostram mudanças, não seria mais do que oportuno – adotando o princípio da precaução – de iniciar um processo de minimização dos efeitos observados, ao invés de manter a luta de prós e contras que a sociedade se vê envolvida hoje?


A meu ver, independentemente de crentes ou descrentes, já está na hora de adotar (na plenitude) o princípio da precaução, uns de forma mais conservadora (descrentes) e outros (crentes) uma forma mais pró ativa de comportamento.


 Fonte: Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA
roosevelt@ebrnet.com.br

quarta-feira, 23 de março de 2011

Uso racional da água pode ser vantagem para Brasil

A utilização racional da água nos processos de produção pode ser uma vantagem competitiva para o Brasil, na avaliação de Arjen Hoekstra, professor de gestão dos recursos hídricos da universidade holandesa de Twente e criador do conceito de pegada hídrica. Para Arjen, o país deverá atrair a atenção internacional, nos próximos anos, por ser um grande exportador de itens que precisam de muita água para serem elaborados, como as commodities agrícolas.

Da Agência Brasil

A utilização racional da água nos processos de produção pode ser uma vantagem competitiva para o Brasil, na avaliação de Arjen Hoekstra, professor de gestão dos recursos hídricos da universidade holandesa de Twente e criador do conceito de pegada hídrica.

Para Arjen, o país deverá atrair a atenção internacional, nos próximos anos, por ser um grande exportador de itens que precisam de muita água para serem elaborados, como as commodities agrícolas. Segundo o especialista, para produzir a soja que é exportada para o Reino Unido são consumidos 1,43 milhão de metros cúbicos (m³) de água por ano.

Mesmo com o grande impacto sobre os recursos hídricos, o professor destaca que o Brasil ainda é mais econômico do que outros países que vendem itens semelhantes. “Em muitos casos, a pegada hídrica do Brasil é muito menor do que a do Oriente Médio e a dos Estados Unidos”, ressaltou.

A pegada hídrica é um conceito desenvolvido por Arjen Hoekstra e difundido pela Water Footprint Network. A proposta é padronizar a quantificação da água usada e contaminada na elaboração de produtos. Com isso o consumidor pode saber quais itens são mais sustentáveis.

Adotar uma posição comercial que leve em consideração a redução do consumo de água na produção pode abrir espaço para o Brasil no mercado internacional, na opinião do coordenador de Estratégia de Água Doce da organização não governamental (ONG) The Nature Conservancy, Albano Araújo.

Ele lembra que a economia de recursos naturais é também uma maneira de as empresas reduzirem gastos. “Reduzir a pegada hídrica significa reduzir custos e consumo de energia e ainda ganhar em imagem.”

No Brasil, cerca de 95% da água são consumidos de forma indireta, por meio da compra de produtos. De acordo com a estimativa de Arje, cada casa consome, em média, 3,4 mil litros por dia apenas com consumo de produtos agrícolas. O uso doméstico e os produtos industriais são responsáveis, cada um, por mais 190 litros diários.

Em um país mais industrializado, como o Reino Unido, os manufaturados representam um gasto ainda maior de água. Segundo o estudo, cada casa inglesa consome, em média, 1.110 litros diários com esse tipo de produtos, além dos mesmos 3, 4 mil com os itens agrícolas. O uso doméstico é responsável pelo gasto de 150 litros.

A diferença fundamental está no fato de que a pegada hídrica dos lares do Reino Unido está, principalmente, no exterior. O levantamento aponta que cerca de 60% da água consumida nos lares daquele país foram importados. Enquanto, no Brasil, esse índice é de apenas 8%.

Ilusões e realidade para a sustentabilidade

Por Vilmar S. D. Berna*

Precisamos sonhar com a possibilidade de um futuro, de um mundo melhor, pois os sonhos nos motivam para a ação, nos animam a romper com a inércia e a suportar a dor do esforço no rumo a outro jeito de ser e estar no Planeta e na sociedade, ambientalmente sustentável e socialmente mais justo. Os sonhos nos dão energia para as boas práticas e a confiança de que é possível.

Entretanto, entre declarações de políticas e promessas ambientais e a realidade, existe um vazio proporcionalmente tão grande e profundo quanto nossa capacidade de sonhar. Um vazio que pode e precisa ser preenchido com gestão, planejamento, investimento de tempo e dinheiro. Entre os oito e o oitenta, em gestão ambiental, será preciso passar por um monte de outros números. Sonhar é relativamente fácil, difícil é colocar em prática. Então, é natural que entre a intenção e o gesto exista um tempo de maturação para acontecer.

O importante é demonstrar o movimento, saber valorizar e divulgar os bons resultados, mesmos pequenos, para renovar o incentivo e estimular o aumento na velocidade das mudanças, e também refletir sobre os maus resultados, pois pode ser o caso de precisar rever metas e objetivos. Se os sonhos forem pouco ambiciosos - apenas para produzir uma pequena mudança -, este vazio será menor e o esforço requerido para preenchê-lo de realizações também. Entretanto, os resultados também poderão ser pequenos e podem nem valer à pena, podendo produzir mais desgastes que levar a alguma mudança. E não adianta fazer pouco e tentar compensar depois no marketing, por que o tiro pode sair pela culatra, e uma reputação manchada é de difícil recuperação depois. Se for grande demais, por mais que se persiga o sonho, este sempre parecerá inatingível. Ainda assim poderá valer a pena para nos manter seguindo em frente, apesar das adversidades.

Muitas das grandes mudanças na Humanidade começaram de um pequeno desvio, como o empreendedorismo dos tropeiros arriscando-se no comércio ambulante entre as cidades da Idade Média e que resultaram no mercantilismo e no fim da estrutura feudal de poder.

Alguns sonhos podem ser sonhados sozinhos, e ainda assim serem possíveis de se realizar, como serem consumidores mais responsáveis, ou menos gananciosos e mais solidários. Outros precisam ser sonhados juntos para se tornarem realidade, como a construção de uma sociedade sustentável, requerendo de nós o esforço de sensibilizar e convencer aos demais.

Outros sonhos podem demorar gerações para acontecer, contando com o esforço e o engajamento de gente que ainda nem nasceu. As catedrais da Idade Média, por exemplo, levavam gerações para serem concluídas, e ainda assim pôde ser realizada por pessoas que sabiam que se não fizessem bem a sua parte, a geração que viria depois teria de começar do zero.

Um pouco como a mudança para a sustentabilidade. Nossa geração começou agora uma obra cujos frutos talvez só venham a ser colhidos em quantidade pelos que virão depois. Melhor isso que deixar como herança um Planeta esgotado, poluído e incapaz de sustentar a vida como a conhecemos.

Alguns se dão por satisfeitos apenas em reclamar imaginando que o mundo melhor que desejam deve começar no outro. Outros preferem se iludir com falsas promessas ou soluções milagrosas, em vez de encarar a realidade de que somos a raiz dos problemas do mundo e também podemos ser a solução, dependendo das escolhas que fizermos.

Precisamos ajustar nossas percepções para saber aproveitar as oportunidades como elas se oferecem e não como gostaríamos que aparecessem. E saber lidar com as frustrações e com a dor do esforço e da incapacidade de alcançar certos objetivos, por que talvez ainda não seja a hora ou ainda não estejamos prontos.

Para os que acreditam em divindades, é hora de pedir que nos acolham em nossas dores e angústias e nos salvem de nós mesmos. Entretanto, tal conforto espiritual não chega para todos. O que temos nas mãos é a possibilidade aqui e agora de arregaçar as mangas e trabalhar pelas mudanças, a partir de nós próprios, assumindo que somos os resultados de nossas escolhas, e que o nosso sucesso ou fracasso resultarão de nossos sonhos e da capacidade realizá-los.

* Vilmar é escritor, com mais de 20 livros publicados. Em 1996, fundou a REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental e edita a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente. Em 1996, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente – www.escritorvilmarberna.com.br e http://www.portaldomeioambiente.org.br/.

terça-feira, 22 de março de 2011

Na década da biodiversidade, o ano internacional das florestas


Para iniciar a década, 2011 foi proclamado o Ano Internacional das Florestas. O que se coloca em discussão, neste primeiro ano, é o manejo sustentável de todos os tipos de florestas mundiais, como forma de conter a taxa – alarmante – de desmatamento e degradação. Hoje, restam no mundo pouco mais de 20% da cobertura florestal original. Números da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) revelam que, de 2000 a 2010, a cada ano, globalmente, 13 milhões de hectares desses remanescentes foram convertidos para outros usos. O artigo é de Malu Nunes.

Malu Nunes, da Carta Maior

Depois de 2010 ter sido o Ano Internacional da Biodiversidade, as Nações Unidas anunciaram o período de 2011 a 2020 como a Década da Biodiversidade. O objetivo central dessas celebrações é inserir como pauta prioritária na agenda de governos e da população mundial a preservação do patrimônio natural, propagando a ideia de que ela é essencial para a manutenção de toda a vida no planeta, o combate às mudanças climáticas e a sustentação da economia global.

Para iniciar a década, 2011 foi proclamado o Ano Internacional das Florestas. O que se coloca em discussão, neste primeiro ano, é o manejo sustentável de todos os tipos de florestas mundiais, como forma de conter a taxa – alarmante – de desmatamento e degradação. Hoje, restam no mundo pouco mais de 20% da cobertura florestal original. Números da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) revelam que, de 2000 a 2010, a cada ano, globalmente, 13 milhões de hectares desses remanescentes foram convertidos para outros usos. No Brasil, que está entre os cinco países que mais detêm florestas, a perda chegou a 2,6 milhões de hectares anuais. As taxas são menores do que os 16 milhões mundiais e 2,9 milhões nacionais perdidos a cada ano nos anos 1990, mas ainda são assustadoras pelos impactos e perdas a elas associados.

Como conservacionista, é necessário que eu diga: é preciso frear essa destruição. Isso porque, como me parece lógico, não podemos nem destruir e nem usufruir de todo o espaço de terra florestada que existe no planeta. Até por questões éticas: para ocupar tudo, teríamos que extinguir outras formas de vida. No entanto, a principal razão em jogo é a nossa sobrevivência e qualidade de vida. Permitir a degradação significa prejudicar o fornecimento de serviços ecossistêmicos essenciais para a vida humana, como a produção de água doce, regulação do clima e a manutenção da qualidade do ar e do solo. Sem esses benefícios, garantir a vida no planeta como concebemos hoje é uma tarefa impossível. Além disso, o desmatamento contribui para o aumento das mudanças climáticas.

Diante deste cenário, a melhor estratégia para se manter uma parcela indispensável de diversidade biológica, viabilizar sua evolução e os serviços ecossistêmicos providos por ela, bem como manter os estoques de carbono, é preservar em perpetuidade grandes áreas nas suas condições naturais, por meio de unidades de conservação, onde possa sobreviver por tempo indefinido o maior número possível de espécies.

A boa notícia é que, em outubro de 2010, o Brasil e outros países membros da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) aprovaram na conferência de Nagoya um plano que tem como uma das metas elevar para 17% a proteção de habitats terrestre até 2020. Atualmente, as áreas de floresta destinadas à conservação da biodiversidade somam 12% do total de remanescentes, mas estão irregularmente distribuídas. Outro compromisso assumido pelo país, no âmbito da Convenção sobre Mudança do Clima, foi o de reduzir suas emissões de gases do efeito estufa, principalmente as derivadas do desmatamento.

Porém, apesar destes planos e da posição de protagonista nas últimas conferências das convenções das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica e sobre Mudança do Clima, o Brasil caminha para uma contradição em termos de posicionamento político. Enquanto externamente o país defende a permanência das florestas e outras áreas naturais, internamente pode vir a dar um retrocesso de proporções desastrosas. Como garantir o cumprimento dos compromissos assumidos caso as propostas de alteração do Código Florestal, que reduzem consideravelmente nossas áreas de floresta, sejam aprovadas neste ano?

Em vez de adaptar a lei a favor de quem não a cumpriu, uma forma de garantir esses compromissos seria favorecer aqueles que sempre mantiveram suas reservas legais e Áreas de Preservação Permanente (APPs), contribuindo para a manutenção da qualidade do ambiente e das atividades produtivas. Nos últimos anos, surgiram diversas alternativas que inserem indivíduos e iniciativa privada em ações de proteção à biodiversidade que beneficiam toda a sociedade. O Brasil dispõe, por exemplo, de mecanismos inovadores de pagamentos de serviços ecossistêmicos, a exemplo do Projeto Oásis, que premia financeiramente proprietários particulares de terra em regiões de manancial de São Paulo e Apucarana (PR) por conservarem suas áreas naturais. A Certificação Life, surgida no Paraná e idealizada por um grupo de instituições não-governamentais e empresas, é outro exemplo. Ela atende, inclusive, uma demanda da própria CDB, além de ser uma ferramenta que viabiliza a inserção concreta das empresas na conservação da natureza.

Em uma época em que ser responsável, de fato, é um diferencial para as empresas, vale a pena investir no pioneirismo e aderir a causas efetivamente prodigiosas neste campo. Esses mecanismos, complementares aos esforços públicos para a implementação de unidades de conservação e outras áreas protegidas, podem servir de base para políticas públicas e serem implantados em larga escala no país.

O Brasil possui maneiras de contornar suas dificuldades, cumprir seus compromissos e legitimar seu papel de protagonista no cenário mundial. Só precisa encarar o desafio de implementá-las de forma rápida, abrangente e competente, pois as cobranças virão de dentro e fora. Internacionalmente, com os eventos do Florestas 2011, da Década da Biodiversidade, das convenções da ONU e da Rio+20 em 2012, o país ficará cada vez mais em evidência, já que detém grande parte das riquezas naturais globais, incluindo a maior floresta tropical, a Amazônia. Nacionalmente, a sociedade já não aceita mais tão facilmente o discurso de que o meio ambiente é entrave para o desenvolvimento e proclama que soluções efetivas sejam postas em práticas contra o desrespeito pela natureza e pela nossa existência. Nos dois cenários, aqui dentro e lá fora, o governo precisa desempenhar um papel decisivo para que não venha a se arrepender depois.

(*) Malu Nunes é engenheira florestal, mestre em Conservação da Natureza e diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

sexta-feira, 18 de março de 2011

"Andando nas nuvens: Introdução ao uso das tecnologias interativas na educação, pesquisa, gestão e saúde e noções de computação em nuvem"


A partir de segunda-feira, 21 de março, estarão abertas as inscrições para o curso de atualização "Andando nas nuvens: Introdução ao uso das tecnologias interativas na educação, pesquisa, gestão e saúde e noções de computação em nuvem". Promovido pelo Núcleo de Experimentação Tecnológica (Next/Icict) da Fiocruz, o curso pretende demonstrar as possibilidades de implementação de tecnologias interativas em ambientes de ensino e pesquisa, em particular na área da saúde. Esta primeira edição do curso tem o caráter de experimentação com o objetivo de sua consolidação como curso permanente.
O curso é gratuito e tem carga horária de 76 horas, sendo 60 horas à distância e 16 horas presenciais.

Mais informações podem ser obtidas pelos telefones 3882-9033 / 9063 e endereço eletrônico: gestaoacademica@icict.fiocruz.br

As inscrições serão feitas pelo site da Plataforma SIGA (www.sigals.fiocruz.br), seguindo os links: inscrição > a distância > atualização > Icict > Andando nas Nuvens – 2011/Sede. O candidato deverá seguir as orientações disponíveis no link e efetuar sua inscrição

Sobre o NEXT

O Núcleo de Experimentação de Tecnologias Interativas (NEXT) da Fundação Oswaldo Cruz  dedica-se ao estudo das tecnologias emergentes e redes e os impactos que sua introdução causam à sociedade. Seu foco é a definição e experimentação de estratégias e metodologias para a introdução dessas tecnologias e de práticas interativas na pesquisa, educação e saúde. Para o grupo, elas revolucionam as práticas de saúde e cabe estudá-las em todos os seus aspectos.

O grupo estrutura suas pesquisas em rede e usa os recursos interativos que se propõe a estudar. Mantém convênios internacionais; implementa a Rede Internet e Saúde e realiza cursos, workshops e eventos. Publica suas pesquisas em periódicos especializados, nacionais e internacionais, e as apresenta em congressos e fóruns acadêmicos. Participa da Coordenação do “Congreso de la Cibersociedad”, realizado na Internet a cada 3 anos, e no Conselho Editorial da revista "Textos de la Cibersociedad". 

Para organizar suas pesquisas, o grupo mantém um Dispositivo de Interação Virtual (DIV) com área institucional, ambiente educativo (Moodle), Wiki (www.next.icict.fiocruz.br/wiki), uma rede social (www.next.icict.fiocruz.br/social) e outros dispositivos, além de comunidades virtuais, entre elas a "Comunidade Virtual na Saúde" com uma centena de participantes. Além dos afazeres estritamente científicos, o grupo desenvolve a implantação de tecnologias interativas no Icict e na Fiocruz e uma incubadora de cursos de EAD. 

Suas linhas de pesquisa enfocam processos e metodologias de inovação; ambientes educativos virtuais; uso de tecnologias interativas na educação, pesquisa e saúde; comunidades, redes sociais, estratégias e metodologias de implantação de tecnologias e práticas interativas no serviço público e no SUS.

sexta-feira, 11 de março de 2011

O tom errado do verde

 Os biocombustíveis não apenas desviaram os cultivos como também têm desviado subvenções públicas aos agricultores.


“Esta é a coisa mais louca que estamos fazendo”, diz Peter Brabeck, presidente da Nestlé. Ele fala sobre as metas dos governos em cima da política de biocombustíveis (geralmente feitos a partir de culturas como o milho e açúcar). As metas são ambiciosas.

Brasil, Japão , Indonésia e União Européia dizem que os biocombustíveis devem suprir 10% da demanda de transporte em 2020. As metas da China, hoje, são de 5%. Americanos pretendem buscar nesses biocombustíveis 30% da sua demanda, em 2030.

Mesmo os menores objetivos no mercado de energia traduzem enormes demandas por culturas. O etanol é responsável por apenas 8% dos combustíveis dos veículos da América, mas ele consome quase 40% da sua safra de milho. A produção mundial de etanol cresceu cinco vezes entre 2000 e 2010, mas deveria aumentar muito mais para atingir suas metas. Um cálculo mostra que, se isso ocorresse — o que parece improvável –, um décimo da produção mundial de cereais seria desviada para produção de combustíveis. Se a produção de culturas permanecer estável, uma enorme quantidade de terras extras seriam necessárias para os combustíveis. Caso contrário, o preço dos alimentos cresceria entre 15 e 40%, trazendo terríveis consequências.

Nem todos os tipos de etanol são os mesmo. Brasil, o segundo maior produtor do mundo, retira seu combustível apenas do açúcar. O país recebe oito unidades de energia para cada unidade de insumo, o processo torna-se relativamente eficiente e ambientalmente correto. Em contraste, o etanol norte-americano produz apenas 1,5 unidades de energia, mas sua ineficácia é coberta pelos subsídios do governo e as altas tarifas alfandegárias. Agricultores norte-americanos dizem que a demanda do governo pelo etanol está começando a diminuir, de modo que o impacto na oferta de milho e seus preços estão mais modestos agora.

Uma das medidas mais simples para ajudar a garantir alimento suficiente para a população mundial, em 2050, seria descartar todas as metas de biocombustíveis. Se toda a safra de milho norte-americana, que é direcionada para a produção de etanol, fosse usada como alimento, o aproveitamento mundial do alimento aumentaria em 14%.

Mas isso não irá acontecer. Os biocombustíveis não apenas desviaram os cultivos para sua produção como também têm desviado subvenções públicas aos agricultores, sem provocar grandes oposições. Os governos não gostam da ideia de abandonar os biocombustiveis apenas por serem ineficientes e prejudiciais. “Não temos capacidade para produzir biocombustíveis e, ao mesmo tempo, alimentar a crescente população mundial”, diz Brabeck. Mas, ao menos por este momento, teremos de fazê-lo.

Fonte: Opinião e notícia

quinta-feira, 10 de março de 2011

Agroecologia pode dobrar produção de alimentos em países pobres



Da Globo.com

Muitos agricultores em países em desenvolvimento podem dobrar sua produção de alimentos no prazo de uma década, aderindo à agricultura ecológica e deixando de usar pesticidas e fertilizantes químicos, afirma um relatório da Organização das Nações Unidas, divulgado nesta terça-feira (8).

Plantas que capturam insetos no Quênia e o uso de patos no Bangladesh para consumir ervas daninhas em arrozais estão entre os exemplos de medidas tomadas para aumentar a produção de alimentos para a população mundial, que a ONU diz que chegará a 7 bilhões de pessoas este ano e a 9 bilhões até 2050.

'A agricultura está numa encruzilhada', segundo o estudo de Olivier de Schutter, o relator especial da ONU sobre o direito à alimentação, em uma campanha para reduzir os preços recordes dos alimentos e evitar o modelo de agricultura industrial, que tem custo alto e é dependente do petróleo.

A 'agroecologia' também pode tornar a agricultura mais resistente ao impacto projetado das mudanças climáticas, incluindo enchentes, secas e a alta do nível dos mares, que, segundo o relatório, já deixou a água doce perto de alguns litorais salgada demais para poder ser usada na irrigação.

Até agora, projetos de agricultura ecológica em 57 países trouxeram ganhos médios de 80 por cento nas safras, usando métodos naturais para enriquecer o solo e proteger contra pragas, diz o relatório.

Projetos recentes em 20 países africanos resultaram na duplicação das safras no prazo de três a dez anos. De acordo com o levantamento, essas lições podem ser reproduzidas em outras partes do mundo.

'A agricultura ecológica correta pode elevar significativamente a produção e, no longo prazo, ser mais eficaz que a agricultura convencional', disse De Schutter à Reuters, referindo-se a medidas como maior uso de adubos naturais ou de árvores altas para fazer sombra a cafezais.

Os benefícios serão maiores 'em regiões onde poucos esforços foram investidos na agricultura, especialmente na África subsaariana', disse ele. 'Também há várias experiências muito promissoras em partes da América Latina e da Ásia.'

'O custo da produção de alimentos vem acompanhando de perto o custo do petróleo', disse ele. As revoltas na Tunísia e no Egito foram parcialmente vinculadas à insatisfação com a alta dos preços dos alimentos.

'Se os preços dos alimentos não forem controlados, e as populações não puderem se alimentar veremos cada vez mais Estados conturbados e o surgimento de mais Estados falidos', disse De Schutter.

De Schutter também pediu uma campanha de diversificação da produção agrícola global, para reduzir a dependência sobre o arroz, trigo e milho nas dietas.

Mas, segundo ele, os países desenvolvidos não conseguirão aderir rapidamente à agroecologia devido a sua 'dependência' de um modelo agrícola industrial, baseado no petróleo. Mesmo assim, para o autor do estudo, é necessário um esforço global de longo prazo em direção à agricultura ecológica.

Cuba demonstrou que essa mudança é possível, depois que a queda da União Soviética, em 1991, cortou seu suprimento de fertilizantes e pesticidas baratos. Após uma queda nos anos 1990, a produção agrícola cubana subiu outra vez, na medida em que os agricultores adotaram métodos mais ecológicos de cultivo.

Há terras disponíveis para ampliar a produção sem aumentar o desmatamento

Trabalhos científicos contestam premissas de relatório de Aldo Rebelo sobre Código Florestal e mostram que área agrícola poderia dobrar com adoção de tecnologias simples e sem a abertura de novas áreas.


Estudo ainda inédito de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) confirma que existem terras suficientes no Brasil para multiplicar a produção agropecuária sem que seja necessário expandir o desmatamento. De acordo com o trabalho, o aumento da produtividade da pecuária permitiria diminuir a área de pastagens e liberaria até 69 milhões de hectares para a agricultura, diminuindo a demanda pela abertura de novas áreas.

Os 69 milhões de hectares equivalem aos territórios somados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Usar todas essas terras significaria dobrar a área agrícola brasileira.

Coordenado pelo pesquisador Gerd Sparovek, o trabalho defende que a adoção de tecnologias simples já difundidas no País, como a divisão e rotação de pastos, possibilitaria ampliar a lotação média das fazendas de gado, considerada muito baixa no Brasil, de pouco mais de uma cabeça por hectare para quase duas. Assim, seriam liberadas áreas para a agricultura.

"Toda a discussão sobre as mudanças do Código Florestal deveria passar pela rediscussão da pecuária extensiva no Brasil", afirmou Sparovek durante seminário, na terça-feira passada (22/2), onde foi apresentado o levantamento, que deve ser publicado neste mês. No evento, realizado na Câmara dos Deputados para discutir as mudanças no código, Sparoveck revelou que existiriam 103 milhões de hectares com vegetação nativa disponíveis para desmatamento regular de acordo com a lei atual - território maior que o Mato Grosso. O pesquisador disse que a mudança proposta para a legislação precisa incluir, além da sua aplicabilidade, o debate sobre como proteger as terras ainda disponíveis para desmate legal.

A pesquisa não trata de situações regionais e casos específicos, mas reforça a tese de que programas de grande escala de planejamento territorial, assistência técnica e incentivo à regularização ambiental podem manter o ritmo de crescimento da agropecuária sem a necessidade de ampliar a fronteira agrícola. O desafio seria conciliar a alocação de terras para a produção agropecuária, exploração florestal e conservação.

Informações do Censo Agropecuário 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o último realizado no País, apontam que um quinto do território nacional (ou 158 milhões de hectares) é ocupado por pastagens. Deste total, quase 20% estão em terras de alta ou média aptidão para lavouras, segundo Sparovek.

Para os pesquisadores da Esalq, a intensificação da pecuária seria suficiente para manter o rebanho nacional em patamares adequados à demanda dos mercados nacional e internacional. Traria também como consequências a produção de carne de melhor qualidade, estabilidade de preços, redução nas emissões de gases de efeito estufa e menor degradação do solo.

O estudo mostra que o polêmico relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) sobre as mudanças do Código Florestal pode desproteger definitivamente 43 milhões de hectares de Áreas de Preservação Permanente (APP) e 42 milhões de hectares em Reservas Legais (RL) que foram desmatados ilegalmente. Assim, regularizaria a situação dos proprietários dessas áreas.

RL é a fração de toda propriedade rural que não pode ser desmatada e varia de 20% a 80%, dependendo do bioma. No bioma amazônico, esse percentual é hoje de 80%. A APP é a faixa de vegetação situada ao longo de corpos de água, no topo de morros e em encostas, que também não pode ser eliminada segundo a lei.

Estudo da SBPC e ABC

No mesmo seminário, também foram apresentados alguns dos resultados de outro estudo sobre as alterações propostas para o Código elaborado por um grupo de especialistas reunido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC). Os pesquisadores que participaram do evento rechaçaram as principais propostas contidas no relatório de Rebelo, como reduzir as APPs e anistiar quem desmatou ilegalmente (Saiba mais).

A pesquisa do grupo da SBPC e da ABC está sendo finalizada e deve ser divulgada em 15 dias. O sumário executivo já está disponível (acesse aqui). Nele, os cientistas defendem um “planejamento criterioso na ocupação agrícola, com adoção de práticas de manejo conservacionista” de forma que o “potencial de uso dos recursos naturais seja otimizado, ao mesmo tempo que sua disponibilidade seja garantida para as gerações futuras”.

Ambos os estudos põem por terra algumas das principais premissas do relatório de Rebelo, como a ideia de que a aplicação do Código Florestal atravanca o desenvolvimento agropecuário. O trabalho da SBPC e da ABC, por exemplo, lembra que o Brasil tornou-se um dos maiores exportadores agrícolas do mundo com base em grandes saltos de produtividade e na conversão de pastagens em cultivos – e não na ampliação da fronteira agrícola. Entre 1975 e 2010, enquanto a área plantada aumentou mais de 45%, a produção cresceu 268% no Brasil. A produtividade média mais que dobrou, passando de 1.258 kg/ha, em 1977, para 3.000 kg/ha, em 2010.

A pesquisa aponta que ainda existe bom potencial para intensificação do uso do solo, mesmo em regiões onde o seu grau é considerado acima da média nacional, como no Centro-oeste, Sudeste e no Sul. Projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) indicam que, entre 2010 e 2020, a taxa anual média de crescimento da produção das lavouras será de 2,67%, enquanto a área plantada subirá apenas 0,45% ao ano, passando de 60 milhões de hectares para 69,7 milhões de hectares.

Para saber mais, acesse o site da Campanha SOS Florestas.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Sexta extinção em massa

Da Fapesp

Estima-se que cerca de 4 bilhões de espécies tenham vivido na Terra. Desse total que evoluiu no planeta nos últimos 3,5 bilhões de anos, nada menos do que 99% deixaram de existir.

O número pode impressionar, mas não envolve nada anormal e demonstra como a extinção de espécies é algo comum e equilibrado pela própria especiação, o processo evolutivo pelo qual as espécies se formam. 

Eventualmente, esse balanço deixa de existir quando as taxas de extinção se elevam. Em alguns momentos, cinco para ser exato, as taxas são tão altas que o episódio se caracteriza como uma extinção em massa.
Após as extinções em massa nos períodos Ordoviciano, Devoniano, Permiano, Triássico e Cretáceo – quando os dinossauros, entre outros, foram extintos –, cientistas apontam que a Terra pode estar se aproximando de um novo episódio do tipo.

Em artigo publicado na edição desta quinta-feira (3/3) da revista Nature, um grupo de cientistas de instituições dos Estados Unidos levanta a questão de uma eventual sexta extinção em massa. O artigo tem entre seus autores o brasileiro Tiago Quental, que durante a produção do estudo estava no Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia e desde fevereiro é professor doutor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. “Paleontólogos caracterizam como extinções em massa os episódios em que a Terra perde mais de três quartos de suas espécies em um intervalo geológico curto, como ocorreu apenas cinco vezes nos últimos 540 milhões de anos. Biólogos agora sugerem que uma sexta extinção em massa possa estar ocorrendo, por conta das perdas de espécies conhecidas nos últimos séculos e milênios”, disseram os autores.

O estudo analisou como as diferenças entre dados modernos e obtidos a partir de fósseis e a influência de novas informações paleontológicas influenciam o conhecimento a respeito da crise de extinção atual.
“Os resultados confirmam que as taxas de extinção atuais são mais elevadas do que se esperaria a partir [da análise] dos registros fósseis, destacando a importância de medidas efetivas de conservação”, afirmaram. 

Como exemplo, citam que, nos últimos 500 anos, das 5,5 mil espécies de mamíferos conhecidas pelo menos 80 deixaram de existir. “Se olharmos para os animais em perigo crítico de extinção – aqueles em que o risco de extinção é de pelo menos 50% em três gerações ou menos – e assumirmos que seu tempo acabará e que eles sumirão em mil anos, por exemplo, isso nos coloca claramente fora do que poderíamos considerar como normal e nos alerta que estamos nos movendo para o domínio da extinção em massa”, disse Anthony Barnosky, curador do Museu de Paleontologia e professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, principal autor do estudo.

“Se as espécies atualmente ameaçadas – aquelas classificadas oficialmente como em risco crítico, em risco ou vulneráveis – realmente se extinguirem, e se essa taxa de extinção continuar, a sexta extinção em massa poderá chegar tão cedo quanto de três a 22 séculos”, disse.

Entretanto, segundo os autores do estudo, não é tarde demais para salvar muitas das espécies em risco de modo a que o mundo não ultrapasse o ponto em retorno rumo à nova extinção em massa. “Ainda temos muita biota da Terra para salvar. É muito importante que direcionemos recursos e legislação para a conservação de espécies se não quisermos nos tornar a espécie cuja atividade causou uma extinção em massa”, afirmou.

O artigo Has the Earth’s sixth mass extinction already arrived? (doi:10.1038/nature09678), de Anthony Barnosky e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

Experiências e soluções

Por Fábio de Castro, da Agência FAPESP 

Considerando a crescente densidade populacional da Amazônia e a complexidade de aspectos ambientais, econômicos e sociais da região, o professor Jacques Marcovitch, da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), conclui que a sustentabilidade amazônica é indissociável do crescimento econômico e de estratégias de gestão voltadas para o empreendedorismo.
Diante desse contexto, em seu novo livro A Gestão da Amazônia – Ações Empresariais, Políticas Públicas, Estudos e Propostas, Marcovitch analisa os desafios estratégicos da região e, a partir de experiências concretas de gestão ambiental, indica aos tomadores de decisão – no âmbito das empresas, governos e sociedade civil – quais são as ações prioritárias para que o Brasil assuma sua responsabilidade diante da sustentabilidade do bioma.

Em novo livro, Jacques Marcovitch faz balanço dos desafios da região e indica como tomadores de decisão poderão melhorar a vida da população amazônica

A obra será lançada em Manaus (AM), no dia 14 de março, e em São Paulo, dois dias depois. Segundo o autor, o livro se dirige especialmente a esses tomadores de decisão, embora traga uma visão integral da Amazônia que poderá ser útil a todos os interessados pela região.

“Além de apresentar os desafios, o livro apresenta pistas de soluções para eles, a partir de exemplos de ações de diversas empresas, entidades civis e instituições de pesquisa. O objetivo é que, inspirados por essa reflexão, os gestores possam se engajar na melhoria da qualidade de vida dos 20 milhões de brasileiros que moram na região”, disse à Agência FAPESP.

De acordo com Marcovitch, a crescente população amazônica é um dado que não pode deixar de ser considerado em qualquer estratégia de gestão para a região.

Segundo ele, a sustentabilidade e o desenvolvimento andam de mãos dadas, especialmente em um contexto que envolve problemas agudos como a questão fundiária, a pobreza, o desmatamento predatório e as cidades mal planejadas e inchadas pela migração rural. “Não podemos imaginar a Amazônia como uma floresta sem gente, ou com poucas concentrações urbanas. Hoje, temos cidades médias que estão crescendo na região, com muitos problemas de planejamento. Olhar para a floresta sem olhar para as pessoas é um grande equívoco”, afirmou.

No livro, Marcovitch destaca o papel central das instituições de pesquisa. Para ele, não há lugar no Brasil tão propício a experiências avançadas em biotecnologia ou procedimentos de integração e reencontro do homem com a natureza. “A região oferece todas as precondições para a realização do sonho ambientalista. O caminho para isso, entretanto, não é mais a estrada curta da utopia. Aí estão fatores emergentes de ordem econômica e política, incluindo aspectos de um novo capitalismo jamais imaginado pelos visionários de ontem”, disse.

No livro, a Amazônia é abordada em três perspectivas complementares – ambiental, social e econômica – , que estão presentes nas diversas partes da obra. A primeira parte corresponde ao grande cenário da Amazônia, apreciando a situação atual de todo o bioma, com os desafios que ela enfrenta. “Esses problemas envolvem não só a questão ambiental, mas também a questão social, a economia, a gestão de águas – com problemas de contaminação e com o crescimento das cidades sem planejamento e saneamento básico –, além do tema dos mecanismos de mitigação do efeito estufa como Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) e do desafio do respeito à cultura indígena”, explicou.

A segunda parte, de natureza econômica e empresarial, tem foco em uma pesquisa realizada com dez empresas de grande porte que desenvolvem atividades sustentáveis na região. “São empresas que estão à frente de seu tempo, engajadas em projetos envolvidos não só nas três dimensões do problema amazônico – social, econômico e ambiental –, mas também na dimensão cultural, ou seja, nas comunidades locais. São dez casos minuciosamente estudados, que incluem as áreas de extração de madeira, mineração, varejo e empresas de vários segmentos”, afirmou.

Essas empresas, segundo o autor, têm conseguido angariar reconhecimento internacional expressivo, sendo algumas delas premiadas por suas ações ligadas à sustentabilidade.

Gestão integrada
O livro também apresenta parcerias recentes entre o setor público e a iniciativa privada que, segundo o pesquisador, facilitam o caminho para o fortalecimento de uma economia verde no Brasil. “São acertos setoriais que poderiam servir de modelo e ganhar maior amplitude, em escala nacional”, disse Marcovitch.

A terceira parte, intitulada “Propostas na mesa”, reúne depoimentos de especialistas sobre a região, que lidam essencialmente com o uso sustentável dos recursos da natureza.
“Na quarta parte é feito um balanço do conteúdo apresentado e uma discussão sobre a sustentabilidade, encarada como objetivo empresarial estratégico e não como atitude beneficente. O mercado internacional exige que os exportadores apresentem certificações de suas práticas ambientais”, explicou.

Segundo Marcovitch, a complexidade e heterogeneidade da região amazônica não permitem o desenvolvimento de um modelo único de gestão. “É muito difícil pensar em uma gestão única, mas é importante pensarmos em gestão integrada. Temos recursos disponíveis para incentivar uma gestão mais responsável da região, mas eles têm sido utilizados aquém da possibilidade. Isso indica um problema de gestão, ou seja, uma limitação da capacidade de transformar cenários e diagnósticos em resultados e políticas públicas”, disse. 

O programa de  lançamento do livro em Manaus e São Paulo inclui a realização de dois  seminários com a participação de especialistas citados no texto. O programa desses eventos poderá ser consultado no site www.fea.usp.br.
  • A Gestão da Amazônia – Ações Empresariais, Políticas Públicas, Estudos e Propostas
    Autor: Jacques Marcovitch
    Lançamento: 2011
    Preço: R$ 48
    Páginas: 310
    Mais informações: www.edusp.com.br

quarta-feira, 2 de março de 2011

Prêmio José Reis abre inscrições



Da Agência FAPESP

Estão abertas as inscrições para o 31º Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica. Concedido anualmente pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), é atribuído um sistema de rodízio para as três categorias do prêmio: “Jornalismo Científico”, “Divulgação Científica” e “Instituição”.

A modalidade desta edição é “Jornalismo Científico” e irá premiar o jornalista profissional de destaque na difusão da Ciência e da Tecnologia nos meios de comunicação de massa.

O vencedor de 2011 será agraciado com R$ 20 mil, um troféu e passagem aérea e hospedagem para participar da cerimônia de entrega do prêmio na Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a ser realizada em julho na Universidade Federal de Goiás (UFG).

Para se inscrever, o candidato deverá enviar ao CNPq a ficha de inscrição preenchida, uma cópia do registro de jornalista do MTb, o currículo atualizado na Plataforma Lattes, justificativa da contribuição à divulgação científica e tecnológica e a apresentação dos trabalhos – no mínimo cinco e no máximo dez –, considerando os mais importantes e relevantes.

As inscrições terminam em 20 de maio. O endereço para envio é: CNPq – Serviço de Prêmios – SHIS Quadra 01 Conjunto B – Bloco B, 1º andar, Edifício Santos Dumont, Lago Sul, Brasília, DF, 71605-001.
Mais informações e ficha de inscrição: www.premiojosereis.cnpq.br, premios@cnpq.br ou (61) 3211-9410 begin_of_the_skype_highlighting              (61) 3211-9410      end_of_the_skype_highlighting

Estudo alerta para possibilidade de extinção em massa na Terra

A raça humana pode ter provocado a sexta onda de extinções em massa na Terra, de acordo com um estudo divulgado nesta quarta-feira pela revista Nature. Ao longo dos últimos 540 milhões de anos, cinco extinções em massa de espécies foram causadas por fenômenos naturais.

As novas ameaças, entretanto, são fruto da ação humana: a redução dos hábitats, a caça e pesca excessivas, a disseminação de germes e vírus, a introdução de espécies e as mudanças climáticas provocadas pela emissão de gases causadores do efeito estufa.

Evidências coletadas em fósseis sugerem que, nas cinco grandes extinções anteriores, 75% de todas as espécies animais simplesmente desapareceram.

Paleobiólogos da Universidade da Califórnia em Berkeley estudaram a situação da biodiversidade nos dias de hoje, utilizando como barômetro as espécies de mamíferos. Até a grande expansão da humanidade, há cerca de 500 anos, a extinção de mamíferos era muito rara: em média, apenas duas espécies pereciam a cada milhão de anos.

Nos últimos cinco séculos, entretanto, pelo menos 80 das 5.570 espécies conhecidas de mamíferos foram extintas, um claro sinal de alarme para os riscos à biodiversidade. "Parece que os níveis modernos de extinção se assemelham ao patamar registrado pelas extinções em massa, mesmo depois do nível mínimo para definir uma extinção em massa ter sido ampliado", disse o pesquisador Anthony Barnosky.

Este cenário torna-se ainda mais assustador com a quantidade de mamíferos incluídos nas categorias "risco crítico" e "ameaça" da Lista Vermelha da biodiversidade, atualizada pela União Internacional pela Preservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

Na hipótese de todas estas espécies terminarem extintas sem que a redução da biodiversidade seja combatida, "a sexta extinção em massa pode chegar dentro de pouco tempo, daqui a entre três e 22 séculos", afirmou Barnosky.

Ondas de extinção
Comparada às outras cinco grandes, esta seria a mais rápida extinção em massa já documentada. Quatro destas ondas de extinção ocorreram num lapso estimado de centenas de milhares e até milhões de anos, e foram causadas principalmente por aquecimento ou resfriamento global provocados naturalmente.

A extinção mais abrupta já estudada pela ciência aconteceu no fim do período Cretáceo, há cerca de 65 milhões de anos, quando um cometa ou asteróide caiu sobre a península de Yucatán, no atual México, provocando tempestades de fogo cujas cinzas resfriaram o planeta. Os cientistas estimam que este evento tenha sido responsável pela extinção de 76% das espécies que habitavam a terra, incluindo os dinossauros.

Incertezas

Os autores do estudo, entretanto, admitem algumas fraquezas de seu trabalho. Eles reconhecem, por exemplo, que os registros fósseis disponíveis são pouco completos, e que os mamíferos são um marco referencial imperfeito para medir a biodiversidade da Terra. Além disso, estimam que serão necessários estudos mais profundos para confirmar sua hipótese.

Por outro lado, os próprios pesquisadores indicam que suas estimativas são conservadoras, e alertam que uma extinção em grande escala teria um impacto inimaginável sobre a vida humana. "A recuperação da biodiversidade (após uma extinção em massa) não ocorrerá dentro de um período de tempo familiar às pessoas", afirma o estudo.

"A evolução de novas espécies geralmente leva pelo menos centenas de milhares de anos, e a recuperação de episódios de extinção em massa provavelmente acontece em uma escala de tempo que engloba milhões de anos".

Mesmo assim, os pesquisadores apontam que ainda é possível ter esperança. "Até agora, apenas 1 ou 2% de todas as espécies foram extintas nos grupos que conhecemos claramente, então estes números indicam que não estamos tão avançados assim na estrada para a extinção. Ainda temos muita biodiversidade para salvar", indicou Barnosky.

Mesmo assim, "é muito importante que dediquemos recursos e adotemos leis e normas para proteger as espécies, se não quisermos ser a espécie cujas atividades provocou uma extinção em massa". Até hoje, 1,9 milhão de espécies foram identificadas e documentadas pela ciência, entre 16.000 e 18.000 - a maioria, seres microscópicos - são descobertas a cada ano.

Fonte: Terra

Satélite para estudar aerossóis

O lançamento do Glory, que estava previsto para o dia 23 de fevereiro, para o dia 23 de fevereiro, foi adiado por motivos técnicos e deverá ocorrer este mês, na Califórnia. De acordo com a Nasa, a agência espacial norte-americana, os problemas estão sendo resolvidos e a partir do dia 4 poderá começar a contagem regressiva.
A nova missão científica tem como objetivo oferecer informações que permitam uma melhor compreensão de como o Sol e os aerossóis influenciam o clima terrestre.
Aerossóis são minúsculas partículas líquidas ou sólidas suspensas na atmosfera que têm papel crítico no clima do planeta e estão presentes em praticamente todos os locais, do ar na superfície onde os humanos respiram até as mais elevadas camadas da atmosfera.

Os aerossóis medem de um centésimo de micrômetro, ou o tamanho das menores bactérias, a dezenas de micrômetros, ou o diâmetro de um fio de cabelo.

Dos equipamentos do Glory, o sensor de polarimetria (APS, na sigla em inglês) coletará dados sobre os aerossóis atmosféricos, tais como forma, composição e refletividade dos diferentes tipos de partículas.

O monitor de irradiância total (TIM) medirá variações na atividade solar ao medir a quantidade de radiação que atinge o topo da atmosfera terrestre.

Os dados enviados pelo satélite de meia tonelada permitirão realizar medidas precisas da influência dos aerossóis e da energia solar no clima terrestre.

Segundo os responsáveis pela missão, os dois fatores influenciam o balanço energético da Terra – relação entre a energia que entre e a que sai pela atmosfera – e seu conhecimento será importante para antecipar mudanças futuras no clima e como elas poderão afetar a vida no planeta.

O Glory se juntará a uma frota de satélites de observação terrestre conhecidos como Constelação A, ou Trem A, destinados ao estudo da biosfera e do clima do planeta.
Mais informações: www.nasa.gov/mission_pages/Glory/main/index.html

Fonte: Agência Fapesp 

E eles, quem defende?

Foi-se Chico Mendes. Foi-se Dorothy Stang. Foram-se muitos outros que lutavam pela floresta e por seus povos. E continuam indo. Esta semana, foi a vez de Sebastião Bezerra da Silva, 40 anos, encontrado morto e com sinais de tortura numa fazenda em Dueré, Tocantins. Mal saiu na imprensa.
Secretário regional do Movimento Nacional dos Direitos Humanos e coordenador do Centro de Direitos Humanos de Cristalândia (TO), Sebastião levava a causa em frente mesmo com constantes ameaças de morte. Até que elas se concretizaram. Coisa comum numa Amazônia em que a governança insiste em não dar as caras.
O Greenpeace esteve na região há pouco menos de uma década, seguindo os passos da soja, que começava a avançar pela região. “O Cerrado e a floresta estavam sendo destruídos, a concentração de terra aumentava cada vez mais e os relatos de trabalho escravo apareciam de todos os cantos”, recorda Nilo D’Ávila, que estava à frente da pesquisa de campo na época. Foi quando Sebastião cruzou nosso caminho. “Ele fez um relato preciso da movimentação da indústria da soja. E foi quem primeiro me alertou sobre a relação entre desmatamento e trabalho escravo”.
Era esse seu trabalho: alertar para tudo aquilo que estava fora da ordem na região. Acabou pagando o preço, 14 anos depois que Pe. Josimo Morais Tavares – outro precursor da defesa dos direitos humano por ali – também morreu pelos mesmos motivos. A roda continua viva. Até quando?

Fonte: Greenpeace