Carolina Oms do Terra Magazine
Para o professor Luiz Carlos Molion, representante da América Latina na Organização Meteorológica Mundial e pós-doutor em meteorologia, as reduções de emissões de carbono propostas pela 15ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP-15), não vão produzir efeito no clima mundial, "o gás carbônico não controla o clima global", garante.
"De todas as pessoas que estão aqui no Brasil, talvez eu seja o climatologista mais sênior". Molion estuda o clima desde 1970 e conta que, quando concluiu seu doutorado, há 35 anos, nos Estados Unidos, o "consenso" da época era que o mundo estava em uma Era Glacial. Hoje, ele também leciona na Universidade Federal de Alagoas.
Na sua avaliação Copenhague "é um discurso que não vai adiante", pois, à medida em que a população aumenta, há a necessidade de gerar mais energia elétrica.
- Como incluir essas pessoas sem aumentar o consumo? Não existe como. Somos ainda muito dependentes dos combustíveis fósseis. Acho que vai ter muito discurso em Copenhague, vão fazer muitas promessas, mas são só demagógicas. Não tem como cumprir essas metas. Se você olhar o protocolo de Kyoto, a Europa não reduziu absolutamente nada, ao contrário. Conversa é conversa, na prática não há como fazer isso.
O pós-doutor em meteorologia e membro do Instituto de Estudos Avançados de Berlim garante, baseado em estudos de paleoclimatologia (estudo das variações climáticas), que as mudanças do clima são muito complexas para serem influenciáveis pelo ser humano:
- A quantidade de carbono lançada pelo homem é ínfima, é irrisória, se comparada com os fluxos naturais dos oceanos, solo e vegetação. Para a atmosfera, saem 200 bilhões de toneladas de carbono por ano. O homem só lança seis.
Leia os principais trechos da entrevista:
Qual a opinião do senhor sobre as movimentações em torno da Conferência do Clima?
Essas reduções de emissões de carbono não vão produzir efeito nenhum no clima. O gás carbônico não controla o clima global. Isto já foi demonstrado com pesquisas feitas no que nós chamamos de paleoclimatologia, em que se tenta reconstruir o clima passado, com base nos cilindros de gelo da estação de Vostok, na Antártica. O cilindro de gelo retirado de lá, que reconstitui os últimos 4.020 anos, mostra claramente que já houve períodos em que tivemos temperaturas altas e baixa presença de CO2 na atmosfera.
Ocorreu forte aquecimento entre 1925 e 1946, e nessa época, o homem lançava na atmosfera menos de 10% do carbono do que lança hoje. Então, aquele aquecimento, que é ainda maior do que esse atual, na realidade foi explicado por fenômenos naturais. O sol esteve mais 'ativo' nessa primeira metade do século XX. Além disso, foi um período que praticamente não ocorreram erupções vulcânicas. Assim, a atmosfera ficou mais limpa e entrou mais radiação solar, causando o aquecimento.
Todos os recordes de temperatura nos Estados Unidos, que têm uma série de dados bastante longa, ainda são daquela década de 1930.
Como essas temperaturas são medidas?
Termômetros na superfície. O problema é que eles estão sujeitos aos fenômenos de ilha de calor, muito comuns nas cidades. E a maior parte desses termômetros está em cidades que sofrem esses efeitos da urbanização.
Como seria mais seguro medir as temperaturas mundiais?
Tem um sistema a bordo de satélites que leva a sigla MSU, um sensor de microondas que existe desde 1968. Ele indica que, nesses 30 anos passados, não há um aumento significativo de temperatura. Houve um aquecimento entre 77 e 99, que coincide como aquecimento do Oceano Pacífico Tropical. Os oceanos são grandes controladores do clima, em particular o Pacífico, porque ele sozinho ocupa 35% da superfície terrestre. Então, quando ele se aquece, o clima também fica mais quente: A atmosfera, o ar, é aquecido por baixo, as temperaturas mais elevadas estão próximas da superfície.
Desde 1999, o Oceano Pacífico esfria. Hoje, não só monitoramos os oceanos, mas existem mais de 3.200 boias à deriva e mergulhadoras. Elas mergulham até 2.000 metros de profundidade, se deslocam com a corrente marinha e nove dias depois elas sobem, e passam os dados para o satélite. Esse sistema mostra que os oceanos, de maneira geral, estão esfriando nos últimos seis, sete anos. E, nos últimos 10 anos, a concentração de CO2 continua subindo.
Mas há uma sensação de que existem muitas mudanças climáticas ocorrendo no mundo...
Não. O que acontece é que hoje, a população está mais vulnerável aos fenômenos meteorológicos. Na realidade, os fenômenos intensos sempre ocorreram no passado. Por exemplo, a maior seca do nordeste foi em 1877 até 1879. O furacão americano mais mortífero foi no Texas em 1900. Então, temos esses eventos intensos que ocorreram numa época em que o homem não lançava a quantidade que lança hoje. Aliás, a quantidade de carbono lançada pelo homem é ínfima, é irrisória, se comparada com os fluxos naturais dos oceanos, solo e vegetação. Para atmosfera, saem 200 bilhões de toneladas de carbono por ano. O homem só lança seis.
Qual a incerteza que nós temos nesses ciclos naturais? É de 40 bilhões de toneladas para cima e para baixo. Ou seja, existe uma incerteza de 80 bilhões que é oito vezes maior que o que o homem lança na atmosfera. Não tem como se controlar o carbono. E se controlar, se reduzir as emissões, não haverá impacto nenhum no clima. O clima hoje deixou de ser um problema científico, ele é um problema político-econômico.
Como assim?
Hoje a matriz energética mundial, com exceção do Brasil, que é um país privilegiado, está baseada nos combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral, principalmente). Quando se diz, 'vamos reduzir as emissões', o que se quer dizer é: 'Vamos reduzir a geração de energia elétrica'. Os países não crescem. Tudo está baseado na energia elétrica. Isso vai afetar um desenvolvimento social e econômico dos países.
Mas, de acordo com esse raciocínio, os EUA seriam os maiores interessados em um acordo climático e, no momento, eles parecem ser o maior empecilho...
Os Estados Unidos adorariam que a China reduzisse as suas emissões. Os EUA estão "pendurados", a China tem cerca de 700 bilhões de dólares em papéis do tesouro americano. A ida de Obama à China, no mês passado, visou a redução de emissões da potência oriental.
Mas a redução seria mundial, a China não seria a única a reduzir, os EUA também reduziriam...
Uma coisa é você já estar com a sua população em condições humanas adequadas, como é o caso da Europa, dos EUA, do Canadá. Outros países, como é o caso do Brasil, e todos os países latinos e africanos, ainda não têm. Então, precisaria desenvolver, não consumindo como se consome nos EUA, mas com condições adequadas para viver, saúde, educação... Para os países subdesenvolvidos e emergentes, excetuando-se o Brasil, reduzir significa gerar menos energia elétrica. Em muitos países só tem carvão mineral e petróleo para gerar energia. Eu não quero dizer com isso, que nós devemos sair por aí depredando o meio ambiente, tem que haver mudanças de hábito de consumos, mas as emissões de carbono não são o caminho correto.
O senhor levanta questões sobre o clima que parecem, nos jornais e nas reuniões políticas, serem consensos. Quem fabricou esse consenso?
Não existem consensos na ciência, ciência não é política, é experimentação. A ciência progride pelos contras que vão surgindo. Se você tem uma teoria e mostra que ela vale, e se surge um único experimento que diz o contrário, então você tem que repensar toda a teoria. Consensos são políticos, cientificamente eles não existem, cientificamente existem experimentações.
Então porque a impressão do consenso?
Existe uma trama por detrás disso tudo. Países como os do G7. Eles já não dispõem de recursos naturais, recursos energéticos. Por outro lado, eles não querem perder a hegemonia.
Os pesquisadores que vão de encontro a esse "consenso" sofrem algum tipo de represália?
Sim, mas isso é normal. A gente é perseguido, taxado como um indivíduo desatualizado e tem mais dificuldade de conseguir verba para pesquisa. Mas, de todas as pessoas que estão aqui no Brasil, talvez eu seja o climatologista mais sênior. Estudo clima há setenta anos e conclui meu doutorado há 35 anos, nos Estados Unidos. No período que eu fazia meu doutorado, o clima estava tão frio que o "consenso" da época era que nós estávamos entrando numa Era Glacial. O clima é muito complexo e jamais poderia ser dominado pelo CO2. Ao contrário, o CO2 é resultante do aumento da temperatura, quando a temperatura aumenta os oceanos liberam mais CO2.
Mas a vantagem dessa discussão toda em torno das mudanças climáticas é colocar o meio-ambiente em pauta.
É, mas não da maneira correta. Quando você olha para os livros didáticos das crianças, diz lá que o homem está destruindo a camada de ozônio, que a Terra está se aquecendo, que o nível do mar vai subir... Isso está errado! O que nós estamos fazendo? Educação ou lavagem cerebral? Na minha opinião, olhando todos os indicadores climáticos, nós vamos ter um resfriamento climático nos próximos vinte anos. O que vai acontecer com essa criançada quando eles perceberem que, ao invés de aquecer, está esfriando, e que esse esfriamento é muito pior para a humanidade?
Os países parecem dispostos a fazer acordos de redução em Copenhague...
É um discurso que não vai adiante. À medida em que a população aumenta, há a necessidade de mais energia elétrica, se a gente quiser incluir esse pessoal em uma sociedade que viva adequadamente. Como incluir essas pessoas sem aumentar o consumo? Não existe como. Somos ainda muito dependentes dos combustíveis fósseis. Acho que vai ter muito discurso em Copenhague, vão fazer muitas promessas, mas são só demagógicas. Não tem como cumprir essas metas. Se você olhar o protocolo de Kyoto, a Europa não reduziu absolutamente nada, ao contrário. Conversa é conversa, na prática, não há como fazer isso.